Membrana amniótica pode ser utilizada para recuperação de tecidos e acelerar cicatrização

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Tecnologia envolvendo a membrana amniótica, uma camada da placenta, foi liberada no Brasil no final de 2021 e é eficiente no tratamento de queimaduras e feridas. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição,  André Paggiaro, diretor do Banco de Tecidos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, examina a aplicação da técnica e os seus resultados.

Ele indica que “a membrana amniótica já é utilizada internacionalmente há bastante tempo, ela foi liberada para uso no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina no final do ano passado. No banco de tecidos do HC (Hospital das Clínicas da USP), a gente já vinha usando e até hoje vem utilizando como um projeto de pesquisa. Apesar de estar liberada pelo Conselho Federal de Medicina, ela ainda não é completamente regulamentada pelo Sistema Nacional de Transplante”.

A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta. “É uma camada bem fininha, que produz o líquido amniótico, esse líquido tem muitos fatores de crescimento que estimulam a cicatrização, melhoram a cicatrização e fazem com que as cicatrizes praticamente desapareçam. Essa membrana é muito rica nesses fatores, por isso se descobriu que, quando ela for utilizada para tratamento de feridas ou de queimaduras, pode estimular com que essa cicatrização aconteça mais rapidamente”, comenta Paggiaro.

Para que a membrana amniótica seja utilizada em pesquisas e tratamentos, é necessária a autorização. Antes do parto, a doadora é selecionada e passa por uma bateria de exames que buscam identificar a presença de doenças infectocontagiosas. O médico aponta: “Depois de assegurado que a paciente não tem essas doenças e que não vai trazer risco para o receptor, uma enfermeira realiza toda essa triagem, conversa com a mãe e solicita autorização para ver se ela concorda ou não em doar a sua membrana amniótica.”

O processo de retirada da placenta é chamado de dequitação e acontece logo após o parto. Ela é removida e, a partir de um processo manual, a membrana amniótica é extraída pelos médicos. Após o procedimento, a membrana é levada para o banco de tecidos para ser preparada.

Aplicação da tecnologia

De acordo com Paggiaro, a membrana amniótica é especialmente interessante para queimaduras de segundo grau que tenham a destruição de toda a epiderme e de parte da derme: “Essa membrana vai estimular a cicatrização dessa ferida e estimular que as próprias células do indivíduo se multipliquem, se reproduzam e tenham a formação de uma nova pele. Ela também pode ser utilizada para aqueles pacientes que têm feridas crônicas, uma ferida crônica provocada pelo diabete, provocada por úlceras venosas ou de outras causas.”

Muitas vezes as feridas ficam estagnadas e não cicatrizam. “A membrana amniótica vai funcionar como um choque quando você aplica no leito. Ela vai liberar uma série de fatores inflamatórios e esses fatores inflamatórios vão agir na ferida, reduzir a inflamação local e os fatores de crescimento vão chamar novas células que vão estimular o processo de cicatrização. Ela vai servir principalmente para queimaduras de segundo grau e feridas crônicas”, ressalta Paggiaro.

Os resultados da técnica mostraram-se surpreendentes. Paggiaro relata: “A gente aplicou, por exemplo, em uma paciente na semana passada, com uma queimadura de segundo grau em face, e em cinco, seis dias, ela já tinha a ferida completamente restaurada, coisa que demoraria dez dias para ter. Então, estamos bem animados com essa nova tecnologia e esperamos que em breve consigamos disponibilizá-la de forma mais abrangente para todo o País.”

FONTE: Jornal da USP

Pessoas que não sentem dor podem ser a chave para novos analgésicos

Análise de mutações genéticas em pessoas insensíveis à dor leva à descoberta de novo alvo para analgésicos. Estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Química e do Instituto de Ciências Biomédicas da USP foi capa da revista Science Signaling. Com base nessa ideia, pesquisadores liderados pela professora Deborah Schechtman, do departamento de Bioquímica do Instituto de Química (IQ) da USP, analisaram mutações genéticas em pacientes com insensibilidade congênita à dor com anidrose (CIPA) e identificaram proteínas modificadas que impedem a transmissão do impulso doloroso. A partir dos dados obtidos, eles desenvolveram um peptídeo, o TAT-pQYP, que apresentou efeito analgésico em um modelo animal de dor inflamatória. Os resultados foram publicados como matéria de capa da revista Science Signaling.

“Pessoas que têm mutações no receptor do fator de crescimento neural (NGF) não sentem dor. Fizemos um estudo detalhado das mutações descritas na literatura para essa doença e modelamos os efeitos das diferentes mutações encontradas em pacientes. Ao entender o que acontece com pessoas que não sentem dor, podemos mimetizar essa situação para tratar quem sente dor e também tentar uma inibição mais específica para algum processo, evitando efeitos colaterais,” afirma a professora Débora Schechtman.

Especialista em dor e coautora do estudo, a professora Camila Squarzoni Dale, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, explica que “os analgésicos usados hoje para dor crônica são moduladores da neurotransmissão, no caso dos antidepressivos e dos anticonvulsivantes, ou moduladores da resposta inflamatória, no caso dos anti-inflamatórios. Nosso peptídeo é diferente, ele modula diretamente uma via de dor. Nossa intenção é modificar como o cérebro interpreta a dor, modificando como os impulsos dolorosos vão entrar no sistema nervoso”.

Cerca de 10% da população adulta mundial é portadora de dor crônica. Nos Estados Unidos, para cerca de 7% das pessoas a dor crônica é incapacitante. “O que é impactante é que esses números superam o total de diabéticos ou de pessoas com doenças cardíacas ou mesmo de pessoas com câncer”, afirma a pesquisadora. A dor crônica já é um problema de saúde pública, tornando a busca por novos analgésicos cada vez mais urgente. Em pacientes com dores crônicas, a modificação e deterioração das vias nociceptivas, que transmitem os estímulos dolorosos, faz com que os remédios muitas vezes não funcionem adequadamente, ou ainda percam efeito com o tempo. Além disso, alguns países têm enfrentado a chamada epidemia de opioides, que já levou a mais de 500 mil mortes por overdose nos últimos 20 anos só nos Estados Unidos. Embora analgésicos opioides sejam indicados principalmente para alivio de dor aguda, como a dor pós-operatória, eles podem causar vício e têm efeitos colaterais.

Caminhos da dor

A insensibilidade congênita à dor com anidrose (CIPA) é uma doença autossômica recessiva rara que tem como principais sintomas a falta de percepção da dor sensorial e a incapacidade de suar. Como a dor física tem função protetora, sendo fundamental para nossa sobrevivência, é comum que pessoas com essa doença morram na infância, por lesões ou doenças não percebidas.

Como explica Déborah, pacientes com CIPA têm mutações no gene NTRK1, que codifica o receptor de tropomiosina quinase (TrkA), afetando a expressão e/ou atividade desse receptor. Um dos principais fatores que levam à doença é a perda de função do TrkA, que é ativado pelo fator de crescimento neural (NGF). A dor inflamatória se inicia com a liberação do NGF, que ativa o TrkA nos neurônios sensoriais periféricos, seguida da despolarização neuronal, atingindo o Sistema Nervoso Central (SNC).

Níveis de NGF elevados são encontrados em diversas condições de dor, como artrite reumatóide, endometriose e dores de cabeça crônicas. Anticorpos bloqueadores de NGF têm sido usados para tratar a dor da osteoartrite em humanos, mas eles apresentam efeitos colaterais como osteonecrose, que é a morte de um segmento de osso. Segundo os pesquisadores, isso pode acontecer devido à inibição da remodelação óssea, uma vez que a sinalização de NGF é necessária para o ‘brotamento’ (sprouting) e sobrevivência de fibras nervosas simpáticas durante a formação óssea. Igualmente, foram desenvolvidos inibidores do domínio quinase do receptor TrkA, mas, por não serem seletivos, também apresentam efeitos colaterais. “Se você inibe completamente a atividade de quinase, você também vai impedir o crescimento dos neuritos e o remodelamento dos neurônios”, explica Deborah.

As mutações ligadas à CIPA estão espalhadas pelo gene, resultando em sintomas variados da doença. A maior parte delas, no entanto, está concentrada no domínio de quinase. Para obter informações sobre o impacto na função da proteína e na sinalização, os pesquisadores mapearam as alterações moleculares causadas pelas mutações numa estrutura em 3D do TrkA. Com esse estudo de modelagem molecular, realizado em parceria com o grupo do professor Paulo de Oliveira, do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), e análise bioquímica, realizada pelo grupo de Deborah, eles identificaram mutações que diminuem a interação entre o receptor TrkA e um de seus substratos, a fosfolipase C gama (PLC). Esta fosfolipase está envolvida na ativação de canais iônicos, que são como condutores elétricos na membrana celular, possibilitando a comunicação no sistema neural.

A partir dos dados obtidos, eles desenharam um peptídeo permeável à célula, baseado na região de ancoragem da fosfolipase C no receptor TrkA. O peptídeo foi testado em células, nas quais inibiu a ligação entre TrkA e PLC e reduziu a ativação de PLC mediada pelo fator de crescimento neural (NGF). O passo seguinte foi testar em um modelo animal de dor inflamatória para confirmar o papel da PLC na sinalização celular da dor e a eficácia do peptídeo. “Vimos que o peptídio reverte a dor nos animais provocada por estímulos mecânicos e térmicos, por um período prolongado. Temos um peptídeo que modula uma das vias mediada pelo NGF e pode funcionar para dor tanto aguda quanto crônica”, disse Dale.

O peptídeo potencialmente terá menos efeitos colaterais. “Mostramos que o peptídeo inibe a fosforilação da fosfolipase C, mas não inibe toda a sinalização mediada pelo NGF. Dessa maneira, ele inibe pontualmente uma via da dor”, afirmou Deborah, acrescentando que “o peptídeo pode ser um lead para um fármaco. Um bom alvo de droga pode modular a atividade enzimática ou uma interação proteína-proteína, como é o nosso caso”. Os pesquisadores agora estão trabalhando para resolver a estrutura do complexo TrkA/PLC.

Outro objetivo é encontrar a melhor formulação terapêutica do peptídeo. “Nossa intenção é dividir esse trabalho com a indústria farmacêutica, para podermos desenvolver um produto. Como ele é uma molécula pequena, acreditamos que possa ser usado em formulações como pomadas, em apresentações tópicas, para ser absorvido pela pele. Achamos que ele vai ter uma eficácia diferenciada em termos de efeito para a dor”, conclui Dale.

O estudo contou com colaboradores das áreas de modelagem molecular, biologia celular e experts em dor e foi realizado no âmbito de um Projeto Temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O artigo Structural analysis of TrkA mutations in patients with congenital insensitivity to pain reveals PLCγ as an analgesic drug target pode ser lido aqui.

Texto: da assessoria de comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

Começam a nascer os primeiros bebês de casais homoafetivos formados por homens

Após a atualização dos critérios de reprodução assistida no Brasil, ocorrida em julho do ano passado, começam a nascer os primeiros bebês de casais homoafetivos formados por homens.

Isso só foi possível graças à aprovação da Resolução 2.294/2021 , do Conselho Federal de Medicina (CFM), que desde a publicação, em julho de 2021 que permite o uso de óvulos de parentes, de até quarto grau, para gerar bebês por meio de reprodução assistida.

Os primeiros bebês a serem concebidos depois da publicação da norma são os gêmeos Marc e Maia, filhos do casal Robert e Gustavo. As crianças, que estão com dois meses de vida, são o motivo da alegria dos pais.

“É um prazer gigantesco, tem sido o momento mais especial da nossa vida. Tem momentos de desespero também: na hora que os dois começam a chorar e às vezes a gente não sabe o que fazer, aí tenta uma coisa, tenta outra, dá o leite, troca fralda, até conseguir alinhar. Mas tirando isso, é uma rotina muito animada, é muito gostoso”, diz o engenheiro Gustavo Catunda de Rezende.

O casal usou o material genético de Robert, o óvulo da irmã de Gustavo e o ventre da prima de Gustavo, que carregou os gêmeos durante as 35 semanas de gestação.

A relação com a prima continua o mesmo. “A gente se fala praticamente todos os dias. Infelizmente a gente mudou para São Paulo, ela está em Brasília. Mas em breve ela deve vir visitar a gente, visitar os bebês. É um prazer gigantesco, mas é sempre bom lembrar que barriga solidária não configura mudança em arranjo familiar. Então a relação dela com os meus filhos é a mesma se tivesse nascido do meu próprio útero, então ela é tia ou prima dos bebês, como elas preferirem”, disse Gustavo.

O casal de engenheiros e criadores de conteúdo montou no Instagram o perfil @2depais para compartilhar todo o processo de fertilização in vitro, gestação, parto e os melhores momentos da vida de Marc e Maya.

Mudança

Antes da atualização desta resolução, só era permitido aos casais homoafetivos do sexo feminino a gestação compartilhada, onde uma das mulheres captava os óvulos e a outra gestava, com espermatozoides doados. “Na resolução de 2021 entrou o entendimento de que casais do sexo masculino tem essa total liberdade. Mas, no caso do casal masculino, não pode ser embriões provenientes de espermatozoides de um e de outro, tem que ser de um ou de outro, porque a carga genética precisa ser conhecida”, explica a médica especialista em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva, Thais Domingues.

A resolução diz que “Na eventualidade de embriões formados de doadores distintos, a transferência embrionária deverá ser realizada com embriões de uma única origem para a segurança da prole e rastreabilidade”.

Avanço

Membro da Câmara Técnica do CFM que se dedica ao tema da reprodução assistida e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, o médico Adelino Amaral Silva, especialista em Reprodução Humana Assistida pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), considera a atualização da resolução um avanço.

Casais gays podem ter bebês com material genético dos dois pais – Arquivo pessoal

“A resolução veio acompanhar a evolução dos modelos de família. A união homoafetiva já é uma entidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, é totalmente legal. O CFM tinha realmente que legislar em prol desses casais. Isso foi uma proposta que saiu da câmara técnica de maneira que você não descrimine, que inclua e assim tenham direito a fazer a sua família. Eu considero um avanço. Nos últimos dez anos o conselho vem sempre na vanguarda para aperfeiçoar as suas resoluções de acordo com a evolução dos modelos familiares e evolução do perfil sociológico”, afirma o médico.

Procedimento

Existem cinco técnicas de reprodução assistida, entre elas a fertilização in vitro (FIV), opção utilizada para os casais homoafetivos. A FIV segue as seguintes etapas: cerca de dez dias depois da menstruação é feita uma medicação subcutânea, que é uma injeção na barriga para fazer os folículos crescerem, chamada estimulação ovariana.

“Então no último dia, que seria perto do dia ovulatório normal da mulher, a gente retira os óvulos por via vaginal e esses óvulos são fertilizados com sêmen de doador, no caso do casal do sexo feminino, e depois de cinco dias são formados os blastócitos [células primordiais do embrião]. Se não tiver indicação de congelamento, eles podem ser introduzidos já na mulher, que pode ser tanto naquela que retirou os óvulos, quanto na outra, se ela tiver feito o preparo do útero para receber os embriões”, explica a médica.

Para os casais homoafetivos formados por homens, quem faz essa retirada de óvulos é uma doadora. Já a gestante de substituição deve pertencer à família de um dos parceiros em grau de parentesco consanguíneo até o quarto grau, desde que não ocorra a consanguinidade. Além desse vínculo, a cedente deve ter pelo menos um filho vivo. No Brasil, não é permitida a “barriga de aluguel”, ou seja, a cessão temporária do útero não pode ter caráter lucrativo.

“Os óvulos podem estar congelados ou pode ser retirado no momento que eles vão colher o sêmen. Os dois podem colher [o sêmen] para fertilizar, mas na hora da transferência só pode fertilizar material de um dos dois homens”, reforça a especialista.

Transgêneros

Outra novidade da resolução é que foi inserido o grupo de transgêneros para tratamento de reprodução assistida. No entanto, a preparação deve ocorrer antes da mudança de sexo, aconselha a médica.

“É extremamente importante, antes de fazer a mudança de sexo, com uso  hormônio e tudo mais, aconselhá-los a congelar tanto o óvulo, quanto o espermatozoide, para no futuro não precisar passar por um desconforto de parada de hormônios para tentar resgatar uma função do órgão reprodutor”.

FONTE: Agência Brasil

Cuidados com a voz passam por uma boa hidratação

Suave, potente, aguda, grave, a voz pode se apresentar de várias formas e intensidades, podendo ser um destaque entre tantas existentes. A voz é tão importante que conta com uma data especial e campanha para sua prevenção e cuidado. Quando bebês, emitimos alguns sons e grunhidos e, conforme vamos crescendo, balbuciamos palavras até aprendermos a falar de forma que todos escutem e entendam o que está sendo dito. Mas, para que isso seja possível, há uma série de órgãos que funcionam em conjunto para que a voz seja ouvida nitidamente, como explica a fonoaudióloga Kátia Nemr, coordenadora do Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Voz da Faculdade de Medicina da USP. “A voz é produzida pelo ar vindo dos pulmões e passa pela laringe, nela encontrando as pregas vocais, que vão vibrar e produzir um som que vai ser modificado pela articulação e pela ressonância.” Se essa engrenagem estiver em equilíbrio, a voz será produzida de forma mais harmônica e a comunicação será mais efetiva.

HidrataçãoAlterações podem ser verificadas, com o passar do tempo, seja por doenças ou mudas vocais, como a adolescência, ou por hábitos inadequados, como o fumo, bebidas alcoólicas, uso de drogas e medicamentos sem prescrição médica. Kátia destaca situações em que fazemos o uso incorreto da voz. “Evitar gritar, pigarrear, falar alto ou por um tempo prolongado em um tom mais alto ou em ambiente com muito ruído, muita poeira, ar condicionado.” Todas essas situações podem danificar sua voz, por esse motivo o ideal é se poupar o máximo possível.

Hidratação é a palavra-chave no cuidado com sua voz. A fonoaudióloga lembra que beber água ao longo do dia ajuda na prevenção de problemas, assim como evitar alimentos que possam favorecer o refluxo gastroesofágico ou laringofaríngeo, cuidar do hábito do sono e ter tempo para o lazer. Também é importante evitar estresse muito intenso, que gere tensão corporal, o que vai interferir na produção da voz e na sua comunicação.

Estados de rouquidão persistentes, por mais de 15 dias, merecem atenção e uma avaliação médica. Exercícios ou técnicas vocais divulgadas na internet podem não fazer bem para a sua voz, já que cada pessoa tem características próprias, assim o ideal é procurar a ajuda de um fonoaudiólogo, que irá fazer o tratamento adequado.

FONTE: Jornal da USP

TDAH/autismo: estudos investigam comportamento e aprendizagem motora de pacientes

Os transtornos de neurodesenvolvimento são uma das principais causas de distúrbios comportamentais em adultos e crianças. Desatenção, hiperatividade e impulsividade estão entre os sintomas centrais do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), o mais comum na infância. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) também afeta a comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação. Estudos mostram que anormalidades neurais podem prejudicar também a aprendizagem motora dos indivíduos. O tema pautou três trabalhos de mestrado defendidos recentemente na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, orientados pelo professor Jorge Alberto de Oliveira.

Autora de um desses trabalhos, Sandra Katayama dos Santos estudou aspectos motores do autismo. Em seu estudo de caso, 22 adultos diagnosticados foram submetidos a testes para averiguar a dominância lateral (preferência pelo lado esquerdo ou direito), a gravidade do transtorno e a habilidade motora manual, com a manipulação e a apreensão de objetos com as mãos. Os voluntários apresentaram valores muito abaixo da normalidade quando comparados a indivíduos típicos nos mesmos testes. A pesquisadora também constatou que, quanto maior a gravidade do transtorno, menor a consistência e a habilidade manual do indivíduo.

Além disso, a pesquisadora também analisou o microssistema dos voluntários, buscando compreender e interpretar suas variáveis de dimensão pessoal, vida institucional e aspectos relacionais. Fatores como o conhecimento dos pais, a forma de lidar com o diagnóstico, a ausência de acompanhamento médico, falta de estimulação e superproteção representam empecilhos no comportamento motor dos indivíduos com TEA, apresentando correlação com resultados menos favoráveis nos testes de habilidade motora.

Já em relação ao Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), o comportamento socioemocional de crianças pode apresentar problemas significativos quando comparado com crianças sem o transtorno. Para analisar o perfil socioemocional dessas crianças, a pesquisadora Daniela Coelho Lastoria de Godoi aplicou questionários a pais/responsáveis e professores de educação física do ensino fundamental II, de uma escola da rede particular de ensino da cidade de São Paulo A partir das respostas, foram identificados 14 escolares com  indicativos de TDAH. A pesquisadora realizou, então, análises descritivas das variáveis e comparativas dos informantes, por meio de métodos estatísticos.

Dentre os maiores entraves apontados pelos dados, destacam-se problemas emocionais e de conduta, hiperatividade e dificuldades de relacionamento com os colegas. A pesquisadora concluiu que as dificuldades dos (as) escolares analisados se encontravam em déficits quando comparadas às normas de referência. Entretanto, o comportamento pró-social, que avalia a empatia e a solidariedade, foi classificado como normal por ambos os grupos de avaliadores.

O estudo aponta para o fato de que habilidades sociais específicas devem ser desenvolvidas nessas crianças, pois sabe-se que prejuízos socioemocionais podem levar à depressão, ansiedade, problemas de alimentação, abuso de substâncias e evasão escolar, entre outros. A pesquisadora sugere que haja um maior entendimento do transtorno, tanto pelos familiares como pelos professores, para que o (a) escolar possa ser acompanhado adequadamente durante seu desenvolvimento.

Revisão da literatura
Se, por um lado, as variáveis pessoais podem afetar o desenvolvimento das habilidades motoras e sociais dos indivíduos com transtornos de neurodesenvolvimento, por outro lado, a manipulação da prática por meio de diferentes estruturas pode representar um aliado na busca por intervenções adequadas. Em sua dissertação de mestrado, Andreza Rodrigues realizou uma revisão integrativa da literatura sobre o tema reunindo e analisando 116 artigos científicos.

A pesquisadora elucida que as estruturas de prática estão diretamente relacionadas à aprendizagem motora, ou seja, ao processo de mudanças no comportamento do indivíduo que leva a execuções cada vez mais eficientes de tarefas motoras. Essas habilidades são adquiridas por meio de práticas que podem ser manipuladas de diferentes maneiras  nas aulas de educação física. Por exemplo, em uma aula direcionada ao trabalho com o fundamento arremesso no basquete, essa prática poderia ser manipulada com variações de posição e distância da cesta.

A pesquisadora relata a correlação entre os acometimentos neurais característicos do TDAH e as áreas cerebrais ativadas em cada estrutura de prática. Porém, em seu levantamento foi constatada uma carência de estudos nesse sentido, sendo que a maior parte dos artigos publicados aborda outros aspectos do desenvolvimento motor ou correlaciona a aprendizagem motora e o TDAH sob diferentes óticas, como, por exemplo, do feedback, dos focos de atenção e do conhecimento de resultados. Assim, considerando os aspectos neurais em comum, a manipulação da prática poderia levar a uma melhora na aprendizagem motora dessa população.

Mais pesquisas no campo dos transtornos neurodesenvolvimentais e aprendizagem motora seriam benéficas não apenas no sentido de promover intervenções mais adequadas, mas também para o melhor entendimento da condição. A pesquisadora Daniela Coelho Lastoria de Godoi destaca a “importância da utilização de instrumentos rastreadores durante os anos escolares para investigar possíveis indicativos de transtornos do neurodesenvolvimento, favorecendo encaminhamentos e intervenções preventivas necessárias”.

Qualificação do profissional de Educação Física

Sandra Katayama ressalta também o papel da qualificação do profissional de Educação Física para o sucesso no atendimento a indivíduos com transtornos neurodesenvolvimentais. Para além da prescrição de atividades, “existem outros elementos envolvidos que influenciam no desenvolvimento motor de autistas, afetando de forma direta o sucesso ou fracasso. Isso se reflete na aquisição ou não de um padrão de movimento para o indivíduo e até na manutenção de uma rotina de atividade física que lhe garanta um estilo de vida saudável”, explica.

Andreza Rodrigues complementa que os professores, apesar de não emitirem diagnósticos, podem apontar indicativos, conversar com os pais e encaminhar aos médicos quando necessário. Por isso, o conhecimento e estudo dos transtornos pelos profissionais de Educação Física são essenciais para a abordagem correta aos indivíduos nessa situação.

Da Assessoria de Comunicação da EEFE

Mais informações: e-mail comunicaeefe@usp.br, na Assessoria de Comunicação da EEFE

FONTE: Jornal da USP

Neuropatias diabéticas podem ser tratadas ou prevenidas com fisioterapia

O Laboratório de Biomecânica e Postura Humana da Faculdade de Medicina da USP desenvolve pesquisa clínica para tratamento de neuropatias diabéticas. O objetivo é utilizar exercícios fisioterápicos para beneficiar pacientes acometidos pela doença e que sentem os sintomas, principalmente, nos pés e tornozelos. Segundo especialista, as neuropatias acometem cerca de 50% das pessoas diabéticas por volta de dez anos após o diagnóstico. O estudo é gratuito e abrange a faixa etária dos 18 aos 70 anos.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Isabel Sacco, do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), explica que as neuropatias diabéticas decorrem da flutuação de glicemia no sangue, ou seja, da oscilação da taxa de açúcar, e prejudica os nervos, geralmente nas extremidades, como pés e mãos. A deterioração dos nervos causa a perda de estímulos táteis, térmicos, causa formigamento, queimação, agulhadas e incômodo. Os pés perdem força e podem, inclusive, apresentar deformações e, “quando dorme, quem tem neuropatia começa a sentir muito calor à noite, não consegue deixar os pés cobertos. Então, se você sente tudo isso, desconfie que pode ter essa neuropatia”.

Antes do estudo, o tratamento mais comum para a neuropatia na região dos pés era a recomendação de uso de calçado especializado para evitar que o pé sofresse algum ferimento. O diabete afeta o processo de cicatrização, portanto, a preocupação primordial é evitar qualquer tipo de úlcera, porque a dificuldade no tratamento da ferida pode levar à amputação. Ao todo o pé tem 25 músculos, 33 articulações e 108 ligamentos. E, dentro de um calçado rígido, o membro pode atrofiar e perder a flexibilidade. Pensando nisso, os pesquisadores viram na fisioterapia uma forma de prevenir a neuropatia, mas também tratar os sintomas. “Os exercícios vão fazer o papel de preservar a saúde desses músculos, dessas articulações, e manter a função, mesmo que a pessoa tenha perda de sensibilidade. No início da doença, é possível prevenir esses tipos de lesões e manter a saúde dos pés”, afirma Isabel.

O projeto atende pessoas diabéticas entre 18 e 70 anos. Os pacientes passam por avaliação completa, são diagnosticados e, se confirmada a neuropatia, são convidados a participar do ensaio clínico. São sorteados para remanejo em dois grupos: os que receberão tratamento e os que não receberão na primeira fase. O grupo a ser tratado terá acompanhamento por oito ou 12 semanas com fisioterapeuta e uma tecnologia de habilitação, que pode ser uma cartilha com orientações ou um software, caso a pessoa tenha acesso a internet. Depois do acompanhamento, a equipe avalia como foi o progresso do tratamento. Para participar, basta entrar em contato pelo e-mail foca.rct@gmail.com ou pelos telefones (11) 98287-9811 ou (11) 98549-2016.

FONTE:  Jornal da USP