Vitamina D pode estar ligado a tumor da glândula adrenal

Resultados ainda são de testes em laboratório, mas podem explicar relação do controle genético da vitamina D no desenvolvimento e comportamento maligno do tumor da glândula adrenal em crianças.

Experimentos realizados na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avançam no entendimento dos mecanismos de formação e crescimento de tumores adrenocorticais (da glândula suprarrenal ou adrenal) em crianças. A adrenal é responsável pela produção de diversos hormônios e o tumor que ataca essa glândula possui, no Brasil, a mais alta incidência do mundo em crianças.

Os estudos recém-publicados pela equipe da FMRP mostram relação do tumor com mudanças no padrão de metilação (processo bioquímico que ocorre no DNA e regula a expressão dos genes), de expressão do gene VDR, que codifica o receptor da vitamina D, e também no perfil de metilação global das células tumorais, que é uma informação sobre o status de metilação — positiva/aumentada ou negativa/reduzida — de múltiplas regiões do genoma das células tumorais, indicando um comportamento mais maligno.

Entre os principais mecanismos observados pelos pesquisadores está a menor quantidade do gene VDR quando comparado com pacientes normais. “Detectamos a redução de sua expressão, mas também buscamos entender o que causa essa expressão reduzida. Uma das possibilidades é a alta metilação do gene que decodifica o VDR, que é um processo biológico que silencia ou expressa genes do nosso DNA. Mas ainda não sabemos por que isso ocorre e, por isso, são necessários estudos complementares para ampliar a compreensão”, afirma Sonir Antonini, professor do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP e coordenador dos estudos.

Os achados sobre a quantidade desses genes, informa Antonini, foram obtidos de amostras de 108 pacientes pediátricos acompanhados em hospitais terciários no Estado de São Paulo, como o Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) e Centro Infantil Boldrini em Campinas, e estão descritos no artigo Vitamin D receptor hypermethylation as a biomarker for pediatric adrenocortical tumors publicado em abril deste ano no European Journal of Endocrinology.

Já os resultados dos ensaios pré-clínicos in vitro (laboratoriais) e in vivo (modelo animal) foram relatados no artigo Vitamin D receptor activation is a feasible therapeutic target to impair adrenocortical tumorigenesis, publicado na Molecular and Cellular Endocrinology, e mostram o impacto da expressão do VDR sobre o crescimento das células tumorais. Neste estudo, avaliaram o padrão da metilação (processo de modificação química do DNA que impede a expressão do gene) do VDR em células de tumor adrenocortical.

Antonini afirma que o grupo observou ainda haver “íntima relação entre o VDR e o sistema da via Wnt/Beta-catenina”, outra via importante na formação destes tumores e foco de estudo do grupo. “Fomos capazes de, nos testes in vitro, modular a expressão do VDR e verificar sua associação com o crescimento de células tumorais”, continua o professor, afirmando que estes achados abriram caminhos para estudar modelo animal de xenoenxerto tumoral, que é a implantação de células e desenvolvimento do tumor humano em camundongos. E, nestes modelos animais, verificou-se que o estímulo do gene que regula a vitamina D (VDR) – com administração subcutânea de injeções de vitamina D ou análogos nos animais – foi capaz de reduzir significativamente o crescimento tumoral.

Estes estudos foram realizados por Ana Carolina Bueno de Queiroz Arruda, que é nutricionista, pós-doutoranda da FMRP e primeira autora dos artigos. “Estes achados pavimentam o caminho para, numa fase posterior, comprovar esses efeitos em humanos”, informa Ana Carolina.

Análise da metilação global do genoma tumoral

Outro estudo publicado pelo grupo de pesquisadores analisou o padrão de metilação de todos os genes do genoma humano e observou que é possível, a partir de ferramentas computacionais, identificar grupos de pacientes com tumor adrenocortical agressivo e também aqueles menos agressivos. A diferenciação, aponta Antonini, está na metilação, que é importante para expressão ou silenciamento de genes.

“Nossos dados obtidos nos pacientes brasileiros são muito robustos e mostram que o padrão de metilação é um preditor independente do comportamento tumoral. Para confirmar isto, replicamos nossos achados em um grupo de pacientes internacionais, principalmente dos Estados Unidos, e os resultados foram os mesmos. Além disso, identificamos possíveis novos genes que podem ser usados como prognóstico por estarem envolvidos na formação e crescimento desses tumores e que iremos continuar investigando em estudos futuros”, conta o professor.

O artigo DNA methylation is a comprehensive marker for pediatric adrenocortical tumors foi publicado na Endocrine-Related Cancer e sua primeira autora, Ana Carolina Bueno de Queiroz Arruda, recebeu uma das principais premiações nacionais da área de endocrinologia no Congresso Brasileiro de Metabologia (CBEM) realizado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) em setembro de 2022. O grupo recebeu a premiação de Melhor Estudo na Área Translacional e Básica apresentado no evento científico. Este trabalho também recebeu, em outubro, o Prêmio Slep de trabalho oral apresentado no congresso da Sociedade Latino-Americana de Endocrinologia Pediátrica (Slep).

Os três estudos integram o projeto temático Mecanismos fisiopatológicos e moleculares de tumorigênese: abordagem baseada em plataformas de sequenciamento em escala genômica. Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o projeto é coordenado pela professora Margaret de Castro e tem como pesquisadores principais os professores Antonini e Léa Zanini Maciel, todos da FMRP. Além da colaboração com diversos pesquisadores da FMRP e do Centro Infantil Boldrini da Unicamp, estes estudos contam com análises de bioinformática realizadas em parceria com o professor Ricardo Vêncio, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Entenda o que são os tumores adrenocorticais

Os tumores adrenocorticais são neoplasias (tumores que surgem após um aumento anormal na quantidade de células) no córtex da glândula adrenal, que fica acima do rim. Ou seja, são tumores localizados em um componente do nosso sistema endócrino responsável pela produção de diversos hormônios, como cortisol, aldosterona, androgênios (hormônios masculinos) e as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina).

A doença, explica a nutricionista Ana Carolina Arruda, tem causas genéticas ligadas ao gene TP53 e é rara, sendo responsável por cerca de 0,2% de todos os cânceres pediátricos. No Brasil, no entanto, “a incidência dos tumores adrenocorticais é até 18 vezes maior e, por isso, é importante continuarmos estudando, já que, até o momento, não há marcadores moleculares prognósticos robustos para a condição”.

A maioria das crianças com esta doença apresenta sinais de excesso hormonal, como puberdade precoce e ganho de peso com parada no crescimento. “A remoção cirúrgica do tumor é o único tratamento potencialmente curativo para pacientes com a doença localizada e o tratamento com quimioterápicos e droga adrenolítica têm efeito limitado na maioria dos pacientes com a doença avançada”, conclui o professor Antonini.

Mais informações: e-mail antonini@fmrp.usp.br ou acarolinabueno@usp.br

Texto: Giovanna Grepi e Rita Stella
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP

Infecções bacterianas ainda estão entre as doenças que mais matam no mundo

Pesquisa publicada na revista científica The Lancet, em novembro, demonstrou que mortes por infecções bacterianas ainda despontam como a segunda principal causa de morte no mundo. Em 2019, estima-se que ocorreram 13,7 milhões de mortes relacionadas com infecções. Mas o maior problema não mora aí: dessas, mais da metade foram causadas por apenas 33 patógenos.

Isso significa que 13,6% de todas as mortes em 2019 foram causadas por essas bactérias e, dentre essas, apenas cinco delas causaram quase metade de todas as mortes por bactérias investigadas. Elas também são responsáveis por 56,2% de todas as mortes relacionadas à sepse.

“As doenças infecciosas eram a principal causa de morte no mundo todo no início do século passado e isso foi se transformando em virtude das melhorias sanitárias, como o tratamento de água e esgoto, o controle da qualidade da produção dos alimentos e também o advento das vacinas e o desenvolvimento dos antibióticos, que passaram a ser produzidos em grande escala na década de 40”, diz Valéria Cassettari, médica infectologista e coordenadora do Controle de Infecções Hospitalares do Hospital Universitário.

Por que ainda tantos morrem?

O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Marcos Boulos, explica que o número elevado de mortes tem a ver com as características replicativas das bactérias. “Algumas bactérias, de modo geral, e alguns protozoários replicam muito rapidamente. Mais rápido e mais fatal, na maior parte das vezes”, diz.

Mesmo com esse avanço, as fatalidades poderiam ser bem menores. Dentre as causas para o ainda alto número de mortes por infecções bacterianas, destaca-se o atendimento tardio, diagnóstico não específico, maus hábitos alimentares e fragilidades de saúde, que implica na piora do quadro caso haja uma bactéria.

Valéria lembra também que, entre os patógenos que mais matam, dois deles, Staphylococcus aureus e Escherichia coli, estão entre os microrganismos que naturalmente habitam o corpo humano. “São bactérias que estão presentes no nosso organismo como colonizantes na pele e no trato gastrointestinal. Em algum momento ocorre uma fragilidade das nossas defesas e elas acabam causando doenças”, diz.

 

Staphylococcus aureus e  Escherichia coli – Fotos: Scientific Animations; NIAID/Wikimedia Commons

Não é difícil adquirir uma dessas bactérias, mas é complicado tratá-las. Por isso, apresentam-se como um problema mundial de saúde pública. Nilton Erbet Lincopan Huenuman, professor livre-docente do Departamento de Microbiologia no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, ressalta que muitas vezes as infecções são tratadas “empiricamente”, ou seja, um só protocolo é aplicado independentemente de exames certeiros ou bactérias diferentes. Isso pode levar à morte o paciente que não recebeu o tratamento adequado.

Problemas no sistema de saúde

Outro aspecto revelado pelo estudo é que países com uma maior renda per capita registraram as menores taxas de morte por infecções bacterianas, enquanto regiões com menores rendas foram as mais afetadas. Um exemplo é a região da África Subsaariana. Isso mostra a importância de um tratamento eficaz e de qualidade dentro de facilidades médicas públicas e privadas.

“Os maiores desafios do sistema de saúde para o atendimento adequado às doenças bacterianas são, em primeiro lugar, disponibilidade de equipe capacitada em número suficiente de profissionais para atendimento nos serviços de urgência, para que o diagnóstico seja feito rapidamente e com precisão”, pontua Valéria.

Exames de cultura de sangue e de urina, por exemplo, também estão entre os desafios: muitas vezes não há como fazer. Além disso, depois de coletados, devem ir a bons laboratórios para que um diagnóstico certeiro possa ser feito bem como a identificação correta das resistências a antibióticos. Por fim, a infectologista lembra que muitos pacientes com infecções necessitam de cirurgias de urgência, medicamentos vasoativos e monitoramento 24 horas por dia: “Nós temos esse problema que é uma carência permanente de leitos de UTI”.

 

É de extrema importância procurar por atendimento médico assim que sintomas de infecção aparecerem  Foto: stefamerpik/Freepik

Cuidados

Por isso, é de extrema importância procurar por atendimento médico assim que sintomas de infecção aparecerem. Eles são: tosse, espirro, febre, inflamação, catarro, fadiga, entre outros. Boulos ainda lembra que hábitos saudáveis de alimentação são fundamentais para que as bactérias, principalmente as oportunistas, não encontrem terreno fértil para sua replicação.

Divulgação

Um curso para capacitar professores de ensino médio sobre resistência bacteriana aos antibióticos está sendo organizado por Valéria e Lincopan, uma parceria entre o Hospital Universitário e o Instituto de Biomédicas II. O curso será presencial, com seis aulas teóricas e duas aulas práticas em laboratório, e acontece do dia 3 a 25 de março de 2023: às sextas, as aulas vão das 19h às 21h e, aos sábados, das 9h às 11h. A parte teórica será no Hospital Universitário da USP e a prática será no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

As inscrições estão abertas até o dia 17 de fevereiro. Basta preencher o formulário de inscrição e enviar o comprovante de professor de ensino médio com especificação da disciplina ministrada para o e-mail cecex@hu.usp.br.

Por Julia Estanislau

FONTE: Jornal da USP

Corpo humano possui mecanismos para se adaptar aos efeitos do calor

A tontura, a perda de apetite e o aumento da produção de suor são meios que o corpo humano possui para regular a temperatura corporal durante os dias mais quentes do ano.

Principalmente no final do ano, no término da primavera e início do verão, as temperaturas aumentam e a sensação de sempre estar com calor aparece. “A maior parte dos problemas por temperaturas ambientes muito elevadas é observada na primavera ou no início do verão, e não no pico dessas estações. Isso se dá porque a gente ainda não tem, no início, esses mecanismos de adaptação ao calor totalmente estabelecidos“, comenta o professor Luiz Guilherme Branco, do Departamento de Fisiologia, Morfologia e Parasitologia Básica da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da USP.

O calor não provoca somente sensações, mas também sintomas como falta de apetite, aumento da sudação e tontura em algumas pessoas. Mas como e por que isso acontece?

Funcionamento

A temperatura corporal tende a se manter em equilíbrio sempre, por volta de 36,5ºC, no frio ou no calor. Para controlar esse valor, o corpo humano possui ferramentas responsáveis por aferir qual o tamanho da regulação, como explica Branco: “A termorregulação se baseia na existência de termorreceptores que detectam variação da temperatura ambiente na pele. Essas informações são levadas até o sistema nervoso central e são processadas no hipotálamo, assim, ajustes termorregulatórios são finalmente feitos”.

O fato de pessoas de regiões mais quentes se adaptarem “melhor” quando comparadas às de outras pode ser explicado pela adaptação: “O sistema termorregulatório de indivíduos adaptados ao calor se torna um pouco mais eficiente tanto na geração de suor quanto no fluxo sanguíneo cutâneo, que se torna um pouco maior também. Essa adaptação leva o indivíduo a ter um estresse térmico relativamente menor frente à mesma temperatura ambiente em relação ao indivíduo não adaptado”, diz o professor.

Os sintomas semelhantes até mesmo aos de uma virose são os efeitos da manutenção da temperatura corporal em equilíbrio. Como esse controle é inevitável, existem apenas formas de auxiliá-lo, fazendo com que o organismo não precise de tanto esforço para regular a temperatura.

Efeitos

A tontura, a perda de apetite e o aumento da produção de suor são mecanismos para a regulação da temperatura corporal durante o calor. Branco analisa a ocorrência desses eventos: “A tontura, via de regra, é comum. Ela é relacionada à queda da pressão arterial causada tanto pelo aumento do aporte sanguíneo cutâneo, ou seja, o sangue vai para perto da pele a fim de aumentar a perda de calor, como pela desidratação que esses indivíduos apresentam”.

A questão do apetite, coloca Branco, é fruto de uma demanda metabólica menor, já que não há a necessidade de gastar energia para produzir calor nos dias quentes, logo, tem-se uma tendência de comer menos. Já o aumento do suor está relacionado com a perfusão cutânea: “Por meio da ativação de glândulas sudoríparas, que acontece com o aumento da perfusão cutânea (fornecimento de sangue à região próxima à pele), aumenta-se a capacidade de transferência de calor para o meio”, pontua o professor.

Para diminuir esses efeitos, Branco dá algumas dicas: “Ajustes comportamentais protegem a nossa saúde. Por exemplo, quando a gente está adaptado ao calor, passamos a aumentar a ingestão de água, a evitar alimentos muito pesados, a preferir alimentos ricos em água como frutas frescas, a usar roupas mais leves, a usar chapéus, a buscar sombra, a usar aparelho de ar condicionado, ventiladores, etc. São um conjunto de alterações comportamentais que acabam beneficiando a nossa saúde“.

FONTE: Jornal da USP

Ancestralidade africana pode amenizar risco genético do Alzheimer

A doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência, síndrome caracterizada pela deterioração progressiva das funções cognitivas, que acarreta problemas na memória, atividades funcionais, pensamento e comportamento, tornando-se mais comum com o avanço da idade. Embora o conjunto completo de causas ainda seja desconhecido, é sabido que certos genes podem aumentar o risco de desenvolvimento do Alzheimer, e um novo estudo indica que um deles, o gene APOE, pode ter seu impacto relacionado à ancestralidade dos indivíduos.

Trata-se de uma pesquisa realizada em parceria entre o Laboratório de Fisiopatologia do Envelhecimento (Gerolab) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) com o Departamento de Genética da USP. Nela, foi investigada a complexa interação entre genética, lesões no tecido do sistema nervoso e cognição funcional em uma amostra de 400 indivíduos afetados pela patologia do Alzheimer com diferentes níveis de gravidade.

“Os resultados dessa pesquisa nos ajudam a entender como o principal fator genético para a doença de Alzheimer, que é a apolipoproteína E, se associa a essa condição de forma diferente entre pessoas que têm ancestralidade africana e aquelas que não têm uma grande quantidade dessa ancestralidade”, diz Claudia Kimie Suemoto, professora da Disciplina de Geriatria da FMUSP e pesquisadora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da faculdade.

A apolipoproteína E é codificada pelo gene APOE, que desempenha papel-chave no metabolismo de lipídeos, e cuja variação APOE4 é um dos principais fatores genéticos reconhecidos para a predisposição ao desenvolvimento da demência.

“Já se sabia há anos que a APOE4 é uma das variantes comuns com maior efeito sobre Alzheimer”, diz Michel Naslavsky, professor do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP e primeiro autor do estudo. “O que tem se evidenciado recentemente, graças a estudos mais inclusivos com populações não europeias, é que o APOE4 pode ter um efeito atenuado a depender da ancestralidade.” Assim, embora esse gene aparente ter efeito danoso em todos os grupos populacionais, indivíduos com mais ancestralidade africana seriam menos suscetíveis ao seu impacto.

Ambiente e genética

Segundo a literatura médica, pessoas com ancestralidade africana costumam ter menor acúmulo de lesões no tecido do sistema nervoso associadas ao Alzheimer. No entanto, quando essas lesões estão em grande quantidade, essa ancestralidade se associa a uma pior habilidade cognitiva. Nos EUA, por exemplo, a incidência de demências é cerca de duas vezes maior em afro-americanos do que em brancos e outras minorias.

“Grande parte das diferenças se dá por conta de exposições ambientais variadas”, comenta o professor Naslavsky. “Ainda assim, sabemos que há distinções genéticas em indivíduos que se autodeclaram brancos e negros devido a múltiplas ancestralidades.” O pesquisador ressalta que a complexidade aumenta quando se analisa países mais miscigenados, a exemplo do Brasil, onde muitos possuem APOEs de diversas origens.

A aposta dos cientistas é que, ao se identificar o papel relativo do APOE em cada população, será possível entender melhor as alterações funcionais no corpo que ocorrem em decorrência da doença de Alzheimer.

O próximo passo da pesquisa, segundo a professora Claudia Suemoto, será “continuar coletando mais casos de Alzheimer para aumentar a amostra e fazer outros estudos genéticos, não só com a apolipoproteína E, mas com outros genes candidatos de risco para essa doença”.

O estudo foi publicado em 7 de setembro de 2022 no periódico Molecular Psychiatry e pode ser conferido em: https://www.nature.com/articles/s41380-022-01729-x

Da Assessoria de Comunicação da FMUSP

FONTE: Jornal da USP

Proteínas são essenciais para o bom funcionamento do organismo humano

Você  sabe exatamente por que as proteínas são importante para a alimentação? O que elas fazem no corpo? Quais seus benefícios? O que a deficiência delas causa?  As proteínas são formadas por aminoácidos que contribuem justamente para o crescimento dos tecidos.

A nutricionista Patrícia Campos Ferraz,  da Faculdade de Saúde Pública da USP e mestre em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, explica o quanto a proteína é importante na formação do nosso corpo.

Apesar de todos os seus benefícios, ela sozinha não completa uma alimentação saudável, por isso é importante o balanceamento com outros alimentos. Atletas que desejam ganhar massa magra e aumentar a definição muscular apostam em uma dieta rica em proteína.

Consumo diferenciado

A especialista explica como deve ser feito o consumo de  proteínas, principalmente por quem pratica esportes. Essa fórmula muda quando o assunto são idosos e crianças. Nesse caso, a alimentação é diferenciada. A deficiência de proteínas no organismo pode causar problemas sérios.

As pessoas que têm intolerância à proteína animal podem procurar um nutricionista para fazer um acompanhamento justamente para não ter problemas no futuro. A proteína também repõe a energia que foi perdida, auxilia a defesa do organismo, faz o transporte de substâncias pelo corpo e atua no sistema nervoso. Nosso cérebro precisa de uma quantidade de proteínas para que funcione bem, ativando as funções cognitivas.

FONTE: Jornal da USP

Insulina semanal pode trazer conforto a pacientes diabéticos num futuro próximo

Cem anos após o primeiro uso de insulina no tratamento do diabete, novidade substituiria dose diária, na visão de Maria Elisabeth Rossi da Silva.

O metabolismo humano controla variadas funções, inclusive a regulação da taxa de glicose (glicemia) no sangue. No corpo humano, o hormônio com essa função é a insulina. A escassez ou deficiência na atuação da insulina resulta em diabetes mellitus, uma doença que atinge 16,8 milhões de brasileiros, segundo o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF).

Como tratamento, os pacientes são indicados a aplicar uma dose diária de insulina e, em alguns casos, uma dose extra. Contudo, o futuro do tratamento da doença é promissor, uma vez que está sendo desenvolvida uma insulina basal. “Temos hoje insulinas que a gente chama de  insulina basal, que mantém um nível constante de insulina durante todo o dia, mas essa insulina dura 24 horas. Então, o paciente tem que aplicá-la todos os dias, e a semanal vai trazer esse conforto”, esclarece Maria Elisabeth Rossi da Silva, chefe da Unidade de Diabetes do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Para o paciente do tipo 1 da diabetes mellitus, caracterizada pela origem autoimune – as células de defesa do corpo atacam o pâncreas, responsável pela produção da insulina –, “a insulina basal vai dar tranquilidade para o paciente, mas ele vai ter que continuar utilizando a [insulina] rápida nas refeições”, explica. No caso do tipo 2, presente em 90% dos diabéticos, a síndrome está relacionada ao envelhecimento das células do pâncreas, que podem diminuir a produção da insulina. “O paciente com diabete tipo 2 realmente vai se beneficiar e vai poder fazer o uso apenas dessa aplicação injetável uma vez por semana”, diz ela.

A novidade ainda está na fase três de pesquisa: “É uma confirmação da padronização da insulina [basal] e uma confirmação de que ela traz benefícios”, elabora Maria. Os resultados apresentados pela tecnologia têm atuação semelhante ou até mesmo superior à insulina diária, conta ela. A previsão de chegada ao mercado é até 2024.

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Como se prevenir?

Assim como uma vasta gama de doenças, o diabete também tem três principais causas a serem pontuadas. A primeira delas é o aspecto genético: “Alguns genes favorecem o aparecimento do diabete, mas talvez o mais importante não seja isso”, avalia Maria Elizabeth. Ela se refere aos outros dois fatores que favorecem o surgimento da doença, a obesidade e o sedentarismo.

Em comparação com 2006, a atual população obesa no Brasil dobrou em frequência, afirma ela: “Nós tínhamos 11% da população com obesidade [em 2006] e hoje nós temos 22%”. A relação direta deste dado com a porcentagem de diabéticos também é uma questão de preocupação. Quinze anos atrás, “tínhamos 5,3% da população com diabete e hoje nós temos quase 10%”.

Por sua vez, a prática de atividades físicas reduz a glicemia. Em altos níveis, a taxa de glicose no sangue pode levar a complicações na saúde, adverte. “O paciente com diabete tem o risco maior de hipertensão, doença cardíaca, angina, infarto, acidente vascular cerebral ou de doença renal e alguns pacientes podem até progredir para diálise”, exemplifica.

Para uma boa qualidade de vida, Maria sugere atividades físicas, o controle da taxa de glicose e cuidado com os níveis de lipídios, como colesterol e triglicérides. “E essa insulina nova que vai ajudar no controle. Mas, para a prevenção, o que nós temos de mais forte ainda é aquilo da atividade física e exercício”, conclui.

FONTE: Jornal da USP

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E-book orienta para redução do risco de doenças cardiovasculares em pessoas com HIV

Apesar dos avanços científicos terem permitido que pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana, HIV, tenham uma vida normal, algumas complicações ainda as acometem. Uma delas, por exemplo, é de que esta população está mais suscetível a sofrer com problemas cardiovasculares. Esse cenário foi o que motivou a realização de um estudo publicado este ano na Revista Latino-Americana de Enfermagem (RLAE), com sede na USP, em Ribeirão Preto, que apresentou para pessoas com HIV um e-book interativo inédito criado para orientá-las sobre a problemática e sugerir ações de conscientização e mudanças de hábitos que podem reduzir os riscos relacionados às doenças no coração.

Por meio de infográficos, vídeos, imagens e com o uso de uma linguagem simples, objetiva e didática, o material foi dinamizado para que pudesse ser de fácil visualização e compreensão pelo público leigo. O livro digital, que pode ser acessado gratuitamente, ajuda as pessoas com HIV a seguirem suas vidas de forma saudável. Na obra, são abordados temas como a importância do cuidado com o coração, as consequências causadas por algumas condições clínicas, como diabetes, hipertensão e obesidade, além dos prejuízos gerados por alguns hábitos como tabagismo, sedentarismo e estresse, trazendo essas informações para a realidade dessas pessoas.

A partir desse contexto, os autores do e-book propuseram estratégias para que o leitor cuide de sua saúde, passando por dicas de alimentação, estímulo à prática da atividade física, orientações para aliviar o estresse e evitar o tabagismo, entre outras. “As pessoas não tinham ideia do quanto alguns hábitos saudáveis poderiam impactar na qualidade de vida e serem usados como medidas preventivas para possíveis complicações. Nós produzimos o e-book trazendo orientações justamente para aplicação nesses pontos considerados modificáveis, em que um profissional de saúde e o próprio paciente conseguem intervir. É conhecer para prevenir, afinal, as chances de pessoas com HIV desenvolverem doenças cardiovasculares são cerca de 25% maiores do aquelas que não possuem o vírus”, explica Elizabete Santos Melo, ex-aluna da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e uma das autoras do livro, ao lado de sua então orientadora, a professora Renata Karina Reis.

Ao todo, 309 pessoas vivendo com HIV, de todas as regiões do Brasil, tiveram acesso ao e-book e responderam a um questionário sobre a obra. Mais de 90% dos participantes avaliaram o livro como adequado para tirar dúvidas e realizar cuidados preventivos à saúde cardiovascular, mostrando-se uma ferramenta válida e pertinente para promover a alfabetização na área. Além disso, mais de 80% dos leitores, que eram em sua maioria do sexo masculino, demonstraram motivação ao ler o livro eletrônico.

“Para localizar voluntários para o estudo, utilizamos diversas estratégias: pedimos ajuda para profissionais de saúde que atuam na assistência de pessoas com HIV e que convidaram pacientes para participar; produzimos flyers com QR Codes que direcionavam possíveis interessados para um link de acesso ao livro e fixamos em diferentes locais; ingressamos em grupos de específicos de pessoas com HIV nas redes sociais; e pedimos auxílio a pesquisadores de outras regiões e também para influenciadores digitais que trabalham na conscientização do HIV. Enfim, foram vários mecanismos que utilizamos para conseguir adesão à leitura do livro e ao questionário que preparamos sobre a obra. Foi uma tarefa muito complexa, pois, no Brasil, o feedback de pesquisas on-line ainda é baixo, já que muitas pessoas desconfiam da credibilidade do trabalho”, explicou Marcela Antonini, doutoranda da EERP e uma das autoras do artigo.

A ideia de criar o livro surgiu durante a elaboração da tese de doutorado de Elizabete na EERP em resposta aos dados identificados em sua dissertação de mestrado, quando a ex-aluna estudou a relação entre pessoas que vivem com o HIV e o aumento dos fatores de risco cardiovascular. O trabalho, inclusive, deu origem ao artigo Evaluation of cardiovascular risk factors in people living with HIV in São Paulo, Brazil, publicado na revista científica The Journal of Infection in Developing Countries. A partir de uma investigação realizada com pacientes do Estado de São Paulo, as pesquisadoras comprovaram que aqueles que vivem com o vírus estão mais suscetíveis a desenvolverem problemas cardíacos e identificaram a necessidade de estimular mudanças de comportamento nesse público como forma de prevenção. Todo esse cenário motivou a produção do e-book com o intuito de promover o autocuidado e complementar os esforços já realizados por equipes de saúde, empoderando o público-alvo para que ele cuide melhor do próprio corpo.

Pessoas com HIV e o risco cardiovascular

Uma vez que a pessoa está com HIV, o vírus gera uma reação inflamatória no organismo que favorece o surgimento de placas de gordura nos vasos sanguíneos, dificultando a chegada de sangue e oxigênio ao coração, o que eleva os riscos de infarto.

Além disso, os efeitos adversos de medicamentos adotados no tratamento da infecção também são um risco, mesmo que hoje em dia eles sejam menos agressivos. Alguns remédios geram dislipidemia, ou seja, aumento elevado de gorduras na corrente sanguínea, o que causa elevação do colesterol ruim, diminuição do colesterol bom, aumento de triglicerídeos, entre outras complicações que podem desencadear problemas cardiovasculares.

Soma-se a esses dois fatores que, inevitavelmente, aumentam os riscos de doenças cardiovasculares entre pessoas que vivem com HIV a questão comportamental, que é o principal foco do e-book produzido, voltado para auxiliar na transformação de costumes passíveis de modificação. Falta de exercícios, tabagismo, rotina inadequada, nível de estresse elevado e alimentação desbalanceada são hábitos que, se evitados, podem diminuir o risco de quem possui HIV desenvolver problemas no coração.

Vida normal, ativa e saudável

Hoje, devido ao avanço da ciência e da medicina, a infecção tornou-se uma condição clínica crônica que, embora ainda não tenha cura, não impede que quem possui o vírus tenha uma vida normal, ativa e saudável. Os tratamentos disponíveis atualmente são capazes de reduzir tanto a carga viral no corpo que ela pode até mesmo se tornar indetectável, permitindo que muitas pessoas vivam de forma assintomática e não transmitam o vírus.

No entanto, como o HIV sofre mutações rápidas e constantes, ele pode se instalar em locais do organismo onde não é identificado pelo sistema imune nem pelos medicamentos, motivo que explica a dificuldade em se descobrir a cura definitiva e/ou produzir uma vacina eficaz para combater o vírus. Além disso, é fundamental manter o acompanhamento constante da infecção para evitar que ela retorne ao seu estágio mais agressivo e gere novas complicações.

Orientados pela professora Renata Karina Reis, do Departamento de Enfermagem Fundamental da EERP, os estudos contaram com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Da Assessoria de Comunicação do RLAE

FONTE: Jornal da USP

Pensamento acelerado pode ser sintoma de transtorno mental

A síndrome do pensamento acelerado, um problema que pode ocorrer com algumas pessoas, está nomeado de forma incorreta. O correto é dizermos que não é uma síndrome, mas sim um sintoma de um transtorno mental. Mário Rodrigues Louzã, coordenador do Programa de Esquizofrenia e também do Programa de Déficit de Atenção e Hiperatividade do Adulto do Instituto de Psiquiatria da USP, explica que, “para identificar se há alteração no pensamento é necessário fazer uma avaliação na qual se verifica se o pensamento está acelerado a partir do discurso que o paciente relata, e também são avaliados outros sintomas para só então se fazer um diagnóstico de um transtorno mental”.

Nosso cérebro possui várias velocidades de pensamento e, em algumas situações, pode sofrer alterações. O órgão tem as capacidades de atenção, memória e pensamento. Essas capacidades são chamadas de funções mentais ou psíquicas. Existe uma forma de analisar o pensamento e uma de suas característica é através de sua velocidade. Ela pode se dar dentro da normalidade, mas existem algumas situações, como os transtornos mentais, em que ela fica fora da normalidade. Entre os transtornos que podem ocasionar essa alteração, está o TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. Há também o transtorno bipolar, em que a pessoa, na fase de euforia, salta de um assunto para o outro sem que haja o término do pensamento, do que se está falando. Em alguns casos de ansiedade, o pensamento também fica acelerado, mas dentro da normalidade, como, por exemplo, na véspera de uma prova.

Diferenças

É possível distinguir um pensamento acelerado normal de um transtorno mental. As circunstâncias normais da vida em que o pensamento está acelerado está vinculado a uma situação, a um fato que vai acontecer. Terminado esse fato, volta-se a ter o pensamento na velocidade normal quando cessa a preocupação. Mas existem doenças em que o pensamento fica fora do controle da pessoa, ela não consegue impedir que isso aconteça.

Assim como há formas diferentes de aceleração do pensamento, há várias maneiras de realizar o tratamento e lidar com o problema. Louzã explica que, “dependendo do transtorno mental que está causando essa aceleração do pensamento, a nossa abordagem terapêutica será diferente. No quadro de ansiedade generalizada, por exemplo, em um transtorno bipolar, na fase de euforia, você tem alguns medicamentos para controlar esse pensamento acelerado e demais sintomas. Já em uma situação cotidiana, em que a pessoa está com o pensamento acelerado por algum motivo, se a pessoa der uns passos para trás e conseguir refletir um pouco sobre os motivos porque isso está acontecendo, ela pode procurar uma terapia para lidar melhor com a situação que a está deixando ansiosa”.

Por Simone Lemos

FONTE: Jornal da USP

Dores nas articulações e o acúmulo de cálcio

A doença de acúmulo de cristais de cálcio nas juntas e articulações é muito mais frequente do que se pode imaginar. Conhecida como CPPD – depósito de pirofosfato de cálcio – , é uma espécie de artrite crônica, que afeta articulações, tendões e juntas. Normalmente, atinge pessoas acima dos 50 anos.

O reumatologista Henrique Giardini, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que essa doença de calcificação causa dores intensas,  inchaço e desconforto, atingindo normalmente  joelhos, pulsos e quadris.

É importante explicar que  a dor que causa o  acúmulo de cálcio normalmente é confundida com outra doença conhecida como “gota”, que no caso dói por causa do  acúmulo de ácido úrico. Outro diferencial entre as doenças é que a gota atinge homens jovens, diferentemente dos cristais, que acometem idosos.

O reumatologista do HC diz que, para descobrir a diferença entre gota e os cristais de cálcio, é feita uma punção da junta, ou seja, é retirado um pouco do líquido local  para ser feita análise por  exame. Não se sabe por que os cristais de cálcio se formam, mas uma coisa é certa: o uso de suplementos de cálcio não causa ou piora a doença.

Tratamento

Outras doenças reumatológicas podem causar dores em articulações e juntas, como artrite reumatoide, por exemplo. O acúmulo de cristais nas juntas,  joelhos, pulsos e quadris não tem cura mas tem tratamento.

A dor e a rigidez causadas pela artrite podem limitar as atividades diárias. Os exercícios ajudam as articulações a funcionarem e protegê-las através do fortalecimento dos músculos ao redor delas.

Por Sandra Capomaccio

FONTE: Jornal da USP

Cosmético melhora a pele de diabéticos

Cosmético à base de extratos de girassol e de alga vermelha pode melhorar a pele de diabéticos. Os ativos melhoram a hidratação, o PH e deixam a pele mais firme, revela pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto.

O envelhecimento precoce da pele é uma característica muito comum em pacientes com diabete. Sinais como rugas, manchas e até flacidez podem se apresentar mais cedo que o esperado, provocando um impacto na autoestima do paciente.

Para amenizar esses problemas enfrentados por pessoas com a doença metabólica, a farmacêutica Verônica Rêgo de Moraes, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, criou um dermocosmético com formulação à base de extratos de semente de girassol e alga vermelha. “O dermocosmético foi considerado estável, pois passou em todas as etapas de estabilidade, e seguro, tanto para a pele diabética, que é uma pele mais sensível, mais propensa à reação, como para a pele saudável.”

Verônica diz que a fórmula também deixou a pele mais firme e com menos rugas aparentes, corroborando a opinião das próprias participantes da pesquisa. “O pH da pele da pessoa com diabete, que normalmente apresenta alteração, também foi corrigido, junto com a barreira hidrolipídica, fazendo com que essa pele perdesse menos água após três meses de uso do dermocosmético desenvolvido.”

Estudo clínico

O estudo clínico foi dividido em quatro grupos. No primeiro, os participantes fizeram uso de formulações à base de extrato de girassol; no segundo, com formulações à base de alga vermelha; um terceiro grupo, com uma combinação dos dois ativos; e por fim um quarto grupo recebeu placebo.

A pesquisadora explica que o tipo de diabete escolhido para análise foi o 2, que envelhece a pele através da glicação, ou seja, o açúcar interage com o colágeno fazendo com que ele perca a função de sustentação da pele. “Isso faz com que pessoas portadoras da doença tenham sinais de envelhecimento mais rápidos do que as pessoas saudáveis, pois esses aumentos de açúcar circulante no organismo fazem com que ocorra mais essa habilitação da pele e apareçam rugas e flacidez.”

Verônica lembra que pessoas com a doença possuem algumas características específicas. No estudo, as pacientes apresentavam uma perda maior de água, demonstrando que a barreira cutânea delas é mais danificada em relação à pele saudável. “É, normalmente, uma pele menos hidratada, o que corrobora com a doença, porque pessoas portadoras da doença falam que elas sempre bebem água, mas parece que estão com sede constante.” Além disso, condições como o pH mais baixo da pele e rugas mais expressivas são quadros comuns.

Patrícia Maia Campos, professora de cosmetologia e orientadora do estudo, afirma que a pesquisa serve como embasamento para a criação de novos cosméticos. Segundo a professora, para a criação de produtos dedicados aos cuidados da pele são necessários estudos que justifiquem o uso desses ativos nos cosméticos. Dessa forma, o próximo passo para que os extratos do girassol e da alga vermelha sejam utilizados na produção dos produtos é o desenvolvimento de formulações que contenham esses ativos.

Texto: Laura Oliveira
Arte: Rebeca Fonseca

FONTE: Jornal da USP