Instituído há cinco anos, o Agosto Branco chama a atenção para a importância da prevenção do tipo de câncer que mais causa mortes no mundo: o de pulmão. Foram 1,7 milhão de vítimas no mundo em 2020, mais de 30 mil mortes apenas no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Entre os principais fatores de risco para esse tipo de câncer estão o tabagismo, a poluição do ar, o contato com substâncias químicas como o asbesto (amianto) e derivados da queima de petróleo, e histórico familiar de câncer.
“O principal fator de risco é o tabagismo: 85% dos casos de câncer de pulmão são relacionados ao cigarro, ao fumo direto do tabaco. Há outros 15% dos pacientes que nunca fumaram. E aí existem vários fatores de risco que podem estar associados no que a gente chama de população não tabagista, que são fatores genéticos; poluição ambiental; exposição a determinados gases e metais pesados, principalmente no trabalho, como sílica; e os fumantes passivos, que são aqueles que convivem com pessoas fumantes no mesmo ambiente”, destaca a oncologista Aknar Calabrich.
Entre os sintomas principais do câncer de pulmão estão tosse por mais de um mês, com presença de sangue ou com piora progressiva; dor torácica persistente não associada a traumas; falta de ar e dificuldade para respirar; perda de peso inexplicada e não intencional.
“A principal prevenção é parar de fumar. Isso reduz não só o câncer de pulmão, mas o câncer de bexiga, câncer de boca, câncer de pâncreas e outros tipos de câncer. E existem alterações de hábitos de vida que reduzem o risco de câncer de uma forma geral, que são a prática de atividades físicas, o sono regular, o controle de peso, e priorizar frutas e verduras”, ressalta.
Para quem é fumante ou fumou no passado, a orientação é de manter consultas regulares com médico pneumologista e a realização de tomografias de rastreamento para aumentar as chances de um diagnóstico precoce.
Calabrich destaca ainda que há suspeitas de que os cigarros eletrônicos causem o câncer de pulmão. Também conhecidos como vaporizadores, eles possuem capacidade de promover a dependência de nicotina ainda maior de que o cigarro comum, além de causar, em curto prazo, danos respiratórios e cardiovasculares.
“Há uma tendência de diminuição do tabagismo mundialmente, mas na contramão está chegando o cigarro eletrônico. Nele existem substâncias que não só causam dependência, como a nicotina, mas também a combustão de outras substâncias que a gente não conhece, porque não são produtos regularizados. Existe a queima de produtos que a longo prazo tem dado não só problemas respiratórios, de queimaduras no pulmão, doenças como pneumonia lipoídica, mas existe, sim, a suspeita do risco de desenvolvimento de câncer de pulmão”, explicou.
Apesar de a maior incidência da doença em pessoas fumantes, o cirurgião torácico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Nabuco, alerta que não é correto pensar que quem nunca fumou não precisa se preocupar com o câncer de pulmão.
“Existe um estigma de que o câncer de pulmão ocorre somente em quem fuma ou já fumou, e isso não é verdade. É importante registrar que o câncer de pulmão pode ocorrer em pessoas que não têm qualquer relação com o cigarro, existindo, inclusive, mutações genéticas que podem acontecer de forma independente aos hábitos tabagistas”, destaca.
“É comum que pacientes não fumantes descubram o tumor ao investigar outras condições, como a covid-19, por exemplo. Durante a pandemia, foram diagnosticados muitos tumores incidentalmente, por conta do aumento na quantidade de exames de imagem, como o raio-x e a tomografia, realizados em pacientes com suspeita de infecção por covid-19”.
Por Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
A Revolta da Vacina é um assunto que faz parte do currículo escolar, mas um detalhe que nem sempre é lembrado é que as transformações sanitárias que ocorriam no Rio de Janeiro do início do Século XX eram lideradas por um jovem Oswaldo Cruz de pouco mais de 30 anos. Nesta sexta-feira (5), dia que marca 150 anos de seu nascimento, a Agência Brasil relembra como esse audacioso sanitarista assumiu o principal órgão de saúde pública do país, em 1903, com a promessa de derrotar três epidemias simultâneas que assolavam a capital federal: a peste bubônica, varíola e febre amarela.
Recém saído do Império, o Brasil queria mostrar ao mundo uma imagem moderna e promissora, mas trazer visitantes e imigrantes ao Rio de Janeiro, sua capital, era uma tarefa difícil, já que a cidade tinha fama de ser “túmulo dos estrangeiros”. O motivo eram as doenças infecciosas que assolavam a população carioca, que vivia em péssimas condições de higiene e saneamento, com cortiços e ruelas que cresciam em uma urbanização acelerada e desordenada.
O presidente da República da época, Rodrigues Alves, nomeou o engenheiro Pereira Passos prefeito do Rio de Janeiro para que realizasse uma ampla reforma urbana que abrisse largas avenidas e permitisse a melhoria do saneamento básico e da ventilação. Em uma frente complementar, coube à Oswaldo Cruz a elaboração das estratégias para enfrentar as doenças infecciosas, e o jovem médico foi nomeado diretor-geral de saúde pública, cargo que, na época, poderia ser comparado ao que hoje é o ministro da Saúde.
O historiador Bruno Mussa, do Museu da Vida da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que, apesar de novo, Oswaldo Cruz teve uma formação sólida, tendo sido o primeiro brasileiro a estudar no Instituto Pasteur, centro de pesquisa de Paris que era a maior referência da época no Ocidente sobre microbiologia e saúde. Ao retornar ao Brasil, em 1899, ele participou de uma missão científica que identificou um surto de peste bubônica no Porto de Santos. Esse trabalho fez com que ganhasse notoriedade para assumir a diretoria técnica e depois a chefia do Instituto Soroterápico Federal, embrião do que seria a Fiocruz. O passo seguinte foi acumular o cargo com a diretoria em que se tornou célebre pelas políticas implantadas no país.
“A partir dali, a Diretoria-Geral de Saúde Pública vai assumir um espaço cada vez maior e mais significativo, e a saúde pública vai se tornar um ponto cada vez mais relevante no Brasil”, avalia o historiador. “Em tudo que ele planejava, ele pensava na implementação de um projeto de trabalho duradouro. Se a Fundação Oswaldo Cruz hoje em dia é uma instituição estratégica, é uma consequência da visão de futuro desse personagem”.
Febre Amarela
Maior problema de saúde pública da cidade, a febre amarela foi o primeiro foco de Oswaldo Cruz como diretor de saúde pública. Sob desconfiança da classe médica da época, o sanitarista trouxe para o Rio de Janeiro a ideia de que a doença era transmitida por mosquitos, enquanto a tese mais aceita no Brasil era de que o contágio seria a partir de pessoas já doentes.
Oswaldo Cruz criou brigadas sanitárias que percorriam a cidade com inseticidas, em busca de locais onde houvesse larvas de mosquitos, incluindo casas, cujos donos podiam ser intimados a realizar reformas ou até demolições se fossem consideradas insalubres.
A estratégia teve sucesso, e a doença que matava cerca de mil pessoas por ano em 1902 já não era mais uma epidemia em 1907, o que rendeu ao sanitarista o prêmio principal do 14º Congresso de Higiene e Demografia de Berlim, realizado na Alemanha naquele ano.
“Esse reconhecimento internacional foi importantíssimo para produzir essa chancela que o Oswaldo Cruz passou a ter a partir de então”, destaca Mussa. “Ele passa a ser reconhecido no Brasil depois do reconhecimento que ele teve no exterior”.
Uma das maiores provas desse reconhecimento foi a mudança do nome do instituto que ele dirigia para Instituto Oswaldo Cruz (IOC), que existe até hoje como parte da Fundação Oswaldo Cruz. O pesquisador também se tornou um imortal da Academia Brasileira de Letras, em 1913.
Peste Bubônica
Organizado o combate à febre amarela, Oswaldo Cruz e sua diretoria de saúde pública se voltaram, em 1903, contra a peste bubônica, doença transmitida pelas pulgas de ratos contaminados.
Mussa explica que, além de estar presente na memória coletiva pela trágica epidemia que matou milhões na Europa, a doença também tem um forte impacto impacto econômico, já que a disseminação se dá muitas vezes por ratos em navios, de porto em porto, o que chega a obrigar o fechamento de uma cidade com contaminações.
“A peste bubônica não chegou a ser um problema gigantesco no Rio de Janeiro, mas o diagnóstico gera uma série de ações para que ela não prosperasse”. afirma. “Era uma doença que veio de fora e poderia gerar um impacto muito grande na economia”.
Mais uma vez, Oswaldo Cruz adotou a estratégia de combate aos vetores, com uma caçada aos ratos do Rio de Janeiro. Funcionários da diretoria de saúde pública receberam a meta de apresentar pelo menos 150 ratos por mês, sob ameaça de demissão, e o governo passou a comprar ratos de qualquer pessoa que os matasse.
Além da desratização, o sanitarista promoveu a vacinação da população nas áreas mais afetadas da cidade e o Instituto Soroterápico Federal produziu o soro para o tratamento dos doentes, cujos casos passaram a ter notificação compulsória. Esse conjunto de ações impactou fortemente a mortalidade por peste bubônica na cidade, que caiu mais de 20 vezes entre 1903 e 1909, segundo a Fiocruz.
Varíola
As remoções da população pobre forçadas pela reforma urbana, a truculência das brigadas sanitárias e as tensões políticas da república recém proclamada criaram um clima de tensão crescente na capital federal no governo Rodrigues Alves. Em meio a esse cenário, a varíola teve um pico de casos em 1904, e cerca de 3,5 mil pessoas morreram no Rio de Janeiro.
A tragédia levou Oswaldo Cruz à drástica proposta de fazer cumprir a vacinação obrigatória, com exigência de comprovação até mesmo para a realização de casamentos. Além disso, a lei aprovada no Congresso, apelidada pelos opositores de “Código de Torturas”, previa que serviços sanitários poderiam entrar nas residências para vacinar os moradores.
O historiador explica que esse foi o estopim para o caldeirão de insatisfação explodir, e a Revolta da Vacina durou 10 dias, nos quais houve protestos nas ruas e insurreição de militares. O resultado foram 30 mortos, 110 feridos e 945 presos, sendo quase a metade exilada no Acre, onde foram submetidos a trabalhos forçados.
Apesar de ter retomado o controle da capital, o governo decidiu suspender a vacinação obrigatória, o que representou uma derrota para a prevenção da varíola e possibilitou uma epidemia ainda mais mortal em 1906, com mais de 6 mil vítimas.
Mussa destaca que mesmo que a vacina da varíola já fosse utilizada mundo afora e fosse comprovadamente eficaz, o clima de tensão foi aproveitado pela oposição ao governo enquanto o analfabetismo generalizado e a escassez de canais de comunicação dificultaram uma campanha de conscientização.
“Esse processo todo apresenta na história do Brasil o momento em que se demonstra a relevância de se fazer uma boa comunicação pública da ciência e um bom desenvolvimento dos debates científicos com a sociedade, porque foi a ausência disso e muita aplicação de determinações por decreto e pela força que contribuiu muito para a animosidade e para a revolta que aconteceu”.
Legado
Assim como seus grandes feitos, a morte chegou cedo para Oswaldo Cruz, que morreu aos 44 anos, em 1917. O sanitarista foi vítima de insuficiência renal, causada por uma nefrite, mesma doença que vitimou seu pai.
Para a diretora do Instituto Oswaldo Cruz, Tania Araújo-Jorge, o maior legado do sanitarista foi incluir a pesquisa como elemento fundamental na política de saúde pública. Ela lembra que, anos depois de assumir o Instituto Soroterápico Federal, o médico o transformou em um instituto de patologia experimental, dedicado à pesquisa médica voltada à saúde coletiva.
“A saúde pública tem um antes e um depois de Oswaldo Cruz. Sem pesquisa, você não consegue fazer um bom enfrentamento de qualquer desafio de saúde”, afirma ela. “Não só a gente do Instituto Oswaldo Cruz, mas todo pesquisador brasileiro se sente inspirado pela visão dele de que você tem que fazer formação, tem que fazer pesquisa e que isso tem que estar comprometido com a melhoria da saúde do povo brasileiro”.
Tania avalia que, diante dos desafios na Diretoria-Geral de Saúde Pública, o jovem Oswaldo Cruz teve energia para fazer os enfrentamentos da época, e à frente do instituto de pesquisa, colaborou para a transmissão do conhecimento que ocorre até hoje na fundação.
“O fato de ele implantar a pesquisa e a formação de novos pesquisadores foi muito importante. Todos eles morriam muito jovens, e você tinha que passar o legado adiante. Quem teve que enfrentar a epidemia de gripe espanhola no Brasil? Já não foi Oswaldo, ele morreu em 1917, e a epidemia começou em 1918. Foi Carlos Chagas, que tinha aprendido tudo com ele. O Carlos Chagas foi aluno do Oswaldo Cruz, e ele foi formando uma geração de cientistas, e a gente tem 122 anos de formação de cientistas”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, há seis dias, a varíola dos macacos como emergência de saúde pública de interesse internacional. Conhecida internacionalmente como monkeypox, a doença, endêmica em regiões da África, já atingiu neste ano 20.637 pessoas em 77 países.
No Brasil, são 978 casos, sendo 744 apenas em São Paulo. Considerando a importância da informação para combater o avanço do surto, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou, nesta quinta-feira (28), um encontro onde especialistas apresentaram o que já se sabe sobre a doença e também responderam dúvidas de participantes presenciais e online.
“Esse vírus nós conhecemos e sabemos como lidar com ele. Temos todos os elementos para fazer sua erradicação”, disse o médico Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ e consultor do Ministério da Saúde.
Segundo ele, como já existem muitos estudos sobre a monkeypox, é uma situação diferente da covid-19, que surgiu como uma doença nova. No entanto, o pesquisador alerta que o sucesso no combate ao surto dependerá do compromisso do poder público.
A monkeypox é causada por um poxvírus do subgrupo orthopoxvírus, assim como ocorre por outras doenças como a cowpox e a varíola humana, erradicada em 1980 com o auxílio da vacinação. O quadro endêmico no continente africano se deve a duas cepas distintas.
Uma delas, considerada mais perigosa por ter uma taxa de letalidade de até 10%, está presente na região da Bacia do Congo. A outra, com uma taxa de letalidade de 1% a 3%, encontra-se na África Ocidental e é a que deu origem ao surto atual.
No entanto, segundo o médico, o vírus em circulação sofreu um rearranjo gênico que contribuiu para sua capacidade de transmissão pelo mundo. “Ele teve uma evolução disruptiva, sofreu uma mutação drástica”, afirmou. O pesquisador afirmou que casos graves não são recorrentes. A preocupação maior abrange os grupos de risco que incluem imunossuprimidos, crianças acima de 13 kg e gestantes.
“A taxa de letalidade tem relação com o sistema de saúde local. No surto atual, até o momento, não tivemos óbitos fora das áreas endêmicas. Isso mostra que o vírus da monkeypox é de baixa letalidade”, salientou a virologista Clarissa Damaso, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus da UFRJ e assessora da OMS.
Transmissão e sintomas
A varíola dos macacos foi descrita pela primeira vez em humanos em 1958. Na época, também se observava o acometimento de macacos, que morriam. Vem daí o nome da doença. No entanto, no ciclo de transmissão, eles são vítimas como os humanos. Na natureza, roedores silvestres representam o reservatório animal do vírus.
“Não há reservatórios descritos em locais fora da África. Uma das maiores preocupações no surto atual é impedir o vírus de encontrar um reservatório em outros países. Se isso acontece, é muito mais difícil a contenção”, explicou Clarissa.
Sem um reservatório animal, a transmissão no mundo vem ocorrendo de pessoa para pessoa. A infecção surge a partir das feridas, fluidos corporais e gotículas do doente. Isso pode ocorrer mediante contato próximo e prolongado sem proteção respiratória, contato com objetos contaminados ou contato com a pele, inclusive sexual.
O tempo de incubação do vírus varia de cinco a 21 dias. O sintoma mais característico é a formação de erupções e nódulos dolorosos na pele. Também podem ocorrer febre, calafrios, dores de cabeça, dores musculares e fraqueza.
“As lesões são profundas, bem definidas na borda e há uma progressão: começa como uma mancha vermelha que chamamos de mácula, se eleva tornando-se uma pápula, vira uma bolha ou vesícula e, por fim, se rompe configurando um crosta”, explicou o infectologista Rafael Galliez, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ.
Pelo protocolo da OMS, devem ser considerados suspeitos os casos em que o paciente tiver ao menos uma lesão na pele em qualquer parte de corpo e se enquadrar em um desses requisitos nos últimos 21 dias: histórico de viagem a país com casos confirmados, contato com viajantes que estiveram nesses país ou contato íntimo com desconhecidos.
Diagnóstico e tratamento
O Laboratório Molecular de Virologia da UFRJ se firmou como um dos polos nacionais para diagnóstico da doença. O primeiro caso no estado do Rio de Janeiro foi detectado em 14 de junho, cinco dias depois da primeira ocorrência no país ser confirmada em São Paulo. De lá pra cá, já são 117 resultados positivos no estado do Rio. Outros estados também têm enviado amostras para análise na UFRJ.
Essas análises são realizadas em fluidos coletados diretamente das lesões na pele, usando um swab [cotonete estéril] seco. Existe a expectativa de que a população tenha, em breve, acesso a testes rápidos de detecção de antígenos, similar aos que foram feitos para a covid-19.
Mesmo nos quadros mais característicos, o exame é importante para confirmar análise clínica. Um desafio para a detecção da doença é a semelhança de suas lesões com as provocadas pela varicela, doença popularmente conhecida como catapora e causada por um vírus de outro grupo. A mudança de perfil dos sintomas também tem levantado um alerta de especialistas. Na varíola dos macacos, as erupções costumavam surgir mais ou menos juntas e evoluíam no mesmo ritmo.
“Começamos a ver casos com lesões únicas, às vezes na região genital ou anal, às vezes no lábio, às vezes na mão. E também vemos lesões que aparecem em momentos diferentes, de forma mais parecida com a catapora. Esse padrão é diferente do que se estudava sobre monkeypox“, disse o infectologista Rafael.
Uma vez detectada a doença, o tratamento se baseia em suporte clínico e medicação para alívio da dor e da febre. Um antiviral chamado tecovirimat, que bloqueia a disseminação do vírus, já é usado em alguns países, mas ainda não está disponível no Brasil.
Segundo o médico, 10% dos pacientes têm sido internados para o controle da dor, geralmente quando há lesões no ânus, nas partes genitais ou nas mucosas orais, dificultando a deglutição.
Prevenção e vacinas
A vigilância para a rápida identificação de novos casos e o isolamento dos infectados são fundamentais para se evitar a disseminação da doença. Pode ser necessário o período de até 40 dias para a retomada das atividades sociais. Mesmo que o paciente se sinta melhor, deve se manter em isolamento enquanto ainda tiver erupções na pele. “Na catapora, a lesão com crosta já não transmite o vírus. Na varíola dos macacos, essa lesão transmite”, acentuou Rafael.
O infectologista alertou para a importância de se evitar contato com as pessoas que integram os grupos de risco. Segundo ele, embora existam poucos estudos de casos envolvendo gestantes, os resultados não são bons. “Há uma letalidade pediátrica alta. Existe o que a gente chama de transmissão vertical, isto é, o acometimento do feto com danos graves: perda das estruturas da placenta e abortos espontâneos. Com o pouco que se sabe, é considerada uma doença obstétrica grave. Suspeitos de estarem contaminados devem ser orientados a evitar contato com qualquer pessoa que possa estar grávida”, alertou.
Os especialistas da UFRJ também observaram que o uso de preservativo não previne a infecção, já que o intenso contato e a troca de fluidos corporais durante o ato sexual oferece diversas oportunidades para a transmissão do vírus. Por outro lado, há indícios de que as pessoas vacinadas contra a varíola humana tenham proteção contra a monkeypox.
Também sabe-se que sistema imunológico desenvolve proteção cruzada contra os diferentes orthopoxvírus. Isso significa que quem já foi contaminado com a varíola humana ou com a vaccinia, por exemplo, e possivelmente possui imunidade para a varíola dos macacos. Foi com base nesse conhecimento que se criou a vacina antivariólica. Embora voltado para combater a varíola que acometia exclusivamente humanos e possuía uma alta taxa de letalidade entre 30% e 40%, o imunizante foi desenvolvido a partir do vírus da vaccinia, doença que costuma infectar o gado leiteiro e os ordenhadores.
Com a erradicação da varíola, a vacinação foi suspensa em todo o mundo por volta de 1980. No Brasil, campanhas mais robustas ocorreram até 1975, mas até 1979 o imunizante era aplicado nos postos de saúde. Os indícios apontam que quem nasceu antes dessa data e foi vacinado está protegido contra a monkeypox. A média de idade dos contaminados está abaixo dos 38 anos.
Embora já existam vacinas para ajudar no combate ao surto da varíola dos macacos, não há previsão quanto a uma campanha para imunização em massa.
A OMS orienta que se garanta a proteção de profissionais de saúde e pesquisadores laboratoriais. Para os demais grupos populacionais, a imunização deve ser após a exposição. Segundo a virologista Clarissa, trata-se de usar a estratégia de vacinação em anel: são vacinadas pessoas que vivem e que tiveram contato com um paciente positivo na tentativa de bloquear a disseminação do vírus. “Essa vacina funciona muito bem até quatro dias pós-infecção”, observou.
Clarissa acrescenta que não há, neste momento, vacina para todos e a produção mundial vai levar tempo. “Os fabricantes não tinham previsão de produção para uma doença que afetasse o mundo todo. A produção era exclusivamente para estoque estratégico de países que têm programas de biodefesa. O Brasil, como várias outras nações, não tem isso”, explicou. Segundo Rafael, estudos já mostraram a eficácia da estratégia de vacinação em anel em determinados cenários de surto.
Perfil dos infectados
Homens com menos de 40 anos representam a grande maioria dos infectados. Estudos no Reino Unido constataram que muitas vítimas se declaram homossexuais ou bissexuais. Os especialistas, no entanto, alertam que a varíola dos macacos pode acometer qualquer pessoa e não apenas aquelas do sexo masculino com vida sexual ativa. Mulheres e adolescentes já foram diagnosticados com a doença pelo Laboratório Molecular de Virologia da UFRJ.
O diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, aconselhou esta semana que homens que fazem sexo com homens reduzam, neste momento, o número de parceiros sexuais. Ao mesmo tempo, alertou que “estigma e discriminação podem ser tão perigosos quanto qualquer vírus e podem alimentar o surto”.
Segundo o médico Amilcar Tanuri, a desinformação pode deixar a sociedade despreparada para lidar com o surto. “Isso nos remonta à história da AIDS e do HIV. No começo, ficou um estigma que só atrapalhou a prevenção da doença. Isso ocorre porque quando o vírus entra por um grupo inicial leva um tempo até se disseminar para outros grupos. Com o HIV começou assim. Depois se percebeu que os hemofílicos estavam com HIV, que as crianças nasciam com HIV. Não existe nenhuma evidência biológica de que o vírus da varíola dos macacos seja específico para um sexo. Aliás, não sei que vírus tem essa especificidade”, disse.
Por Léo Rodrigues – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
O Hospital Municipal Jesus (HMJ), especializado em atendimentos pediátricos e referência para o diagnóstico de câncer infantil na rede pública do Rio de Janeiro, inaugurou hoje (22) duas novas salas de exames humanizadas. Com elas, é concluído o projeto de humanização do setor de radiologia daquela unidade, que faz cerca de 50 mil consultas por ano.
O projeto tem a assinatura do artista e arquiteto brasileiro Gringo Cardia e foi viabilizado pelo Instituto Desiderata, organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), em parceria com a Chevron Brasil. Os atendimentos no novo espaço serão iniciados ainda este mês.
O secretário municipal de Saúde, Rodrigo Prado, destacou, em entrevista à Agência Brasil, que o ambiente humanizado ajuda a tranquilizar as crianças na hora dos exames. “E até reduz a necessidade de alguns exames das crianças”, disse. Ele considerou fundamental a realização de exames o mais cedo possível “para ter o diagnóstico mais precoce”.
Acrescentou que, ao entrar em um ambiente humanizado e lúdico, “com certeza as crianças vão se sentir bem fazendo exames e aceitando melhor o tratamento”.
O arquiteto Gringo Cardia transformou o setor de exames do HMJ em um ambiente lúdico e agradável, inspirado no fundo do mar. Esse ambiente humanizado permite que exames demorados e que, muitas vezes, exigem procedimentos invasivos, sejam feitos de maneira mais tranquila para acalmar os pacientes.
O setor recebeu também um aparelho telecomandado, doado ao hospital pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O equipamento permite a realização de estudos contrastados de maneira dinâmica, em tempo real, possibilitando a aquisição da imagem da escopia, muitas vezes submetendo a criança a uma exposição à radiação menor que a de uma radiografia convencional.
O HMJ é o único hospital da rede pública municipal a realizar exames contrastados e é referência no atendimento pediátrico, atendendo pacientes de zero a 18 anos.
Águas Vivas e Robôs
Por realizar procedimentos mais demorados e complexos que as demais salas, a nova Sala do Telecomando foi transformada em um universo carregado de luz e movimento, chamado Jardim das Águas Vivas.
Já a Sala de Raios X virou a Sala dos Robôs Abissais. Ali, os equipamentos são representados por robôs subaquáticos, seguindo uma proposta estética similar à da Sala dos Robôs Submarinos, inaugurada em 2020, no mesmo setor. Os equipamentos do hospital fazem um trabalho similar ao dos robôs subaquáticos, que é explorar e diagnosticar o paciente.
A diretora executiva do Instituto Desiderata, Renata Couto, informou que o projeto de humanização de espaço oncológico, tanto de diagnóstico como de tratamento, começou em 2012, no HMJ. Mas, desde 2007, já foram entregues espaços humanizados em mais quatro hospitais públicos do Rio de Janeiro. O 1º Aquário Carioca, sala de quimioterapia pediátrica, por exemplo, foi inaugurado no Hospital Federal dos Servidores do Estado, em 2007.
“A gente faz esse projeto porque tem muita confiança nessa metodologia, porque é um momento muito delicado para as crianças, as famílias e os cuidadores, pela descoberta de um câncer em fase infantil”, explicou.
Para ela, o câncer infanto juvenil tem 80% de chance de cura, embora seja mais agressivo do que o câncer em adultos porque evolui muito rapidamente. “Todo o trabalho do Desiderata é para garantir o diagnóstico precoce. O instituto é uma articulação em rede de vários serviços especializados, gestores de saúde e outras organizações civis para garantir o diagnóstico e o tratamento intenso. Porque o câncer infantil não pode esperar”, especificou.
Ansiedade
Nos outros espaços que o instituto já tem humanizado, a situação de ansiedade é minimizada. “As crianças se sentem menos ansiosas, com menos medo, têm menos dor. Já há registro, inclusive, do uso de menos anestésicos nesses locais porque, às vezes, só o diagnóstico pode ser um pouco invasivo, tem que colocar um cateter. Essas situações são necessárias, mas elas podem ser amenizadas”, disse Renata.
Segundo a diretora executiva do instituto, os pais e cuidadores relatam também que o espaço humanizado facilita o engajamento das crianças no tratamento, porque elas se sentem mais estimuladas a ir e a frequentar os locais. Do mesmo modo, os profissionais de saúde ficam mais motivados nesses ambientes de trabalho. “A gente só vê resultados positivos e acredita que a saúde deve ser mais acolhedora. Com o público infantil, a gente tem que ter mais cuidado”, observou.
A humanização realizada no HMJ teve aporte de cerca de R$ 400 mil do Instituto Desiderata e Chevron Brasil. Inaugurado em 1935 e localizado em Vila Isabel, zona norte do Rio, o Hospital Municipal Jesus faz parte da estratégia de diagnóstico precoce do câncer infantil “Unidos pela Cura”.
Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
O Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), da Universidade Federal Fluminense (UFF), é a primeira unidade da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Rio de Janeiro a ter um aparelho usado na cirurgia micrográfica de Mohs, cuja técnica aumenta a chance de cura em cânceres de pele, em torno de 100%, para tumores com baixa capacidade de disseminação via linfática ou sanguínea.
O aparelho foi doado ao HUAP pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD), com a contrapartida que o hospital ofereça a formação de novos especialistas nesta técnica, que permite uma visão completa da superfície tumoral na pele durante sua retirada.
O coordenador da Dermatologia do HUAP, professor Flavio Luz, explicou hoje (20) à Agência Brasil que essa técnica permite a visualização microscópica de 100% da superfície do tumor. “Dessa maneira e mapeando o material, a peça, a gente consegue uma precisão quase que absoluta, plena, de onde está o tumor e até onde ele vai. Isso nos permite remover totalmente o tumor”. Ou seja, a cirurgia micrográfica de Mohs é que permite a visualização da superfície tumoral e faz com que seja possível um mapeamento mais preciso e a chance maior de cura.
A técnica da cirurgia micrográfica de Mohs é consagrada e considerada padrão ouro no tratamento de câncer de pele no mundo. Para ser viabilizada, entretanto, a técnica precisa do aparelho doado pela SBCD, além de outros equipamentos. Flavio Luz assegurou que os benefícios são grandes para os pacientes, uma vez que o tumor é totalmente removido. “Ele não volta. É uma vantagem enorme. Ele deixa de ser agressivo, o paciente fica curado, diminui mutilações, previne novas cirurgias, previne radioterapia, quimioterapia, etc”.
O médico esclareceu que o câncer de pele é o tipo de câncer mais frequente no ser humano, respondendo por cerca de 30% de todos os cânceres que afetam o homem. “É um volume gigantesco de pacientes com câncer de pele por todo o sistema de saúde. O Antonio Pedro não foge à regra”, disse.
Especialização
O HUAP está iniciando, no momento, a formação de novos especialistas na técnica da cirurgia micrográfica de Mohs. Essa formação leva em média dois anos. “A pessoa tem que completar 75 cirurgias plenas, do início ao fim, para poder se certificar como cirurgião micrográfico. E quando ele entra nessa formação, já é um cirurgião dermatológico pleno. Quer dizer, ele já domina todo o conhecimento de oncologia cutânea, já domina a cirurgia dermatológica e já tem uma boa noção de dermatopatologia. Aí, sim, ele vai se habilitar a fazer a formação específica em cirurgia micrográfica”, indicou o professor. “Um colega que tente fazer a técnica sem se especializar, vai ter dificuldades”, manifestou Flavio Luz.
Há um tipo de câncer, em especial, para o qual a cura pode ser assegurada totalmente com essa técnica. Trata-se do carcinoma basocelular primário, que nunca foi operado previamente. “Ele tem 100% de chance de cura. Existe uma possibilidade mínima do tumor voltar. Por isso, o que se tem nas estatísticas, na verdade, é 99,9% de cura para um carcinoma basocelular primário”. Já para um tumor que tenha voltado após alguma cirurgia, o índice de cura fica em torno de 95%. Luz lembrou que o carcinoma basocelular representa 70% dos cânceres de pele.
“A cirurgia micrográfica beneficia muitos pacientes”, disse Flavio Luz, mas admitiu que o Brasil ainda está aquém de países como Estados Unidos e Austrália, que têm mais de mil cirurgiões micrográficos certificados, cada, enquanto o Brasil está atingindo agora o número de 100 especialistas, dos quais dez estão no Rio de Janeiro. “O aparelho é fundamental, principalmente em um hospital universitário, para poder formar novas pessoas. Mas a gente precisa de cirurgiões micrográficos bem formados”, salientou.
Formação
A primeira cirurgia micrográfica com o uso do aparelho doado pela SBCD está prevista para o próximo dia 27. A ideia, em um primeiro momento, é realizar uma cirurgia desse tipo no HUAP a cada semana. “Vamos começar com uma cirurgia por semana e, como é uma formação, a gente não tem como fazer a cirurgia em quantidade”. O foco, atualmente, é a formação de bons cirurgiões micrográficos. Na medida em que o hospital for formando novos especialistas, serão realizadas cirurgias em um menor tempo, o que permitirá realizar mais cirurgias a cada dia. “E, com mais pessoas, isso vai se multiplicando cada vez mais. Essa é a intenção”, afirmou o coordenador da Dermatologia do HUAP/UFF.
Segundo expôs, os resultados para o SUS são também positivos porque, quando se consegue cerca de 100% de cura com essa técnica, evita-se custos de novas cirurgias e tratamentos. Em casos que demandariam, às vezes, várias cirurgias, passa a ser necessário apenas um procedimento cirúrgico resolutivo.
Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro
O Ministério da Saúde (MS) decidiu incorporar na lista de medicamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) o ácido zoledrônico. Medicamento é usado para o tratamento de pacientes com osteoporose que apresentam intolerância ou dificuldades de deglutição dos bisfosfonatos orais. A portaria foi publicada hoje (21) no Diário Oficial da União (DOU).
A incorporação do medicamento atende a uma recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do MS. Segundo a portaria, o medicamento deverá ser oferecido à população no SUS no prazo máximo de 180 dias.
A osteoporose atinge o metabolismo dos ossos, diminuindo a massa óssea e comprometendo a estrutura dos tecidos responsáveis pela formação dos ossos. A doença é a principal causa de fratura em pessoas acima de 50 anos.
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do MS já disponibiliza no âmbito do SUS o uso de Vitamina D e Cálcio, raloxifeno, estrógenos conjugados, calcitonina (spray nasal) e os bisfosfonatos orais (alendronato e risedronato) para o tratamento de pacientes com osteoporose.
De acordo com a Conitec, a incorporação do ácido zoledrônico se deve, entre outras razões, a sua alta capacidade de se ligar ao osso mineralizado. Ao ser administrado, o medicamento age rapidamente no osso, inibindo o desequilíbrio entre a reabsorção de cálcio e a remodelação óssea.
or Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil – Brasília
O Conselho Regional de Educação Física de São Paulo (4ª Região) reconheceu que o profissional do setor tem formação para “aconselhar, informar e esclarecer” praticantes de exercícios físicos sobre uso de suplementos alimentares. A aplicação da medida é válida apenas para o estado de São Paulo.
O reconhecimento vale somente para suplementos que estejam “exclusivamente relacionados” a esse tipo de prática, conforme descrito na Resolução nº 151, publicada no Diário Oficial da União de hoje (12).
Segundo a resolução, o profissional de educação física com formação em bacharelado ou licenciatura/bacharelado tem a formação exigida para aconselhar, informar e esclarecer sobre a área de suplementos alimentares.
De acordo com a resolução, informações e esclarecimentos sobre suplementos alimentares exigem “pleno conhecimento técnico do assunto”, e cabe ao profissional ter responsabilidade ética, civil e criminal quanto aos efeitos dos suplementos na saúde dos praticantes.
O texto diz também que é vedado a esses profissionais “prestar qualquer aconselhamento, informação ou esclarecimento” sobre produtos que usem via de administração que não seja a oral, bem como de medicamentos ou produtos que incluam em sua fórmula substâncias que não atendam às exigências para produção e comercialização regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“O aconselhamento e incentivo ao uso dos recursos ergogênicos farmacológicos por profissional de educação física representa infração ética e pode caracterizar crime contra a saúde pública”, informa a resolução, ao informar que não faz parte das atribuições desses profissionais qualquer proposição ou planejamento de dieta e plano alimentar.
Nesse sentido, diz ainda a resolução, o que pode ser feito pelo profissional de educação física é apenas indicar um “profissional habilitado” para a elaboração de dieta ou plano alimentar.
Por Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil – Brasília
Sangramento visível na urina; desconforto ao urinar, como dor e ardência; aumento da frequência ou urgência em urinar são sintomas para acender o alerta de um possível câncer de bexiga, órgão que armazena a urina antes de ser eliminada do corpo. Durante a micção, os músculos da bexiga se contraem e a urina é eliminada através da uretra.
“Mesmo nos estágios iniciais, esse tipo de tumor já pode causar alguns sintomas. O principal sintoma da doença é o sangramento visível na urina, então é aquele paciente que vai chegar no consultório falando que viu sangue na urina, que a gente chama de hematúria. Outro indicativo é o desconforto a urinar. Alterações como urgência para urinar ou aumento da frequência urinária também são sintomas que a gente deve investigar”, alerta o urologista Rafael Ribeiro Meduna, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo.
Nos casos mais avançados da doença, podem ocorrer sintomas como perda de peso, cansaço, fraqueza, perda do apetite, dor óssea e incapacidade de urinar. Contudo, esses sintomas também são comuns em outras doenças como infecção urinária, aumento benigno da próstata, bexiga hiperativa e pedras nos rins e bexiga.
“É importante lembrar que esses sintomas não significam que você está com um tumor de bexiga. Existem outras doenças que são até um pouco mais frequentes que o câncer de bexiga, que também causam sintomas como o aumento da próstata benigno, uma infecção urinária, cálculos na bexiga e até a bexiga hiperativa”.
Conscientização
Julho é marcado pela campanha de conscientização do diagnóstico precoce e do tratamento do câncer de bexiga. O mês é dedicado à campanha para que as pessoas, com ou sem histórico da doença na família, passe a buscar orientação e acompanhamento médico, além de realizar exames periódicos.
A queda no número de diagnósticos preocupam os especialistas. Isto porque, com a pandemia, muitos pacientes deixaram de realizar exames rotineiros. Para dimensionar o tamanho do dano causado pela pandemia no diagnóstico de novos casos de cânceres, a Sociedade Brasileira de Urologia (seção de São Paulo) realizou levantamento em parceria com instituições de saúde no Estado de São Paulo, responsáveis pelo atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Os resultados mostraram que a pandemia gerou uma redução média de 26% no número de novos casos, englobando os tumores de rim, próstata e bexiga, na comparação com diagnósticos feitos nos anos de 2019 e 2020.
O Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, observou uma queda de 52% nos casos de câncer de bexiga e 63% nos de rim. Já o Hospital AC Camargo Câncer Center, disse que a redução foi de 24% para os tumores da bexiga e 29% para os de rim. Os dados para o câncer de rim do Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostraram redução no diagnóstico de novos casos de 35% – foram computados 40 casos em 2019, contra 26 em 2020.
“Com toda a questão da pandemia, houve um grande medo da população, além da orientação das instituições de saúde para que houvesse o distanciamento social. Com isso, teve uma redução importante no número de consultas médicas, avaliações, exames e consequentemente houve uma diminuição nos diagnósticos”, lamenta o médico.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), o número de casos novos de câncer de bexiga, estimados em 2022 para o Brasil, é de 7.590 casos em homens e 3.050 em mulheres.
Fatores de risco
O principal fator de risco para desenvolver a doença é o cigarro, responsável por cerca de 50% dos casos. O risco está diretamente relacionado com a duração e intensidade do ato de fumar.
“O cigarro tem diversas substâncias químicas que são carcinogênicas, ou seja, induzem o aparecimento de um tumor e no caso específico da bexiga, depois que essas substâncias são inaladas, elas são absorvidas pelo pulmão e vão cair na corrente sanguínea e depois serão filtradas pelo rim. Vai produzir uma urina, como se estivesse contaminada com essas substâncias químicas e depois ela vai ser armazenada na bexiga, que é um reservatório da urina. Essas substâncias químicas vão passar horas ali na bexiga, causando uma agressão à superfície vesical, que vai propiciar um ambiente para poder desenvolver um tumor no paciente”, explica Meduna.
Mesmo quem não fuma, mas convive com alguém que fuma, o chamado tabagismo passivo, também tem um risco aumentado de câncer de bexiga. Outros fatores associados, porém em menor grau, são a exposição ocupacional prolongada às substâncias químicas chamadas de aminas aromáticas que podem ser cancerígenas (principalmente em indústrias que processam tintas, corantes e derivados do petróleo) e irritações crônicas na bexiga, como infecções e cálculos.
A principal prevenção para o câncer de bexiga é não fumar. Já os trabalhadores, que estão em contato diário com produtos químicos, devem usar equipamentos de proteção individual para maior segurança durante o trabalho. Os hábitos saudáveis de vida, alimentação adequada, prática de exercícios físicos também são uma forma de prevenção.
Tratamentos
Além do exame físico e análise da história clínica, para realizar um diagnóstico mais preciso, o médico pode solicitar alguns exames de imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética).
O exame diagnóstico mais importante para avaliação do câncer vesical é a cistoscopia. Com esse exame, o médico consegue avaliar o interior da bexiga do paciente com uma câmera. O tratamento do câncer de bexiga é indicado de acordo com o grau da doença, profundidade da invasão do tumor na parede da bexiga e se invade outros órgãos.
No caso de tumores iniciais, o tratamento realizado é a ressecção transuretral da bexiga, conhecida como “raspagem da bexiga”. Em alguns casos, pode-se associar a esse tratamento, a aplicação de drogas como BCG, quimioterápicos ou imunoterápicos dentro da bexiga.
“A onco BCG é uma imunoterapia que tem como objetivo criar, com o sistema imune, condições para diminuir a recorrência e a progressão do tumor. É importante lembrar que esse tratamento não está indicado para todo mundo, então vai depender muito do estágio da doença. Por isso que é importante, sempre que tiver esse diagnóstico, consultar especialistas para avaliar qual é o melhor tratamento para cada paciente”, frisa o urologista.
Em tumores que invadem a musculatura da bexiga, com a cistectomia radical (retirada de toda a bexiga) é a forma mais adequada de tratamento, podendo ser precedido pela quimioterapia em algumas situações. Como tratamento alternativo à retirada total da bexiga, pode ser utilizado uma combinação de raspagem da bexiga, quimioterapia e radioterapia.
Em geral, esse tratamento alternativo é destinado a pacientes com muitos problemas de saúde que não tem condições para realizarem a retirada total da bexiga. No caso de tumores mais avançados com presença de metástases (invasão de outros órgãos), o tratamento mais adequado é a quimioterapia ou imunoterapia. “A recomendação continua valendo: o quanto antes se diagnosticar o problema, mais chances de cura o paciente terá”, finaliza o especialista.
Por Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
Um guia do Ministério da Saúde (MS) traz recomendações para a alimentação das crianças após o período de amamentação. Entre elas, a principal é evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, salgadinhos, achocolatados, etc. É que a partir do segundo ano de vida, as crianças passam a ter mais contato com o mundo externo e sofrem maior exposição à publicidade desse tipo de produto, seja por meio da televisão, das mídias sociais, na escola ou na convivência com outras crianças.
O material, chamado de Guia Alimentar para a População Brasileira, visa auxiliar os pais na tarefa de estimular uma alimentação mais saudável para as crianças e ressalta que a alimentação saudável é importante em todos os momentos da vida.
Segundo dados do Relatório Público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional, das crianças acompanhadas na Atenção Primária à Saúde em 2020, 15,9% dos menores de 5 anos e 31,8% das crianças entre 5 e 9 anos tinham excesso de peso. Dessas, 7,4% e 15,8%, respectivamente, apresentavam obesidade, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) para a idade.
Os bons hábitos de alimentação devem começar a partir dos 6 meses, quando as crianças começam a ingerir outros alimentos além do leite materno. De acordo com o guia, é importante os adultos estimularem desde cedo as crianças a ingerirem alimentos in natura.
A partir dessa etapa, a alimentação deve ser composta por comida de verdade, isto é, refeições feitas com alimentos in natura ou minimamente processados, de diferentes grupos, como feijões, cereais, raízes e tubérculos, frutas, legumes e verduras, além de carnes.
Também é preciso evitar o consumo de bebidas adoçadas, ou seja, refrigerantes, sucos de caixinha, sucos em pó, refrescos, bebidas lácteas e achocolatados. O mesmo serve para lanches como hambúrgueres já prontos, embutidos (linguiças, salsicha, presunto, mortadela e salames), macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote, biscoitos e guloseimas.
Exclusivo para gestantes
Outra lembrança importante do guia é que antes dos dois anos é recomendado o aleitamento materno, que proporciona todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento do bebê. O leite materno de forma exclusiva para a criança até os seis meses de vida, sendo desnecessária a oferta de qualquer outro tipo de alimento ou bebida, como papinha, mingau, chás, suco e outros.
Além de ser importante para a saúde do bebê, a amamentação também traz benefícios para a mulher, como a redução do risco de desenvolver câncer de mama, ovário e endométrio. A explicação é que, durante o período de aleitamento materno, as taxas de determinados hormônios que favorecem o desenvolvimento desse tipo de doença reduzem.
Em relação às gestantes, o guia lembra que nessa fase, o consumo de água, alimentos in natura diversos e minimamente processados são importantes para suprir a necessidade de nutrientes fundamentais, como ferro, ácido fólico, cálcio, vitaminas A e D, entre outros.
Para esse público específico, o MS possui um Guia Alimentar para Gestantes. A alimentação saudável na gestação favorece o bom desenvolvimento fetal, a saúde e o bem-estar da mulher, além de prevenir o surgimento de agravos, como diabetes gestacional, hipertensão e ganho de peso excessivo.
Entre outras recomendações, o material afirma que uma alimentação mais saudável ajuda a evitar sintomas como náuseas, vômitos e tonturas, azia, plenitude gástrica, constipação intestinal, fraqueza, desmaios, entre outros.
Para tanto basta modificar a consistência dos alimentos, ingerindo opções mais macias e pastosas, não consumir líquidos durante as refeições, evitar o consumo de alimentos gordurosos, doces, picantes e com cheiros fortes e não deitar após as refeições também são hábitos que podem ajudar a aliviar esses sintomas.
É importante buscar uma orientação alimentar adequada, com o auxílio de um profissional de saúde e que considere fatores como vulnerabilidade social e renda, rede de apoio, idade e condições de trabalho de cada gestante.
Dados do Registro Nacional de Medula Óssea (Redome) mostram que, no Brasil, cerca de 650 pessoas aguardam na fila por uma doação de medula de um doador que não seja um parente. A boa notícia é que o número de doadores voluntários cadastrados tem aumentado expressivamente nos últimos anos. Em 2000, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), eram 12 mil inscritos e, dos transplantes de medula realizados, apenas 10% dos doadores eram cadastrados no Redome.
Hoje, com mais de 5,5 milhões de doadores inscritos, o Brasil tem o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. “A chance de se identificar um doador compatível, no Brasil, na fase preliminar da busca, é de até 88%, e ao final do processo, 64% dos pacientes têm um doador compatível confirmado”, explicou o instituto.
A medula, conhecida popularmente como tutano, é um tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos. Nela, são produzidos os componentes do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. Pelas hemácias, o oxigênio é transportado dos pulmões para as células de todo o organismo e o gás carbônico é levado destas para os pulmões, a fim de ser expirado. Já os leucócitos são os agentes mais importantes do sistema de defesa do organismo, combatendo infecções. Por fim, as plaquetas compõem o sistema de coagulação do sangue.
Como doar
Para ser um doador no Brasil, basta procurar o hemocentro do estado e agendar uma consulta de esclarecimento sobre a doação de medula óssea. O voluntário precisa ter entre 18 e 55 anos de idade e gozar de boa saúde. Ele vai assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e preencher uma ficha com informações pessoais. Será retirada uma pequena quantidade de sangue – 10 mililitros (ml) – do candidato a doador. É necessário apresentar o documento de identidade.
A partir daí, o sangue é analisado por exame de histocompatibilidade (HLA), um teste de laboratório que identifica características genéticas a serem cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade. Em seguida, os dados pessoais e o tipo de HLA são incluídos no Redome. O Inca alerta para a importância de manter os dados sempre atualizados, tendo em vista que, quando houver um paciente com possível compatibilidade, o voluntário será consultado para decidir quanto à doação. Para seguir com o processo, são necessários outros exames que confirmem a compatibilidade, além de uma avaliação clínica de saúde. Somente ao final dessas etapas o doador poderá ser considerado é apto.
Há riscos?
Segundo o Inca, relatos médicos de problemas graves ocorridos a doadores durante e após o procedimento são raros e limitados a intercorrências controláveis. Por isso, o estado físico de saúde do doador é checado. “Em alguns casos, é relatada pequena dor no local da punção, dor de cabeça e cansaço. Por volta de 15 dias, a medula óssea do doador estará inteiramente recuperada”, acrescentou o instituto.
Pacientes
No transplante de medula, a rejeição é relativamente rara, mas pode acontecer. Por isso, existe a preocupação com a seleção do doador adequado e o preparo do paciente. O sucesso do transplante depende de fatores como o estágio da doença, o estado geral e as boas condições nutricionais e clínicas do paciente e do doador.
“Os principais riscos se relacionam às infecções e às drogas quimioterápicas utilizadas durante o tratamento. Com a recuperação da medula, as novas células crescem com uma nova ‘memória’ e, por serem células da defesa do organismo, podem reconhecer alguns dos seus órgãos como estranhos. Essa complicação, chamada de doença do enxerto contra hospedeiro, é relativamente comum, de intensidade variável e pode ser controlada com medicamentos adequados”, garante o institut.
Procedimento
A doação de medula óssea é um procedimento que se faz em centro cirúrgico, sob anestesia peridural ou geral. O procedimento dura cerca de 90 minutos e requer internação por um período de 24 horas. Nos primeiros três dias após a doação, pode haver desconforto localizado, de leve a moderado, que pode ser amenizado com o uso de analgésicos e medidas simples de controle da dor. Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais depois da primeira semana após a doação.
Por Karine Melo – Repórter da Agência Brasil – Brasília