Perda auditiva é associada a declínio cognitivo mais acelerado

Dados do contexto brasileiro, coletados em estudo de longa duração, reforçam relação entre escutar pior e sofrer perdas cognitivas. Pesquisadoras enfatizam necessidade de prevenção da perda auditiva, especialmente na meia-idade

Escutar pior com o passar dos anos é comum. A partir dos 40, por exemplo, nossa audição já começa a ficar menos afiada para frequências mais altas, que são os sons mais agudos. Aos 60 anos, em média 12% da população já terá tido uma perda importante, número que cresce para 58% aos 90. Nem por isso a perda auditiva deve ser considerada algo trivial, já que é fator de risco para outros problemas de saúde, inclusive demência. Uma pesquisa liderada pela USP amplia com dados da população brasileira um corpo de evidências cada vez mais forte sobre a associação desta perda ao declínio cognitivo, alertando que os sistemas de saúde precisam investir na prevenção.

A pesquisa foi feita com dados do Elsa-Brasil, um estudo que acompanha os participantes em diferentes momentos por vários anos. As avaliações incluíram 805 pessoas com idades iniciais de 34 a 74 anos e foram realizadas em três momentos ao longo de oito anos (2008/2010, 2012/14 e 2017/19). Todos passaram por audiometria e também por testes de desempenho cognitivo envolvendo memória, fluência verbal e função executiva, que inclui diversos processos como o raciocínio e solução de problemas. Também foram coletadas informações sobre estado de saúde e variáveis sociodemográficas como idade, sexo, raça e educação.

Após o tratamento estatístico, isolando as variáveis de saúde e estilo de vida, os dados confirmaram que houve declínio cognitivo global mais acentuado relacionado à perda auditiva. Os resultados foram publicados em artigo no Journal of Alzheimer’s Disease, trazendo como primeira autora a fonoaudióloga Alessandra Samelli, professora da Faculdade de Medicina (FM) da USP.

Alessandra destaca como um dos pontos fortes do estudo o fato de ter sido feito o chamado acompanhamento longitudinal. “Esse tipo de acompanhamento ao longo do tempo gera evidências mais robustas.” Também autora do trabalho e professora da FMUSP, a médica Claudia Suemoto ressalta que a pesquisa, além de trazer dados do contexto nacional, realizou testes de audiometria, uma maneira objetiva de medir problemas de audição – ao contrário de estudos anteriores que coletaram o dado por entrevista, ou seja, perguntando à pessoa se ela sente que a audição piorou.

Redução nos casos de demência para cada fator de risco eliminado

A Comissão Lancet sobre prevenção, intervenção e tratamento da demência mostra os fatores de risco e indica que quase metade de todos os casos de demência no mundo poderiam ser prevenidos ou retardados ao controlar 14 fatores modificáveis Gráfico adaptado de The Lancet, Vol. 404, No. 10452. Disponível em https://www.thelancet.com/infographics-do/dementia-risk

 

Prevenção da perda

De acordo com Alessandra Samelli, os mecanismos que levam à associação entre perda auditiva e declínio cognitivo ainda precisam ser mais bem elucidados, mas os dados existentes são suficientes para incentivar um foco maior na prevenção, principalmente para grupos mais vulneráveis.

“Por exemplo, alguém que trabalhou a vida toda em ambiente com ruído e não usou adequadamente os equipamentos de proteção auditiva, muito provavelmente vai ter uma perda auditiva maior. Uma pessoa com problemas cardiovasculares também tem maiores chances de apresentar perda auditiva, pois estas doenças podem prejudicar o sistema auditivo, podendo resultar em uma queda maior da audição. Ou alguém que ao longo da vida usou muitos medicamentos que são tóxicos ao ouvido”, diz ela, acrescentando entre hábitos nocivos – e que podem ser modificados – utilizar fones de ouvido com som alto – o que às vezes começa ainda na adolescência. “Se você diminui ou impede que esses fatores de risco aconteçam, pode diminuir a probabilidade de a pessoa ter o declínio cognitivo”, completa a fonoaudióloga.

Claudia Suemoto é outra a bater na tecla da prevenção, e lembra que os estudos têm mostrado que a perda auditiva mais importante para o declínio cognitivo é a que ocorre na meia-idade, dos 40 aos 65. “A perda numa pessoa de 70 ou 80 anos também é importante, claro. Mas dados consistentes de estudos prévios apontam que realmente a meia-idade seria uma janela importante, ou seja, o que poderia influenciar mais o declínio cognitivo é você ter começado a perder a audição na meia-idade, e não a perda que você já teve lá na frente.” Para ela, colocar o aparelho auditivo nos idosos, apesar de importante por outros aspectos, talvez não seja um meio tão eficaz de prevenir a perda cognitiva.

Menos input e mais isolamento

Uma das hipóteses mais aceitas sobre porque a perda auditiva influencia na perda cognitiva é a diminuição de estímulos ao cérebro. “Você pode pensar no cérebro como um computador que tem suas fontes de entrada, ou input. No computador são o teclado, a câmera, o microfone. E o cérebro tem suas fontes de entrada de estímulos: auditivo, visual, tátil. Então quando você tira uma fonte, principalmente a auditiva, acaba estimulando menos o cérebro e isso é um problema”, diz a médica.

“Primeiro, há menos coisa chegando fazendo com que seu cérebro trabalhe, acione a comunicação entre os neurônios. Temos estudos com ressonância magnética funcional mostrando que a pessoa que ouve menos tem áreas mais dormentes, menos ativas no cérebro, como a da linguagem.”

Além disso, explica Claudia, “secundariamente, a pessoa que ouve menos tende a se isolar, a interagir menos. Consequentemente a pessoa é menos requisitada, ela se expressa menos, porque não é capaz de entender ou funcionar num nível esperado em termos auditivos”.

Perda cognitiva: outros fatores

Especialista em envelhecimento cerebral, Claudia Suemoto conta que os dados do Elsa têm sido úteis para vários estudos que investigam fatores associados ao desenvolvimento das demências.

“Já fizemos vários estudos sobre dieta, relacionando, por exemplo, o consumo de ultraprocessados à perda cognitiva e também à depressão. E mostramos ainda em dois trabalhos a associação de problemas cardiovasculares, como aterosclerose, ao declínio cognitivo, além de fazer outras pesquisas com dados do Elsa que não se referem ao aspecto cognitivo.

O artigo Hearing loss and cognitive decline in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) during eight years of follow-up pode ser lido aqui. Para saber mais sobre o Elsa Brasil, acesse o site.

Mais informações: e-mail alesamelli@usp.br., com Alessandra Samelli; e cksuemoto@usp.br, com Claudia Suemoto

FONTE: Jornal da USP

Estimulação neural potencializa o treinamento motor em pacientes com Parkinson

Testes mostram que a estimulação neural ajuda a melhorar a atividade neurológica e o equilíbrio de indivíduos com Parkinson

A doença de Parkinson é um distúrbio neurológico, crônico e progressivo que prejudica o sistema nervoso central, danificando a movimentação e o equilíbrio. Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 8,5 milhões de pessoas no mundo sofriam com a doença, um número alarmante que aumenta a cada ano. Portanto, o desafio dos pesquisadores é encontrar novos tratamentos que ajudem a melhorar a qualidade e a expectativa de vida dos indivíduos com Parkinson.

Um estudo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), conduzido por Núbia Ribeiro da Conceição e orientado pelo professor Luis Augusto Teixeira, avaliou os efeitos da Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) em diferentes intensidades no cerebelo de voluntários com a doença. Trata-se de um tratamento não farmacológico, técnica não invasiva e indolor que utiliza correntes elétricas de baixa potência para aumentar a atividade cerebral.

Ao aplicar o tratamento em pessoas com a doença de Parkinson, os pesquisadores verificaram ganhos de equilíbrio corporal e a ativação do córtex pré-frontal em múltiplas sessões de treinamento de estabilidade combinadas com estimulação transcraniana no cerebelo (ECTCC). O experimento resultou em melhorias do equilíbrio em situações desafiadoras e melhor utilização do córtex cerebral no controle da postura. A conclusão foi que a adição da ECTCC a exercícios motores potencializou os ganhos no desempenho motor em pacientes com a doença.

O cerebelo como ponto de partida

Em relação ao Parkinson, Conceição afirma que “o papel do cerebelo ganhou mais atenção apenas na última década, com evidência de seu envolvimento em sintomas motores e não motores associados à condição”. O cerebelo está diretamente relacionado à coordenação sensório-motora por vias conectadas ao córtex motor, que passam por regiões cerebrais envolvidas na movimentação e que são prejudicadas pela doença.

Estudos dão mais importância para o cerebelo como chave para o tratamento do Parkinson – Foto: Shutterstock

A pesquisadora afirma que o órgão desempenha um papel crucial no controle motor, na integração sensorial e na coordenação de atividades de diferentes grupos musculares. Portanto, a hipótese levantada foi de que a utilização da estimulação neural, associada a intervenções físicas, aumentaria a conectividade e a ativação das regiões cerebrais responsáveis pelo controle motor, resultando em ganhos de estabilidade do equilíbrio corporal.

Foram recrutadas 46 pessoas de ambos os sexos e com faixa etária entre 50 e 80 anos. Os voluntários foram distribuídos em três grupos: o primeiro recebeu a ECTCC com intensidade de 2mA (miliampère, uma unidade que mede a potência da corrente elétrica, equivalente a um milésimo de ampère); o segundo com 4mA; e o terceiro a ECTCC simulada (sham), isto é, um grupo de controle que não receberia estimulação ativa.

Treinamentos de equilíbrio

Os voluntários fizeram visitas ao laboratório, com análises clínicas e verificação dos critérios de inclusão e também sessões de treinamento e avaliações realizadas antes e depois das sessões de neuroestimulação, que eram associadas ao treinamento de equilíbrio dinâmico. Durante a prática, foram posicionados os eletrodos de estimulação e a touca de neuroimagem, instrumento utilizado para monitorar a atividade neural.

Treinamento pode ter melhorado a utilização da via responsável pela movimentação e a retomada do controle automático da postura – Foto: Núbia Ribeiro da Conceição

Futuro promissor

Para verificar os efeitos progressivos, sessão a sessão, foram realizados testes em superfície maleável que requisitavam controle do equilíbrio estático e dinâmico.

Foram avaliados o controle do equilíbrio corporal através dos dados do centro de pressão coletados pela plataforma de força, além da atividade do córtex pré-frontal durante a execução das tarefas.

Ao final do programa de treinamento, no último dia, a avaliação dos ganhos cumulativos foi realizada com tarefas em superfície rígida, requisitando novamente o controle em postura quieta e dinâmica sobre a plataforma de força.

Após análise dos resultados, a pesquisadora concluiu que a utilização da neuroestimulação durante seis sessões de treinamento de equilíbrio dinâmico potencializou os benefícios da intervenção motora em pessoas com a doença de Parkinson em comparação àqueles que não receberam a estimulação ativa. Destaca-se, ainda, que a ECTCC de 4mA produziu efeitos positivos em maior magnitude e mais rapidamente do que o grupo que recebeu a intensidade de 2mA.

“Acreditamos que a intensidade de 4mA foi mais efetiva em excitar as conexões intracerebelares, tendo em vista que o predomínio de distúrbios posturais e locomotores na doença de Parkinson parecem estar associados a uma conectividade intracerebelar diminuída”, afirma Conceição. A pesquisadora explica que a intensidade de 4mA pode ter promovido maiores ativações e conexões das vias cerebelares ligadas ao córtex motor, ocasionando uma coordenação sensório-motora mais eficaz e fortalecida.

Os dados também indicaram que a ECTCC, associada às intervenções físicas, pode ter melhorado a utilização da via responsável pela movimentação e a retomada do controle automático da postura, uma vez que diminuiu a ativação do córtex pré-frontal, que atua com recursos de atenção e raciocínio para compensar os comprometimentos de controle do equilíbrio ocasionados pela redução da automaticidade. Sendo uma técnica que não causa desconforto ou efeitos adversos significativos, a ECTCC mostrou-se segura e eficiente – uma ferramenta complementar, ajudando em ganhos mais expressivos e de maneira mais rápida.

O trabalho, intitulado Efeitos de múltiplas sessões de estimulação cerebelar transcraniana por corrente contínua durante treinamento de equilíbrio dinâmico sobre ganhos de equilíbrio corporal e ativação cortical em pessoas com doença de Parkinson pode ser acessado na íntegra no Banco de Teses da USP por meio deste link.

*Estagiária sob supervisão de Paula Bassi. Adaptado para o Jornal da USP
Da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE

Cientistas analisam ancestralidade genética da população paulistana

Um estudo do Instituto de Biociências (IB) utilizou uma calculadora científica para investigar a ancestralidade média da população de São Paulo. A publicação apontou uma ancestralidade global média 77,5% europeia, 10,4% africana, 7,4% nativa americano, 4,1% leste asiática, 0,5% sul asiática e 0,1% oceânica. Já a análise por grupos populacionais apontou predominância basca/ibéria (entre 33,9% e 37,9%), albânia/itália/sardenha (entre 22,3% e 26,7%) e do oeste europeu (entre 6,2% e 7,2%).

Apesar da análise ser focada na ancestralidade coletiva, o estudo também fez investigações individuais. Nestes casos, havia presença de múltipla ancestralidade, o que indica um perfil miscigenado da população. As miscigenações mais comuns na amostra são entre europeus, africanos, ameríndios e leste-asiáticos.

Em entrevista ao Jornal da USP, o pesquisador Raphael Amemiya afirmou: “ a população paulistana não é apenas heterogênea [composta por diferentes grupos étnicos, que podem ou não ser isolados um do outro], mas também miscigenada, ou seja, diferentes grupos populacionais podem se expressar no gene de uma só pessoa”. Os Estados Unidos e a Índia são exemplos de países heterogêneos, mas menos miscigenados.

Grupos populacionais Ancestralidade média
Basca/Ibéria 33,9% – 37,9%
Albânia/Itália/Sardenha 22,3% – 26,7%
Oeste da Europa 6,2% – 7,2%
Esan/Yorubá 5,4% – 7,2%
Karitiana/Suruí/Wichí 3,7% – 4,5%
Oriente Médio/Norte da África 3% – 3,8%
Japão 2,9% – 3,7%

Mais dados populacionais

Os estudos de ancestralidade apresentaram avanços nas últimas décadas. Ferramentas de Inteligência Artificial e Machine Learning, como a calculadora utilizada neste estudo, estão cada vez mais autônomas do pesquisador. Uma tendência de estudos é a aproximação da área com outros campos do conhecimento, como a arqueologia e a história. Algumas pesquisas traçam rotas históricas de migração, o que aproxima informações genéticas a achados arqueológicos.

Apesar do progresso recente, esses estudos são uma área em processo de refinamento e ainda percorrem diferentes desafios, como a sub-representação de populações (especialmente de povos nativos, latinoamericanos e africanos) em bancos de dados genéticos. O pesquisador aponta que inferir misturas muito antigas e complexas também é um grande desafio para os cientistas da área.

“A ideia era fazer uma calculadora de fácil uso, com linguagem de programação simples – como o Python – mas que captasse a complexidade dessas amostras foi desafiador”, destaca Miyama.

A frequência alélica identificada por “Genera” é a amostra da população paulistana disponibilizada pelo laboratório. A aproximação desses elementos com os outros grupos demonstra uma provável ascendência e casos de miscigenação – Imagem: reprodução do artigo

Relevância da análise

Os testes genéticos de ancestralidade, além de serem úteis para a pessoa conhecer mais sobre si mesma, também são úteis na área da saúde. Estudos apontam que certos fatores genéticos variações genéticas associados a doenças apresentam frequências variadas em diferentes grupos populacionais. Variantes associadas à diabetes tipo 2, hipertensão, insuficiência renal e câncer de próstata são exemplos.

“Se testes de riscos genéticos forem estabelecidos clinicamente, saber a ancestralidade é importante para uma interpretação mais acurada de risco”

O artigo também chama atenção para o fato de que grande parte dos estudos genéticos são feitos em populações europeias e, por isso, a patogenicidade (capacidade de um agente biológico causar doença) de algumas variantes não é totalmente compreendida em pessoas de fora do continente. O reconhecimento da ancestralidade paulistana direciona os cientistas para a produção de novos estudos e interpretações.

O artigo “Análise da ancestralidade genética da população de São Paulo” está disponível on-line e pode ser lido aqui.

Mais informações: raphael.amemiya@usp.br

FONTE: Jornal da USP

Alimentação não inflamatória e atividade física protegem saúde mental feminina

Um estudo do Grupo de Pesquisa em Avaliação do Consumo Alimentar (GAC) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP conecta o sedentarismo e uma dieta pró-inflamatória aos Transtornos Mentais Comuns (TMC) – distúrbios como a depressão e ansiedade, que não apresentam casos de psicose – em mulheres com mais de 40 anos.

O potencial inflamatório da dieta foi estimado por um índice já existente na literatura científica, desenvolvido a partir de estudos epidemiológicos e de laboratório. São exemplos de alimentos com potencial inflamatório aqueles com altas quantidades de gordura saturada – como a carne vermelha – e predominância de carboidratos simples, como os com farinhas brancas ou altos em açúcar adicionado. Já as frutas, os legumes e alguns óleos vegetais são considerados anti-inflamatórios.

Os resultados apontaram que transtornos mentais comuns estavam associados ao grupo de mulheres com maiores índices inflamatórios dietéticos e baixo grau de atividade física. Além disso, esses transtornos também estavam relacionados com a presença simultânea de três ou mais doenças não transmissíveis, como hipertensão, diabete, artrite e artrose.

Base de Dados

Os dados foram obtidos pela base do projeto ISA-Nutrição 2015, coordenado pela professora Regina Mara Fisberg e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Trata-se de um estudo transversal realizado por uma parceria entre a FSP e Faculdade de Medicina (FMUSP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto de Saúde (IS) do Estado de São Paulo. Os pesquisadores aplicaram questionários nos moradores de áreas urbanas da cidade de São Paulo. Dentro das limitações geográficas, o projeto conseguiu coletar uma amostra diversificada em termos de renda, etnia, idade e escolaridade.

A pesquisa avaliou uma amostra de 467 mulheres com mais de 40 anos, medindo o potencial inflamatório de dieta a partir do Índice Inflamatório Dietético (IID) e o grau de atividade física, a partir do Questionário Internacional de Atividade Física (Ipaq), que leva em consideração no cálculo até mesmo atividades feitas por lazer. Na modelagem estatística foram definidas, também, as variáveis de ajuste – fatores que podem influenciar os resultados e, por isso, são considerados nos cálculos: doenças não transmissíveis, intervalo de idade, anos de educação formal, índice de massa corporal (IMC) e etnia.

Dietas pró-inflamatórias: glúten e lactose não são os vilões

João Valentini Neto, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação Nutrição em Saúde Pública e um dos autores do artigo, ressalta que a pesquisa foge de “simplismos nutricionais” e que o objetivo não é generalizar nem estigmatizar alimentos como leite e pão, por exemplo. “Quando tocamos nesse assunto, não estamos falando em condenar a lactose e o glúten”, comenta o pesquisador, referindo-se a alguns conteúdos equivocados divulgados na imprensa e nas mídias sociais.

O Índice Inflamatório Dietético (IID) utilizado foi desenvolvido por pesquisadores estadunidenses e leva em conta diferentes aspectos da dieta a partir de cálculos específicos da quantidade e qualidade nutricional dos alimentos. Frutas, legumes, verduras, especiarias, óleos que contenham ômega 3 – como óleo de peixe ou azeite de oliva – cebola, alho, gengibre e chás são considerados alimentos anti-inflamatórios pelo índice. Por sua vez, alimentos com maiores quantidades de gordura saturada – como a carne vermelha – e predominância de carboidratos simples – como a farinha branca – são considerados pró-inflamatórios.

Valentini Neto explica que uma alimentação anti-inflamatória deve se aproximar das dietas tradicionais – praticadas por grupos culturais antes da introdução de alimentos industrializados – e se afastar da dieta ocidentalizada – caracterizada pelo consumo excessivo de ultraprocessados, grãos refinados e alimentos pré-embalados.

O pesquisador aponta que o objetivo não deve ser meramente excluir alimentos pró-inflamatórios, mas, especialmente, acrescentar estímulos que façam efeito contrário. Ele explica que o índice avalia como substâncias pró-inflamatórias e anti-inflamatórias reagem. Para ele, a população deve buscar um equilíbrio alimentar.

O indicador, diz ele, “engloba desde a quantidade de orégano até a mensuração de ativos como os flavonóides antioxidantes”, referindo-se às substâncias presentes em alguns vegetais que protegem as células contra os efeitos danosos dos radicais livres.

Efeitos do sedentarismo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a população faça, no mínimo, 150 minutos de atividade física por semana – de preferência, dividida em diferentes sessões ao longo do período. Pessoas que se exercitam com uma frequência abaixo desta recomendação são consideradas sedentárias. O estudo utilizou a classificação da OMS como parâmetro de investigação e dividiu os correspondentes em sedentários ou ativos, a partir do Questionário Internacional de Atividade Física – ou seja, pessoas que não praticavam exercício de maneira consistente, mas se movimentavam bastante durante a semana, também foram classificadas como ativas.

“Nós observamos que mulheres que seguiam a referência da OMS estavam mais protegidas contra os transtornos mentais comuns”, comenta Valentini Neto. Ele explica que a atividade física, por si só, já é um estímulo anti-inflamatório – tanto pela regulação do sistema imunológico quanto pelo aumento do metabolismo antioxidante. Assim como no caso da dieta, o pesquisador aponta que é importante não generalizar e explica que a prática excessiva de exercícios também pode ter um efeito pró-inflamatório.

Inflammaging em mulheres

Valentini Neto afirma que, em qualquer faixa etária, os transtornos mentais prevalecem no gênero feminino. Entre as próprias mulheres, porém, o índice de TMC é maior naquelas com idade próxima e posterior à menopausa.

O pesquisador comenta que no envelhecimento tende a se desenvolver um quadro de inflamação sistêmica de baixo grau, considerada subclínica. Esse processo recebe o nome de inflammaging, aglutinação dos termos da língua inglesa inflammation (inflamação) e aging (envelhecimento). Cientistas da área estudam como esses dois fatores se retroalimentam.

A relação entre inflamação e transtornos mentais é abordada, especialmente, nos estudos sobre o eixo intestino-cérebro. Alterações na saúde intestinal podem ser associadas a neuroinflamação e neuroprogressão. Por isso, uma das hipóteses dos pesquisadores era de que alimentação pró-inflamatória e sedentarismo poderiam ser fatores de influência dos transtornos mentais comuns em mulheres com mais de 40 anos.

Mais informações: joaovneto@gmail.com, com João Valentini Neto

*Estagiária sob orientação de Fabiana Mariz

FONTE: Jornal da USP

Verdades e mitos sobre a creatina

Pesquisadores brasileiros fazem parte de um grupo de cientistas que analisou dezenas de estudos sobre a creatina em todo o mundo para investigar o que é verdade e o que é mito a respeito dela. O suplemento é amplamente utilizado para melhorar o desempenho em atividades físicas. O estudo, publicado em artigo no Journal of the International Society of Sports Nutrition, reúne evidências científicas de que a suplementação em doses indicadas favorece a atividade física, não causa câncer, não compromete os rins nem provoca câimbras, calvície ou hipertensão. Ao mesmo tempo, os pesquisadores apontam aspectos que necessitam de mais estudos, como o efeito terapêutico da creatina e seu uso durante a gestação.

“A creatina é um composto produzido no nosso próprio organismo, em particular nos rins e fígado, a partir de três aminoácidos, a arginina, a glicina e a metionina”, explica ao Jornal da USP Hamilton Roschel, professor da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), membro do Centro de Medicina do Estilo de Vida (CMEV) e do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da USP, um dos autores do artigo. “Ela também pode ser consumida em alimentos, em particular em carnes vermelhas ou então em suplementos produzidos comercialmente.”

“Por ser armazenada principalmente nos músculos e facilitar a produção de energia de maneira rápida, a suplementação de creatina tem sido amplamente usada como recurso para aumentar a capacidade de se exercitar, o que sugere potencial não apenas para o desempenho físico-esportivo, mas também terapêutico”, afirma Roschel. “A creatina participa dos processos de produção de energia em outros tecidos e, assim, seu efeito tem sido estudado em outros contextos ao longo das últimas décadas, como, por exemplo, seu efeito na saúde óssea e na cognição, entre outros.”

“Este trabalho é uma revisão narrativa, ou seja, vários pesquisadores que estudam a creatina ao redor do mundo se reuniram e revisaram os principais temas relacionados ao suplemento. Alguns não são científicos de fato, apenas, ‘fake news’, desinformação, e o objetivo era desmistificar essas falácias”, diz o professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) Bruno Gualano, que também integra o CMEV e o Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da USP.

O estudo também confirmou evidências já existentes, como a de que a suplementação, de fato, pode melhorar o desempenho físico esportivo, em especial nas atividades de altíssima intensidade, feitas em modalidades coletivas, entre elas futebol, basquete e vôlei.

A literatura mostra não haver efeito negativo da suplementação de creatina sobre a pressão arterial – Foto: Freepik

Segurança

Segundo Gualano, os pesquisadores concentraram-se na checagem de 14 afirmações sobre a creatina, divididas em três grupos. “Há fatos confirmados, outros desmentidos e uma categoria que exige mais estudos, como os benefícios terapêuticos”, comenta. “Entre os que foram confirmados, por exemplo, está a questão do desempenho, se você tomar, cinco, sete dias depois, pode melhorar em atividades específicas, e que o suplemento pode ser usado por idosos e adolescentes eventualmente, não tem risco para essa população.”

Roschel observa que além do artigo de revisão, foram elaborados mais dois textos reunindo as principais questões sobre o tema. “Talvez as dúvidas mais comuns acerca do uso da creatina fiquem em torno da sua segurança”, diz. “Enquanto as perguntas relacionadas ao sistema renal foram abordadas no primeiro texto, a alegação de que ela poderia estar ligada ao desenvolvimento de câncer é discutida no segundo.”

“O trabalho desmistifica essa informação ao apontar que não há evidências de que doses típicas de creatina aumentem o risco de câncer, seja primário ou metástase. Também há evidências, ainda insuficientes, de que a creatina possa auxiliar na proteção ou recuperação do comprometimento muscular induzido pelo câncer ou tratamento associado. De qualquer forma, é recomendado a limitação do consumo de produtos cárneos processados e ultraprocessados ou submetidos à cocção intensa, churrasco, por exemplo.”

Efeitos

De acordo com Roschel, outra questão recorrente é sobre um possível efeito da creatina sobre a pressão arterial. “Uma vez que se trata de uma substância que causa retenção de fluido intracelular, há uma preocupação infundada de que isso poderia afetar tanto a função renal quanto a pressão arterial”, relata. “A literatura mostra não haver efeito negativo da suplementação de creatina sobre a pressão arterial, seja em jovens saudáveis ou em populações clínicas. Não há, contudo, estudos conduzidos com pacientes hipertensos de base, o que limita a extrapolação dos achados para essa população.”

“Uma terceira pergunta muito comum talvez seja sobre a tolerância da suplementação durante a gestação. Estudos pré-clínicos em modelo animal mostraram que ninhadas expostas à creatina e seguidas até a idade adulta não reportaram nenhum impacto negativo, tanto na mãe quanto no feto”, descreve Roschel.  “Apesar disso, ainda não há evidências diretas a partir de estudos clínicos bem controlados e desenhados com seres humanos para investigar a segurança e os efeitos do suplemento nesses casos.”

Gualano acrescenta que o artigo apresenta desinformações que circulavam nas redes sociais e os pesquisadores trouxeram evidências para mostrar que não faziam sentido, do ponto de vista científico. “Alguns mitos que nós desmistificamos, por exemplo, é que a creatina pode prejudicar a saúde”, ressalta. “Existe na literatura uma evidência muito grande de que o suplemento é seguro, tanto na função renal, quanto para a saúde hepática, que não causa câimbras, nem calvície, ou inflama ou causa hipertensão arterial.”

“Também há fatos que ainda não têm respaldo científico, ficam mais ou menos numa zona cinza, ou seja, existe alguma evidência que a suplementação poderia funcionar em determinadas condições, mas não há evidências clínicas suficientes para bater o martelo”, salienta Gualano. “Por exemplo, o uso na reabilitação de pessoas imobilizadas, que passam por cirurgia. Existe uma lógica por trás disso, a creatina poderia aumentar força, recuperar massa muscular e melhorar o desempenho, mas há poucos estudos clínicos que aprovem o uso nessas condições.”

O artigo é apresentado de maneira didática, considerando que é uma publicação científica, com perguntas, respostas e um resumo das evidências, incluindo também temas como a interação da cafeína com a creatina, efeitos na privação de sono e fertilidade masculina e se o momento de tomar o suplemento, antes ou após o treino, faz diferença. Ele pode ser acessado neste link.

Mais informações: gualano@usp.br, com Bruno Gualano, e hars@usp.br, com Hamilton Roschel

Fonte: Jornal da USP

Aprendizagem motora de idosos é heterogênea e tem relação com o desempenho cognitivo

O aprendizado motor é um processo único para cada pessoa e pode se transformar ao longo da vida. Com o envelhecimento, métodos de ensino que funcionam bem para jovens nem sempre apresentam os mesmos resultados para idosos.
Foi pensando nisso que Renato Reis de Souza, sob a orientação do prof. dr. Flavio Henrique Bastos, investigou como a aplicação do autocontrole de feedback influencia a aprendizagem motora em idosos, levando em conta também o impacto do desempenho cognitivo nesse processo. No método, o aprendiz decide quando e quantas vezes verá seu desempenho após a tentativa de realizar uma tarefa motora.

A pesquisa constatou que a aprendizagem motora autocontrolada em pessoas idosas é influenciada pelo desempenho cognitivo. Além disso, os dados sugerem que, após os 60 anos, a idade dos aprendizes pode não ser um bom indicador de desempenho, já que os resultados obtidos por cada participante nos testes aplicados não mostraram ter relação com a idade que tinham, ou seja, os voluntários mais novos não tiveram desempenho superior aos mais velhos e vice-versa.

Aplicação dos testes e aprendizado da tarefa

Participaram da pesquisa 20 voluntários acima de 60 anos e neurologicamente saudáveis, todos alunos do Curso de Educação Física para Idosos da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP. Para a coleta de dados foram realizadas duas sessões individuais com cada participante no Laboratório de Comportamento Motor da EEFE. Em um primeiro momento, os voluntários realizaram o Teste de Tempo de Reação de Escolha, com a finalidade de medir seu desempenho cognitivo.

O teste consistia em observar quatro espaços dispostos de modo horizontal e toda vez que um sinal (x) aparecesse dentro de um deles a tecla correspondente (z / x / , / e) deveria ser pressionada o mais rápido possível. O sinal só desaparecia após uma tecla ser pressionada e, após alguns segundos, outra tentativa começava. Ao todo, foram 48 tentativas. O sistema registrava quanto tempo os voluntários levavam para responder e se a resposta estava ou não correta.

Na imagem, o botão representando a vírgula (,) deveria ser pressionado – Imagem: reprodução / EEFE

Logo após passarem pelos testes cognitivos, os voluntários iniciaram a aprendizagem motora, que foi feita por meio de uma tarefa de timing antecipatório. A tarefa tinha como objetivo observar um alvo móvel, que durante o trajeto era bloqueado, e estimar o momento em que ele iria encostar na linha posicionada no canto direito da tela. Quando achasse que o alvo chegou na linha, o participante devia dar um clique com o mouse.

O processo foi dividido em quatro fases. A primeira, chamada de Baseline, foi composta de 20 tentativas e serviu para familiarizar os voluntários com a tarefa, além de descobrir a medida de desempenho inicial de cada participante. A segunda fase foi realizada logo após a primeira e compreendeu 70 tentativas. Nessa fase, considerada de Aquisição, os voluntários tinham a possibilidade de receber feedback após as escolhas feitas.

Nas últimas duas fases, o Teste de Retenção foi aplicado. Os participantes realizaram 20 tentativas, sem possibilidade de feedback. O primeiro foi feito logo após a fase de Aquisição – Teste de Retenção Imediato (RETi) – e, o segundo, 48 horas depois – Teste de Retenção Atrasado (RETa).

O clique deveria ser feito conforme a estipulação do participante – Imagem: reprodução / EEFE

Após cada tentativa da fase de Aquisição, aparecia na tela uma mensagem perguntando se o participante desejava ou não receber o feedback. Todos foram orientados a solicitar o feedback sempre que achassem necessário. Caso optassem por ver, recebiam uma resposta dizendo se o botão foi pressionado antes ou depois do momento correto e por quantos milésimos de segundo de diferença.

Ao final da fase de Aquisição, os voluntários responderam um questionário acerca do feedback, informando em que momentos o solicitaram e por qual motivo. O intuito era compreender se existia uma estratégia utilizada pelos participantes e qual seria essa estratégia. Além disso, eles também responderam uma escala que media o quão confiante eles estavam de que as respostas dadas no bloco de tentativas seguinte iriam alcançar um erro menor que 250 milissegundos (ms), 200 ms, 100 ms, 80 ms, 50 ms, 30 ms e 10 ms. A escala ia de 0 (nada confiante) a 10 (extremamente confiante).

Cada solicitação adicional de feedback resultou em uma diminuição do erro absoluto – Imagem: reprodução / EEFE

Por meio da análise estatística, o estudo constatou não haver correlação entre a idade dos participantes e os resultados obtidos nos testes que mediram tanto o desempenho cognitivo quanto o desempenho na tarefa de aprendizagem. Segundo o pesquisador, “isso sugere que a idade, por si só, pode não ser um indicador adequado para as características cognitivas relacionadas ao envelhecimento, inclusive no que se refere à aprendizagem motora”.

Contudo, o aprendizado foi afetado negativamente pelo tempo de intervalo sem prática, pois houve perda de desempenho nas tentativas realizadas 48 horas após a primeira sessão. Já o desempenho cognitivo se mostrou associado ao número de feedbacks solicitados. No total, 80% dos participantes solicitaram o feedback em mais de 60% das tentativas. Além disso, cada solicitação adicional de feedback resultou em uma diminuição do erro absoluto na fase de Aquisição.

80% dos participantes solicitaram o feedback em mais de 60% das tentativas – Foto: Kampus Production/Pexels

De acordo com o pesquisador, trabalhos que investigam os efeitos do autocontrole no aprendizado motor em idosos ainda são escassos e nenhum até o momento havia considerado o impacto no desempenho cognitivo nesse processo.

Renato explica que grande parte das pesquisas sobre o tema não encontrou diferenças entre usar ou não o autocontrole de feedback no aprendizado motor de idosos. Segundo o pesquisador, um dos motivos para isso ter acontecido pode ser a falta de controle do desempenho cognitivo, já que os resultados de seu estudo mostraram uma alta associação desse fator com o desempenho obtido na aprendizagem da tarefa e nas escolhas feitas pelos participantes.

“Nossos dados são especialmente importantes pois mostram o quão heterogêneo pode ser o desempenho dos participantes idosos. Dessa forma, conseguimos trazer mais clareza à literatura relacionada à aprendizagem motora em uma condição autocontrolada, podendo auxiliar pesquisas futuras que pretendem investigar esse tipo de aprendizado em pessoas idosas, principalmente se considerarem um indicador de desempenho cognitivo em suas análises”, afirmou Renato.

Os dados são especialmente importantes pois mostram o quão heterogêneo pode ser o desempenho dos participantes idosos – Foto: Paula Bassi

Intitulado Desempenho Cognitivo e Aprendizagem Motora Autocontrolada em Idosos, o estudo completo está disponível no banco de teses da USP e pode ser acessado clicando aqui.

Mais informações: renato.reis.souza67@gmail.com, com Renato Souza

*Texto de Giulia Rodrigues, estagiária sob supervisão de Paula Bassi, da Seção de Relações Institucionais e Comunicação. Adaptado para o Jornal da USP 

FONTE: Jornal da USP

Casos de HIV vêm aumentando na população idosa

Wilson Jacob Filho comenta dados segundo os quais os casos do vírus nessa faixa etária aumentaram em 416% nos últimos dez anos; vida sexual ativa sem proteção pode estar entre os principais fatores

Segundo dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, os casos de HIV entre idosos aumentaram 416% ao longo dos últimos dez anos, resultando na representação da faixa etária entre os 60 anos ou mais em 4% das infecções com o vírus. A expansão da vida sexual mais ativa e a ausência do uso de camisinha podem estar entre os fatores para esse acréscimo, e o professor Wilson Jacob Filho, titular da Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Divisão de Geriatria do Hospital das Clínicas, explica mais profundamente esse fenômeno.

Fatores de amplificação

Para Jacob, um fator muito importante, que contribuiu para esse acréscimo no número de casos de HIV, foi o aumento populacional da parcela idosa, mudança que acompanhou a alta na expectativa de vida da população brasileira. “Nós temos que entender o que aconteceu com a população idosa, nestes últimos dez anos, para respeitar essa formulação dos dados. A população idosa do Brasil aumentou consideravelmente em dez anos, assim como a expectativa de vida média aumentou consideravelmente em dez anos, mesmo levando em conta as perdas da pandemia. Ou seja, nós temos muito mais idosos atualmente do que nos últimos dez anos”, explica o professor.A mudança comportamental dessa população também pode ter atuado como fator intensificador do problema, pois, segundo Jacob, a população idosa evoluiu de um estilo de vida de exclusão social para desenvolver uma crescente participação social, o que o expõe a faixa etária a maiores possibilidades de envolvimento romântico. “O idoso está cada vez mais incluído dentro do cenário das relações sociais. Obviamente isso também aumenta a possibilidade de relacionamentos afetivos, relacionamentos amorosos e relacionamentos sexuais, o que é uma recomendação do ponto de vista de saúde como um todo (…) Junto com esse aumento do relacionamento sexual existem os riscos das doenças sexualmente transmissíveis, ou infecções sexualmente transmissíveis, entre elas, a tão temerária contaminação pelo vírus do HIV. É uma decorrência da evolução epidemiológica, do relacionamento social esse aumento.”

Prevenção e tratamento

Jacob ressalta a importância do uso da proteção sexual, mais conhecida como camisinha, para a prevenção de doenças sexuais advindas de uma vida sexual ativa. Entretanto, ele relata uma certa resistência dessa população ao uso desse mecanismo. “Os contatos sexuais, sejam eles feitos da forma preferencial do casal, sem dúvida nenhuma, aumentam o risco de contaminação e, consequentemente, ele tem que ser previsto e assegurado para que nós possamos ter os benefícios sem ter os prejuízos. Sexo, para ser um fator agregador da saúde, tem que ser seguro. Em qualquer idade, em qualquer situação, com qualquer tipo de orientação sexual, ele, para ser suficientemente benéfico à saúde, tem que ser protegido, e as formas de proteção são disponíveis, são executáveis, não podem determinar um temor”, explica.

Além disso, o professor também ressalta a importância da inclusão de idosos nas campanhas de prevenção ao HIV, apostando na ampliação da prevenção à doença que, além de tudo, exige uma grande sensibilidade ao ser tratada, pois, segundo Jacob, o HIV ainda é erroneamente visto como um “deslize social”, principalmente quando relacionado aos idosos. “Demandam ao médico uma atitude muito cuidadosa, é dar a má notícia, é um dos atributos do médico, do profissional, em relação a um diagnóstico. Tem dificuldade em dizer ao cliente que ele tem um câncer, que ele tem uma doença de Alzheimer, mas a doença sexualmente transmissível traz uma conotação de deslize social muito grande, porque, como eu disse, muitas vezes o idoso é patrulhado pela família e consequentemente aquilo demonstra um potencial delito, que evidentemente é fruto de um comportamento social perfeitamente explicado e compreensível, não recomendável, obviamente, mas sem dúvida nenhuma tem que ser entendido e compreendido.”

FONTE: Jornal da USP

Nanotecnologia aumenta potencial terapêutico da curcumina

Benefícios anti-inflamatórios, antioxidantes e neuroprotetores estão entre potenciais aplicações medicinais da curcumina, mas ainda dependem de comprovação clínica

A cúrcuma é uma planta da família do Zingiberaceae (mesma família do gengibre), originária do continente asiático, utilizada como condimento e corante graças à sua forte cor amarelada. Ao lado do uso culinário, a planta é alvo de pesquisas em medicina devido ao seu principal composto bioativo, a curcumina, considerada anti-inflamatória e antioxidante. O potencial da curcumina para prevenir e tratar doenças, entretanto, esbarra na dificuldade de ela ser absorvida pelo organismo, fato que pode ser mudado pela nanotecnologia. Com as técnicas apropriadas é possível manipular a matéria em dimensões nanométricas – 1 metro dividido por 1 bilhão.

Caroline Bertoncini Silva, pesquisadora da Divisão de Nutrologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, é responsável por um estudo publicado na revista Antioxidants que revisou achados recentes de pesquisas sobre as propriedades da curcumina e as formas de intensificar essas ações no organismo humano. A pesquisadora informa que potenciais benefícios da curcumina vão das propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, passam pela neuroproteção, melhorando a função cerebral, os benefícios cardiovasculares e a saúde digestiva, chegando aos efeitos antitumorais.

O problema é que a biodisponibilidade (quantidade e velocidade com que chega à corrente sanguínea e tecidos) do composto bioativo é baixa, e formulações farmacêuticas e testes clínicos ainda estão em estágio inicial. “Embora os benefícios sejam promissores, são necessárias mais pesquisas para estabelecer as recomendações terapêuticas específicas. As perspectivas precisam ser confirmadas por estudos maiores e ensaios clínicos”, avalia Caroline Silva.

A boa notícia é que pelo menos a questão da biodisponibilidade pode estar resolvida com as nanoformulações – processo que utiliza nanotecnologia para reduzir o tamanho dos fármacos – de curcumina. Segundo as avaliações da pesquisadora, as fórmulas nanoestruturadas conferem o aprimoramento necessário para ampliar a biodisponibilidade e a bioatividade (atividade biológica) da curcumina e seus metabólitos.

Nanoformulação, resposta à baixa biodisponibilidade

“A baixa disponibilidade da curcumina em sua forma natural é um desafio e, para superá-la, diversas pesquisas estão investigando formulações para melhorá-la”, conta a pesquisadora, adiantando que parte da baixa absorção da curcumina se deve ao fato de ela ser uma molécula hidrofóbica, ou seja, que possui aversão à água e baixa solubilidade.

No entanto, as nanoformulações podem ser um caminho. Elas são estruturas criadas em escala molecular, através da nanotecnologia, para o preparo e o encapsulamento dos compostos bioativos. Esses sistemas asseguram a “liberação de medicamentos em escala nanométrica, a fim de melhorar a absorção e a eficácia de compostos bioativos como a curcumina”.

Um dos estudos analisados pelos pesquisadores identificou que uma das mais recentes dessas nanoformulações é capaz de aumentar em até 100 vezes a biodisponibilidade da curcumina no plasma. O trabalho revisou 11 nanoformulações de curcumina, testadas em estudos clínicos, responsáveis pelo aumento de nove a 185 vezes na biodisponibilidade do composto.

Associação de bioativos em nanoestruturas aumentam absorção

A curcumina possui propriedade antimicrobiana, combatendo o desenvolvimento de microrganismos, que também é potencializada pela nanoestrutura. Pelos resultados obtidos, Caroline Silva acredita que, em futuro próximo, será possível projetar essas nanoformulações para atingir microrganismos específicos que causam doença, principalmente na pele e no intestino.

Aliás, os estudos dos efeitos do consumo oral de nanoformulação de curcumina por ratos e camundongos constataram a melhora da absorção no intestino e da biodisponibilidade, além de melhorar a composição da microbiota intestinal, conjunto de microrganismos presentes no intestino que podem auxiliar no funcionamento de diversos processos.

Outro método para aumentar a biodisponibilidade da curcumina, analisado nesta revisão, foi a combinação com outros compostos bioativos, como a piperina, principal componente da pimenta-do-reino. Em um dos estudos clínicos, realizado em humanos saudáveis, os autores descobriram que 2 g de curcumina administrados concomitantemente com 20 mg de piperina indicaram promover um aumento de 2.000% na biodisponibilidade oral da curcumina.

Curcumina como medicamento

Ao analisar a relação da nanoformulação da curcumina com seu efeito anti-inflamatório e antiobesidade, resultados de diversas pesquisas realizadas com humanos e animais sugerem que essas nanoformulações podem ter efeitos interessantes para o tratamento da inflamação crônica em humanos.

Dados preliminares apontam que a curcumina poderia trazer benefícios para o cérebro, melhorando a função cognitiva e a memória, sendo avaliada no tratamento do Alzheimer, e para o coração, com potencial para ser um agente terapêutico em doenças cardiovasculares. Caroline ressalta que ainda não há estudos clínicos que demonstrem resultados sólidos sobre os efeitos curcumina no cérebro e no coração; mesmo assim, os avanços nas nanoestruturas de curcumina são um grande facilitador para a realização de mais pesquisas nessas áreas.

Também são necessários estudos mais conclusivos em relação à dosagem, mas pesquisas realizadas in vitro, em animais e em humanos têm demonstrado que a curcumina não é tóxica. As pesquisas realizadas em humanos demonstraram a faixa de consumo considerada segura, com doses entre 1.125 mg e 2.500 mg de curcumina diariamente. Outro estudo analisou o consumo de doses altas e diárias, de até 8 g de curcumina, durante três meses e não observou toxicidade relacionada ao bioativo.

Assim, a curcumina pode ser um bioativo importante na produção de medicamentos em um futuro próximo devido às nanoformulações. “A possibilidade de aumentar significativamente a biodisponibilidade da curmunina permite que essa substância atue de maneira mais eficaz em dose menor, possibilitando o uso como um medicamento direcionado”, afirma a pesquisadora.

Caroline acredita que, mais para frente, ela “pode ser importante no tratamento para doenças crônicas, como artrite reumatoide, diabete e doenças cardiovasculares, pois o efeito anti-inflamatório e antioxidante é potencializado”. Lembra ainda que, com as nanoformulações, a curcumina pode ser útil como neuroproteção nas doenças neurodegenerativas, além do potencial em tratamentos oncológicos, “pois estudos demonstram uma capacidade do bioativo em inibir as células tumorais”.

Mais informações: e-mail: bertoncinicaroline@usp.br com Caroline Bertoncini da Silva

*Estagiário sob supervisão de Rita Stella
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Grupo da USP mapeia variantes genéticas associadas ao câncer de pâncreas em pacientes brasileiros

O câncer de pâncreas entrou recentemente no rol das estatísticas divulgadas periodicamente pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). Embora não esteja entre os tipos de câncer que ocorrem com mais frequência no Brasil, a alta letalidade faz dele uma das principais causas de morte pela doença no País e o diagnóstico tardio é um dos fatores que concorrem para essa situação.

“O que chama a atenção é a ausência de dados sobre a doença, não apenas no Brasil, mas na América Latina toda. Não há estudos sobre câncer de pâncreas com a população brasileira porque sua incidência é baixa em nosso país, se comparada a outros tumores, como de mama ou de pulmão. Entretanto, é o tipo com maior índice de fatalidade e mata muito rapidamente”, lamenta Lívia Munhoz Rodrigues, doutora em Oncologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

 

Os cientistas buscaram alterações em 113 genes de câncer, por meio do sequenciamento de DNA genômico – Foto: Wikipédia – Via FAPESP

Junto com uma equipe que reúne integrantes do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), do Departamento de Medicina Legal, Bioética, Medicina do Trabalho e Medicina Física e Reabilitação da FMUSP e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), Lívia Rodrigues realizou um estudo pioneiro com 192 portadores de adenocarcinoma pancreático – o tipo mais comum de tumor no pâncreas – atendidos no Icesp pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os cientistas buscaram alterações em 113 genes de câncer (os chamados oncogenes, que podem causar a doença quando sofrem mutações ou são ativados de forma anormal) por meio do sequenciamento de DNA genômico. São variações (ou PGVs, sigla em inglês para variantes germinativas patogênicas) que as pessoas podem herdar dos seus ascendentes.

Descobriram que 6,25% da amostragem (12 pacientes) era portadora de PGVs em genes já reconhecidos como sendo de predisposição ao câncer de pâncreas, enquanto 13% (25 pacientes) eram portadores de PGVs em genes com associação limitada ou não previamente associados à doença.

“Não fizemos uma pré-seleção da amostragem por histórico familiar da doença, e esse é um dos diferenciais do nosso estudo. Além disso, foram incluídos pacientes nascidos em quase todas as regiões do País, exceto a Norte. Foram 123 pacientes nascidos no Sudeste; 55 no Nordeste; sete no Sul, quatro no Centro-Oeste e três estrangeiros.” A amostragem incluiu pacientes atendidos de 2018 a 2022.

O trabalho foi publicado recentemente na revista Scientific Reports e teve o apoio da Fapesp.

Novidades

“O mais interessante do nosso trabalho ter sido feito no Brasil foi avaliar uma população nunca antes estudada e encontrar alterações em genes ainda pouco associados ao câncer de pâncreas. Talvez estejam relacionados à doença, mas não podemos dizer com certeza, ainda. São necessários mais estudos”, adianta Maria Aparecida Azevedo Koike Folgueira, professora do Departamento de Radiologia e Oncologia da FMUSP.

Ela revela que, entre esses genes pouco associados à doença, há dois muito interessantes, que fazem a proteção do telômero, a extremidade dos cromossomos. “São dois genes que podem estar associados ao melanoma, não achamos nada ainda relativo ao câncer de pâncreas. Temos de ir mais a fundo.”

Panorama do câncer de pâncreas no Brasil, com destaque para fatores genéticos e de hábitos de vida que estão relacionados à doença – Gráfico: BioRender com dados do artigo

O artigo Prevalence of germline variants in Brazilian pancreatic carcinoma patients pode ser lido aqui.

*Da Agência Fapesp, adaptado para o Jornal da USP 

FONTE: Jornal da USP

Vírus poderá ser usado em tratamento contra bactéria que causa infecções hospitalares

Avançam estudos com vírus bacteriófagos, que podem ser aliados na luta contra infecções de tratamento difícil causadas pela bactéria “Pseudomonas aeruginosa”

Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Biologia de Bactérias e Bacteriófagos (Cepid B3), sediado na USP, avançaram no estudo da fagoterapia, técnica que utiliza vírus específicos para tratar infecções bacterianas. Em um estudo publicado na revista Microbiology Spectrum, a equipe investigou a interação entre duas variedades desses vírus e a bactéria Pseudomonas aeruginosa, reconhecida por causar infecções graves em diferentes organismos – entre as principais causadoras de infecções hospitalares. Os resultados oferecem novas perspectivas para a aplicação da fagoterapia e reforçam o papel dessa alternativa terapêutica no combate às infecções bacterianas resistentes a antibióticos.

A bactéria Pseudomonas aeruginosa é responsável por uma série de infecções em plantas e animais. Em humanos, o tratamento mais comum para os quadros clínicos causados por ela, como infecções urinárias, de pele e pulmonares, depende do uso de antibióticos. No entanto, a crescente perda de sensibilidade dessa bactéria aos medicamentos disponíveis, somada à falta de novas opções terapêuticas, representa um grande desafio no manejo clínico. É nesse contexto que se torna vantajosa a adoção de terapias alternativas, como a fagoterapia — que utiliza vírus que infectam bactérias, os fagos, ou bacteriófagos, para inibir a sobrevivência e a multiplicação bacteriana.

“Os fagos têm a capacidade de evoluir, o que lhes permite se adaptar às estratégias de resistência das bactérias e possibilita uma solução para lidar com mutações nessas linhagens”, explica Layla Farage, uma das autoras do estudo e pesquisadora do Cepid B3, no Instituto de Química (IQ) da USP. “Além disso, essa terapia é bastante específica, atingindo apenas as bactérias causadoras da infecção, sem afetar os microrganismos, muitas vezes benéficos, da microbiota [conjunto de microrganismo que habitam um indivíduo]”, complementa a pesquisadora.

Para compreender os mecanismos que regem à interação entre essa espécie e dois tipos de bacteriófagos (ZC01 e ZC03), além de explorar o potencial terapêutico desses vírus, os pesquisadores aplicaram os fagos individualmente em larvas de traça-da-cera infectadas por Pseudomonas, avaliando o efeito do experimento na sobrevivência e na multiplicação da bactéria.

A equipe investigou quais proteínas são expressas pelos bacteriófagos durante a interação com a bactéria, visando a elucidar seu mecanismo de ação no combate ao microrganismo, e testou a estabilidade dos fagos em diferentes condições, incluindo variações de temperatura, acidez, exposição à luz ultravioleta e a presença do anestésico clorofórmio. “O objetivo do nosso grupo é entender profundamente como os fagos são, como funcionam e se relacionam com os hospedeiros e o meio ambiente, para que possamos, no futuro, contribuir com a aplicação segura da fagoterapia”, destaca Layla Farage.

 

Micrografias de transmissão eletrônica de partículas purificadas dos fagos ZC01 e ZC03 – Imagem Reprodução do artigo

Os resultados revelaram que a aplicação de ambos os fagos aumentou significativamente a sobrevivência das larvas infectadas. Os fagos apresentaram viabilidade em temperaturas de até 37°C, comum em um organismo humano saudável, e pH de 7,5, considerado ideal para fagos terapêuticos.

A análise genética desses vírus ainda apontou para a existência de uma proteína especial capaz degradar a parede celular bacteriana, ou seja, permitir que esses vírus atinjam o interior da Pseudomonas com mais facilidade. Esse achado pode direcionar o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, uma vez que identifica os mecanismos pelos quais os vírus combatem as bactérias. “Acreditamos que o uso combinado desses fagos com antibióticos ou com outros fagos pode ter resultados bastante promissores em doenças crônicas ou resistentes causadas por essa bactéria”, observa a autora.

A pesquisa também identificou diferenças importantes na atuação dos vírus, que podem favorecer a criação de tratamentos ainda mais eficazes. Durante os testes, o ZC03 levou cerca de 50 minutos para eliminar a bactéria e gerou uma média de dez novos vírus a cada célula bacteriana infectada. Já o ZC01 apresentou um intervalo de aproximadamente 1 hora e 40 minutos entre a aplicação e a ação, mas resultou em 87 novos vírus por célula infectada. “A escolha entre os dois fagos depende de testes adicionais. Por exemplo, apesar de se propagar menos, o ZC03 teve um desempenho melhor nos ensaios in vivo e o tempo de infecção e propagação pode ser diferente in vitro”, explica Layla Farage.

As conclusões do estudo têm o potencial de impactar a saúde pública a longo prazo e de impulsionar o desenvolvimento científico no combate à resistência bacteriana aos antibióticos. “Os próximos passos incluem realizar ensaios laboratoriais e in vivo com coquetéis de diferentes fagos e antibióticos. Misturas diversificadas tendem a resultar em maior eficiência terapêutica”, prevê Layla. Ela conclui destacando o objetivo de desenvolver combinações mais estáveis e promissoras, além de explorar estratégias que ampliem o alcance da fagoterapia e avaliar suas implicações.

O estudo completo pode ser acessado neste link: Phages ZC01 and ZC03 require type-IV pilus for Pseudomonas aeruginosa infection and have a potential for therapeutic applications

Mais informações: layla@iq.usp.br, Instagram do Cepid B3: @cepidb3

*Bolsista Mídia Ciência Fapesp na comunicação do Cepid B3

FONTE: Jornal da USP