Fake news sobre uso do flúor colocam em risco saúde bucal de brasileiros

“Justificativas para adição do flúor na água são válidas; é o método de menor custo per capita”. A avaliação é do professor Wilson Mestriner, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, contra o movimento antifluoretação das águas de abastecimento público que tem ganhado força no País. O movimento espalha fake news e preocupa autoridades sanitárias, principalmente, pela prevalência de doenças bucais relacionadas à desigualdade social.

Segundo Mestriner, “graças à fluoretação da água de abastecimento público, nós temos a redução do índice de cáries”, fato que só é “observado através do censo nacional, dos levantamentos epidemiológicos para avaliar a condição de saúde bucal da população brasileira”. E a desigualdade social, persistente no País, justifica a conduta de adicionar flúor à água da população já que, apesar das conquistas das últimas décadas, a quantidade de desdentados no País ainda é grande, como mostra a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A condição brasileira faz com que, baseados na ciência, especialistas da USP defendam os benefícios da lei federal (lei 6.050 de 24 de maio de 1974), enquanto as fake news engrossam o movimento antifluoretação no Brasil. Em publicação recente, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP, analisaram conteúdos de 297 sites e redes sociais e identificaram mais de 300 publicações falsas na área de odontologia com impactos na saúde da população.

O movimento é contra a utilização do íon flúor na água de consumo diário e também nos produtos odontológicos para prevenção da doença dentária cárie. Iniciado nos Estados Unidos, o movimento ganha força no Brasil através do compartilhamento de informações falsas pela internet e mídias sociais.

Utilizam “argumentos verdadeiros, como a possibilidade de neurotoxicidade do flúor, entretanto de forma descontextualizada, então não leva em consideração a concentração do flúor e que é utilizada em águas de abastecimento ou em produtos odontológicos”, comenta o professor Thiago Cruvinel, líder da equipe da FOB.

De adeptos naturalistas a profissionais da odontologia

Os resultados do estudo da FOB indicam que a chegada desse movimento no Brasil ocorre através de pessoas com conhecimento da língua inglesa que consomem esses conteúdos provenientes dos Estados Unidos. Esses indivíduos, segundo Cruvinel, disseminam através de suas mídias sociais e na internet os conteúdos que incentivam outras pessoas a se tornarem antifluoretos.

“O que nós temos percebido nas nossas pesquisas é que essas pessoas normalmente têm um estilo de vida ligado a hábitos naturalistas, como, por exemplo, a não utilização de produtos industrializados ou cosméticos que contêm produtos artificiais na sua composição”, destaca o professor sobre o perfil dos publicadores de fake news na odontologia. Como se trata de um comportamento de risco que parte de pessoas com práticas adequadas de saúde, as falsas notícias se tornam “um problema, porque a partir disso surgem outras formas de pensar a odontologia e outras formas de combater doenças bucais que não são pautadas em evidências científicas”, analisa Cruvinel.

E as justificativas utilizadas pelas pessoas que participam desses movimentos são diversas. “Dentre elas, podemos observar justificativas relacionadas à toxicidade do flúor e também baseando-se em teorias da conspiração, como, por exemplo, uma política adotada por Hitler durante o nazismo ou ainda uma política que é utilizada por governos para controlar as mentes das pessoas. Existem também teorias ligadas à espiritualidade, como a calcificação da glândula pineal, que levaria à impossibilidade de conexão com Deus, com o criador”, diz o professor.

Nem os profissionais da área de odontologia ficam de fora. “É importante salientar que esse movimento não ocorre somente entre leigos, existem também profissionais hoje que acreditam nessa questão da necessidade de não utilização do flúor por sua toxicidade”, conta Cruvinel, afirmando que se trata de adeptos de uma pseudociência chamada “odontologia biológica”.

Fluoretação da água 

A adição mundial do flúor na água de abastecimento público começou na primeira metade do século 20, quando o dentista norte-americano Frederick McKay comprovou a atividade do íon flúor, na concentração ideal e segura, na prevenção da doença cárie. No Brasil, estudos similares apareceram na segunda metade do século 20. “O primeiro estudo desenvolvido, um estudo também de caráter epidemiológico, foi no Baixo Guandu, no Espírito Santo, em 1953, através da concentração regular do íon flúor na água de abastecimento público. Nós conseguimos a redução em torno de 60% da atividade da doença cárie”, conta Mestriner.

 

Uso de fluoretos nas águas auxilia na prevenção da cárie dentária – Foto: Edson Lopes Jr/A2 fotografias via Fotos Públicas

 

A fluoretação da água de abastecimento público em todo o País começou a partir de lei federal em 1974 que, adianta o professor Mestriner, indica a concentração ideal do íon flúor: deve estar no intervalo de 0,60 a 0,80 miligramas por litro ou partes por milhão (ppm) em função da temperatura. O controle desses níveis, continua o professor, é realizado simultaneamente pelos serviços de saneamento municipais, órgãos cadastrados e laboratórios credenciados no acompanhamento periódico.

Fake news na saúde

As fake news estão presentes nas mais diversas áreas, porém quando ligadas à saúde podem causar danos irreparáveis. Elas geralmente circulam nas mídias sociais e na internet com o intuito de atingir um grande número de pessoas.

Essas desinformações utilizam diversas técnicas para atrair e manipular o usuário como distorcer informações verdadeiras e apresentá-las junto com inverdades, explica o especialista no estudo das fake news João Henrique Júnior, do Instituto de Estudos Avançados da USP em Ribeirão Preto.

“Utilizam também teorias da conspiração ajustadas à narrativa em questão, produzindo mensagens com forte apelo emocional tentando provocar sentimentos como medo e ódio. Aproveitam-se, ainda, das brechas das empresas de tecnologia, que priorizam o lucro em vez da qualidade, para disseminar esse conteúdo de modo orquestrado, coordenado e em larga escala. Esse movimento contínuo, quando não é enfrentado e moderado efetivamente, consegue ao longo do tempo conquistar novos adeptos e radicalizar os mais antigos”, comenta Henrique Júnior.

Para o especialista, “essas campanhas de desinformação podem, no curto e no médio prazo, levar o indivíduo a utilizar produtos ou tratamentos nocivos à sua saúde, colocando até mesmo sua vida em risco. Já no longo prazo, as informações falsas podem abalar a confiança do usuário gerando descrédito em relação às fontes confiáveis como a imprensa profissional, centros de pesquisa e órgãos de governo, podendo prejudicar inclusive políticas públicas de saúde”.

Avanço da medicina e hábito saudável permitem vida mais longa a idosos

Em pouco mais de dez anos, o número de idosos no Brasil aumentou em 11 milhões de pessoas. Em 2010, o país tinha 19 milhões de habitantes com mais de 60 anos de idade. Em 2021, esse número chegou a 30,3 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A expectativa para as próximas décadas é que esse número continue aumentando. Projeções estimam que, em 2060, três em cada dez brasileiros serão idosos.

Para o gerente de Estimativas e Projeções de População do IBGE, Márcio Minamiguchi, o aumento do número de idosos vem acompanhado de uma mudança de perfil dessa parcela da população ao longo dos anos.

“Aqueles idosos que hoje em dia chegam a idades mais avançadas, certamente, vão ter um tempo de vida maior e mais saudável em comparação com o passado. Ser idoso agora é bem diferente do que há algumas décadas.”

Atualmente, a expectativa de vida no Brasil é de quase 77 anos – em 2010, era de 73 anos.

Confira na TV Brasil:

Segundo a geriatra Roberta França, o aumento da longevidade está relacionado com uma série de fatores como: a prática de exercícios, a alimentação saudável e o avanço da ciência que permitiu a descoberta de novos tratamentos.

“Nós começamos a compreender melhor o processo do envelhecimento e, com os diagnósticos mais precisos, criamos mecanismos para melhorar a qualidade de vida”.

O aumento da expectativa de vida provocou uma mudança no perfil dos pacientes que procuram o consultório da geriatra.

“Há 30 anos, ter um paciente centenário era muito pouco comum. Atualmente, eu atendo dezenas de pessoas com mais de 100 anos de idade, e quem chegou aos 60 anos continua tendo uma vida ativa com trabalho, viagens e namoro.”

O avanço da medicina é um dos fatores que permite a Antonio Aiex uma vida saudável, aos 86 anos, depois de ter superado um tumor no cérebro, um câncer de pele e um tumor na coluna.

O primeiro câncer foi diagnosticado quando ele tinha 60 anos. Já o último tumor, detectado há 11 anos, está estabilizado devido ao tratamento.

Antonio acredita que a herança genética e os hábitos saudáveis são os segredos da longevidade. “Eu sempre tive uma vida sem grandes excessos, com uma alimentação regrada e praticando exercícios. Além disso, o tratamento eficiente fez toda a diferença.”

Médico do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Gélcio Mendes diz que em diversos tipos de câncer as chances de cura são consideradas altas, mesmo em pacientes idosos, e superam os 90% nos tumores na pele, mama, testículo, próstata e útero.

“Hoje em dia, entendemos melhor os tumores e temos tecnologias mais apropriadas para avaliar a extensão de cada tumor, mas o sucesso dos tratamentos está sempre relacionado com o diagnóstico precoce que é fundamental para aumentar as chances de cura.”

A medicina também avançou nos tratamentos das doenças cardiovasculares, embora elas ainda sejam a principal causa de morte em todo o mundo. No Brasil, anualmente, cerca de 230 mil pessoas morrem devido a problemas relacionados ao coração.

O coordenador do setor de medicina nuclear do Hospital Pró-Cardíaco, Cláudio Tinoco, diz que as pessoas devem procurar sempre controlar a glicose, a pressão arterial e o colesterol para evitar o agravamento das doenças.

“Este controle deve ser preventivo. Os pacientes devem procurar os médicos pelo menos uma vez por ano para realizar um check up completo. Isso é ainda mais importante depois dos 60 anos de idade.”

O aposentado José Alves, 73 anos, segue esses conselhos à risca e vai ao médico periodicamente para checar a saúde. Os resultados dos últimos exames foram ótimos, e José leva uma vida com muita disposição. Recentemente, ele começou a fazer aula de dança e faz planos para um futuro bem longo. “Eu me sinto bem e quero chegar aos 120 anos de idade”.

Edição: Lílian Beraldo

Por Maurício de Almeida – Repórter da TV Brasil – Rio de Janeiro

FONTE: Agência Brasil