Neurofibromatose: descubra qual médico procurar para o tratamento

Apesar de ser um conjunto de doenças pouco conhecido pelas pessoas em geral, a neurofibromatose (NF), em qualquer de suas formas, merece nossa atenção, pois pode comprometer pele, olhos, ossos, sistema nervoso e outros órgãos internos.

Causada por desordens genéticas ou hereditárias, a neurofibromatose não tem cura, mas é tratável. Sua forma mais comum de manifestação é a NF Tipo 1, que aparece, geralmente, já nos primeiros anos de vida. Há impactos tanto funcionais quanto estéticos na vida do paciente.

Se você ou alguém de sua família foi diagnosticado com neurofibromatose e ainda não sabe muito bem o que fazer daqui para frente, fique tranquilo. Vamos contar para você o que fazer após o diagnóstico de neurofibromatose para ter mais qualidade de vida.

O que fazer após o diagnóstico de Neurofibromatose?

É normal que muitas dúvidas surjam depois de receber o diagnóstico de uma doença pouco conhecida, mas o primeiro (e mais importante) passo daqui para frente é buscar a orientação de um médico especialista em neurofibromatose.

Por meio do acompanhamento adequado, é possível conviver bem com a doença e ter uma boa qualidade de vida. Agora, a dúvida que não quer calar: qual médico procurar após o diagnóstico da doença?

A verdade é que o tratamento das neurofibromatoses pode requerer especialistas de várias áreas médicas, principalmente em casos de pacientes com NF Tipo 2 e Schwannomatose.

Por se tratar de uma doença genética que atinge diversas partes do organismo, entre eles o sistema nervoso central, é indicado procurar médicos neurologistas, neurocirurgiões e geneticistas, que cuidam especificamente das principais manifestações da doença.

É claro que cada pessoa é única e, a depender dos sintomas e implicações da doença na saúde do paciente, é indicado procurar ainda por médicos dermatologistas, oftalmologistas, psiquiatras e oncologistas, que realizarão os tratamentos mais adequados para cada caso.

Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), o tratamento da pessoa com neurofibromatose ocorre através do cuidado multiprofissional e integrativo, o que significa que haverá uma verdadeira equipe de profissionais empenhada em realizar um tratamento satisfatório da doença.

Como é o tratamento da neurofibromatose?

Felizmente, existem diversos tratamentos capazes de solucionar as principais queixas dos pacientes com neurofibromatose. Apesar de não ter cura, é possível controlar os sintomas e ter mais qualidade de vida.

Dentre os tratamentos aplicáveis para a neurofibromatose, estão as intervenções cirúrgicas, quimioterapia ou radioterapia. Em alguns casos, o tratamento poderá acontecer apenas por meio do acompanhamento de exames, sem necessidade de intervenções cirúrgicas.

A escolha dos tratamentos dependerá do tipo de neurofibromatose, dos seus sintomas e ainda das particularidades de cada paciente. Por isso, buscando orientação profissional especializada, o melhor tratamento será indicado para o seu caso.

Fontes:

  1. Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica:

https://sbop.com.br/neurofibromatose/

  1. Acta Cirúrgica Brasileira:

https://www.scielo.br/j/acb/a/7HMfd9rMb4ZFyKGJZC94k3g/?lang=pt#:~:text=A%20ocorr%C3%AAncia%20da%20neurofibromatose%20%C3%A9,ou%20monossintom%C3%A1ticas)4%2C5.

  1. Associação Mineira de Apoio às Pessoas com Neurofibromatoses:

https://amanf.org.br/2015/06/entrevista-do-dr-nikolas-mata-machado-sobre-as-neurofibromatoses/

  1. Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica – Webinar:

https://www.youtube.com/watch?v=UFiQF8Yn_hs

BR-17323. Material destinado a todos os públicos. Jun/2022

FONTE: Blog FazBem

O que é diabetes insulinodependente?

O diabetes tipo 1 (DM1), antigamente, era chamada de diabetes melito insulinodependente (DMID). Essa forma de diabetes atinge de 10 a 20% dos casos. Os outros 80 a 90%, correspondem ao que hoje chamamos de diabetes tipo 2 (DM2) e que antes era chamado de diabetes melito não-insulino – dependente (DMNID).¹ 

Sobre o diabetes 

Diabetes é uma doença na qual o nível de glicose (açúcar) se encontra alto no sangue, o que chamamos de hiperglicemia. ² 

A glicose serve como combustível para o funcionamento das células de nosso corpo, mas para ser absorvida, precisa ser quebrada pelo hormônio chamado insulina ² 

Quando, por algum motivo, a insulina não consegue fazer esse trabalho, os níveis de glicose aumentam no sangue, o que pode levar a complicações no coração, nas artérias, nos olhos, nos rins e nos nervos. ² 

Diabetes tipo 1 

O tipo 1 é mais comum de ser diagnosticado na infância e adolescência e corresponde a menor quantidade de pacientes com diabetes³ 

Nesse tipo, o organismo não consegue produzir insulina devido a destruição das células do pâncreas (órgão que produz a insulina) por um mecanismo autoimune (o sistema imunológico enxerga erroneamente uma substância como nociva e a ataca). ³ 

O sistema imunológico ataca as células do pâncreas (órgão no qual a insulina é produzida) e a produção de insulina fica comprometida. ³ 

Quem tem parentes com diabetes tipo 1 têm maiores chances de desenvolver a doença. ³  

Sintomas do diabetes tipo 1 

  • Fome frequente ² 
  • Sede constante ² 
  • Vontade de urinar diversas vezes ao dia ² 
  • Perda de peso ² 
  • Fraqueza ² 
  • Fadiga ² 
  • Mudanças de humor ² 
  • Náusea e vômito ² 

Tratamento  

Para manter a glicose no sangue em valores adequados, as pessoas com diabetes tipo 1 precisam de injeções diárias de insulina, por isso esse tipo era conhecido como diabetes insulino-depedente. ² 

A medição do nível de glicose é feita por um aparelho chamado glicosímetro. A insulina é aplicada em forma de injeção em locais como a barriga, coxa, braço, região da cintura ou glúteo (regiões com gordura). ² 

cuidado com a alimentação também é essencial, evitando alimentos ultra processados e com grande quantidade de açúcar.  

Diabetes tipo 2  

O tipo 2 pode ocorrer por dois motivos: 

  • O organismo não produz quantidade suficiente de insulina ou  
  • As células do organismo não absorvem a quantidade certa de insulina (resistência à insulina). ³  

Esse tipo é mais comum de ser diagnosticado na fase adulta, devido ao acúmulo de maus hábitos alimentares, mas também se verifica que existe a maior chance de desenvolvimento de diabetes tipo 2 em quem têm pais ou irmãos com a doença. ³  

Sintomas do diabetes tipo 2 

  • Fome frequente ² 
  • Sede constante ² 
  • Formigamento nos pés e mãos ² 
  • Vontade de urinar diversas vezes ² 
  • Infecções frequentes na bexiga, rins, pele e infecções de pele ² 
  • Feridas que demoram para cicatrizar ² 
  • Visão embaçada ² 

Atenção aos Hábitos 

Cerca de 80% das pessoas que desenvolvem resistência à glicose estão com excesso de gordura corporal e são sedentárias. Nas pessoas que estão acima do peso ou obesas, as células do organismo respondem menos à ação da insulina. ³ 

Tratamento  

De acordo com a condição clínica de cada paciente, pode ser utilizado determinado medicamento para tratamento. ² 

Por este motivo, esse tipo era chamado de não-insulino-dependente. ² Somente seu 

médico saberá a melhor abordagem para seu tratamento.  

Existem 3 abordagens de tratamento: 

  • Uso de inibidores da alfa-glicosidase:  impedem a digestão e absorção de carboidratos no intestino² 
  • Uso de sulfonilureias ou glinidas: que estimulam a produção pancreática de insulina pelas células. ² 
  • Uso de insulina (caneta ou injeção): regula o nível alto de glicose no sangue (hiperglicemia) ² 

Essas três abordagens são acompanhadas de reeducação alimentar e outras recomendações, caso a diabetes esteja associada a outras doenças como hipertensão e sobrepeso, por exemplo. ² 

Procurando ajuda  

Ao ser diagnosticado com diabetes tipo 1 ou 2, é importante manter o tratamento com o médico e não parar de tomar as medicações por conta própria ao sentir os sintomas diminuindo. ² 

Hoje, é super possível conviver com os dois tipos de diabetes, mas os cuidados precisam ser tomados para evitar complicações. ² 

Referências: 

1 – DA SILVA LUCENA, Joana Bezerra. DIABETES MELLITUS TIPO 1 E TIPO 2. Arquivo FMU, 2022.  Disponível em https://arquivo.fmu.br/prodisc/farmacia/jbsl.pdf Acesso em 27/07/22 

2 – PARANÁ SECRETARIA DE SAÚDE. DIABETES MELLITUS. PARANÁ SECRETARIA DE SAÚDE. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Diabetes-diabetes-mellitus#:~:text=A%20causa%20do%20diabetes%20tipo%202%20est%C3%A1%20diretamente%20relacionado%20ao Acesso em 27/07/22  

3 – BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. COMO OCORRE O DESENVOLVIMENTO DE DIABETES TIPO 1 E 2 NO ORGANISMO HUMANO?. BIBLIIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. DISPONÍVEL EM: https://aps-repo.bvs.br/aps/gostaria-de-saber-mais-informacoes-sobre-como-ocorre-o-desenvolvimento-de-diabetes-tipo-1-e-2-no-organismo-humano/ ACESSO EM 27/07/07 

BR-18919. Material destinado a todos os públicos. 2022

FONTE: Blog FazBem

Cólica renal: como surge e quais cuidados tomar

Causada pelo deslocamento de pedras no trato urinário, a cólica renal é um sintoma típico da presença de pedras nos rins ou cálculos renais e é conhecida como uma condição bastante dolorosa(1)

Veja como prevenir a formação de cálculos e como agir, no caso de cólicas renais.  

Formação do cálculo renal

O cálculo renal é formado por minerais presentes na urina que se cristalizam e se unem, formando as estruturas que conhecemos popularmente como pedras nos rins(2, 3)

Em geral, essas pedras se formam quando a urina fica muito concentrada, o que permite que os minerais presentes na urina se cristalizem(3)

Pedra nos rins: fatores de risco

Vários fatores podem estar associados ao desenvolvimento dos cálculos renais, incluindo(2)

  • Hereditariedade
  • Obesidade
  • Sedentarismo
  • Dieta rica em proteínas e sal
  • Baixa ingestão de líquidos.

Fatores ambientais, como temperaturas muito quentes, também podem elevar a incidência das pedras nos rins, uma vez que o aumento da transpiração, aliado a uma hidratação inadequada, tende a favorecer o acúmulo de cristais na urina(4)

Quais os sintomas da cólica renal?

A cólica renal costuma aparecer de repente e pode estar localizada inicialmente na região lombar e irradiar para um dos flancos(2). À medida que a pedra se desloca pelo trato urinário, a intensidade da dor pode diminuir ou aumentar(3)

A cólica renal também pode vir acompanhada de outros sintomas(2, 3) como: 

  • Náusea e vômito
  • Febre e calafrios
  • Mudança na coloração da urina
  • Redução do fluxo urinário
  • Necessidade de urinar com frequência
  • Sensação permanente de bexiga cheia

Depois que o cálculo sai do ureter e entra na bexiga, a cólica renal diminui quase que imediatamente. A partir daí, a pedra é expelida pelo corpo por meio da urina(5)

A eliminação da pedra pela urina pode ou não ser dolorosa, dependendo do tamanho do cálculo (3). 

Por isso, é importante fazer uma avaliação médica. Em alguns casos, pode ser necessário realizar a remoção cirúrgica do cálculo(3)

Como aliviar a cólica renal? 

A cólica renal acontece enquanto o cálculo se desloca pelo trato urinário e é preciso lidar com o desconforto da dor desde o seu surgimento até a eliminação das pedras(5)

Durante as crises agudas de cólica renal, é importante evitar o consumo excessivo de água, uma vez que o acúmulo da urina nos rins pode aumentar a pressão sobre o órgão e intensificar a dor(1)

Além disso, busque atendimento médico se houver cólica renal.

Guia de cuidados

A melhor maneira de evitar as cólicas de uma vez por todas é prevenir a formação dos cálculos renais e pequenas mudanças no estilo de vida têm um papel fundamental na prevenção(6).

 Veja as dicas:  

Beba líquido ao longo do dia

É importante manter-se hidratado por meio da ingestão de água e de sucos cítricos, que possuem uma substância que ajuda a bloquear a formação de cálculos(4,5)

Reduza o consumo de sal e de proteína animal

Opte por uma dieta pobre em sal. É possível substituir o sal por outros condimentos e temperos naturais, por exemplo(4,6).

Limite também a ingestão diária de carnes, pois o consumo excessivo da proteína animal favorece a formação dos cálculos(5)

Diminua a ingestão de alimentos ricos em oxalato

Alguns alimentos são ricos em oxalatos, que podem favorecer a formação de cálculos(6). Confira a lista dos alimentos que devem ser consumidos com moderação(6):

  • Beterraba
  • Quiabo
  • Espinafre
  • Acelga
  • Batata-doce
  • Nozes
  •  Chás
  • Chocolate
  • Pimenta-preta
  • Produtos à base de soja

Lembre-se de que as cólicas renais são passageiras e a melhor maneira de evitar que elas surjam é por meio da mudança de alguns hábitos!

Saúde renal e diabetes

Se você sofre com diabetes, precisa redobrar os cuidados com a saúde dos rins(7). A doença pode causar problemas renais que levam à necessidade de diálise(8).

Conheça a calculadora de risco renal para avaliar a saúde dos seus rins e prevenir o surgimento de complicações. Mas lembre-se que essa calculadora não é uma ferramenta de diagnóstico e não substitui o aconselhamento com um profissional de saúde.

Referências

1) Drauzio Varella. Pedra nos rins (Cálculo renal). Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/pedra-nos-rins-calculo-renal/. Último acesso em: 27.09.2023.
2) Sociedade Brasileira de Urologia. Pedra nos rins. Disponível em: https://portaldaurologia.org.br/publico/doencas/pedra-nos-rins/. Último acesso em: 27.09.2023.
3) Mayo Clinic. Kidney stones – Symptoms and Causes. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/kidney-stones/symptoms-causes/syc-20355755. Último acesso em: 27.09.2023.
4) Sociedade Brasileira de Urologia. Verão: incidência de pedras nos rins aumenta 30%. Disponível em: https://portaldaurologia.org.br/publico/release/verao-incidencia-de-pedras-nos-rins-aumenta-30/. Último acesso em: 27.09.2023.
5) Harvard Health Publishing. How to pass a kidney stone & 5 tips to prevent them. Disponível em: https://www.health.harvard.edu/blog/5-things-can-help-take-pass-kidney-stones-2018030813363. Último acesso em: 27.09.2023.
6) Mayo Clinic. Kidney stones – Diagnosis and treatment. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/kidney-stones/diagnosis-treatment/drc-20355759. Último acesso em: 27.09.2023.
7) Sociedade Brasileira de Nefrologia. O que você precisa saber sobre diabetes? Disponível em: https://www.sbn.org.br/orientacoes-e-tratamentos/doencas-comuns/diabetes-mellitus-diabetes/. Último acesso em: 27.09.2023.
8) Sociedade Brasileira de Diabetes. Doença renal do diabetes. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/doenca-renal-do-diabetes/. Último acesso em: 27.09.2023.

BR-27158. Material destinado a todos os públicos. Nov/2023.

Asma: Por que é importante tratar?

Um dos fatores mais relevantes para o controle da asma é a regularidade no tratamento. Por isso, é importante o acompanhamento de um médico especialista. Em casos de asma alérgica, leve e/ou facilmente controlada com medicação, este acompanhamento pode ser feito por um médico não especialista, mas em casos com gravidade moderada e grave, com difícil controle de crises, é necessário a consulta e assistência de um pneumologista ou alergista. 

Como a asma pode ser uma condição dinâmica, consultas regulares ajudam a avaliar a resposta do tratamento, e a manutenção ou não de medicamentos ou terapias. O acompanhamento com equipe médica também auxilia a esclarecer dúvidas, e assegurar o uso correto do medicamento, que geralmente é administrado por inalação. 

Infelizmente, é comum que muitas pessoas deixem de usar a medicação, por conta própria e sem conhecimento do médico, quando sentem a melhora dos sintomas. No entanto, os sintomas melhoram exatamente por conta da medicação. Para muitas pessoas com asma, ou pais e responsáveis por crianças com asma, aceitar e acatar a importância de utilizar a medicação prescrita corretamente e nos horários determinados, pelo tempo necessário, é uma dificuldade inicial a ser vencida. Especialmente nos casos de asma moderada e grave, que demandam uso recorrente e contínuo dos medicamentos. No entanto, é um passo importante, visto que a medicação é a melhor forma de prevenir crises recorrentes, além do efeito emergencial de resgate para a falta de ar.

O tratamento, no entanto, não envolve somente a medicação, mas passa por mudanças de comportamento, ambientais e prática de exercício. É importante também manter um ambiente limpo e arejado, evitando o possível acúmulo de poeira e ácaros, bem como a superexposição a outros elementos que podem ser gatilhos para uma crise (como poluição, mofo, pelos de animais etc.). Evitar o tabagismo, incluindo a exposição passiva à fumaça de cigarro e assemelhados é de extrema relevância para a pessoa que vive com asma, o que mostra também a importância do engajamento familiar no tratamento da doença.

Outro fator relevante para a qualidade de vida e bem estar da pessoa com asma é a prática de exercícios físicos, especialmente aeróbicos, pelo estímulo à parte respiratória. Durante muito tempo, a natação foi indicada como o “principal exercício para quem tem asma”, porém, existem diversas opções, que podem ser mais indicadas, mais práticas ou mesmo mais ao  gosto do indivíduo, como ciclismo, corrida ou caminhada e outros. É importante, contudo, a consulta com um médico antes de iniciar uma atividade física, e ter orientações de um profissional de fisioterapia ou educação física, para evitar riscos desnecessários.

FONTE: Blog FazBem

Fórum Econômico Mundial acende alerta vermelho contra os alimentos ultraprocessados

O Fórum Econômico Mundial (FEM) de 2024 ocorre em Davos, na Suíça, e diferentes líderes políticos e empresariais discutem as questões mais importantes da atualidade. Nesta semana, durante a reunião, um estudo do fórum defende a transformação profunda na qualidade da alimentação, visando especialmente aos alimentos ultraprocessados, e alerta para o descompromisso das gigantes do setor agropecuário com as promessas de práticas regenerativas.

O professor Ricardo Abramovay, titular da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, desenvolve sobre mudanças no sistema agropecuário atual que promovam mudanças significativas na alimentação da sociedade por meio da diminuição dos ultraprocessados e outros feitos.

Debate no fórum

Abramovay destaca a importância do FEM em ligar o sinal vermelho para esse tema, o qual, até dez anos atrás, era objeto de um gradualismo, quase sem repercussão nas práticas cotidianas. Ele expõe que isso ocorria devido à revolução verde, ocorrida a partir dos anos de 1960, que tinha o objetivo de combater a fome que assolava mais da metade da população mundial e se traduziu na concentração da produção — 75% das calorias consumidas globalmente estão divididas em seis tipos de alimentos: arroz, trigo, milho, soja, batata e cana-de-açúcar.

O docente afirma que esse cenário acabou: “Esse método funcionou durante 30 anos, só que a crise climática se materializou em eventos extremos cada vez mais recorrentes, como a seca na Argentina, no Cerrado até o Sul do Brasil ou nas grandes planícies europeias. Isso está mostrando a inviabilidade daquilo que foi o método pelo qual a humanidade conseguiu combater a fome, temos que encontrar outro método”.

Consequência para a saúde

De acordo com o especialista, o Brasil é pioneiro na pesquisa científica na área de Nutrição, com destaque para os professores da Faculdade de Saúde Pública da USP, e tem seu trabalho reconhecido internacionalmente como revolucionário. “Até então, todo o raciocínio se concentrava nos nutrientes da alimentação, o que essa equipe da FSP fez nos últimos 20 anos foi mostrar que mais importante do que o conteúdo de nutrientes e micronutrientes é a maneira como o alimento é transformado”, discorre.

Ele explica que existem quatro tipos de alimentos: naturais, minimamente processados, industrializados e, por último, os ultraprocessados — um conjunto que mal pode ser chamado de alimento, visto que são totalmente arranjados artificialmente pela indústria para ter sabor, textura, aroma, cor e aparência. Por exemplo, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, 60% das calorias consumidas pelos indivíduos correspondem a esse tipo de produto.

No entanto, o professor ressalta que isso não é especificidade das nações mais ricas, destacando que 62% da população que sofre de obesidade no mundo estão nos países em desenvolvimento. Isso ocorre por conta do alto custo para manutenção de uma dieta saudável, que obriga 42% das pessoas no mundo a recorrerem a esses produtos com deficiência nutricional, diante dos quais o corpo humano não está preparado evolutivamente para ingerir.

Frente a esse cenário, mais de 2 bilhões de indivíduos estão em situação de obesidade, ou sobrepeso, em conjunto a carências nutricionais em ferro, zinco e outros. Além disso, o Fórum Econômico Mundial aponta que esses alimentos ultraprocessados estão na origem das doenças que mais matam no globo, inclusive mais do que a fome, como as cardiovasculares e diferentes tipos de câncer: “A conclusão do FEM é que precisamos urgentemente diversificar o sistema agroalimentar, não só a alimentação, tem que diversificar o conjunto do sistema, inclusive no que se refere à oferta de produtos animais”, elucida o docente.

Mudanças no sistema

O Brasil, regente do G20 desde dezembro de 2023, por meio do seu presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfatizou a luta contra a pobreza e a desigualdade, clima e governança global. Nesse sentido, o sistema agroalimentar é responsável por um terço das emissões de gases do efeito estufa, assim sendo, sua transformação é premissa para o avanço contra as desigualdades e a fome no mundo, afirma o especialista.

Abramovay comenta que o número de famintos no planeta aumentou em torno de 150 milhões de indivíduos, portanto, a conferência do G20 marcada para setembro deste ano no Brasil, deve focar nessa temática. Por fim, ele destaca uma reunião que acontecerá em fevereiro, entre os ministros das Finanças dos países do G20: “A USP, por meio de várias unidades, vai ter participação diversa no encontro e, em particular, vamos insistir nesse tema da urgência de superar a monotonia do sistema agroalimentar global como uma premissa para que a gente possa avançar na luta contra a fome e as desigualdades, pelo bem-estar animal e pelo desenvolvimento sustentável”.

FONTE: Jornal da USP

Você sabe o que é Cápsula Endoscópica?

Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP analisaram a importância da cápsula endoscópica, nova técnica de imagem médica para o diagnóstico precoce de doenças nestes locais, e as novas possibilidades de uso que surgiram com a modernização do procedimento.

São chamadas de imagens médicas as variadas técnicas usadas na medicina para ver o que acontece dentro do corpo humano, como a ressonância magnética, a radiografia, a tomografia, a ecografia, feitas de forma externa, e a endoscopia, feita de forma interna. Os procedimentos endoscópicos funcionam com a inserção de uma pequena câmera no trato gastrointestinal dos pacientes, o que requer sedação. Tanto na endoscopia superior (captação de imagens do esôfago, estômago e início do intestino delgado) quanto na inferior (captação de imagens do intestino grosso e parte final do intestino delgado), o procedimento não consegue percorrer todo o sistema digestivo, deixando de fora grande parte do intestino delgado.

As cápsulas têm cerca de 2,6 cm de comprimento e 1,1 cm de diâmetro, com as laterais arredondadas, e são ingeridas por via oral, para seguir o caminho do trato digestório. São pequenos aparelhos em tamanho de medicamentos orais, equipados de câmera, fonte de luz, bateria e transmissor, que captam toda a extensão do sistema gastrointestinal. “Ela tem um sistema de iluminação branca, uma pequena câmera integrada, baterias para alimentar todos os sistemas e um sistema que transmite as imagens feitas”, diz João Paulo Carmo, professor da EESC. Além das cápsulas, são vendidos, para empresas de diagnóstico, aparelhos externos para recepção das imagens coletadas.

 

As diferentes endoscopias, alta, baixa e cápsula – Imagem: retirada do artigo

 

Essa tecnologia permite que o exame seja feito sem sedação — diferentemente de como são feitos os demais procedimentos endoscópicos — de forma indolor para o paciente. Além disso, toda a extensão do trato gastrointestinal é coberta. O trabalho resultou no artigo Endoscope Capsules: The Present Situation and Future Outlooks, publicado na revista Bioengineering, e, de acordo com os autores, a cápsula endoscópica é indicada para diagnóstico de doenças no esôfago, tumores intestinais, sangramento gastrointestinal, doença de Crohn e doença celíaca.

Por outro lado, há possibilidades de haver retenção da cápsula no organismo e lacunas de gravação. Também não é possível controlar a locomoção e a posição da cápsula, já que o aparelho segue os movimentos peristálticos do sistema digestivo, o que pode prejudicar os resultados do exame. Por isso, ainda é mais prático e barato, para diagnóstico de órgãos que são cobertos pelos métodos superior e inferior, usar a endoscopia convencional.

O estudo analisou também possíveis respostas para o controle dos movimentos, dentre eles o uso de campos magnéticos. “A própria Cápsula Endoscópica tem um pequeno ímã, fora do organismo podemos usar um ímã maior e mais forte que interage com a cápsula, o que, teoricamente, consegue controlar o movimento e a posição da cápsula. Nesse caso, a revolução vai ser drástica”, explica o pesquisador. Se esse problema for contornado, novas possibilidades de uso para a essa tecnologia podem ser aplicadas.

“Essa cápsula tem se mostrado um bom método diagnóstico, aliás, tem sido muito usada como diagnóstico de primeira linha. Antes dela, ou se fazia exames de raio-X e ressonância magnética, ou por cirurgia, abrir e ver o que se passa. A cápsula, nesse aspecto, é um auxiliar muito importante, tanto por não usar radiação e nem campos magnéticos intensos, e ainda tem a particularidade de ser um dispositivo minimamente invasivo”, explica Carmo.

Por causa desses fatores, segundo Carmo, a indústria farmacêutica viu um grande potencial de lucro nas cápsulas e hoje já existem outras empresas que também fornecem o aparelho. Assim, o objetivo do artigo era traçar as perspectivas para a tecnologia das cápsulas endoscópicas, vantagens e desvantagens e suas possíveis aplicações.

As cápsulas endoscópicas foram desenhadas em 1989, mas só começaram a ser comercializadas em 2000, pela empresa Given Imaging, nos Estados Unidos.

 

Sistema da cápsula – (a) cúpula (dome) óptica, (b) suporte físico para as lentes, (c) lente (com baixa distância focal), (d) LEDs de luz branca para iluminação, (e) sensor para aquisição de imagens, (f) baterias de óxido de prata para alimentação, (g) um emissor de radiofrequência (RF) para transmissão sem fios das imagens e (h) uma antena – Imagem: cedida pelo pesquisador

Imagens captadas no intestino delgado pela cápsula. (A) Angioectasia (vasos sanguíneos dilatados) sem sangramento, (B) sangramento ativo) – Imagem: retirada do artigo

Novas possibilidades da Cápsula Endoscópica

“Outra grande aplicação possível é a terapia fotodinâmica. Basicamente, essa terapia é feita com a injeção de um fotossensibilizador, uma substância que reage à luz”, diz Carmo. Cada fotossensibilizador reage a um comprimento de onda específico, na faixa de 400–760 nm. Quando a luz encontra o fotossensibilizador, “o fármaco é ativado e promove a formação de radicais livres de oxigênio, que vão provocar danos no nível celular em tecidos tumorais.”

Esses filtros ópticos específicos podem ser acoplados na cápsulas endoscópica para tratar doenças em áreas do intestino delgado, porém é necessário ter controle do movimento do aparelho para garantir que a terapia seja aplicada nos locais exatos, para não danificar tecidos saudáveis do organismo.

Atualmente, a terapia fotodinâmica já é usada para tratar tumores no esôfago, no estômago, no pâncreas e colorretal, e doenças hepatobiliares (fígado e bílis). “Nos locais onde já se faz terapia fotodinâmica é muito mais barato, rápido e expedito usar endoscópios convencionais. No dia em que surgirem no mercado cápsulas nas quais se consiga controlar os movimentos e posicionamento das cápsulas, será uma revolução realizar terapia fotodinâmica nas porções internas no intestino delgado.”

Segundo os autores do artigo, as cápsulas também podem ser adaptadas para procedimentos de endomicroscopia a laser (para obtenção de imagens de alta resolução dos órgãos), espectroscopia (para detectar mudanças físicas em tecidos) e imagens de banda estreita (imagens com visibilidade vascular).

Além de Carmo, também contribuíram com o trabalho Rodrigo Gounella, Talita Conte Granado, Daniel Luis Luporini e os professores Oswaldo Junior e Mário Gazziro.

Mais informações: e-mail jcarmo@sc.usp.br, com João Paulo Carmo

* Estagiária, sob orientação de Fabiana Mariz

**Estagiária, sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Oxigenoterapia hiperbárica mostra-se eficiente na recuperação de lesões no joelho

O Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas realizou um estudo mostrando que a oxigenoterapia hiperbárica pode contribuir com a recuperação de lesões musculoesqueléticas e aponta a eficácia da câmera hiperbárica na recuperação pós-cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior no joelho.

A análise em desenvolvimento abriu novas linhas de pesquisa no tratamento de algumas doenças ortopédicas, como é exposto pelo líder do estudo e professor Marcos Demange, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFM) da Universidade de São Paulo.

A doença

A lesão no ligamento cruzado anterior do joelho é um dano comum entre os praticantes de esportes, que é ocasionado quando o atleta estoura o ligamento central do joelho, deixando-o instável. De acordo com o professor, o tempo de recuperação após o tratamento pode ser longo até que o ligamento fique novamente forte.

“Ocorre quando a pessoa trava o joelho no chão e gira o ligamento que está em seu centro, ele pode estourar e, quando isso acontece, a pessoa fica com o joelho sem estabilidade ou seja, ele afrouxa. O tratamento normalmente demanda uma cirurgia que tem um tempo longo de recuperação, de quase 26 meses até esse ligamento ficar resistente”, explica o especialista.

Oxigenoterapia hiperbárica

Inicialmente, a oxigenoterapia hiperbárica começou a ser usada em doenças compressivas, principalmente com mergulhadores que estão em profundidade no mar e sobem rápido para a superfície e em trabalhadores em plataformas de petróleo, há mais de 30 anos, afirma o professor.

Demange expõe que o tratamento passou a ser utilizado para cicatrizar tecidos em que a oxigenação era ruim e em que bactérias cresciam demasiadamente, gerando infecções, gangrenas ou feridas grandes. Utilizando a mesma lógica de tecidos que não possuem boa oxigenação e que, por isso, demoram para cicatrizar, o professor e sua equipe tiveram a ideia de utilizar a medicina hiperbárica no sistema esquelético.

“Estamos no ar ambiente, que tem em torno de vinte e poucos por cento de oxigênio e a nossa pressão no corpo é de uma atmosfera que está aí em cima da gente. Quando colocamos uma pessoa dentro de uma câmera hiperbárica, significa aumentar a pressão em uma ou duas vezes do que estaria na atmosfera, é como se fosse um mergulho de 20m no mar de pressão”, descreve o especialista

Além disso, coloca-se um oxigênio a 100% dentro da câmera hiperbárica e, em vez dos vinte poucos por cento que a gente está respirando, faz com que o oxigênio, além de ser transportado pela hemoglobina, corra pelo plasma, elevando o nível do oxigênio mais de seis ou sete vezes, ajudando a célula a crescer, explicita o professor.

Desenvolvimento do estudo

No estudo foi feita a divisão de dois grupos, em que um grupo ficou no ar normal e o outro ficou cinco dias seguidos recebendo uma hora e meia de oxigênio trapiperbárica. Após três meses, que é o tempo de recuperação do ligamento, foi analisado em exames de alta resolução um resultado promissor em que o ligamento estava bem mais resistente. Embora a terapia seja benéfica, existem algumas contraindicações.

“As duas contraindicações mais relevantes são, por exemplo, se uma pessoa está com glaucoma, que é o aumento de pressão dentro do olho, ela não pode se submeter a um tratamento desse tipo. Como também em pessoas que possuem claustrofobia muito forte e que possuam convulsões que não estão sendo controladas”, reitera o especialista.

Os estudos desenvolvidos ainda serão utilizados na prática; no momento, os estudos clínicos com os pacientes serão iniciados. A linha de pesquisa vai ser expandida para outros locais que não só do ligamento cruzado anterior, mas também para o menisco, a cartilagem, o tendão do ombro e em outras regiões com uma cicatrização ruim.

“Essa é uma linha de pesquisa que se abriu. Então, o que é muito interessante desse estudo que, aliás, foi publicado numa revista internacional super-relevante, é que abriu uma linha de pesquisa nova e uma vertente nova de tratamento para nós aqui na Faculdade de Medicina da USP”, destaca o especialista.

FONTE: Jornal da USP

Mortalidade após AVC é alta em pacientes com comorbidades que não fazem fono e fisioterapia

O acidente vascular cerebral (AVC) acontece quando há problemas nos vasos sanguíneos que alteram o fluxo de sangue no cérebro, o que causa a morte de células do sistema nervoso na região afetada. Classificado como acidente vascular isquêmico (vasos cerebrais entupidos) ou acidente vascular hemorrágico (rompimento dos vasos), o AVC é uma das doenças que mais matam no País, além de ser a principal patologia que causa incapacidade funcional (desempenho físico prejudicado) e cognitiva (comprometimento das funções encefálicas) no mundo. Segundo dados do Portal da Transparência do Centro de Registro Civil, em 2023, até novembro, foram registrados mais de 98 mil óbitos por AVC no Brasil.

Apesar dos números elevados de mortes e da grande prevalência na população brasileira, o AVC ainda é considerado uma doença negligenciada, e poucos estudos longitudinais de longo prazo investigaram seus fatores de risco durante um grande período. Pesquisadores da USP publicaram artigo com os resultados de um estudo derivado de 12 anos de acompanhamento de pacientes que sofreram AVC e procuraram o primeiro atendimento no Hospital Universitário (HU) da USP.

Em Cerebrovascular risk factors and their time-dependent effects on stroke survival in the EMMA cohort study, publicado na National Library of Medicine, se observou que o grau de incapacidade funcional pós-AVC, ou seja, dificuldade em executar tarefas cotidianas básicas, é o fator que mais influencia nas taxas de mortalidade e que a reabilitação para essas sequelas melhora o prognóstico (evolução da doença) dos pacientes em longo prazo.

O Estudo de Mortalidade e Morbidade do AVC (EMMA) se iniciou em 2006. Foram incluídos pacientes de 2006 a 2014, com acompanhamento dos sobreviventes ou informações sobre óbito até 2018. “Uma vez incluídos, fizemos um seguimento periódico anual via telefone, se o paciente estava vivo e se ele ou um acompanhante familiar poderia conversar conosco sobre o estado de saúde pós-AVC: se teve outro episódio, se ficou com alguma sequela, se estava fazendo reabilitação fisioterápica e fonoterápica, se tomava os remédios para os fatores de risco cardiovasculares, entre outros”, detalha Alessandra Carvalho Goulart, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e médica pesquisadora do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP.

Com as repostas obtidas, os pesquisadores compararam o efeito de variáveis ao longo do tempo — como idade, sexo, baixo nível educacional, comorbidades prévias, uso de medicamentos — durante o período de acompanhamento, e assim, conseguiram apontar os fatores que estão ligados a uma pior sobrevida pós-AVC.

Dos 1.378 casos observados pelo EMMA, o artigo analisou uma amostra de 632 pessoas que sofreram AVC isquêmico e estavam vivas pelo menos por seis meses após o acidente vascular. Dessa amostra final, houve 275 óbitos durante o seguimento.

“Observamos que o sexo masculino, o baixo nível educacional, não fazer uso contínuo de medicação para controle dos fatores de risco e algumas comorbidades prévias implicam um risco maior de morrer, porém o risco foi fixo, ao longo de 12 anos não mudou”, diz Alessandra Goulart. Apesar do risco fixo, se a pessoa não cuida desses fatores, há maior chance de morte.

Em contraste, o uso contínuo de medicamentos para controle dos fatores de risco cerebrovasculares reduziu o risco de mortalidade em 50% nos anos observados.

“A mortalidade é muito alta nas pessoas com comorbidades que não fazem reabilitação de fono e fisioterapia. Porque há um risco maior de broncoaspiração e de morrer de complicações infecciosas, como pneumonia aspirativa, por exemplo. Além do uso de medicações e a presença de comorbidades, o que realmente chamou atenção foi a questão da pessoa ainda se manter sequelada pós-AVC, com a incapacidade no mínimo moderada a grave de ter uma pior sobrevida em longo prazo”, diz a pesquisadora.

Em relação ao risco dependente do tempo pós-AVC, os pesquisadores observaram que o grau de incapacidade funcional (moderada a grave) e o envelhecimento tiveram maior impacto na mortalidade, principalmente entre seis meses e dois anos e meio após o acidente vascular.

Segundo Alessandra Goulart, os resultados demonstram a importância de investimentos em fisioterapia e reabilitação para os indivíduos que sofreram acidentes vasculares, uma vez que eles podem viver mais e sem sequelas. Ao mesmo passo que pessoas mais sequeladas pelo AVC apresentam uma taxa de mortalidade maior e têm mais complicações médicas, quem se recupera melhor das complicações tem um melhor prognóstico pós-AVC.

“É necessário melhorar a rede de atendimento de reabilitação, porque o AVC ainda configura uma das principais cargas de mortalidade e morbidade no mundo, principalmente nas populações mais carentes, como parte da região do Butantã [zona oeste de São Paulo, onde fica o HU]”, destaca a pesquisadora.

Mais informações: e-mail agoulart@hu.usp.br, com Alessandra Carvalho Goulart

*Estagiária sob supervisão de Fabiana Mariz

FONTE: Jornal da USP

O exercício da sexualidade na terceira idade é pouco estudado e comentado

A sexualidade na terceira idade apresenta desafios relacionados ao próprio envelhecimento. No entanto, o principal deles está atrelado à invisibilidade do assunto. Falar sobre sexo na juventude já é difícil e vem acompanhado de uma série de tabus, mas falar de sexo depois dos 60 ganha nas desvantagens. E o que muita gente não sabe é que a sexualidade continua latente até mesmo na velhice, e não falar sobre ela pode prejudicar os idosos que queiram manter uma vida sexual saudável.

É muito comum ouvir e observar estereótipos sobre os mais velhos, como, por exemplo, a ideia de que não podem trabalhar ou que são debilitados e que, por isso, não podem assumir responsabilidades ou ter a rotina na mesma intensidade de quando eram jovens, incluindo vida sexual ativa. De acordo com Flávia Raquel Rosa Junqueira, ginecologista e obstetra com área de atuação em Sexologia, formada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, tanto homens quanto mulheres têm mudanças no corpo com o passar da idade e também na resposta sexual, mas o maior desafio é a invisibilidade. “O exercício da sexualidade nessa faixa etária ainda é muito pouco visto, estudado e falado. Temos uma crença coletiva de que é como se as pessoas mais velhas, as pessoas idosas não tivessem sexualidade, o que não é verdade”, declara.

Segundo Flávia, a sexualidade na terceira idade é a continuação dessa vivência praticada por toda a vida, associada com as modificações fisiológicas que a idade proporciona. “É uma fase da vida que precisamos realmente olhar com mais carinho e ter mais conhecimento. A sexualidade não deixa de existir, ainda que ela possa sofrer e passar por adaptações nesse período”, explica a especialista.

Mudanças fisiológicas

Assim como todo o corpo, os órgão sexuais também vão passar por transformações com o envelhecimento. De acordo com Flávia, no caso da mulher, essas alterações ocorrem na anatomia da região genital, da região pélvica, com a redução do tamanho do útero, a atrofia da mucosa do tecido vaginal e da vulva e o ressecamento dessa região. “Isso pode interferir na capacidade de lubrificação durante a relação sexual e pode levar, inclusive, à dor durante o ato sexual”, informa a médica.

No caso do homem, as alterações apontadas pela especialista estão relacionadas às dificuldades para alcançar a ereção, precisar de uma excitação mais demorada e a qualidade da ereção, que pode mudar com a diminuição da rigidez do pênis. “A questão da ejaculação também. Pode-se ter uma menor percepção desse momento que a ejaculação vai acontecer e uma redução da força e do volume do líquido ejaculado”, acrescenta.

Além disso, Flávia também explica as mudanças do orgasmo. Para as mulheres, a sensibilidade diminui ao longo do tempo, fazendo com que o orgasmo leve mais tempo e precise de mais estímulo, podendo ser, inclusive, de menor intensidade comparado à mulher quando mais jovem.

Da mesma forma, o orgasmo masculino pode ter uma resposta mais lenta e de contração da musculatura menos intensa e menos duradoura. “Há também um aumento do período refratário, que é o período entre o homem ter uma ejaculação do orgasmo e conseguir novamente reiniciar o ciclo de resposta sexual, com a ereção e um novo ciclo de ejaculação e orgasmo”, define a ginecologista.

Hábitos

Como outros aspectos do dia a dia, a sexualidade é reflexo de hábitos de toda a vida. Ainda segundo a especialista, é importante ter esse olhar ao longo da história, de que a sexualidade é fruto da nossa saúde como um todo. “Nosso estilo de vida vai impactar diretamente o exercício da nossa sexualidade no envelhecimento. Aquelas preocupações sobre a importância de uma alimentação saudável, da prática de exercício físico regular, a importância de um sono de qualidade, um adequado gerenciamento do estresse e evitar hábitos como o alcoolismo, o tabagismo, que podem interferir diretamente na sexualidade, é muito importante.”

A ginecologista reforça ainda que o envelhecimento é uma etapa da vida pela qual todos esperam passar e a importância de tratar a vida sexual nesse processo como algo natural e com carinho, até porque a sexualidade se mantém ainda que sem o mesmo desempenho sexual da juventude. “Um encontro sexual vai muito além da penetração. É reduzir demais acharmos que a sexualidade às vezes vai ser só essa questão em si. Essa expressão da sexualidade pode se manter ativa até o final da vida, assim como a satisfação sexual, independentemente das adaptações que eventualmente o envelhecimento possa trazer”, finaliza.

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior

FONTE: Jornal da USP

“Solidão não é, necessariamente, sinal de sofrimento”

Um levantamento realizado pela associação Meta-Gallup mostrou que quase 1/4 das pessoas ao redor do mundo sentem solidão. A pesquisa foi conduzida em 142 países e não consultou a China – segundo país mais populoso do globo, o que poderia evidenciar um número ainda mais elevado. Quando perguntados o quão sozinhos os entrevistados geralmente se sentiam, 24% se classificaram como “muito”, 27% como “um pouco” e 49% como “nem um pouco”.

Os resultados mostraram que as taxas mais baixas de solidão foram relatadas por pessoas acima de 65 anos (17%), enquanto as taxas mais altas foram reportadas por jovens adultos, faixa etária que engloba dos 19 aos 29 anos (25%). Antônio de Pádua Serafim, professor do Instituto de Psicologia (IP) da USP, explica que a elevada porcentagem de jovens adultos que se sentem sozinhos pode ser explicada pelo processo de desenvolvimento biológico vivenciado por esse grupo.

“São aquelas pessoas que estão em um período de identificação, de definição, de transição, de buscas, de consolidação pessoal e profissional, muitas vezes acadêmica, e até relações interpessoais”, exemplifica o professor. Além disso, são indivíduos que planejam perspectivas de projeções futuras, e esse momento de transição pode gerar inseguranças.

Serafim pontua que existem evidências que mostram que, atualmente, parte da população mais jovem possui poucas habilidades nas interações sociais. “São pessoas com a configuração de mais insegurança e mais dificuldade de interagir, de se sentir confortável e mais confiante”, completa. Atualmente, para o professor, é como se houvesse um nível de exigência e aprovação elevados, o que pode gerar inseguranças e provocar um isolamento.

O que é solidão? 

De acordo com o professor, ao estudar o comportamento humano, pressupõe-se que existem relações de troca entre as pessoas. Do ponto de vista da psicologia, a solidão configura um comportamento em que o indivíduo está inserido em um contexto no qual não há uma relação ativa – presencial ou a distância – de interações interpessoais.

Além disso, a solidão pode acontecer através de um processo natural, em função da localização, como também pode ser uma escolha. “Solidão não é necessariamente sinal de sofrimento, mas você pode ter a solidão fruto da exclusão do ambiente, ou da própria autoexclusão – quando a pessoa se coloca nesse posicionamento”, explica Serafim.

Vivian Loietes de Oliveira Prado, pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP, define a solidão – dentro de uma perspectiva psicológica – como uma resposta emocional sentida quando existe uma diferença entre a qualidade das relações obtidas e a qualidade que se deseja obter. “Em outras palavras, poderíamos pensar em solidão como uma indicadora de parâmetros insuficientes. Então, a solidão pode sinalizar a necessidade de formar conexões mais significativas e mais duradouras”, exemplifica.

De acordo com Vivian, os seres humanos são essencialmente sociais, o que cria uma necessidade inata de pertencimento e de se relacionar para estabelecer conexões – que acontecem através das interações. Pessoas que apresentam dificuldades de formar ou manter relações interpessoais satisfatórias, segundo a pesquisadora, podem se sentir mais propensas a vivenciarem a solidão, justamente por não terem suas necessidades psicológicas atendidas.

Perigos da solidão 

Segundo Serafim, a percepção do “estar só” gera um processo de análise cognitiva dessa condição – em que o indivíduo pode pensar, por exemplo, “por que estou sozinho?”, “não agrado ninguém?”, “não sou interessante?”, “não me sinto competente para realizar determinadas ações”, “acredito que tenho características que não serão aceitas por grupos sociais”. Esse fluxo de pensamento configura uma série de respostas emocionais que podem gerar conclusões negativas e, consequentemente, um conjunto de fatores negativos, como rebaixamento da autoestima e confiança.

O professor acredita que esse processo danifica a configuração de identidade do indivíduo e abre espaço para alterações no humor – classificadas por Serafim como os principais problemas psicológicos causados pela solidão. “Essas pessoas começam a se sentir cada vez mais desprestigiadas, desvalorizadas, e isso culmina com a redução do humor, surgindo a questão da depressão. Nesses aspectos, podem surgir outras comorbidades, como o uso de álcool, o uso de medicações excessivas para lidar com essa sensação, além de problemas de sono e problemas alimentares”, aponta.

Os altos índices de pessoas que se sentem sozinhas – evidenciados pela pesquisa conduzida pela associação Meta-Gallup – são motivo de preocupação e merecem atenção. “Quando você usa o próprio termo ‘1/4 da população se sente só’, está dizendo que ela se percebe sozinha, isso não está dizendo que elas estão bem sozinhas. Quando eu digo que ‘me sinto só’, estou dizendo, em outras palavras, que eu não tenho pessoas e que eu gostaria de estar próximo”, explica o professor. Dessa forma, é preciso entender quais são os fatores e condições que estão provocando esse sentimento nas pessoas.

Entretanto, a questão do “viver sozinho”, para Serafim, depende da configuração psíquica de cada um. Em alguns casos, pessoas apresentam formas de viver e estabelecer relações com elas mesmas, em que não depositam ou não dependem de troca com outras pessoas para nutrir a imagem de suficiência e de se bastarem. Dessa forma, “o estar sozinho” não indica, necessariamente, alguma problemática.

Medidas 

Em 2018, o governo do Reino Unido anunciou a criação de um ministério para tratar a solidão e suas possíveis consequências. Uma pesquisa, conduzida em 2017, que motivou a criação do órgão, mostrou que 9 milhões de britânicos sentiam-se sozinhos com certa frequência. Para Vivian, os impactos causados pela solidão na saúde emocional precisam ser pensados coletivamente, por meio da promoção de programas que visem à diminuição da solidão como uma questão dentro da saúde pública.

A pesquisadora acredita que a solidão também precisa ser pensada individualmente, e que o entendimento desse sentimento é importante para conseguir gerenciá-lo de forma mais saudável. “Para isso, você pode, por exemplo, investir melhor na sua rede de apoio e entender o que pode ser feito e oferecido para as pessoas que estão à sua volta. É através da intimidade e companheirismo que se criam conexões fortes e duradouras e, através disso, a gente alcança situações do dia a dia onde você pode se envolver mais, mostrando e recebendo um suporte mútuo recíproco”, exemplifica.

Vivian ainda ressalta a importância de aprender a viver melhor a solitude – definida por ela como uma capacidade pessoal de se estar sozinho e conseguir sustentar o próprio selfie, sempre com o objetivo de autoconhecimento, de saber reconhecer melhor os próprios sentimentos, as vontades, e fortalecer os aspectos da identidade. “E, se for preciso, busque um bom profissional de saúde mental que possa te ajudar e te guiar nessa busca de viver a solitude de uma forma saudável e te ajudar nessas habilidades de criar e manter relacionamentos saudáveis, de conexões que façam sentido, que atendam às suas necessidades afetivas, e que ao mesmo tempo te oferecem uma companhia qualificada”, explica.

Para Serafim, a criação de um órgão responsável apenas por propor ações, sem investigar profundamente o fenômeno, não ajuda a reduzir efetivamente a questão. “Por mais que se crie qualquer órgão, qualquer aspecto que vai pautar isso, desde que a base de atuação dele seja identificar os fatores de vulnerabilidade para que as pessoas se sintam só, aí eu entendo que é viável”, pontua.

De acordo com o professor, é normal que, em relações comportamentais, sejam criadas propostas sobre a demanda – muitas vezes intangíveis – sem entender efetivamente suas causas. Por isso, Serafim acredita que é preciso compreender o fenômeno em questão, entender o que mantém a condição analisada, para só depois se pensar em quais ações são mais efetivas para reduzir o cenário.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

FONTE: Jornal da USP