Acúmulo de sódio no cérebro pode ser uma das causas da hipertensão

Estudos na USP com animais demostraram que o alto consumo de sal leva a um quadro de hipertensão arterial, retenção de sódio no líquor e ativação dos astrócitos, as células mais abundantes do sistema nervoso central

A associação entre o sal (cloreto de sódio) e a pressão arterial é estudada há mais de 120 anos. No entanto, nunca se conseguiu esclarecer por completo a relação entre o alto consumo de sal e alterações no sistema nervoso central (SNC), que contribui para a chamada hipertensão neurogênica. Agora, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP conseguiram dar um passo importante na compreensão desse processo. Além de descobrirem que parte do sal consumido em excesso fica retida no líquido cerebroespinal (líquor), eles sugeriram um possível mecanismo que desencadeia a doença e que envolve a ativação não somente de neurônios, mas também de células da glia. Trata-se de um avanço importante na descoberta de mecanismos e conexões entre células neurais envolvidos na gênese da hipertensão dependente do alto consumo de sal.

Os estudos, publicados nas revistas científicas Molecular and Cellular Neuroscience e Experimental Physiology, foram realizados em ratos albinos que consumiram sal em excesso. Os animais receberam uma solução de água com 2% de cloreto de sódio por uma semana e desenvolveram hipertensão. Além do aumento da pressão arterial sanguínea, o que chamou atenção dos pesquisadores foi que o nível de sódio no sangue dos animais se manteve normal, porém, notaram um acúmulo deste íon no cérebro, mais precisamente no líquor, líquido que protege o sistema nervoso central.

“Os animais expostos ao alto consumo de sal apresentaram hipertensão e acúmulo de sódio no líquor, mas não no sangue. Dessa forma, podemos presumir que a gênese da hipertensão envolve um componente neural, a qual pode estar relacionada a esse excesso de sódio retido no líquor”, explica Paula Magalhães Gomes, doutora e pós-doutoranda do Laboratório de Controle Neural da Circulação (LCNC), do Departamento de Fisiologia e Biofísica do ICB da USP, e primeira autora de um dos artigos.

“Em teoria, o sódio que consumimos nos alimentos se distribui de forma equilibrada nos diferentes compartimentos do nosso corpo, num processo que denominamos na fisiologia de osmorregulação, mas aparentemente não é assim que acontece quando o organismo é desafiado ao consumo excessivo de sal. Nosso objetivo futuro é investigar mais a fundo os mecanismos fisiológicos por trás do acúmulo de sódio no líquor e sua relação com a hipertensão”, acrescenta.

Chave do processo

Estudos anteriores já mostraram o envolvimento do hipotálamo, mais precisamente o núcleo paraventricular, na gênese da hipertensão dependente do alto consumo de sal. As células neurais deste núcleo, principalmente os neurônios, participam direta e indiretamente na regulação da pressão arterial em resposta a um aumento de sódio circulante no organismo. Faltava investigar ainda qual o envolvimento das células neurais da glia neste processo.

Os pesquisadores do ICB observaram que os astrócitos (uma das células mais abundantes do SNC), localizados no núcleo paraventricular, estão mais ativados no cérebro de animais que foram expostos ao alto consumo de sal. “De maneira geral, os astrócitos são células que, além de dar sustentação para os neurônios, também são responsáveis por liberar diversos neurotransmissores, dentre eles o ATP [trifosfato de adenosina], uma molécula que classicamente sempre foi conhecida pela sua função no metabolismo energético celular, mas que também atua como neurotransmissor. Frente a uma condição de alto consumo de sal, os astrócitos são ativados de forma intensa”, explica Renato Willian Martins de Sá, doutor pelo LCNC, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Mecanismo de desativação

“Fizemos um experimento utilizando a tecnologia de farmacogenômica com vetor viral geneticamente modificado. Por meio de uma neurocirurgia, introduzimos o vetor viral na região hipotalâmica de interesse e conseguimos com isso interromper a maquinaria celular da liberação de ATP pelos astrócitos, que se encontrava aumentada numa condição de alta ingestão de sal. Obtivemos uma redução de 50% na liberação do neurotransmissor quando inibimos o transporte vesicular do ATP nos astrócitos”, detalha o pesquisador.

Segundo o professor Vagner Roberto Antunes, coordenador do laboratório, esta abordagem experimental é exclusivamente utilizada em modelos animais e contribui sobremaneira para o avanço do conhecimento e dos mecanismos celulares envolvidos no controle das funções neurais e cardiovasculares. “A compreensão desses mecanismos poderá auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas farmacológicas para doenças associadas ao alto consumo de sal”, destaca ele.

Ainda, segundo Antunes, existem estudos que demonstram que o acúmulo de sódio no líquor pode estar relacionado ao desenvolvimento de doenças não somente do sistema cardiovascular, mas também neurodegenerativas, dentre elas a doença de Alzheimer, tendo em vista que o excesso de sal no cérebro pode alterar as funções das células neurais, desde sua maquinaria gênica e proteica até neuroquímica.

Enquanto não há estratégias terapêuticas para resolver esse problema, a recomendação é moderar na ingestão de sal – um mineral essencial para o funcionamento das células, mas que em quantidades superiores ao recomendado de 5g por dia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pode levar à hipertensão e outras doenças vasculares que acometem o sistema nervoso central.

Da Assessoria de Comunicação do ICB

FONTE: Jornal da USP

Dia Mundial da Conscientização sobre Incontinência Urinária

Dia 14 de março é oficialmente o Dia Mundial da Conscientização sobre Incontinência Urinária. A
data foi oficializada no Brasil como o Dia Nacional da Incontinência Urinária no ano passado junto
com a Semana Nacional para Prevenção e Tratamento da Incontinência Urinária.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 300 milhões de pessoas sofrem de incontinência
urinária no mundo. No Brasil, são cerca de 10 milhões de pessoas afetadas pela condição, de acordo
com estimativas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Isso quer dizer que 1 a cada 25 brasileiros
apresenta algum grau de incontinência.

A condição pode variar de pessoa para pessoa: de uma pequena perda de urina ao espirrar ou tossir
até uma incapacidade total de controlar a bexiga. Apesar de ser caracterizada pela perda
involuntária de urina, esse não é o único sintoma que indica uma possível incontinência. Acordar
muitas vezes à noite para ir ao banheiro ou vontade súbita de urinar, mesmo quando não existe um
volume grande de urina, dificuldade em esvaziar completamente a bexiga e até infecções urinárias
muito frequentes também podem ser sinais que podem estar associados a um quadro de
incontinência.

Dependendo da ocorrência ou gravidade do quadro, a incontinência urinária pode ser distinguida em
até quatro tipos: a incontinência urinária de esforço descreve casos nos quais a perda de urina é
provocada por tosses, espirros ou exercícios físicos. Quando a pessoa é acometida por uma vontade
súbita de urinar e perde urina antes de chegar ao banheiro falamos em incontinência de urgência. Por incontinência mista entende-se um quadro caracterizado pelas duas situações descritas acima. Estes tipos são mais comuns nos adultos e idosos. Nas crianças, a enurese noturna é a situação mais
comum, que é a incontinência que ocorre durante o sono: o famoso xixi na cama.

Um fator importante que leva à incontinência urinária é a fraqueza nos músculos pélvicos ou dos
esfíncteres causada pela idade ou durante o processo de parto e gestações, o que ajuda a explicar
por que a maior parte dos afetados são pessoas idosas e mulheres. Contudo, infecções, alguns
medicamentos, tumores e crescimento da próstata, além de obesidade ou mesmo problemas
neurológicos podem estar associados com a incontinência. Por isso, sempre é importante procurar
um médico caso esteja com os sintomas descritos acima.

Vivendo com Incontinência Urinária

Além dos problemas óbvios, um quadro de incontinência urinária também pode acarretar em
problemas emocionais devido à vergonha e ao estigma que muitas das pessoas que lidam com a
condição podem vir a sentir. Em 2019, um estudo brasileiro realizado com mulheres com
incontinência publicado na Revista De Salud Pública identificou sintomas de ansiedade em metade
das entrevistadas, enquanto 45% delas também apresentavam sintomas depressivos.

Felizmente, existem muitas soluções no mercado para quem sofre com esse tipo de problema. Para
casos mais leves, absorventes especiais são desenvolvidos para manter a pele seca e inibir odores,
além de serem bastante discretos. Os absorventes masculinos, desenvolvidos para se adaptar
melhor à anatomia masculina, também são uma opção. Para casos moderados, roupas íntimas
absorventes, que são vestidas como calcinhas e cuecas, permitem mobilidade e discrição.

Casos mais severos, podem requerer o uso de fraldas para adultos e idosos, que, apesar do estigma,
são ideais para pessoas acamadas, porque, além de proporcionar mais conforto e segurança, evitam
vazamentos e odor no ambiente. Nesses casos, no banho, após a higiene local com água e sabonete
líquido, a aplicação dos chamados creme barreira fornece uma camada protetora à pele, prevenindo
irritações.

Para ajudar pessoas que lidam com a condição no seu dia-a-dia, estamos com uma promoção de
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Tratamento

Por mais que possa parecer uma condição constrangedora, a incontinência urinária pode ser tratada
e melhoras dos sintomas ou até mesmo a cura são possíveis para algumas pessoas. Eles podem vir
desde exercícios para o fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico, medicamentos e até
intervenção cirúrgica, dependendo da situação do paciente.

Por isso, novamente, se você ou alguém que você conhece apresenta algum sintoma ou queixa de
incontinência urinária, oriente-o para procurar um médico para avaliar o seu quadro e buscar a
melhor forma de tratamento para garantir mais qualidade de vida e mais saúde.

O impacto da enxaqueca na produtividade diária

Estima-se que o Brasil, a cada ano, arque com prejuízo de R$ 67 bilhões devido à perda de produtividade causada pela enxaqueca

Não há nada mais incômodo do que uma dor de cabeça. Se ela apresentar as características de uma enxaqueca, pior ainda. Ela pode irradiar para o resto do corpo, aumentando ainda mais o mal-estar. O problema pode impactar a saúde de grande parte da população. Gabriel Kubota, neurologista coordenador do Centro de Dor do Hospital das Clínicas e membro do grupo de cefaleias da Faculdade de Medicina da USP, explica que as dores de cabeça podem ser divididas em dois grandes grupos: primária e secundária. “As dores de cabeça secundárias são consequência, sintoma de uma outra doença ou condição. Por exemplo: jejum prolongado, consumo de álcool, cárie dentária, sinusite, problemas oftalmológicos ou doenças mais graves como tumores, trombose venosa, aneurisma e outras situações.”

A dor de cabeça primária já é a doença em si. Duas situações se enquadram nessa situação: a cefaleia, tipo tensão, e a migrânea. As dores de cabeça primárias, em conjunto, correspondem à segunda condição médica mais prevalente na população mundial, gerando um impacto muito importante. Somente a enxaqueca acomete mais de 1 bilhão de pessoas no mundo, sendo de 20% a 30% mulheres e 6% a 15% de todos os homens. Os gastos podem ser diretos, no uso de recursos de saúde, ou de forma indireta por faltas ao trabalho. Segundo Kubota, estima-se que o Brasil, a cada ano, perca por volta de R$ 67 bilhões em gastos, devido à perda de produtividade relacionada à enxaqueca. A melhor maneira de lidar com o problema é procurar um médico, que fará uma avaliação e saberá a melhor forma de tratamento.

Fator genético 

A doença atinge de duas a três mulheres para cada homem, iniciando-se por volta dos 20 a 30 anos de idade, podendo ser a genética um dos fatores de sua causa. Kubota destaca que o histórico familiar é muito importante. “Os filhos de pessoas que têm enxaqueca têm duas vezes mais chances de também apresentar a doença. Mas vale a pena ressaltar que a genética pode aumentar ou diminuir o risco, mas ela não é absoluta. Ter alguém com enxaqueca na família não quer dizer que você também vá ter e o fato de ninguém na família ter não quer dizer que você não vá ter.”

Para diferenciar uma dor de cabeça primária da secundária, exames físicos e o histórico de vida são muito importantes. Por esse motivo, a procura por um médico é essencial. Quem tem migrânea sabe que entre os fatores que podem desencadear o problema estão os cheiros fortes. Seus sintomas são bem característicos: a dor é de moderada a forte intensidade, com aspecto pulsátil, atingindo mais um lado da cabeça. Pode causar náuseas e vômitos. Muitos podem apresentar intolerância à luz e sons e preferir ficar em repouso durante a crise, porque qualquer movimento ou esforço pode causar piora. O período pré-menstrual é outro fator que desencadeia a dor, que pode durar de quatro a 72 horas, mas há quem tenha enxaqueca crônica. Esse paciente pode apresentar crises de mais de 15 dias por mês por pelo menos três meses.

O tratamento para a dor de cabeça secundária, aquela que é consequência de alguma doença, irá melhorar com o tratamento do problema. Por exemplo, uma pessoa com sinusite, trombose, dor de dente irá melhorar com a solução do transtorno. Já a cefaleia primária, também conhecida como enxaqueca, não tem cura e conta com um tratamento diferenciado.

FONTE: Jornal da USP

Tratamento da fibromialgia é comprometido se não houver identificação correta da doença

A fibromialgia é definida pela Organização Mundial da Saúde como uma doença caracterizada pela dor generalizada, associada à fadiga extrema, sono não reparador e depressão. “É muito mais em mulher que homem. Tem estatística de oito para um, nove para um, dependendo do país. Realmente é porque as mulheres já são mais propensas a terem dor crônica, por conta do stress no dia a dia e acabam, infelizmente, muitas vezes jogando a carga para o corpo, para o cérebro. Eu brinco que a gente tem uma dupla ou tripla jornada: cuida do trabalho, cuida de casa, cuida de todo mundo. Tudo isso sobrecarrega”, diz Lin Tchia Yeng, médica fisiatra, coordenadora do Curso Interdisciplinar de Dor da Faculdade de Medicina da USP e do Centro de Dor do Hospital das Clínicas.

Lin acrescenta que existem condicionantes genéticos responsáveis pela manifestação da enfermidade, mas destaca que outros fatores são relevantes: “Pessoas com fibromialgia têm oito vezes mais chance de ter também algum familiar com a doença. Aumenta também muito mais as chances de ter depressão e ansiedade, porque não é só genético. Tem componente também social, psicológico e ambiental”.

Identificação

A dor difusa característica da fibromialgia não se manifesta de repente. “É preciso ver o que causa essa dor. É importante falar porque a fibromialgia não é de um dia para o outro que aparece. É muito comum a gente ver que, basicamente, todos os pacientes começam com uma história de sono não reparador muitos anos antes. O sono é fundamental”, pontua Lin. Ainda mais quando é comum as pessoas “levarem problemas de estresse para a cama e começarem a remoê-los”, como coloca a especialista.

“Tem várias questões e, em conjunto com essa hiperconexão mente-corpo, esses fatores das dores musculares localizadas, dores relacionadas à postura inadequada, uma sensibilização do sistema nervoso periférico e central, acaba tendo vários sintomas associados. Além disso, a gente tem, geralmente, um controle de dor e, nas pessoas com fibromialgia, ele já não funciona direito”, explica a coordenadora do Curso Interdisciplinar de Dor da Faculdade de Medicina da USP.

É difícil a indicação de um profissional específico para identificar a fibromialgia, já que são vários os sintomas comuns nas pessoas com essa doença: como refluxo, intolerância à lactose e intestino mais sensível. A presença de estigmas também é um problema: “Fibromialgia traz estigmas. ‘Não tem cura, vi na internet e estou acabada’; na verdade, não é bem assim”.

Tratamento

“Eu não diria qual especialidade, depende da formação do especialista”, coloca Lin. Caso o profissional não tenha uma visão abrangente da situação, o tratamento da fibromialgia e até sua identificação são comprometidos. Geralmente, o primeiro a ter contato com o paciente é o reumatologista, mas a reabilitação também precisa de atenção, bem como outras áreas.

Por isso, a multidisciplinaridade é fundamental e um especialista em dor, como os treinados no curso oferecido pela Faculdade de Medicina, seria o ideal. Por mais que a fibromialgia não tenha cura, existe tratamento e as dores podem melhorar, como a especialista diz, com uma mudança no estilo de vida. Dentro dessa ação está incluída a melhora na qualidade do sono, mas, para ele cumprir seu papel reparador, a alimentação é essencial: “O sono é reparador: a gente ressintetiza os músculos, os hormônios, repara, joga o lixo do cérebro para fora. Só que, para fazer tudo isso, a gente precisa de energia: carboidrato complexo, proteína, para poder refazer o corpo. Senão, a pessoa rouba do próprio corpo”. Lin ainda completa: “Eu tenho pacientes que falam ‘tenho dor e não levanto’ e outros, ‘tenho dor e levo ela para passear’, muito melhor né!”.

FONTE: Jornal da USP

O segredo da longevidade é não admitir que idosos adoeçam e se tornem limitados

O Instituto Central do Hospital das Clínicas conquistou o nível máximo do Programa Hospital Amigo do Idoso, iniciativa da Secretaria do Estado de São Paulo que faz parte do programa governamental São Paulo Amigo do Idoso desde 2012, pela excelência dos serviços oferecidos à população e suas boas práticas voltadas ao público idoso.

Há cerca de dez anos, o hospital, entendendo que não só as instituições de saúde, mas inclusive os municípios, os Estados e a Nação precisam se preparar para o envelhecimento populacional, decidiu aderir ao programa. “Se nós não estivermos devidamente equipados para atender bem a uma população crescente em nível exponencial, nós não teremos como dar a essa população aquilo que ela precisa e aquilo que nós precisamos também para as outras faixas etárias”, explica Wilson Jacob Filho, titular da Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Desde o primeiro momento, o hospital decidiu se credenciar, que é a parte de demonstrar interesse em fazer parte do programa. Para atingir o nível máximo – adquirir o Selo Pleno –, como atingido pelo instituto, são necessários completar quatro passos, referentes a ações obrigatórias e eletivas. Não apenas órgãos públicos de saúde podem receber o selo, mas também instituições privadas e de outras áreas, desde que impactem positivamente na saúde e bem-estar do idoso.

Muito além da saúde

Várias especialidades atendem aos idosos desde sempre e, comumente, é normal a procura nessa faixa etária por tratamentos e atendimento médico, já que a maioria deles convive com múltiplas doenças crônicas. A questão da geriatria e do selo, porém, vai muito além disso: não é atender ao idoso somente quando ele está doente, “mas atender ao idoso na condição de idoso; enfermidade entra como fator desencadeante, mas ela não é o único alvo do atendimento”, explica Jacob.

Ele também salienta que “o Selo Hospital do Amigo vai muito além disso, ele vai atender ao idoso por ser idoso dentre as suas multimorbidades e a grande quantidade de remédios que eles ingerem, que é a polifarma”. O idoso tem uma demanda social, emocional e da ordem de cuidadores, que ficam responsáveis pela sua autonomia e independência. A preparação do hospital para atendê-los, como explica o médico e professor, passa por esse conhecimento de que o atendimento é muito mais amplo que aquele dirigido à enfermidade ou doença. Conta, principalmente, com uma equipe preparada e multidisciplinar.

Geriatria e Gerontologia

A área principal de atendimento é a geriatria, mas outras especialidades complementam o trabalho. A gerontologia, como especifica Jacob, é um conjunto de saberes voltados para a questão do envelhecimento. “Inclusive nós temos uma área importantíssima da gerontologia, que é o jornalismo, porque é ele quem veicula as informações necessárias para que o idoso possa fazer valer os seus direitos e poder criar perspectivas futuras”, diz.

Todas as áreas da saúde são voltadas para dar o atendimento hospitalar aos idosos, mas o bem-estar é fruto de outras áreas também, como a jurídica e o turismo. É um universo do qual o idoso se utiliza para ficar menos enfermo e se recuperar de coisas pelas quais passou durante a sua vida. “Então, é uma medida de suporte interdisciplinar na qual o médico por vezes exerce um papel essencial, por vezes ele é um suporte”, explica o professor.

Preocupação com a demanda

Envelhecer é natural, porém, sempre foi uma preocupação da população que, por muito tempo, considerava isso uma doença. Para mitigar os efeitos do envelhecimento e garantir que esse período passe da melhor forma possível, a ONU instituiu, em dezembro de 2020, que de 2021-2030 seria a Década do Envelhecimento Saudável.

Imagem: Divulgação/OPAS

O mundo inteiro está de olho nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, para “encontrar soluções que atendam à maior parte dos idosos, se não a sua totalidade, nas suas demandas”, explica Jacob. Isto é, permitir que os indivíduos envelheçam com um grau de morbidades menor.

Se antes as pessoas passavam grande parte da sua velhice doentes, hoje há mecanismos para que isso mude e os impactos sejam reduzidos. “Não podemos admitir mais o modelo de envelhecimento onde as pessoas adoecem e ficam limitadas na quinta ou sexta década de vida, tendo uma expectativa de vida média em torno de oito a nove décadas, então eu não posso passar grande parte da minha vida doente”, diz Jacob.

O envelhecimento saudável inclui todas as áreas, não só a da saúde. “O assunto é absolutamente universal”, relata o médico.

Dica do envelhecimento saudável

Qual seriam elas? Antes de tudo, Wilson Jacob lembra que trazer a discussão a público, que sempre foi uma discussão temida, é um passo muito importante. “ [A saúde] Precisa ser cuidada com zelo e com atenção. Todos os problemas que nós acumulamos no transcorrer de nossas vidas nos serão cobrados lá na frente”, diz.

“Quanto mais eu me preocupo com meu envelhecimento saudável, seja dos 30 aos 60 anos de idade, maior a chance que eu tenho de chegar às idades mais avançadas com uma menor carga de doença e uma menor necessidade de medicamentos”, complementa. Ele elenca, ainda, duas dicas valiosas para o envelhecimento saudável: a primeira é querer envelhecer, já que pessoas que não querem estão fadadas a terem uma vida curta. A segunda é preocupar-se com o envelhecimento ainda jovem: se os cuidados começam cedo, muitos problemas podem ser evitados. O segredo da longevidade é o cuidado.

FONTE: Jornal da USP

Diagnóstico precoce e prevenção podem desacelerar crescimento da diabete

O Brasil tem cerca de 16,8 milhões de pessoas com diabete, o quinto país com mais casos no mundo, segundo o Ministério da Saúde. A previsão é de que o número de casos aumente, segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que indica que 62 milhões de pessoas vivem com diabete nas Américas. Esse número deve chegar a 109 milhões até 2040. Outro dado que chama a atenção da Opas é que, dos 62 milhões de pessoas com diabete, 40% não sabem que têm a doença e 284 mil morreram em decorrência dela em 2019. As causas desse aumento expressivo, de acordo com o relatório, estão ligadas ao crescimento dos fatores de risco como o sobrepeso, a obesidade e falta de exercícios físicos pela população.

Segundo o professor Luiz Osório Silveira Leiria, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, uma das formas de combater o avanço da diabete é o diagnóstico precoce e a prevenção, não apenas para adoção de medicamentos, mas para a promoção de hábitos mais saudáveis. A diabete é dividida em tipo 1 e tipo 2, e cada uma possui características e sinais distintos. O professor explica que “a diabete tipo 1 é caracterizada pelo aumento do fluxo de urina, da frequência de micção e sede, e a diabete tipo 2 pode ser observada por alterações de tolerância à glicose, diagnosticada por meio do monitoramento periódico da glicemia”.

Além disso, Leiria esclarece que a obesidade e uma alimentação desequilibrada são fatores ligados à progressão da diabete, e a adoção de um estilo de vida saudável, com práticas de exercícios físicos regulares e uma dieta balanceada, são fundamentais para prevenção e controle da doença.

Diferenças entre os tipos

A diabete tipo 1, segundo Leiria, é uma doença autoimune, na qual o organismo desenvolve anticorpos contra componentes do próprio corpo, como a insulina, ligada ao início da vida, geralmente desenvolvida entre a infância e a adolescência. A falta de insulina leva ao aumento da glicemia no organismo. A doença geralmente se apresenta na infância ou na adolescência e, entre os sintomas da diabete tipo 1, estão formigamento em pernas e pés, feridas que demoram a cicatrizar e fungos nas unhas. Sede constante, boca seca, vontade de urinar a toda hora e perda de peso também são considerados sintomas.

Já no tipo 2, o corpo até produz insulina, mas a substância não consegue agir no organismo devido a uma resistência causada pelo excesso de gordura abdominal. “A diabete tipo 2 é uma doença de progressão lenta, que geralmente ocorre em idades mais avançadas, sendo consequência de uma combinação entre fatores genéticos e um estilo de vida menos saudável”, conclui o professor.

A diabete tipo 2 é mais prevalente porque está ligada diretamente ao estilo de vida, principalmente em pessoas com excesso de peso, comportamento sedentário, hábitos alimentares não saudáveis e história familiar de diabete. Na maioria das vezes, as manifestações ocorrem após os 40 anos de idade e com possibilidade de complicações tardias, entre elas problemas renais, oftalmológicos e neuropáticos. É a diabete tipo 2 a responsável por 90% dos casos e costuma ser assintomática, mas pode apresentar alguns sinais indicativos de que a doença pode estar se estabelecendo, como fome excessiva, vontade de urinar mais frequente que a usual, sede constante, perda de peso, fadiga e fraqueza e até mesmo mudanças no humor.

Diferenças entre os tipos de diabete – Imagem: Jornal da USP

FONTE: Jornal da USP

Ativação da respiração celular depende de concentração ideal de cálcio

O cálcio é o mineral mais abundante no corpo humano e tem diversas funções biológicas, participando de processos bioquímicos importantes. Ele é um regulador-chave em várias vias de sinalização intracelular e tem sido implicado no controle metabólico e na função mitocondrial. Sob a forma de íons de cálcio (Ca2+), ele ativa a respiração mitocondrial ao induzir a atividade de enzimas associadas ao metabolismo oxidativo, regulando assim a geração de adenosina trifosfato (ATP). O ATP é a principal fonte de energia de nossas células. A questão é que, embora conhecida, essa atividade do cálcio na respiração celular não havia sido determinada quantitativamente, ou seja, ninguém ainda havia medido.

Esse foi o desafio da pesquisadora Eloisa Aparecida Vilas Boas em seu projeto de pós-doutorado desenvolvido com bolsa da Fapesp e supervisão da professora Alicia Kowaltowski, do Instituto de Química (IQ) da USP. A investigação foi conduzida no âmbito do Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fapesp.

“Fala-se muito que o cálcio ativa algumas enzimas mitocondriais do ciclo de Krebs [uma etapa da respiração celular que ocorre na mitocôndria], com impacto na produção de ATP. Mas será mesmo? Ninguém mediu. Então o que fizemos foi estudar a respiração em mitocôndrias isoladas do fígado de camundongos e em hepatócitos em cultura, modulando diferentes níveis de cálcio. E mostramos que existe uma faixa ideal de concentração de cálcio em que a respiração mitocondrial é ativada”, afirma Vilas Boas. Os resultados foram publicados no Journal of Biological Chemistry (JBC).

Kowaltowski destaca que o trabalho inovou ao investigar como determinadas concentrações de cálcio alteram o fluxo metabólico. “Se você olha para a quantidade de uma coisa, tem uma fotografia do momento, não sabe quanto está sendo consumido e quanto está sendo produzido. Neste trabalho, a Eloisa está olhando para o fluxo, quanto está sendo transformado dessas moléculas. Isso realmente mostra como está a atividade metabólica.”

Além disso, a pesquisa avaliou a respiração celular em níveis fisiológicos de cálcio, para entender como é regulado o metabolismo de uma célula normal. “Muitas vezes a gente procura por doenças, mas tem lacunas no conhecimento do que acontece numa célula absolutamente normal”, afirmou Kowaltowski.

Cachinhos Dourados

O cálcio afeta quase todos os aspectos da vida celular e suas concentrações intracelulares são rigorosamente controladas. Nas células, a maior parte do cálcio está sequestrada no retículo endoplasmático e nas mitocôndrias – estas são consideradas reguladores centrais da homeostase do cálcio, pois podem captar, absorver e liberar íons do mineral.

Segundo as pesquisadoras, sabe-se que, nas mitocôndrias, a concentração excessiva de cálcio leva a um processo chamado transição da permeabilidade mitocondrial, no qual a membrana mitocondrial perde a seletividade, comprometendo a síntese de ATP e levando a célula à morte. Níveis moderados de cálcio, por outro lado, podem ativar direta ou indiretamente as enzimas da matriz mitocondrial, possivelmente impactando a produção de ATP.

Para entender de maneira mais global os efeitos do cálcio na respiração mitocondrial, elas monitoraram o efeito de diferentes concentrações de cálcio na taxa de consumo de oxigênio, fazendo um paralelo entre mitocôndrias isoladas de células do fígado de camundongos (hepatócitos) em cultura. O fígado é um dos tecidos mais importantes para o metabolismo.

Vilas Boas explica que, para estudar as mitocôndrias isoladas, foram usados vários substratos e diferentes concentrações de cálcio. A análise foi feita com um equipamento chamado Oroboros, um respirômetro de alta resolução que permite medir o consumo de oxigênio nas mitocôndrias de acordo com o tempo. Nas células intactas, foram usados moduladores – tanto um quelante para tirar o cálcio intracelular, levando à diminuição da respiração, quanto estratégias para aumentar a concentração de cálcio. As células intactas foram estudadas com o uso do analisador Seahorse, que permite medir a taxa de consumo de oxigênio de células vivas em condições de cultura.

Os resultados indicam que as concentrações de cálcio impactam fortemente a respiração mitocondrial, com um efeito do tipo “Cachinhos Dourados”, ou seja, se houver falta ou excesso de cálcio a fosforilação oxidativa é limitada. Já a concentração “na medida certa” promove ativação significativa.

Em todas as situações, os níveis de cálcio foram quantificados. “Além da medida do cálcio citosólico [presente no citosol, conteúdo celular que preenche o citoplasma entre as organelas, o núcleo e a membrana plasmática], fiz um experimento que mostrou o cálcio dentro da mitocôndria. Com isso demonstrei que realmente ele precisa entrar na mitocôndria para provocar o efeito”, afirmou a pesquisadora.

Segundo Kowaltowski, o interessante foi observar que a célula mantém os níveis de cálcio mitocondrial em uma faixa ideal para a respiração. “A célula normalmente não se mantém no máximo de produção de ATP. Ela pode aumentar essa produção de acordo com a demanda e mantém os níveis de cálcio necessários para isso.”

O artigo Goldilocks calcium concentrations and the regulation of oxidative phosphorylation: Too much, too little, or just right pode ser acessado em: www.jbc.org/article/S0021-9258(23)00036-4/fulltext.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

* Com informações do Redoxoma, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fapesp

FONTE: Jornal da USP

Estudo do Inca indica desigualdades entre tipos de câncer e incidência de acordo com regiões do País

A mortalidade prematura por câncer no Brasil deve cair no período de 2026 até 2030. Essa é a previsão feita por pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca), com base na mortalidade prematura observada no período anterior, de 2011 a 2015, para a faixa etária de 30 a 69 anos, a partir de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Mortalidade (SIM). O estudo, intitulado Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o câncer podem ser cumpridos no Brasil? e publicado no início de janeiro, indica desigualdades entre tipos de câncer e incidência de acordo com as regiões do País.

Mesmo que a previsão seja de diminuição da mortalidade prematura, há ainda o aumento de casos de câncer e, em alguns casos, até mesmo o aumento da mortalidade. Isso ainda é piorado de acordo com o sexo e a região: mulheres são as mais afetadas, com uma redução geral de 4,6%, frente aos 12% dos homens, enquanto o Nordeste apresenta as maiores taxas de mortalidade. Esse aumento está diretamente relacionado às mudanças de hábitos alimentares, sedentarismo, envelhecimento da população e aos padrões de vida devido ao aumento da urbanização.

O estudo foi motivado pela Meta 3.4 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), que visa a “até 2030 reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis via prevenção e tratamento e promover a saúde mental e o bem-estar”.

Expectativa de vida

As pessoas atingidas por essas mortes prematuras estão na faixa etária mais produtiva. Isso é também muito motivado graças ao aumento da expectativa de vida, nas quais há um aumento das doenças crônicas não transmissíveis. É esperado que essas pessoas estejam vivas até os 70 anos de idade. A redução prevista para o Brasil, porém, está muito aquém dessa meta de 30%.

“Ela está longe dos 30% de redução. Acho que é um dado importante, é uma boa notícia nós pensarmos que pode haver uma redução, mas não vai ser possível 30% de redução. A expectativa é que alcance alguma coisa da ordem de grandeza de 12%”, explica Maria Del Pilar Estevez Diz, médica oncologista e diretora do Corpo Clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.

Entre a incidência de tipos de câncer, o de próstata ainda lidera entre os homens, enquanto os de colo do útero e mama lideram entre as mulheres. No cenário geral, os cânceres de pulmão, estômago e intestino são os mais diagnosticados na população geral. Este último, inclusive, é o que deve apresentar maior aumento de risco de óbitos prematuros, cerca de 10%. O estudo ainda estima que cerca de 46 mil novos casos de câncer de intestino sejam diagnosticados a cada ano entre 2023 e 2025.

Em comparação, o câncer de pulmão apresenta dados alarmantes. Ele tem uma altíssima mortalidade por uma dificuldade de tratamento e diagnóstico. A redução esperada entre os homens é de quase 30%, enquanto para as mulheres há a previsão de um aumento da morte prematura de 1,1%. Isso evidencia o sucesso do trabalho – de décadas – feito para a redução do tabagismo, no qual os homens aderiram mais que as mulheres.

“Isso mostra a necessidade de campanhas específicas para as mulheres. Para ver essa redução nas próximas décadas, nós vamos precisar desestimular o tabagismo entre as meninas e as mulheres”, diz Maria. Ela ainda complementa que é necessário “mudar um pouquinho a campanha, a gente tem que trabalhar para sensibilizar essa população para que ela não seja exposta ao cigarro”.

Prevenção

“Está prevista uma redução na ordem de grandeza de pelo menos 20% do câncer de próstata”, diz a médica. Na maior parte das regiões, essa redução é notada, o que é muito positivo. Isso se dá a partir de uma maior busca dos homens pelo diagnóstico e à procura pelo tratamento. O câncer de próstata, ainda o de maior incidência entre homens, é passível de cura desde que diagnosticado precocemente.

Já no caso do câncer de mama, o cenário é bastante diverso.  As projeções indicam queda no Sudeste, estabilidade na região Sul e, na contramão, um aumento nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Esse aumento é decorrente do fato de as mulheres escolherem engravidar mais tarde e motivadas por hábitos alimentares e sedentarismo. “Nós temos uma quase estabilidade na mortalidade pelo câncer de mama nessas próximas décadas, uma redução de pouco mais de 10%. Nas regiões Norte e Nordeste, a gente não tem essa redução, enquanto na região Sudeste a gente tem uma redução de cerca de 20%”, explica a médica.

Esse tipo de câncer possui estratégias de prevenção. Como explica Maria, a detecção precoce do câncer de mama depende da adesão da população à mamografia, a ida regular ao ginecologista, mas também uma certa rapidez no diagnóstico. “Não basta a mulher ir ao médico, ela precisa ter acesso ao exame no momento certo, acesso ao médico quando tem alguma coisa, quando perceber algo anormal. A gente vê essa disparidade importante no Brasil”, explica. “Estimular a população a procurar o exame e, uma vez feito o diagnóstico, o acesso ao tratamento mais rápido possível”, complementa.

A médica ainda chama atenção para o câncer de colo uterino. Esse tipo de câncer é totalmente prevenível, desde que descoberto precocemente. A ideia é ter esse câncer erradicado. Porém, ainda apresenta uma desigualdade muito grande entre as regiões: enquanto a redução nacional é esperada, a região Norte tem uma mortalidade muito elevada e fora da média nacional. Em 2015, morreram 28 pessoas por 100 mil, sendo que a previsão é de diminuição para 24 pessoas por 100 mil. A média nacional é de 11 óbitos por 100 mil.

 Aumento dos casos

O câncer de intestino deve ter um aumento de cerca de 10%, em homens e mulheres, até 2030. A médica lembra que isso tem a ver com a transição epidemiológica pelo qual o País passa, ou seja, estamos assumindo um perfil de morte por câncer parecido com o dos países desenvolvidos.

Uma dieta pobre em fibras influencia o aparecimento do câncer de intestino também. A má notícia é que a prevenção é menos estruturada no País. São necessários exame de fezes anualmente, ou exames menos acessíveis, como a retossigmoidoscopia e a colonoscopia. Maria lembra que não há uma rede estruturada nacionalmente para a realização desses exames, além de um preconceito em relação a eles.

“Infelizmente, a gente vê, sim, um aumento, tanto em homens quanto mulheres, da mortalidade pelo câncer colorretal. Na verdade, quando a gente vai olhar o Brasil como um todo, é o único câncer que está esperado um aumento até o final da década”, diz Maria. Novamente, o Nordeste lidera um aumento de 52% dos casos para os homens e 38% para as mulheres. Para efeito de comparação, o aumento é de 4,5% para os homens e 7,3% para as mulheres no Sudeste. “Aponta para a necessidade de uma de uma política muito específica e urgente”, diz a oncologista. Esse é um tipo de câncer prevenível, com mudanças de hábitos, mas também com exames e a retirada da lesão pré-maligna ou por meio do diagnóstico precoce. “A população precisa ser esclarecida sobre o risco e o Ministério da Saúde precisa estar desenvolvendo uma campanha específica para isso. Sabemos hoje que pelo menos 75% da população é atendida pela rede pública de saúde, então, para mudar esse quadro, são necessárias políticas públicas de saúde efetivas”, finaliza.

Fonte: Jornal da USP

Técnicas para combater os sintomas do climatério

O climatério é um período da vida da mulher que geralmente acontece a partir dos 40 até os 65 anos de idade e que ocorre quando a menstruação começa a ficar irregular, num processo que pode durar mais de seis meses. Esse período de transição do climatério para a menopausa pode demorar de dois a oito anos. A menopausa começa após um ano sem menstruação e a mulher pode apresentar intensamente ou não os sintomas vasomotores, também conhecidos como fogachos e outras alterações, que são piores na pós-menopausa, como explica José Maria Soares Júnior, chefe do setor de Climatério da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas e professor associado da Faculdade de Medicina da USP. “Na pós-menopausa, com o tempo, os sintomas vasomotores tendem a diminuir espontaneamente, em algumas mulheres  começam a diminuir e aparecem outros sintomas, que são: atrofia genital, prurido, secura, dispareunia, incontinência urinária, urgência miccional. A gente chama isso de síndrome genitourinária da pós-menopausa.”

Quando a paciente apresenta menstruação irregular e volumosa, o tratamento é hormonal, utilizando progestogênio, devido à falta de progesterona no organismo. Para minimizar os sintomas vasomotores, é utilizado o estrogênio, que tem riscos, sendo necessária uma avaliação médica para verificar se não há alguma lesão precursora do câncer de mama ou de câncer genital, ou ainda alguma condição cardiovascular que impeça o uso do estrogênio, que ajuda nos sintomas genitourinários.

Diversos métodos podem ser utilizados para minimizar os sintomas. “Temos a reposição só com estrogênio naquelas mulheres que são histerectomizadas, nós temos a reposição com estrogênio mais progestogênio naquelas mulheres que têm útero, para proteger o útero da ação do estrogênio a longo prazo, podemos ter só progestogênio quando temos menstruação irregular e um outro progestogênio que nós podemos utilizar é a tibolona, um progestogênio diferente dos outros, que não utilizamos antes da menopausa e que ajuda nos sintomas vasomotores.” A aplicação pode ser por via oral, adesivos ou cremes.

Cuidados e atenção

O climatério é uma fase da vida da mulher em que ela passa do período reprodutivo para o não reprodutivo e em que o uso de medicamentos requer cuidados e atenção médica. Já se sabe que, hoje em dia, a mulher tem grandes benefícios ao usá-los quando tem sintomas vasomotores, uma condição que diminui a qualidade de vida, mas, se ela não tiver um bom acompanhamento médico, os riscos de ter um tromboembolismo, um infarto, uma doença mamária ou, até naqueles casos em que ela deixou de usar o progestogênio, um câncer endometrial são grandes. Se houver um acompanhamento médico com exames físicos, avaliando as alterações que ocorrem, com prevenção de medidas para melhorar a qualidade e estilo de vida, principalmente com dieta e atividade física, isso pode minimizar o mal-estar, alerta Soares.

Acompanhamento médico, principalmente com dieta e atividade física, pode minimizar o mal-estar e garantir qualidade e estilo de vida – Fotomontagem: Freepik

Entre as novidades de tratamento há o laser – Hifu, Fraxx -, energias ablativas e não ablativas, que podem ser uma alternativa do estrogênio tópico para as mulheres que não desejam usar o medicamento ou cremes vaginais. Energias ablativas removem partes da mucosa ou do colágeno antigo e as substituem por um novo. Nesse casos, vamos ter lasers como os de CO2, que são mais profundos. Mas existem também os lasers que são mais superficiais.

As energias não ablativas não realizam essa remoção, mas fazem com que uma nova célula, um novo tecido cresça e aumente também a quantidade de colágeno. O Hifu é um deles. Um ultrassom microfocado que vai fazer com que prolifere o colágeno, células e epitélio, o que melhora o trato genital, diminui a dor na relação sexual e também melhora a continência urinária. Estes são tratamentos da síndrome genitourinária. Outra técnica que existe é a radiofrequência, que pode ser também ablativa e não ablativa. Segundo o médico especialista em climatério, não existe uma energia superior à outra na literatura, elas são uma alternativa ao estrogênio, e o uso do laser também tem riscos e é necessário que a aplicação seja feita por um profissional capacitado, pois ainda não se sabe o que pode acontecer com seu uso contínuo.

Fonte: Jornal da USP

Inteligência Artificial na prevenção do câncer

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 705 mil casos da doença são esperados a cada ano até 2025 somente no Brasil. Dentro desse cenário preocupante, pesquisadores do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP estudam o uso de inteligência artificial (IA) por machine learning na predição da mortalidade de pacientes com a doença. O algoritmo informa a equipe médica sobre o risco do paciente evoluir a óbito entre 12 a 24 meses após a data de diagnóstico, garantindo assim um panorama sobre a gravidade de seu estado e quais medidas preventivas específicas devem ser tomadas. A iniciativa é fruto de um financiamento garantido pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.

De acordo com o doutorando Gabriel Silva, da FSP e pesquisador principal do estudo, os dados obtidos pela IA ficariam disponíveis desde o início do tratamento. “Digamos que o paciente fez os seus exames e voltou no retorno com o médico. Ali o profissional já vai ter algumas informações, por exemplo, quanto ao estadiamento clínico”, explica Gabriel ao Jornal da USP. Estadiar um caso de câncer implica a avaliação de seu grau de disseminação – dado-chave para se identificar pacientes de alto risco.

O pesquisador afirma que a rápida indicação de um caso grave ajudaria no conhecimento antecipado de medidas que possam aumentar a sobrevida de diagnosticados com câncer. “Isso pode ser uma ferramenta muito útil para priorizar o tratamento de determinados pacientes, para identificar qualquer pessoa que tem o maior risco de morrer. O que eu faço com esse paciente hoje? Eu passo ele na frente da fila de tratamento ou esse paciente apresenta um baixíssimo risco de morte e eu consigo priorizar uma outra pessoa em uma situação mais grave?”, explica Gabriel.

A pesquisa contou com o banco de dados do Registro Hospitalar de Câncer (RHC) da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), vinculada à Secretaria de Saúde, que tem como objetivo incentivar o estudo e o ensino de atividades de prevenção e detecção precoce do câncer. Apenas pacientes diagnosticados de 2014 a 2017 no Estado de São Paulo foram incluídos no estudo, que abrange todos os cânceres com maior incidência na população brasileira, como o de mama e o de próstata. O câncer de pele não melanoma, por apresentar altos índices de cura, não foi considerado para a pesquisa. Ao todo, 29 mil pacientes tiveram seus perfis analisados por inteligência artificial, sendo que 72,7% foram diagnosticados em hospitais públicos.

A aplicação prática do uso de IA ficaria a cargo da disponibilização das informações no prontuário digital, já utilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017. O prontuário já é uma tecnologia que possibilita a consulta do histórico clínico, resultados de exames e dados sobre os pacientes.

O professor Alexandre Chiavegatto Filho, diretor do Labdaps e docente da FSP, explicita os benefícios da implementação da inteligência artificial. “Os algoritmos garantirão um subsídio à equipe médica. Hoje em dia o médico possui muita informação dispersa, mas nada que unifique tudo para dar exatamente o que esse profissional gostaria de saber, que é a gravidade desse paciente.”

A utilização de IA na área da saúde é um campo ainda pouco explorado. A aplicação por machine learning, neste caso, auxilia na tomada de decisões médicas ao utilizar algoritmos para realizar previsões precisas acerca das condições de saúde do paciente em questão. O doutorando aponta os benefícios da inteligência artificial para o campo médico. “O machine learning funciona a partir do aprendizado das regras gerais dos dados. Ao apresentarmos um conjunto de informações, são explicitadas uma série de relações que a olho nu não seriam identificadas”, explica Gabriel.

Agora, os pesquisadores prosseguem para a fase dois do estudo, utilizando uma inteligência artificial 2.0 e adotando um estudo clínico randomizado (com pacientes distribuídos aleatoriamente entre os grupos para evitar vieses). “Nós já descobrimos que esses algoritmos tomam decisões inteligentes na área da saúde. O segundo passo é se perguntar se o profissional de saúde que tem essa informação toma melhores decisões”, afirma o diretor do Labdaps. Além disso, uma possível melhora no prognóstico dos pacientes também será analisada na próxima fase.

O artigo descrevendo o estudo Machine learning for longitudinal mortality risk prediction in patients with malignant neoplasm in São Paulo, Brazil, foi publicado na revista científica Artificial Intelligence in the Life Sciences e faz parte da pesquisa de doutorado de Gabriel Silva.

Mais informações: e-mail gabriel8.silva@usp.br, com Gabriel Silva

Texto: Camilla Almeida
Arte: Carolina Borin Garcia

FONTE: Jornal da USP