Células CAR-T: terapia celular contra o câncer

Os testes com células CAR-T serão exclusivos para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional. Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto vai receber pedidos de inclusão enviados apenas pelos médicos de possíveis candidatos.

O dia 15 de março vai marcar o início do que pode ser uma revolução no tratamento de linfoma e leucemia na América Latina. Nessa data, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP vai começar a incluir os candidatos ao estudo clínico de fases 1 e 2 do tratamento com células CAR-T.

O tratamento foi desenvolvido no Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiado pela Fapesp no Hemocentro da FMRP.

O tratamento é específico para pacientes com leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B que não responderam ou apresentaram o retorno da doença após a primeira linha de tratamento convencional, como quimioterapia e transplante de medula.

O início do estudo foi anunciado na quinta-feira (7/3) durante a Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (CECTI) e vai tratar 81 pacientes até o ano que vem (leia mais aqui).

“Inicialmente serão quatro pacientes tratados no Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto. Os dados serão então submetidos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para avaliação da segurança e, se tudo correr bem, os outros centros envolvidos no estudo poderão começar a tratar outros candidatos”, disse à Agência Fapesp Diego Villa Clé, coordenador médico do Hemocentro de Ribeirão Preto.

Além do Hospital das Clínicas da FMRP, participam do estudo o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em São Paulo, o Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e os hospitais Beneficência Portuguesa e Sírio-Libanês, em São Paulo.

O tratamento com células CAR-T foi desenvolvido em 2017 nos Estados Unidos e, desde 2019, no Brasil, pela FMRP, em colaboração com o Instituto Butantan e apoio da Fapesp.

A técnica consiste na retirada de linfócitos do próprio paciente, que são manipulados em laboratório e reaplicados no organismo.

O objetivo é preparar os linfócitos para identificar e eliminar células tumorais que não foram detidas por outros tratamentos, como quimioterapia e transplante de medula (leia mais em: agencia.fapesp.br/31656 e agencia.fapesp.br/38914).

O Hemocentro de Ribeirão Preto abriga a única fábrica de células CAR-T da América Latina, uma das poucas no mundo que não pertencem a grandes indústrias farmacêuticas. Até hoje, 20 pessoas foram tratadas com as células preparadas no Núcleo de Terapia Celular Avançada de Ribeirão Preto (Nutera-RP), um Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCD) da Fapesp. O núcleo pode preparar até 300 tratamentos por ano.

“Estima-se que de 3 mil a 4 mil pessoas poderiam se beneficiar desse tipo de tratamento hoje no Brasil. O Nutera-RP poderá aumentar a capacidade futuramente para dar conta da demanda, mas precisará de mais investimentos”, conta Clé.

Na iniciativa privada, o tratamento importado pode custar até R$ 2 milhões por paciente. O nacional, que pode ser adotado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), poderá sair por um sexto desse valor.

Pacientes

Os primeiros quatro pacientes tratados no HCFMRP terão uma pequena quantidade de sangue colhida, de onde os linfócitos T, um tipo de célula de defesa, serão isolados e modificados no Nutera-RP. Esse processo leva de 15 dias a um mês.

Depois de internados, os pacientes receberão então uma única infusão das próprias células, agora reprogramadas para atacar as células tumorais. Serão 15 dias de internação para acompanhar os possíveis efeitos colaterais, resultado da inflamação provocada pelo tratamento.

“A inflamação é um sinal de que o tratamento está fazendo efeito, mas pode causar desde sintomas leves, como febre e dor no corpo, até mesmo uma queda de pressão sanguínea e dificuldade respiratória, que pode ocorrer em 25% a 30% dos casos”, esclarece Clé.

Após a alta, o paciente seguirá sendo acompanhado em consultas semanais, até ter a primeira avaliação de eficácia do tratamento, após 30 dias da infusão. Os testes serão repetidos após 90 dias do início do tratamento. Todos os pacientes serão monitorados por cinco anos como parte do estudo.

“Esse é o primeiro e mais importante passo: mostrar que o tratamento é seguro e efetivo para ter a aprovação e poder ser disponibilizado tanto na rede pública quanto na privada”, encerra Clé.

Mais informações sobre o estudo podem ser obtidas em: www.hemocentro.fmrp.usp.br/terapia/.

Com informações de Carlos Fioravanti, da Revista Pesquisa Fapesp

*Da Agência Fapesp

FONTE: Jornal da USP

Os efeitos da falta de tempo para cuidar da saúde nas mulheres brasileiras

Dificuldade no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho das mulheres é fonte de estresse e pode influenciar as prioridades pessoais e também reduzir o tempo disponível para o próprio cuidado e o lazer, aponta o Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Visando reforçar a necessidade de cuidados integrais entre as mulheres, o projeto Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) apresentou os principais resultados de 15 anos de estudos sobre diferentes condições de saúde femininas. As pesquisas mostram que as mulheres têm hábitos mais saudáveis, fumam menos, não se excedem no álcool e consomem mais frutas e legumes. No entanto, foi constatado que 40% das mulheres, de todas as faixas etárias e grupos socioeconômicos, não conseguem cumprir a recomendação mínima de atividade física no lazer, que é de duas horas e meia por semana. De acordo com os estudos, isso se deve à dificuldade de conciliar o trabalho com as rotinas familiares, principalmente entre mulheres mais jovens, com menos escolaridade e filhos pequenos, aumentando o estresse e o risco de enxaqueca.

O Elsa-Brasil, que inclui várias universidades brasileiras além da USP, é um estudo epidemiológico dedicado a pesquisar os fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis, como câncer e distúrbios cardiovasculares. Uma pesquisa realizada com mulheres que se submeteram a mamografia para identificar câncer de mama em Salvador (BA) mostra que as disparidades socioeconômicas e reprodutivas entre mulheres pretas e brancas foram responsáveis por diferenças na densidade mamográfica, o que pode dificultar o diagnóstico da doença. Outro trabalho identificou uma ocorrência de 8,5% de síndrome de ovários policísticos (SOP), que causa irregularidade na ovulação e aumento dos níveis de hormônios masculinos, propondo critérios para identificar a doença no pós-menopausa e sua associação com diabete e problemas cardiovasculares, além de um questionário para avaliar o excesso de pelos corporais, um dos sintomas da SOP.

Estilo de vida e saúde

As pesquisas do Elsa-Brasil apontam que a dificuldade no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é fonte de estresse e pode influenciar as prioridades pessoais e também reduzir o tempo disponível para o próprio cuidado e o lazer, afetando a saúde e o bem-estar, especialmente entre as mulheres. Elas se referem com mais frequência à existência de conflito entre trabalho e família, quando esforços para atender às demandas no emprego interferem na habilidade de responder ao que é demandado pela vida familiar. Essas mulheres em geral tiveram mais chances de mencionar uma pior autoavaliação de saúde, estilo de vida menos saudável, enxaqueca, tiveram maior ganho de peso e queixas de sono mais frequentes.

A relação entre a enxaqueca e indicadores de conflito na relação entre trabalho e família foi investigada em 6.183 mulheres e 5.664 homens participantes do projeto. Os resultados apontam maior carga da doença na população feminina relacionada a vários fatores de estresse, tais como a interferência na tensão do trabalho com a família, assim como a interferência dos familiares no trabalho e falta de tempo para cuidados pessoais e lazer.

Altas demandas psicológicas de trabalho e baixo apoio social interagiram com a falta de tempo para os cuidados pessoais em associação com enxaqueca definitiva. Entre os homens, a enxaqueca foi associada apenas à falta de tempo para os cuidados pessoais.

Equilibrar as exigências das esferas profissional, familiar e doméstica pode ser altamente relevante para a gestão não só das cefaleias, mas para a saúde integral das mulheres.

As mulheres pesquisadas pelo Elsa-Brasil são mais comprometidas com estilos de vida mais saudáveis que os homens, na medida em que fumam menos, bebem menos excessivamente álcool e consomem mais frutas e legumes, no entanto é menor o engajamento na prática da atividade física no lazer, o que pode estar relacionado com o menor tempo disponível. A partir da recomendação de 150 minutos por semana de atividade moderada ou vigorosa, essa prática foi avaliada por meio de um acelerômetro usado na cintura abdominal por sete dias, constatando o não cumprimento dessa meta em 40% das mulheres, de todas as faixas etárias e grupos socioeconômicos.

O grupo mais inclinado a essas práticas tem idade igual ou superior a 60 anos, de ascendência asiática e com maior escolaridade, indicando que, para a maioria das participantes do estudo, é mais provável que elas se engajem a partir de uma idade em que os filhos estão adultos e a carreira atinge estabilidade.

O trabalho doméstico é desigual entre os sexos e compete com as atividades de lazer das mulheres mais que os homens, um desafio adicional especialmente para aquelas que têm filhos pequenos, facilitando seu regresso exclusivo aos seus papéis de donas de casa tradicionais e com reduzidas chances de prática de atividade física, especialmente as de menor escolaridade, reflexo da posição social.

Em termos de orientação sexual, as mulheres heterossexuais são as que apresentam comportamentos de saúde mais saudáveis em termos de tabagismo, consumo de álcool, alimentação e sono, continuando mais prejudicadas quanto à atividade física, em comparação com as mulheres em relações homoafetivas (e os homens). Adicionalmente, foi encontrada uma associação entre tabagismo e discriminação percebida ao longo da vida nas mulheres, principalmente, entre aquelas com mais de 60 anos, pardas e de classe social mais elevada. Considerando a importância da atividade física regular para a saúde, é necessário que políticas públicas estimulem e facilitem a prática regular de atividade física em mulheres.

De acordo com as pesquisas do Elsa-Brasil, o perfil entre as mulheres que têm distorção para mais peso, ou seja, que se percebem mais pesadas, é de pessoas mais jovens, pardas, com maior escolaridade e que não costumam fazer dieta, sentindo-se inseguras para praticar atividade física. Já entre as que distorcem para menos peso, estão as mulheres mais velhas, pretas, com menor escolaridade e que costumam fazer dieta. O peso das mulheres foi maior à medida que a posição social diminuiu, enquanto nos homens ele diminuiu à medida que a posição social também sofreu. Com a pandemia de covid-19 houve maior adesão pelo sexo feminino às medidas de prevenção recomendadas e foi possível perceber que as mulheres que mais aderiram ao “ficar em casa” foram as que também tinham um estilo de vida mais saudável, além de serem mais velhas e com mais escolaridade. Os resultados de todos estes estudos contribuem para uma melhor compreensão da influência do estilo de vida e dos comportamentos de saúde na saúde e no bem-estar das mulheres brasileiras, podendo levar à implementação de políticas de promoção da saúde mais eficazes e realistas.

Doenças crônicas

A hipertensão arterial é uma das doenças mais comuns em adultos, sendo responsável direta por um grande número de mortes por derrame, infarto e outros eventos, atingindo cerca de 25% dos adultos brasileiros (Pesquisa Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, 2013), e sendo mais frequente entre as mulheres a partir da menopausa. Uma dieta de qualidade ruim (alta em sódio e baixa em potássio) facilita o desenvolvimento de hipertensão e dificulta o seu tratamento. A análise da urina de 6.749 mulheres e 5.870 homens mostrou que os homens consomem mais sal do que as mulheres (12,9 gramas por dia e 9,3 gramas por dia, respectivamente). Quando esse consumo é corrigido para o peso corporal, a diferença fica menor, 160 e 140 miligramas por quilo (mg/kg). Outro dado importante é que a pressão na mulher é mais sensível ao sal, ou seja, uma dieta de alto consumo, 5 gramas (g) ou mais por dia, causa maiores prejuízos para mulheres. A qualidade da dieta, dada pela relação entre sódio e potássio na urina, é ruim em ambos os sexos.

Entre as participantes do Elsa-Brasil, cerca de 1,6% das mulheres com idade entre 35 e 74 anos referiram ter tido diagnóstico de câncer de mama. Diferente do que recomenda o Ministério da Saúde, de que mulheres entre 50 e 69 anos realizem mamografia a cada dois anos, a grande maioria das mulheres estudadas pelo projeto na Bahia realizou o último exame menos de dois anos depois do anterior, proporção que aumenta com a escolaridade, de 60,2% entre as que têm ensino fundamental a 82,4% entre aquelas com nível superior. A idade mediana da primeira mamografia ficou entre 40 e 49 anos, faixa em que 44,1% das mulheres fez o exame pela primeira vez. Esta distribuição não variou com a escolaridade, a situação conjugal e a cor da pele. Um estilo de vida saudável se associou a uma periodicidade de rastreio mamográfico dentro do recomendado. Nota-se um padrão de intenso uso de serviços médicos, com história de cirurgia plástica mamária em 7,1% do total, proporção que aumenta com a escolaridade (de 1,2% a 11,6%) e foi maior entre aquelas com união conjugal atual ou prévia.

Pesquisas com integrantes do Elsa-Brasil e mulheres assistidas pelo SUS mostram que, em comparação às brancas, mulheres autorreferidas como pretas apresentaram mamas mais densas na mamografia, o que é um fator de risco reconhecido para o câncer de mama. As disparidades socioeconômicas e reprodutivas entre mulheres pretas e brancas foram responsáveis por essas diferenças raciais na densidade mamográfica. Nesta mesma população de estudo, verificou-se maior densidade mamária à mamografia em mulheres entre 50 e 59 anos, quando comparadas a mulheres entre 60 e 69 anos, assim como mulheres mais magras, as que tiveram menos de dois filhos ou nenhum, amamentaram menos meses, faziam uso atual de terapia hormonal na menopausa e consumiam bebidas alcoólicas. Mais informações sobre o tema podem ser obtidas no documentário Para enfrentar o câncer de mama: MULHERES pesquisam desigualdades entre MULHERES, que pode ser acessado neste link.

Entre todas as mulheres estudadas com menopausa natural, 30,8% usaram terapia hormonal da menopausa (THM) no passado, a maioria com idade atual igual ou superior a 60 anos, sobretudo brancas, mas também pardas, com plano de saúde privado e não obesas, e 11,1% estavam em uso da THM, a maior parte delas com 60 anos ou mais, casadas, separadas ou divorciadas, nível de escolaridade superior ou pós-graduadas, plano de saúde privado, não obesas e sem contraindicação para a terapia. Entre as mulheres acima de 60 anos que fazem THM, 73,6% tinham mais de dez anos de menopausa e mais de cinco de terapia, e 15,2% apresentavam pelo menos uma contraindicação formal para a THM. Do total de 2.138 mulheres normotensas ou com hipertensão após a menopausa, 1.492 (69,8%) nunca tinham usado a THM, 457 (21,4%) usaram no passado e 189 (8,8%) estavam em uso atual. O uso de THM foi mais comum em mulheres fisicamente menos inativas, não fumantes e não diabéticas. Mulheres que fazem THM apresentaram menores chances de ter hipertensão, em comparação com as que nunca a usaram. Na maioria dos casos, a THM foi iniciada com idade até 59 anos, com menos de dez anos de menopausa e o uso durou até cinco anos. Outros dados podem ser consultados no boletim Saúde e Câncer de Mama, com resultados de um estudo suplementar que fez a caracterização do perfil e trajetórias das mulheres que realizaram mamografias de rastreamento na Bahia, registradas no Sistema de Informação do Câncer (Siscan), disponíveis neste link.

A síndrome de ovários policísticos (SOP) é uma doença comum em mulheres em idade reprodutiva, que costumam apresentar irregularidade na ovulação, aumento dos níveis de hormônios masculinos e ovários com aspecto de vários cistos. No Brasil, a única avaliação disponível em nível nacional da frequência da SOP foi calculada pelo Elsa-Brasil em 8,5% das mulheres assistidas pela rede de atenção primária em Salvador. O projeto também validou o primeiro questionário curto e autoadministrado para identificar o hirsutismo, que é o excesso de pelos corporais em mulheres, decorrente do aumento dos níveis de hormônio masculino, um dos aspectos a serem avaliados no diagnóstico da SOP. O questionário validado foi usado num estudo que propôs um conjunto de critérios para identificar mulheres com SOP no pós-menopausa, momento em que se torna importante esse diagnóstico na identificação de grupo de risco para diabete e doenças cardiovasculares. As mulheres selecionadas de acordo com esses critérios apresentavam características da SOP, não apenas dentro do esperado, mas também amplamente associadas a esse transtorno.

FONTE: Jornal da USP

Consumo de álcool possui consequências a curto e longo prazo

O conceito de embriaguez definido pelo Legislativo brasileiro é a “perturbação psicológica mais ou menos intensa, provocada pela ingestão de álcool, que leva à total ou parcial incapacidade de entendimento e volição”. Para identificar um indivíduo “bêbado”, basta atentar para alguém falando enrolado, andando com dificuldade ou, apenas, mais sociável do que o costumeiro; mas por que os seres humanos ficam embriagados ao ingerir bebidas alcoólicas?

O professor Moacyr Aizenstein, do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), diz: “Se nós fizermos uma gradação, no início ele se sente relaxado, com doses um pouco maiores fica alegre, um pouquinho maiores e ele já perde a crítica e a coordenação motora. Com doses maiores ainda, a bebedeira, ele perde totalmente o controle”.

O que acontece quando o álcool é ingerido?

Segundo o especialista, os efeitos agudos ocorrem no sistema nervoso central, uma vez que o álcool é uma droga depressora, que diminui a ansiedade e produz sentimentos de euforia e relaxamento muscular no indivíduo: “É quase como uma anestesia, o indivíduo perde o controle sobre si, porque o álcool deprime o sistema nervoso central”. Além disso, a droga é responsável por produzir a liberação da dopamina, um neurotransmissor relacionado com o prazer e, dessa forma, o etilista é alguém consumido por essa sensação.

De acordo com Aizenstein, dependendo da pessoa, o efeito é diferente, por conta do álcool ser um indutor de enzimas, e, quanto mais for ingerido, maior serão seus efeitos sobre o metabolismo. “Se o indivíduo nunca bebeu, o metabolismo do álcool é muito baixo, então, se bebe uma garrafa, fica bêbado. Agora, o indivíduo que vem bebendo constantemente, como ele metaboliza bastante até ficar bêbado, vai ingerir uma quantidade muito maior”. Ele ainda aconselha que as pessoas pratiquem a redução de dano: “Se restringir a doses compatíveis, não beber de estômago vazio e, enfim, não dirigir”.

Sob outro ponto de vista, Arthur Guerra, docente do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFMUSP), discorre que os efeitos são divididos em dois grupos: os fisiológicos — como a molécula de etanol interage no corpo humano — e os psicológicos — a resposta cerebral.

Quanto ao primeiro, ele explica que, após passar pelo esôfago, estômago e intestino, o álcool é encontrado no fígado, local em que é metabolizado e fracionado em pequenas porções de álcool etílico, ou seja, etanol; após isso, ele é jogado de volta ao sangue e espalhado por todo o corpo. “No próprio fígado, a célula hepática, chamada hepatócito, tem um poder de metabolização. Mas, quando é muito álcool, ele perde esse poder e, com isso, aumenta a enzima Gama GT”, conta.

No momento em que chega ao cérebro é que os efeitos psicológicos são acionados e, segundo Guerra, essa é a principal ação e o motivo do álcool ser usado há milhares de anos. Do ponto de vista bioquímico, a primeira depressão causada pela droga é a censura: “Por isso que o álcool é usado em várias celebrações, é usado para ficar com os amigos, usado para dar uma relaxada. Não em excesso, apenas para poder ficar um pouco mais social”.

Consequências a curto e longo prazo

A curto prazo, a primeira consequência do uso do álcool é a embriaguez, ou intoxicação alcoólica, na qual o indivíduo ganha uma confiança excessiva — ligado à perda da censura — e possui seus reflexos diminuídos significativamente. “Por isso que nunca se deve associar álcool ao uso de algum veículo e também podem acontecer acidentes, quedas, fraturas, violência doméstica e brigas”, alerta o psiquiatra.

Já a longo prazo, ele destaca as complicações causadas no fígado, especialmente a esteatose hepática — que seria o acúmulo de gordura no órgão — e, consequentemente, pode acarretar em cirrose, ou seja, insuficiência hepática. Assim como pode resultar em pancreatite crônica, miocardite alcoólica, úlcera, câncer no tubo gastrointestinal, entre outras sequelas.

Aizenstein ressalta que, dependendo da quantidade de álcool ingerida em um curto espaço de tempo, as implicações podem acarretar em coma alcoólico e até em morte. Ademais, uma das maiores consequências causadas por essa droga é a dependência, isto é, a pessoa não consegue mais usá-la de forma regular, pois, quando não usada, ela tem uma sensação intensa de desprazer.

Controle do problema

O professor Arthur Guerra destaca a importância da prevenção por meio da educação e informação: “Nós chamamos de diagnóstico precoce, a pessoa começa a ter problemas e, antes de se tornar crônico, o especialista já consegue avaliar e fazer uma ação mais rápida. Há campanhas de prevenção, por exemplo; não se deve beber álcool antes dos 18 anos, porque o cérebro está em desenvolvimento”. Ele ainda diz que o mais importante é que pessoas próximas aos indivíduos nessa situação crônica sejam um exemplo para elas.

De acordo com o bioquímico Moacyr Aizenstein, o ideal, e compatível com a saúde, é que a pessoa utilize baixas doses por dia: duas para os homens e uma para as mulheres — segundo ele, estas são mais sensíveis e metabolizam com menor eficiência o álcool. Uma dose seria o equivalente a uma lata de cerveja (350 ml), uma taça de vinho ou 40 ml de destilado.

“Agora, quando o indivíduo se torna um dependente e passa muito dessa quantidade, é necessário um tratamento farmacológico. Claro que tem o tratamento dos alcoólatras anônimos, isso funciona muito bem, são reuniões onde o indivíduo deve compartilhar com outros alcoólatras os seus problemas, mas ele tem que ser submetido a uma terapia psicológica para entender realmente por que não consegue se controlar”, desenvolve.

Para finalizar, ele reforça que nem todo indivíduo que usa bebida alcoólica se torna dependente, “o indivíduo pode tomar todo dia e pode não se tornar viciado. O álcool é potencialmente indutor de dependência”. Dessa forma, outros fatores estão envolvidos nesse processo, como elementos psicológicos, sociais, econômicos e, inclusive, genéticos: “Mas o mais importante é a motivação interna do indivíduo para deixar de beber”.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

FONTE: Jornal da USP

Influência da tonalidade da pele em diagnósticos é diminuída por meio de reconstrução de imagem

Desenvolvimento recente da medicina, a imagem fotoacústica é uma técnica usada no diagnóstico por imagem que combina luz e ultrassom. Nesse método, um laser é apontado para o tecido-alvo, que absorve a luz e produz ondas sonoras, captadas por um aparelho de ultrassom, que produz a imagem que será analisada pelos médicos.

Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, uma pesquisa em colaboração com a Johns Hopkins University, nos Estados Unidos aponta que no caso de peles mais escuras, com maior concentração de melanina, pode haver interferência na formação da imagem. O estudo propõe o uso de uma técnica de reconstrução de imagens para eliminar distorções causadas pelo tom de pele.

O trabalho é descrito em artigo publicado na revista científica Photoacustics no último dia 11 de setembro. “A imagem fotoacústica é uma técnica de imagem médica que combina princípios da fotônica e da ultrassonografia”, explica ao Jornal da USP o professor Théo Pavan, do Departamento de Física da FFCLRP, orientador do doutorado de Guilherme Fernandes, onde foi realizada a pesquisa.

“Ela surgiu nos anos 2000 e os primeiros equipamentos comerciais começaram a aparecer depois de 2010”, relata. “Geralmente esses equipamentos integram sistemas de laser com equipamento tradicional de imagem de ultrassom. Por isso, os estudos clínicos ainda são muito recentes.”

Atualmente, existem estudos que avaliam por meio da imagem fotoacústica tumores, oxigenação sanguínea, processos inflamatórios como artrite, guia cirúrgico, entre outros diagnósticos. “Nos casos em que a luz precisa atravessar o tecido, muito pouco se sabia da influência do tom de pele na qualidade da imagem”, destaca o professor. “Nosso estudo traz algumas dessas informações, além de avaliar um método de processamento que minimiza o potencial viés na qualidade da imagem.”

Fernandes relata que a imagem fotoacústica se baseia no efeito fotoacústico, no qual um determinado alvo é iluminado com uma fonte de luz pulsada (laser, por exemplo) e, ao absorver a energia luminosa, é criada uma onda acústica. “Essa onda sonora é comumente detectada por dispositivos de ultrassom, formando assim uma imagem cujo contraste é a absorção óptica”, observa. “Ou seja, o brilho na imagem fotoacústica é proporcional ao quanto de luz o alvo foi capaz de absorver. Em pacientes com tom de pele escuro, com mais concentração de melanina, a luz que consegue penetrar no tecido é mais atenuada.”

Qualidade da imagem

“Outro problema da imagem fotoacústica é que toda essa energia luminosa absorvida na pele gera também uma onda acústica que se propaga no meio e acaba sendo espalhada em direção ao equipamento de ultrassom. A presença desse espalhamento acústico introduz uma desordem na imagem, que se sobrepõe aos sinais de interesse”, afirma o pesquisador. “Esses dois problemas dificultam a identificação de alvos específicos na imagem, como vasos sanguíneos, por exemplo.”

O objetivo do estudo foi quantificar a qualidade da imagem fotoacústica bem como o nível de desordem gerado para pessoas com diferentes tons de pele. “Além disso, nós propusemos o uso de um método de reconstrução de imagem, disponível na literatura, que é baseado na correlação espacial do sinal e avaliamos o desempenho deste método para diferentes tons de pele”, destaca Fernandes.

De forma simplificada, essa correlação espacial está relacionada à semelhança nas características dos sinais em diferentes pontos do espaço. “No caso da desordem, essa correlação é geralmente menor em comparação com o sinal dos tecidos alvos”, aponta o professor. “Desta forma, nossos resultados mostraram que, ao utilizar esse novo método de reconstrução, a qualidade da imagem fica similar para pacientes tanto com pele clara quanto com pele escura, reduzindo, portanto, o viés causado pelo tom de pele na imagem fotoacústica”, acrescenta o pesquisador.

Guilherme Fernandes faz doutorado no Grupo de Inovação em Instrumentação Médica e Ultrassom (GIIMUS) da FFCLRP, orientado pelo professor Theo Pavan. O artigo Mitigating skin tone bias in linear array in vivo photoacoustic imaging with short-lag spatial coherence beamforming foi publicado no site da revista científica Photoacoustics em 11 de setembro. A pesquisa teve a colaboração da professora Muyinatu Bell, da Johns Hopkins University (Estados Unidos).

FONTE: Jornal da USP

Vencer o medo é necessário para a evolução humana

Você já se perguntou o porquê de algumas pessoas se interessarem por histórias de terror, contos macabros ou esportes e aventuras radicais — às vezes por todos esses? Pois bem, esse tipo de passatempo, em geral, produz uma sensação de susto repentino e, logo em seguida, a sensação de “alívio pós-medo” domina o corpo humano.

Diante desse cenário, a professora Leila Tardivo, do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP), explica que esse sentimento é necessário para que o indivíduo evolua, uma vez que isso proporciona um impulso para vencer o medo e, dessa forma, ele se satisfaz. No entanto, ela alerta que aqueles com maior vulnerabilidade psíquica ou sensorial — como idosos, crianças ou pessoas no espectro autista — devem tomar cuidado.

Sob outro ponto de vista, Adalberto Studart, pesquisador do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), desenvolve: “O desencadeamento da resposta do sistema nervoso autônomo simpático libera adrenalina, o hormônio da luta ou fuga, isso causa sensação de prazer”. Ele ainda complementa que o susto é um estímulo transitório e, pouco tempo depois, o indivíduo tem a noção de que não possui risco para sua integridade de vida.

O que acontece quando levamos um susto?

Quando o indivíduo sofre o susto, automaticamente é aumentada sua pressão arterial, frequência respiratória e sudorese, os pelos ficam arrepiados e sua pupila é dilatada — isso é uma ação do Sistema Nervoso Autônomo Simpático, que prepara a pessoa para uma possível fuga ou combate físico. “Seus órgãos sensoriais primeiro captam, você vê, sente e escuta. Esses órgãos sensoriais levam essa informação para a amígdala, que desencadeia o processo e leva à ativação do sistema nervoso autônomo simpático”, comenta o especialista.

Para Leila Tardivo, essa sensação é uma reação intensa de ameaça, porque é algo que sai da rotina do dia-a-dia e remonta aos tempos dos seres humanos primitivos, quando tinham de se esconder dos predadores nas cavernas: “É uma reação de alerta, nós sempre buscamos o bem-estar, o equilíbrio, então é algo que rompe isso”.

Além disso, Studart alerta que existem casos de pessoas que, durante um estímulo ao susto, sofrem uma parada cardíaca — indivíduos que já possuem alguma doença no coração — pela resposta adrenérgica. Ou seja, a expressão “vou morrer de medo” pode ser literal.

Outro ponto indicado pela docente é para situações extremas, como nas experiências vividas nas guerras, em desastres naturais ou acidentes, nas quais os indivíduos sofrem com traumas tão fortes que tanto o corpo quanto o psicológico não dão conta. “A comunidade internacional que trabalha com saúde mental está muito preocupada com os efeitos do desenvolvimento das crianças, principalmente nesses locais com excesso de traumas”, afirma.

O medo

De acordo com Leila, o medo é uma reação natural e necessária para o indivíduo, que leva à sua proteção enquanto espécie, contudo, ela ressalta que o seu excesso, muitas vezes infundado, leva a uma patologia: transtorno do pânico. Ela diz que existe um desequilíbrio voltado a alguma situação vivida, que possui um aspecto bioquímico e necessita de tratamento — sejam consultas psicólogas ou, até mesmo, medicamentos: “Não há uma ameaça real, mas é vivido como um risco fantasioso e a reação é física. Não é necessariamente algo patológico, mas traz sofrimento”, conta.

A psicóloga ainda comenta que uma pessoa sem medo corre muitos riscos, entre eles a “onipotência exagerada”, na qual o indivíduo acredita poder fazer qualquer coisa sem possuir consequências negativas para si. Segundo ela, o que ajudou o ser humano na conformação do medo foi o desenvolvimento da inteligência e a união entre a espécie, isto é, a pessoa necessita de apoio para superar momentos difíceis.

Para finalizar, Leila Tardivo garante que é necessário a coletividade humana para que os indivíduos cuidem um do outro: “As pessoas podem reconhecer os seus sintomas, seus sinais, saber procurar ajuda, não entrar em desespero e não achar que são a única pessoa no mundo com isso”.

*Sob orientação de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

FONTE: Jornal da USP

Doença Inflamatória Intestinal cresce ao redor do mundo e tratamento é difícil

Nos últimos 30 anos, a ocorrência da Doença Inflamatória Intestinal (DII) aumentou em 50%, e hoje afeta cerca de cinco milhões de pessoas no mundo todo. Relacionados à Doença de Crohn, os sintomas da DII são banalizados e isso também dificulta o tratamento.

O médico Alexandre de Sousa Carlos, do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica melhor as causas dessa doença inflamatória e comenta possíveis tratamentos já utilizados pela medicina global.

O que é a DII?

Conforme explica Carlos ,a Doença Inflamatória Intestinal é uma moléstia complexa, a qual pode afetar todo o trato gastrointestinal, ou seja, o caminho da boca até o ânus. A DII é caracterizada por uma cascata de inflamação no trato, que causa diarreias e dores abdominais no início e pode evoluir para sintomas mais sérios. “A característica dessa doença é a reação exagerada do organismo”, conta o especialista, “é uma cascata inflamatória imensa com várias etapas. Eis a grande dificuldade no tratamento:  saber qual é a principal cascata que está afetando aquele paciente”.

O que causa?

Uma das maiores dificuldades relacionadas ao tratamento da DII é a identificação de causas. Como a cascata de inflamação é muito diversificada, saber exatamente o que a desencadeia se tornou um desafio para os pesquisadores. Contudo, explica Carlos, algumas causas gerais já são identificadas:
“Já existem vários trabalhos tentando identificar alguns gatilhos alimentares, a questão da poluição, a questão do nosso estilo de vida ocidental: o stress, tabagismo, o excesso de alguns medicamentos como anti-inflamatórios e o excesso de alimentos ultraprocessados. Tudo isso causa uma alteração da microbiota intestinal”.

Já existem tratamentos

As pesquisas para uma cura da DII perpassam diversas frentes, conta o médico. Uma delas é a terapia gênica, que busca identificar os genes de predisposição dessas doenças intestinais. Outra é o transplante fecal, para reequilibrar a flora intestinal dos pacientes. “Numa pessoa saudável, quanto mais diversificada for a flora intestinal, melhor. E a gente realmente vê isso nos pacientes, que a diversidade está diminuída ou tem menos bactérias do que o habitual.”

Esses tratamentos são de ponta, mas caros e de difícil acesso à população. Entender os fatores ambientais e genéticos, bem como desenvolver uma cura eficaz para a maioria dos casos, estão entre os grandes paradigmas da gastroenterologia atual.

FONTE: Jornal da USP

Traumas são experiências marcantes que podem promover adoecimento psíquico

Comumentemente, a palavra “trauma” é empregada para descrever situações aversivas que envolvem estresse e produzem uma experiência negativa. Segundo Álvaro Cabral Araújo, médico e professor convidado do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o termo é usado de forma frequente para descrever situações de estresse e frustrações cotidianas.

Para a psicologia e psiquiatria, entretanto, a palavra é usada para descrever experiências graves, potencialmente capazes de promover um adoecimento psíquico. “Os manuais diagnósticos de psiquiatria como a CID-11,  da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o DSM5, da Associação Americana de Psiquiatria, descrevem o trauma ou evento traumático como uma exposição a experiências graves, como episódios concretos, ou ameaças de morte, lesão grave ou violência sexual”, explica Araújo.

Consequências 

O psiquiatra explica que “trauma” não é o nome dado para um diagnóstico psiquiátrico ou para um transtorno psiquiátrico específico. A exposição a um evento traumático não implica, obrigatoriamente, no desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. O sofrimento e os prejuízos experienciados por pessoas que sofrem algum trauma são variáveis, e a maioria das pessoas se recupera espontaneamente.

Entretanto, existem alguns transtornos que estão relacionados a traumas e a estressores, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), quadro que acomete aproximadamente 10% dos indivíduos expostos a um evento traumático. Araújo pontua que, em casos de TEPT, existem critérios específicos de diagnóstico e que é possível realizá-lo. Depois que um indivíduo é exposto a um trauma, ele pode apresentar alguns sintomas, segmentados em três grupos.

O primeiro diz respeito à revivescência do evento traumático – também conhecido como sintoma intrusivo. “Isso inclui lembranças frequentes sobre o trauma, são pensamentos intrusivos; não é que a pessoa se esforça para pensar sobre aquele tema, ela é invadida por essas lembranças. Isso pode acontecer também na forma de pesadelos e na forma de flashbacks”, exemplifica.

O segundo grupo de sintomas é o de evitação ou esquiva. A partir do momento em que o indivíduo desenvolve o quadro de Estresse Pós-Traumático, é normal que ele passe a evitar coisas relacionadas ao evento traumático. “Se uma pessoa sofreu um assalto caminhando em uma determinada rua, é possível que a pessoa evite passar por aquele lugar, evite estar em contato com pessoas que estavam presentes no dia do assalto, por exemplo”, explica o psiquiatra.

O terceiro grupo diz respeito a sintomas de hiperatividade ou hiperexcitação, em que os indivíduos afetados pelo transtorno, depois da exposição ao trauma, vivem em estado de alerta, assustam-se com mais facilidade e são mais reativos e irritados do que em condição normal.

Miriam Debieux Rosa, professora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia (IP) da USP e coordenadora do Laboratório Psicanálise, Sociedade e Política (PSOPOL/IPUSP) e do Grupo Veredas: psicanálise e imigração (PSOPOL/IPUSP), pontua que o diagnóstico é decisivo para determinar o tipo de tratamento adequado para pessoas que sofreram com traumas.

Apagamento da memória 

Pessoas expostas a eventos traumáticos, estressores graves ou situações emocionais muito intensas podem apresentar manifestações de dissociação, como a amnésia dissociativa – quadro em que alguns indivíduos são incapazes de recordar aspectos relevantes do evento traumático vivenciado.

Segundo Mario Otero, psicólogo no Ambulatório de Transtornos Somáticos (Soma) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em alguns casos, essa amnésia afeta alguns momentos da vida do indivíduo, ou pode ser mais severa, caso em que a pessoa pode esquecer quem ela é, se tem família e o que faz profissionalmente, por exemplo. “Essa dissociação ocorre para proteger a pessoa das memórias e dos afetos ruins ligados a algum tipo de experiência que ela não conseguiu elaborar psiquicamente”, exemplifica.

Cabral explica que existem outras manifestações dissociativas, como desrealização – sensação de desconexão com o ambiente, como se ele não fosse real ou se algo estivesse modificado – ou despersonalização – situação em que o indivíduo se enxerga como se estivesse de fora da situação vivida.  “Esses fenômenos dissociativos podem ser descritos como uma desintegração das funções psíquicas, da consciência, das percepções, da memória. São fenômenos que podem ocorrer diante de estressores graves, provocando essa dissociação”, pontua.

Mesmo que memórias traumáticas sejam bloqueadas, situações como a reexposição a algum evento traumático ou o contato com detalhes da experiência vivida podem permitir que as lembranças sejam acessadas. No caso de uma pessoa que sofreu alguma violência sexual no final da infância ou início da adolescência, por exemplo, e passou boa parte da vida sem entrar em contato com aquela memória, é possível que esse conteúdo seja acessado novamente, caso ela experiencie outra situação abusiva, ou ouça algum relato sobre alguma violência.

Tratamentos 

Nos casos de dissociação, Otero explica que o tratamento desses quadros consiste em colocar o indivíduo afetado para relatar o que for possível e o que for lembrado e, à medida em que ele se abre para o analista, consegue acessar as experiências ruins e atribui um significado ao acontecimento. “Quando a pessoa vai se sentindo mais segura e mais forte para se aproximar dessas experiências ruins do passado, é quase como se a dissociação, essa separação daquele conteúdo ruim, não fosse mais tão necessária”, exemplifica o psicólogo.

Miriam aponta que o grau das situações traumáticas influencia na forma como o tratamento com os afetados deve ser realizado. “Situações violentas, por exemplo, vão ter vários níveis de elaboração, então há uma vida para lidar com as perdas, e principalmente essas muito intensas. Mas isso não significa que a pessoa tenha que viver em sofrimento o tempo todo”, exemplifica. Na própria psicanálise, segundo a professora, existem inúmeras abordagens a respeito do tipo de tratamento, mas dependem do modo como o indivíduo se defende na sua organização psíquica.

Para Araújo, é importante que os indivíduos que são expostos a uma situação traumática sejam acolhidos. “Tanto profissionais como familiares que vão prestar algum tipo de assistência no momento imediato, poucos dias após a exposição ao evento traumático, devem ter esse cuidado de não forçar a pessoa a lembrar ou contar detalhes da situação que aconteceu com ela, apenas se colocar ali à disposição, acolher e tentar fortalecer a rede de apoio”, explica.

Segundo o psiquiatra, cerca de 90% das pessoas expostas a eventos dessa natureza se recuperam completa e espontaneamente dentro de alguns dias. Entretanto, existem casos em que o indivíduo reconhece que, desde o evento traumático, apresenta prejuízos em sua função habitual. Nesses cenários é importante que busquem um tratamento psicológico com bons profissionais.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

FONTE: Jornal da USP

Jantar tardio pode gerar problemas à saúde

Estudo de cientistas norte-americanos aponta os malefícios das refeições noturnas e alerta que, tornar um hábito regular as refeições noturnas, especialmente pouco antes de dormir, pode trazer consequências indesejadas para a saúde. Laís Murta, nutricionista e doutoranda do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, explica por que as refeições noturnas apresentam risco ao processo digestivo.

Rotina

Segundo a especialista, principalmente nos grandes centros urbanos, a rotina é uma das principais responsáveis por esse problema, já que muitas pessoas costumam omitir o café da manhã e postergam todas as outras refeições, inclusive o jantar, que passa a ser realizado após o horário de 21 horas. Ela conta que a omissão das refeições diurnas influencia também na quantidade calórica do jantar, já que o corpo sente a necessidade de consumir mais nutrientes para suprir o que não foi ingerido durante o dia.

“Protelar o horário das refeições, fazer o jantar mais tarde acaba sendo um momento de maior tranquilidade. Então, o momento em que a pessoa vai conseguir desfrutar dessa refeição de uma forma mais calma, tranquila, mas essa acaba sendo uma refeição mais calórica, que vai trazer com certeza uma série de consequências prejudiciais para a saúde”, esclarece.

Metabolismo

De acordo com a doutoranda, o corpo humano é projetado para que todos os processos biológicos e metabólicos, como digestão e produção de hormônios, sejam realizados durante o período diurno. Quando o jantar ocorre em um horário tardio, o processo metabólico é atrasado e a função das nossas células pancreáticas, que produzem insulina, acaba sendo menor e podem gerar risco de diabete.

Para a nutricionista, doenças cardiovasculares e surgimento de obesidade também podem ser provocadas por esse adiamento no jantar. Ela conta que alguns estudos mostram que as refeições pela manhã, mesmo hipercalóricas, têm impacto positivo nas funções cardiovasculares e auxiliam na perda de peso, enquanto as mesmas refeições à noite causam efeito contrário.

“A refeição hipercalórica pela manhã acaba tendo uma melhora em parâmetros cardiovasculares e acaba gerando perda de peso, enquanto a mesma refeição à noite provoca todo um efeito contrário. Isso, com o tempo, pode aumentar o risco de doença cardiovascular, o risco de diabete, entre outras consequências”, afirma.

Termogênese

Conforme Laís Murta, após as refeições, o corpo passa pelo processo de termogênese, no qual queima calorias para produção de calor. Nesse sentido, ela explica que é importante as refeições noturnas serem mais leves, para que o corpo não precise queimar tantas calorias no momento de dormir, o que interfere na qualidade do sono e pode causar acúmulo de gordura.

A especialista conta que o ideal é consumir alimentos até quatro horas antes de dormir, com o intuito de que o corpo consiga realizar o processo digestivo de maneira equilibrada. Ela conta que, já que a maioria das pessoas costuma dormir entre 22h e 23h, o mais correto é realizar a última refeição antes das 19 horas. “Não adianta a gente se importar apenas com a quantidade e com a qualidade. A gente tem que se preocupar também com o horário, isso é fundamental”, finaliza.

FONTE: Jornal da USP

Fórum Econômico Mundial acende alerta vermelho contra os alimentos ultraprocessados

O Fórum Econômico Mundial (FEM) de 2024 ocorre em Davos, na Suíça, e diferentes líderes políticos e empresariais discutem as questões mais importantes da atualidade. Nesta semana, durante a reunião, um estudo do fórum defende a transformação profunda na qualidade da alimentação, visando especialmente aos alimentos ultraprocessados, e alerta para o descompromisso das gigantes do setor agropecuário com as promessas de práticas regenerativas.

O professor Ricardo Abramovay, titular da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, desenvolve sobre mudanças no sistema agropecuário atual que promovam mudanças significativas na alimentação da sociedade por meio da diminuição dos ultraprocessados e outros feitos.

Debate no fórum

Abramovay destaca a importância do FEM em ligar o sinal vermelho para esse tema, o qual, até dez anos atrás, era objeto de um gradualismo, quase sem repercussão nas práticas cotidianas. Ele expõe que isso ocorria devido à revolução verde, ocorrida a partir dos anos de 1960, que tinha o objetivo de combater a fome que assolava mais da metade da população mundial e se traduziu na concentração da produção — 75% das calorias consumidas globalmente estão divididas em seis tipos de alimentos: arroz, trigo, milho, soja, batata e cana-de-açúcar.

O docente afirma que esse cenário acabou: “Esse método funcionou durante 30 anos, só que a crise climática se materializou em eventos extremos cada vez mais recorrentes, como a seca na Argentina, no Cerrado até o Sul do Brasil ou nas grandes planícies europeias. Isso está mostrando a inviabilidade daquilo que foi o método pelo qual a humanidade conseguiu combater a fome, temos que encontrar outro método”.

Consequência para a saúde

De acordo com o especialista, o Brasil é pioneiro na pesquisa científica na área de Nutrição, com destaque para os professores da Faculdade de Saúde Pública da USP, e tem seu trabalho reconhecido internacionalmente como revolucionário. “Até então, todo o raciocínio se concentrava nos nutrientes da alimentação, o que essa equipe da FSP fez nos últimos 20 anos foi mostrar que mais importante do que o conteúdo de nutrientes e micronutrientes é a maneira como o alimento é transformado”, discorre.

Ele explica que existem quatro tipos de alimentos: naturais, minimamente processados, industrializados e, por último, os ultraprocessados — um conjunto que mal pode ser chamado de alimento, visto que são totalmente arranjados artificialmente pela indústria para ter sabor, textura, aroma, cor e aparência. Por exemplo, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, 60% das calorias consumidas pelos indivíduos correspondem a esse tipo de produto.

No entanto, o professor ressalta que isso não é especificidade das nações mais ricas, destacando que 62% da população que sofre de obesidade no mundo estão nos países em desenvolvimento. Isso ocorre por conta do alto custo para manutenção de uma dieta saudável, que obriga 42% das pessoas no mundo a recorrerem a esses produtos com deficiência nutricional, diante dos quais o corpo humano não está preparado evolutivamente para ingerir.

Frente a esse cenário, mais de 2 bilhões de indivíduos estão em situação de obesidade, ou sobrepeso, em conjunto a carências nutricionais em ferro, zinco e outros. Além disso, o Fórum Econômico Mundial aponta que esses alimentos ultraprocessados estão na origem das doenças que mais matam no globo, inclusive mais do que a fome, como as cardiovasculares e diferentes tipos de câncer: “A conclusão do FEM é que precisamos urgentemente diversificar o sistema agroalimentar, não só a alimentação, tem que diversificar o conjunto do sistema, inclusive no que se refere à oferta de produtos animais”, elucida o docente.

Mudanças no sistema

O Brasil, regente do G20 desde dezembro de 2023, por meio do seu presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfatizou a luta contra a pobreza e a desigualdade, clima e governança global. Nesse sentido, o sistema agroalimentar é responsável por um terço das emissões de gases do efeito estufa, assim sendo, sua transformação é premissa para o avanço contra as desigualdades e a fome no mundo, afirma o especialista.

Abramovay comenta que o número de famintos no planeta aumentou em torno de 150 milhões de indivíduos, portanto, a conferência do G20 marcada para setembro deste ano no Brasil, deve focar nessa temática. Por fim, ele destaca uma reunião que acontecerá em fevereiro, entre os ministros das Finanças dos países do G20: “A USP, por meio de várias unidades, vai ter participação diversa no encontro e, em particular, vamos insistir nesse tema da urgência de superar a monotonia do sistema agroalimentar global como uma premissa para que a gente possa avançar na luta contra a fome e as desigualdades, pelo bem-estar animal e pelo desenvolvimento sustentável”.

FONTE: Jornal da USP

Você sabe o que é Cápsula Endoscópica?

Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP analisaram a importância da cápsula endoscópica, nova técnica de imagem médica para o diagnóstico precoce de doenças nestes locais, e as novas possibilidades de uso que surgiram com a modernização do procedimento.

São chamadas de imagens médicas as variadas técnicas usadas na medicina para ver o que acontece dentro do corpo humano, como a ressonância magnética, a radiografia, a tomografia, a ecografia, feitas de forma externa, e a endoscopia, feita de forma interna. Os procedimentos endoscópicos funcionam com a inserção de uma pequena câmera no trato gastrointestinal dos pacientes, o que requer sedação. Tanto na endoscopia superior (captação de imagens do esôfago, estômago e início do intestino delgado) quanto na inferior (captação de imagens do intestino grosso e parte final do intestino delgado), o procedimento não consegue percorrer todo o sistema digestivo, deixando de fora grande parte do intestino delgado.

As cápsulas têm cerca de 2,6 cm de comprimento e 1,1 cm de diâmetro, com as laterais arredondadas, e são ingeridas por via oral, para seguir o caminho do trato digestório. São pequenos aparelhos em tamanho de medicamentos orais, equipados de câmera, fonte de luz, bateria e transmissor, que captam toda a extensão do sistema gastrointestinal. “Ela tem um sistema de iluminação branca, uma pequena câmera integrada, baterias para alimentar todos os sistemas e um sistema que transmite as imagens feitas”, diz João Paulo Carmo, professor da EESC. Além das cápsulas, são vendidos, para empresas de diagnóstico, aparelhos externos para recepção das imagens coletadas.

 

As diferentes endoscopias, alta, baixa e cápsula – Imagem: retirada do artigo

 

Essa tecnologia permite que o exame seja feito sem sedação — diferentemente de como são feitos os demais procedimentos endoscópicos — de forma indolor para o paciente. Além disso, toda a extensão do trato gastrointestinal é coberta. O trabalho resultou no artigo Endoscope Capsules: The Present Situation and Future Outlooks, publicado na revista Bioengineering, e, de acordo com os autores, a cápsula endoscópica é indicada para diagnóstico de doenças no esôfago, tumores intestinais, sangramento gastrointestinal, doença de Crohn e doença celíaca.

Por outro lado, há possibilidades de haver retenção da cápsula no organismo e lacunas de gravação. Também não é possível controlar a locomoção e a posição da cápsula, já que o aparelho segue os movimentos peristálticos do sistema digestivo, o que pode prejudicar os resultados do exame. Por isso, ainda é mais prático e barato, para diagnóstico de órgãos que são cobertos pelos métodos superior e inferior, usar a endoscopia convencional.

O estudo analisou também possíveis respostas para o controle dos movimentos, dentre eles o uso de campos magnéticos. “A própria Cápsula Endoscópica tem um pequeno ímã, fora do organismo podemos usar um ímã maior e mais forte que interage com a cápsula, o que, teoricamente, consegue controlar o movimento e a posição da cápsula. Nesse caso, a revolução vai ser drástica”, explica o pesquisador. Se esse problema for contornado, novas possibilidades de uso para a essa tecnologia podem ser aplicadas.

“Essa cápsula tem se mostrado um bom método diagnóstico, aliás, tem sido muito usada como diagnóstico de primeira linha. Antes dela, ou se fazia exames de raio-X e ressonância magnética, ou por cirurgia, abrir e ver o que se passa. A cápsula, nesse aspecto, é um auxiliar muito importante, tanto por não usar radiação e nem campos magnéticos intensos, e ainda tem a particularidade de ser um dispositivo minimamente invasivo”, explica Carmo.

Por causa desses fatores, segundo Carmo, a indústria farmacêutica viu um grande potencial de lucro nas cápsulas e hoje já existem outras empresas que também fornecem o aparelho. Assim, o objetivo do artigo era traçar as perspectivas para a tecnologia das cápsulas endoscópicas, vantagens e desvantagens e suas possíveis aplicações.

As cápsulas endoscópicas foram desenhadas em 1989, mas só começaram a ser comercializadas em 2000, pela empresa Given Imaging, nos Estados Unidos.

 

Sistema da cápsula – (a) cúpula (dome) óptica, (b) suporte físico para as lentes, (c) lente (com baixa distância focal), (d) LEDs de luz branca para iluminação, (e) sensor para aquisição de imagens, (f) baterias de óxido de prata para alimentação, (g) um emissor de radiofrequência (RF) para transmissão sem fios das imagens e (h) uma antena – Imagem: cedida pelo pesquisador

Imagens captadas no intestino delgado pela cápsula. (A) Angioectasia (vasos sanguíneos dilatados) sem sangramento, (B) sangramento ativo) – Imagem: retirada do artigo

Novas possibilidades da Cápsula Endoscópica

“Outra grande aplicação possível é a terapia fotodinâmica. Basicamente, essa terapia é feita com a injeção de um fotossensibilizador, uma substância que reage à luz”, diz Carmo. Cada fotossensibilizador reage a um comprimento de onda específico, na faixa de 400–760 nm. Quando a luz encontra o fotossensibilizador, “o fármaco é ativado e promove a formação de radicais livres de oxigênio, que vão provocar danos no nível celular em tecidos tumorais.”

Esses filtros ópticos específicos podem ser acoplados na cápsulas endoscópica para tratar doenças em áreas do intestino delgado, porém é necessário ter controle do movimento do aparelho para garantir que a terapia seja aplicada nos locais exatos, para não danificar tecidos saudáveis do organismo.

Atualmente, a terapia fotodinâmica já é usada para tratar tumores no esôfago, no estômago, no pâncreas e colorretal, e doenças hepatobiliares (fígado e bílis). “Nos locais onde já se faz terapia fotodinâmica é muito mais barato, rápido e expedito usar endoscópios convencionais. No dia em que surgirem no mercado cápsulas nas quais se consiga controlar os movimentos e posicionamento das cápsulas, será uma revolução realizar terapia fotodinâmica nas porções internas no intestino delgado.”

Segundo os autores do artigo, as cápsulas também podem ser adaptadas para procedimentos de endomicroscopia a laser (para obtenção de imagens de alta resolução dos órgãos), espectroscopia (para detectar mudanças físicas em tecidos) e imagens de banda estreita (imagens com visibilidade vascular).

Além de Carmo, também contribuíram com o trabalho Rodrigo Gounella, Talita Conte Granado, Daniel Luis Luporini e os professores Oswaldo Junior e Mário Gazziro.

Mais informações: e-mail jcarmo@sc.usp.br, com João Paulo Carmo

* Estagiária, sob orientação de Fabiana Mariz

**Estagiária, sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP