Sente tontura ao andar de carro? Conheça a cinetose!

A cinetose é caracterizada por um conjunto de sintomas, como enjoos e tontura, ligados ao movimento(1)

Por isso, a condição se manifesta frequentemente em viagens de carro, barco, trem ou outros tipos de transporte. Mas não é apenas nessas condições: ela também pode ocorrer durante a exibição de filmes ou diante das telas de videogames, dependendo das imagens transmitidas(1,2)

Quais as causas da cinetose?

As causas da cinetose, também chamada de doença do movimento, não são totalmente conhecidas, mas sabe-se que ela ocorre devido a uma confusão sensorial envolvendo os sentidos da visão e do equilíbrio do corpo(1,2)

A confusão sensorial ocorre quando o movimento percebido é incompatível com o observado pelos olhos(1). Por exemplo, em um carro em deslocamento, o corpo permanece estático, mas os olhos detectam a movimentação do entorno e enviam mensagens distintas para o cérebro. 

Enquanto um sentido registra o movimento, o outro registra o inverso.  

Por causa da incompatibilidade das informações recebidas, o cérebro interpreta que está sofrendo uma alucinação. E vai além, ele conclui que a alucinação resulta da ingestão de veneno e passa a enviar sinais para induzir o corpo ao vômito, gerando mal-estar(1).

Sintomas da cinetose

Além de enjoo e tontura, outros sintomas também surgem na cinetose. São eles(2)

Diagnóstico e tratamento da cinetose

Alguns medicamentos podem ser usados para amenizar os sintomas da cinetose(1)

Além disso, o uso de técnicas de reabilitação vestibular, que são exercícios repetitivos de olhos, cabeça e corpo para recuperar o equilíbrio, pode ser recomendado para melhorar a percepção de movimento(2)

O ideal é buscar a ajuda de um médico otoneurologista, que atua em uma especialidade da otorrinolaringologia e otologia dedicada às doenças que afetam o equilíbrio corporal e o sistema auditivo(3). Esse é o profissional mais indicado para tratar a doença do movimento. 

Como prevenir a cinetose(4)

Algumas dicas podem ajudar você a aliviar o mal-estar da cinetose em veículos. Confira:

  • Ao viajar de carro, olhe pela janela da frente em vez das janelas laterais. Prefira também viajar no banco da frente ou sente-se no meio do banco de trás para poder olhar pela janela frontal do veículo;
  • Quando viajar de ônibus, escolha os assentos próximos da janela frontal e tente olhar para a frente;
  • Evite ler ou ficar diante de telas, como telefones e tablets, enquanto estiver se deslocando em veículos (carros, trens, aviões ou barcos);
  • Mantenha as janelas abertas quando possível para deixar o ar fresco entrar;
  • Evite o consumo de bebidas alcoólicas e de alimentos picantes e gordurosos. 

Você sente tontura ou vertigem? 

Tanto a tontura quanto a vertigem são sintomas e não doenças, mas é importante diferenciá-las porque elas são sintomas de doenças diferentes (5)

A tontura pode ocorrer oriunda de diversas condições, como desidratação, hiper ou hipoglicemia, pressão alta ou baixa, ansiedade, depressão, doenças cardíacas, pulmonares ou endócrinas, entre outras afecções. 

Ela está associada a mal-estar, fraqueza, embaçamento ou escurecimento visual, sensação de queda iminente ou desmaio(5).

Já a vertigem é a sensação de que as coisas estão girando ao seu redor ou de que o próprio corpo está rodando e pode estar associada à doença no labirinto(5)

Se você sente enjoo, tontura ou vertigem, procure um médico especialista para ajudar você a tratar do problema.

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Referências

1. JOURNAL OF BIOTECHNOLOGY SCIENCE RESEARCH. Kinetosis: All You Need To Know. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/299839813_Kinetosis_All_you_need_to_know. Acesso em: 29 set 2023.
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL. Cinetose. Disponível em: https://aborlccf.org.br/wp-content/uploads/2023/01/cinetose.pdf. Acesso em: 29 set 2023.
3. E-DISCIPLINAS DA USP. Introdução a Otoneurologia. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2443704/mod_resource/content/1/INTRODUC%CC%A7A%CC%83O%20OTN%20TERCEIRO%20ANO.pdf. Acesso em: 29 set 2023.
4. MAYO CLINIC. Four words drivers dread: ‘Ugh, I feel sick’. Disponível em: https://www.mayoclinichealthsystem.org/hometown-health/speaking-of-health/4-words-drivers-dread-ugh-i-feel-sick. Acesso em: 29 set 2023.
5. SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DO MS. Tontura e vertigem: a importância de identificar e diferenciar os sintomas. Disponível em: https://www.saude.ms.gov.br/tontura-e-vertigem-a-importancia-de-identificar-e-diferenciar-os-sintomas/. Acesso em: 29 set 2023.

BR-27443. Material destinado ao público geral. Out/2023

FONTE: Blog FazBem

Material usado em pacientes com queimaduras graves não melhora a qualidade de cicatrização

Ainda que possa ser útil em alguns cenários, ao ser avaliado em cirurgias de correção cicatricial de pacientes com queimaduras graves, o material não apresentou benefícios significativos

Em um esforço para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com sequelas de queimaduras graves, um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avaliou o uso de matrizes dérmicas na cicatrização. Conduzido por pesquisadores na Unidade de Queimados do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP), o estudo examinou como esses produtos poderiam beneficiar os pacientes e apontou que tais materiais não contribuem para melhorar a qualidade dessas cicatrizes após cirurgias de correção.

“As cicatrizes desses pacientes fazem com que eles tenham limitações de movimentação ou impossibilitam que eles façam alguma atividade do dia a dia, e até mesmo a parte estética pode incomodar”, diz Ivan Almeida, primeiro autor do estudo, que recebeu menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2023 na categoria de Clínica Cirúrgica. O tratamento convencional envolve cirurgias para liberar retrações cicatriciais, o que, por sua vez, cria novas feridas.

O enxerto de pele é frequentemente usado para reconstruir essas feridas, mas nem sempre oferece resultados ideais. Esse procedimento pode ser combinado com o uso de matrizes dérmicas, produto que gera uma derme artificial que serve como base para a aplicação do enxerto. “O nosso estudo objetivou avaliar produtos que poderiam fazer com que o paciente tivesse uma melhor qualidade de cicatrização, para ele ter uma melhor qualidade de vida após a cirurgia de correção cicatricial”, explica o pesquisador.

O estudo randomizado avaliou três marcas de matrizes de regeneração dérmica em cicatrizes, de diferentes partes do corpo dos pacientes, em comparação com o grupo controle, que utilizou apenas enxerto de pele. Os pesquisadores mediram a qualidade da cicatrização por meio de avaliações subjetivas e objetivas.

Da análise subjetiva, um avaliador, através da Escala de Cicatrização de Vancouver — ferramenta da área da saúde que dá nota para as qualidades de pigmentação, vascularização, flexibilidade e alturas das cicatrizes —, mediu os resultados da cicatrização pós-procedimento. Das análises objetivas, foram usados aparelhos para avaliar capacidades biomecânicas, como a elasticidade (chamado cutômetro) e rigidez das cicatrizes (denominado durômetro).

“Para a nossa surpresa, não houve uma diferença estatisticamente significativa entre os pacientes que utilizaram as matrizes e os pacientes que usaram somente o enxerto de pele”, constata Almeida.

Esse resultado destaca a importância de abordar a eficácia de produtos médicos caros em um contexto de sistema de saúde pública, já que as matrizes dérmicas são oferecidas pelo SUS. O valor médio do material pelo sistema público é de R$ 50 por centímetro quadrado. Uma matriz de 5cm x 5cm, que tem 25cm quadrados de área, por exemplo, custa cerca de R$ 1.250. Na medicina privada, esse valor costuma ser maior. Embora esses produtos possam ser benéficos em alguns cenários, o estudo demonstrou que, para avaliar a qualidade da cicatrização nos parâmetros específicos citados, eles não apresentaram benefícios significativos.

 

Na imagem superior, análise feita com o durômetro e, na inferior, com cutômetro – Imagem: Cedida pelos pesquisadores

Descobertas como essa ajudam os médicos a tomar decisões informadas sobre o tratamento de pacientes com sequelas de queimaduras, considerando fatores como custo e eficácia. “Esses produtos são muito bem indicados e nos ajudam muito em casos complexos, mas o que mostramos nesse trabalho é que, especificamente para isso, não teve diferença.”

Pedro Coltro, professor da Divisão de Cirurgia Plástica da FMRP e orientador do trabalho, chama a atenção para a metodologia do estudo, que foi realizado com um grupo de pessoas em que cada uma apresentava a cicatriz em diferentes áreas do corpo. “É necessário avaliar quanto essas matrizes são benéficas de acordo com cada área, porque em algumas regiões verificamos uma resposta melhor, enquanto que em outras isso não foi identificado. Ao final, a comparação de todas as cicatrizes nos diferentes grupos não apresentou diferença significativa”, diz.

Apesar das variações entre os pacientes, o estudo ainda é forte e é o primeiro ensaio clínico que avaliou a qualidade de cicatrizes resultantes das cirurgias de correção de sequelas de queimaduras. “A vantagem é que este é um ensaio clínico randomizado e controlado, de alto nível de evidência. Nossos resultados não corroboram os benefícios que a indústria propaga como verdade, mas que para esse grupo específico de pacientes, nesses parâmetros analisados, não mostrou todas essas vantagens que a indústria coloca”, aponta Coltro.

O trabalho foi publicado em artigo disponível no Annals of Surgery.

Mais informações: e-mail psc@usp.br, com Pedro Coltro

*Estagiária sob orientação de Fabiana Mariz

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

O primeiro transplante de olho do mundo

Cirurgiões de Nova York realizaram o primeiro transplante de olho do mundo. Antes desse procedimento pioneiro, os médicos haviam se concentrado apenas em transplantes de córnea – a camada frontal transparente do olho. Mario Luiz Monteiro, médico do Departamento de Neuroftalmologia da Faculdade de Medicina da USP, explica o avanço realizado pelos médicos.

O procedimento 

O paciente sofreu um choque elétrico grave e o objetivo da equipe era preencher o olho e realizar uma reconstrução facial. De acordo com Monteiro, cirurgiões plásticos já realizavam transplantes faciais há algum tempo, até nas regiões subcutâneas. A vantagem desse procedimento é que a nutrição preexistente da face permite que os novos enxertos recebam uma irrigação.

Entretanto, o órgão da visão é mais complicado que a pele. “O olho, além de enxergar, precisa formar a imagem focada na retina e transmitir essa imagem para o cérebro. Mas ele precisa de irrigação para que esteja vivo. Ou seja, a retina precisa de sangue para se manter viva; é como o Sistema Nervoso Central, se fica sem sangue por alguns minutos, ela morre”, explica Monteiro. Além disso, o médico ainda comenta que a parte anterior do olho também precisa de sangue para que produza o humor aquoso, responsável por manter a tonicidade do órgão.

Monteiro ressalta que o transplante realizado não foi apenas do órgão ocular: os profissionais também transplantaram parte da face e os tecidos que envolvem o olho – a órbita. “Com isso, eles levaram todas as estruturas, e o que fizeram de inovador foi provar que conseguem manter o olho viável; ou seja, separaram uma artéria da têmpora do paciente e antes que encaixassem o enxerto no receptor, eles ligaram essa artéria temporal na artéria que nutre o olho”, aponta.

A artéria responsável pela nutrição do órgão, da retina e do nervo óptico está localizada no fundo da órbita e é chamada de artéria oftálmica. Quando o olho lesionado é retirado, perde-se a irrigação. Dessa forma, o médico explica que, no momento em que outro órgão fosse implantado, ele morreria. O pioneirismo do procedimento, portanto, está na novidade da ligação com a artéria da têmpora, o que manteve o olho nutrido e viável.

Segundo Monteiro, o olho transplantado funciona como uma prótese biológica, mas ainda não é capaz de formar e transmitir imagens. “A imagem é formada na retina e é transmitida pelo nervo óptico – que são fios que partem da retina e estão conectados ao cérebro”, discorre. No caso do paciente, esses fios não estão conectados, porque a tecnologia para realizar essa ligação ainda não está disponível.

Recuperação 

Existem outras linhas de pesquisa que buscam recuperar a visão de olhos cegos, como a inserção de eletrodos no córtex. “A parte posterior do cérebro é a parte que de fato enxerga. Então, você coloca os eletrodos, passa um fio no subcutâneo e coloca uma câmera, que se liga com o eletrodo debaixo da pele próximo à orelha. O estímulo visual que essa câmera capta vai direto para o eletrodo que está no cérebro”, exemplifica o médico. Esse procedimento, de acordo com Monteiro, diz respeito à resolução das questões motoras. Na parte visual, entretanto, a complexidade é imensa, por conta da quantidade de informações necessárias para produzir cores, contrastes e formas.

FONTE: Jornal da USP

Pacientes com doenças crônicas são desafio para saúde pública

O diagnóstico de duas ou mais doenças crônicas para uma mesma pessoa cresceu nos últimos 20 anos. O aumento dessa condição, conhecida como multimorbidade, acompanha o envelhecimento da população na cidade de São Paulo.

Em 2015, 42,2% da população paulistana com mais de 19 anos convivia com multimorbidade, de acordo com o levantamento do fisioterapeuta Ricardo Goes de Aguiar, doutor pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Em sua tese de doutorado ele apresenta estratégias para capacitar profissionais de saúde diante desses atendimentos.

São consideradas crônicas as condições de saúde de longa duração que geralmente progridem ao longo do tempo, como hipertensão, asma, artrite, hérnia de disco, depressão e outras. Por serem duradouras, requerem tratamento para controlar os sintomas e minimizar complicações.

Normalmente, as doenças crônicas são estudadas e tratadas isoladamente por especialistas. Porém, isso aumenta as chances de que a interação entre diferentes medicamentos provoque efeitos adversos.

“Apesar de esforços recentes na formação dos profissionais de saúde e em práticas mais integrais e humanizadas, os clínicos ainda trabalham com [foco em] condições específicas, historicamente. Com o envelhecimento da população, a tendência é que as pessoas acumulem doenças, e elas acabam sendo atendidas de forma fragmentada”, diz Ricardo de Aguiar ao Jornal da USP.

Nas unidades que adotam a Estratégia Saúde da Família, criada em 1994 e que se tornou prioritária na atenção primária do SUS em 2003, os profissionais podem indicar ao paciente uma consulta com os farmacêuticos das unidades básicas.

Em conversa com o Jornal da USP, a médica de família e comunidade Caroline do Nascimento, que atua em uma unidade básica no distrito do Jabaquara, zona Sul de São Paulo, conta que as equipes das unidades que adotam essa estratégia costumam se reunir para discutir os casos e compartilhar impressões de alguns pacientes específicos.

“Os farmacêuticos discutem o caso se identificarem alguma interação ou dose que pode ser prejudicial quando o paciente retira alguma medicação. Para pacientes com multimorbidade, isso acaba sendo rotineiro.”

No Inquérito de Saúde na Cidade de São Paulo (ISA Capital-SP) de 2015, cujos dados foram utilizados no estudo, foram feitas 3.184 entrevistas domiciliares aleatórias com pessoas com 20 anos ou mais.

Agentes Comunitários de Saúde na UBS Santo Estevão do bairro de Itaquera. As equipes multiprofissionais da Estratégia Saúde da Família discutem os casos e fazem a busca ativa dos pacientes – Foto: Cecília Bastos/Jornal da USP

“O ISA Capital entrevista maiores de 12 anos, mas como os estudos demonstram que a prevalência de multimorbidade em crianças e adolescentes é baixa, optamos por trabalhar com a população adulta e idosa no nosso estudo”, justifica o pesquisador.

Foram apresentadas para autodeclaração dos entrevistados condições como diabete, câncer, AVC, colesterol elevado. Entre as doenças cardiovasculares, constavam hipertensão, dor no peito, varizes e arritmia cardíaca. Das doenças respiratórias, eram listadas, entre outras, asma, enfisema, bronquite e sinusite. Na área ortopédica, as alternativas eram artrite; artrose; osteoporose, tendinite, lesão por esforço repetitivo e problemas de coluna. No âmbito da saúde mental, apareciam ansiedade, depressão, síndrome do pânico, TOC e esquizofrenia.

O pesquisador defende uma abordagem que extrapole os fatores biológicos das doenças. “A ideia dos estudiosos da multimorbidade é ver o indivíduo como um todo, tentando fazer um atendimento que considere desde a anatomia e a fisiologia até os determinantes sociais no indivíduo.”

A multimorbidade atingiu 42,2% da amostra estudada, de acordo com o que foi autodeclarado dentre 22 condições apresentadas aos entrevistados. Entre os idosos, esse índice é ainda maior.

Em São Paulo, sete entre cada dez pessoas com 60 anos ou mais têm multimorbidade.

Além de ocorrer mais entre pessoas mais velhas, a condição também é mais comum entre o sexo feminino, explica Ricardo de Aguiar. “O homem tem mais resistência em procurar o serviço de saúde. Então pode ser uma explicação para o maior porcentual de multimorbidade encontrada entre as mulheres.”

Outros grupos que apresentaram maior prevalência de multimorbidade na cidade foram os com maior renda familiar, com pelo menos o ensino superior incompleto, com obesidade (avaliada pelo Índice de Massa Corporal), que faziam o uso de cinco ou mais medicamentos, com transtornos mentais comuns (como depressão e ansiedade), com maiores despesas com saúde e com convênio médico. “Os indivíduos que têm plano de saúde provavelmente tiveram mais acesso a consultas médicas e, por isso, receberam diagnóstico de mais doenças”, avalia o pesquisador.

Identificando padrões frequentes

Além da prevalência, o estudo utilizou um método estatístico — a análise de classe latente — para identificar padrões de multimorbidades semelhantes mais frequentes. Dos entrevistados no ISA Capital-SP com mais de 19 anos, 15,9% apresentavam combinações de doenças cardiovasculares, como a hipertensão; 12,8% tinham mais doenças respiratórias, e outros 12,8% tinham condições reumatológicas, ortopédicas e emocionais combinadas.

Para o autor do estudo, isso é importante porque são milhares de combinações possíveis entre as 22 condições de saúde investigadas. “O conhecimento de grupos de indivíduos com necessidades semelhantes pode favorecer a elaboração de diretrizes clínicas, considerando que ficaria inviável formular especificamente para cada uma das milhares de combinações possíveis de condições de saúde. Portanto, uma linha de pesquisa é tentar identificar esses padrões de multimorbidade.”

Na unidade de Caroline do Nascimento, a estratégia de cuidado em grupo é uma solução vantajosa, já que o tempo das consultas individuais precisa ser mais limitado para viabilizar o atendimento para o grande número de pacientes do bairro. “Nós temos o grupo de dor crônica e os grupos de práticas corporais. É uma estratégia também de convivência para o paciente com outras pessoas que têm condições semelhantes. Muitos deles ficam muito tempo em casa, sem ter uma atividade na rotina, principalmente idosos e aposentados, então acabam ficando mais isolados. Então a ida à unidade para fazer parte dos grupos é uma parte do cuidado muito importante.”

Como centro de formação e de oferta de serviços de saúde de excelência, o município de São Paulo pode estimular uma educação permanente com a elaboração de diretrizes clínicas para esses casos. Esses dados permitem pensar em diretrizes para mais de 40% da população da cidade, em vez das inúmeras possibilidades caso as doenças fossem trabalhadas em pares ou em trios.

De acordo com o pesquisador, é preciso ver o indivíduo como um todo e considerar as vivências e as expectativas com o tratamento.  As unidades de atenção básica interdisciplinares estão previstas no Sistema Único de Saúde (SUS).

“A legislação e a normatização permitiriam uma maior resolutividade dos problemas já existentes. A questão é se os profissionais estão chegando aos serviços preparados para atuar dessa forma interdisciplinar”

Atualmente, as Equipes Multiprofissionais da Atenção Básica (eMulti) envolvem, além de médicos, assistentes sociais, profissionais de educação física, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, arte-educadores, nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Esses grupos levam em consideração as limitações da população mais velha e com multimorbidade, e integram diferentes terapias.

Caroline do Nascimento conta que esses profissionais contribuem muito para o cuidado desses pacientes. “Nós não pensamos nunca nesse cuidado centrado no médico. Sempre pensamos no trabalho em equipe.”

Esses diferentes profissionais dão suporte às unidades de atenção básica que adotam a Estratégia Saúde da Família. “A ideia é trabalhar com médicos generalistas e com equipes multiprofissionais, de forma interdisciplinar e com reuniões que discutam os casos”, explica Ricardo.

Essas equipes foram criadas pelo governo federal em 2008 como Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), mas o financiamento foi interrompido em 2020, durante o governo Bolsonaro. Em maio de 2023, o serviço voltou com mais especialidades médicas e recebeu o novo nome de eMulti.

Segundo a médica, a grande vantagem na estratégia é estar próximo das pessoas. “Nós também temos esse vínculo com a população por meio das agentes comunitárias de saúde, que é uma função fundamental quando precisamos fazer busca ativa de pacientes que não estão vindo ou quando precisamos programar visitas domiciliares.”

Os dados da tese Multimorbidade no município de São Paulo (SP): prevalência, padrões e fatores associados também foram discutidos em artigo na revista Ciência & Saúde Coletiva.

Mais informações: e-mail ricardo.aguiar@unifal-mg.edu.br, com Ricardo Goes de Aguiar

*Estagiário sob orientação de Luiza Caires

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Comer em família faz bem para a saúde

Reunir a família em torno da mesa para compartilhar refeições, seja em ocasiões especiais ou no cotidiano, não apenas fortalece os laços familiares, mas também pode ter impactos positivos na saúde. A comensalidade, entendida como a prática de “comer coletivamente” ou “comer junto”, é uma dimensão humana fundamental.

Esse hábito remonta à pré-história, quando hominídeos se reuniam ao redor de fogueiras para compartilhar alimentos. A própria palavra “comensalidade” tem origem em mensa, termo em latim que significa mesa. Portanto, ao falar de comensalidade, referimo-nos à interação social durante as refeições, envolvendo o compartilhamento daquilo que é consumido. Esse convívio à mesa representa uma característica intrinsecamente humana de interação e integração na sociedade.

Para Patrícia Jaime, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP e coordenadora acadêmica da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, “a ideia de comensalidade é importante porque ela traz um aspecto crucial da alimentação, que é o como comemos. É comum falarmos sobre o que comemos, mas temos dado pouca atenção aos modos de comer”.

Guia Alimentar para a População Brasileira destaca-se ao abordar esse tema de maneira pioneira. Ele apresenta três orientações fundamentais: comer com regularidade e atenção, escolher ambientes apropriados e compartilhar as refeições em companhia — todas interligadas ao conceito de comensalidade.

Convívio e saúde

Na atualidade, é bastante frequente a presença de distrações durante as refeições, como televisores e celulares, quando há tempo para uma refeição adequada. É comum consumir alimentos rapidamente diante de uma tela, sem dedicar a devida atenção ao que estamos ingerindo ou às pessoas ao nosso redor.

Para Patrícia, esse modo de comer pode acarretar consequências negativas para a saúde. “As ramificações dessas transformações são diversas. Ao ingerirmos rapidamente, corremos o risco de consumir mais do que o necessário, uma vez que o organismo leva um tempo para nos proporcionar a sensação de saciedade. Além disso, a mastigação reduzida dificulta a digestão”, destaca a professora.

Segundo a nutricionista, compartilhar a refeição pode ter um impacto significativo no cotidiano de uma pessoa. “Comer diante da TV, escolhendo alimentos de fácil consumo no sofá, é completamente distinto de quando nos alimentamos em companhia, à mesa, de preferência após preparar a receita com um parceiro ou com a família”, explica.

*Estagiário sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo

FONTE: Jornal da USP

Desafios do Sono no Brasil: Impacto, Causas e Alternativas

Cerca de 73 milhões de brasileiros enfrentam distúrbios do sono, revelam estudos da Associação Brasileira do Sono (ABS). Apesar de sua prevalência, especialistas destacam um aumento nas últimas décadas, influenciado por fatores como idade, gênero e posição socioeconômica.

Insônia e suas Origens

A insônia, marcada pela dificuldade em manter o sono contínuo e pela latência aumentada, afeta o bem-estar diário. Dra. Rosa Hasan, do Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, aponta que as doenças mentais, especialmente depressão e ansiedade, são as principais causas.

Origens e Impactos na Vida Cotidiana

A insônia, muitas vezes sintoma inicial, pode se tornar crônica, impactando negativamente o desempenho acadêmico, profissional e a saúde cardiovascular. Jovens, devido ao uso excessivo de redes sociais, agora estão mais propensos a esse problema.

Uso de Medicamentos e Alertas Médicos

O Zolpidem, amplamente usado para tratar insônia, apresenta riscos de dependência. Dra. Rosa destaca o aumento do uso de medicamentos e adverte contra a automedicação, enfatizando a necessidade de receitas individualizadas.

Tratamentos Alternativos e Abordagem Individualizada

Apesar do aumento do uso de medicamentos, o tratamento padrão envolve terapias psicológicas e comportamentais. Dra. Rosa propõe uma abordagem mais controlada para medicamentos, promovendo conscientização sobre seu uso cauteloso.

Conclusão

Enfrentar os desafios do sono no Brasil requer uma compreensão profunda das causas e a promoção de abordagens individualizadas. Conscientizar o público sobre os riscos associados ao uso indiscriminado de medicamentos é fundamental para uma gestão eficaz desse problema crescente.

FONTE: Jornal da USP

Micoses endêmicas: descobertas podem ajudar na formulação de tratamentos

As infecções fúngicas, mais conhecidas como micoses, afetam milhares de brasileiros todos os anos: em 2016, estimava-se que mais de 3,8 milhões de pessoas sofriam de alguma forma grave da doença, segundo um estudo realizado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Embora sejam comuns, as micoses são consideradas negligenciadas no âmbito da saúde pública, seja por conta da subnotificação de casos, seja pela ausência de tratamentos eficientes e medidas terapêuticas. Para mudar esse cenário, uma pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP investigou a elaboração de novas abordagens vacinais e terapêuticas para o combate a micoses endêmicas, por meio da análise de diferentes espécies de fungos. O trabalho recebeu o Prêmio Capes de Tese.

As infecções endêmicas são aquelas com maior prevalência em determinadas partes do mundo. As analisadas na pesquisa são a histoplasmose, causada pelo fungo Histoplasma capsulatum, e a esporotricose, causada pelo Sporothrix brasiliensis, que têm registros de aparição consideráveis no Brasil. O Histoplasma foi utilizado no avanço dos conhecimentos para a formulação de uma possível vacina antifúngica que serviria para diferentes tipos de micose. Já o Sporothrix foi usado na análise da resposta do sistema imunológico a sua infecção.

“As estratégias que nós desenvolvemos podem ser aliadas aos tratamentos antifúngicos que já temos disponíveis no mercado para diminuir a dosagem dos fármacos e assim tentar desenvolver uma terapia personalizada que possa garantir um maior sucesso no tratamento do paciente” explica ao Jornal da USP Brenda Kischkel, doutora pelo ICB e responsável pela pesquisa.

Uma vacina, vários fungos

Por apresentarem células eucarióticas – aquelas que possuem seu material genético envolvido por um núcleo – similares às humanas, a pesquisadora destaca o desafio na elaboração de uma vacina antifúngica. “Os componentes das células do fungo acabam tendo uma certa correspondência com as humanas. Então, se a vacina for desenvolvida a partir de uma proteína inteira de um fungo, existe uma chance muito alta dessa ser semelhante com as humanas, o que causaria uma reação alérgica numa pessoa”, diz. Por esse motivo, uma vacina peptídica, que utiliza peptídeos (fragmentos de proteína), foi escolhida para ser formulada.

A imunidade pode ser dividida em dois campos: a inata, que é a linha de frente contra infecções e já se faz presente a partir do momento do nascimento, e a adquirida, que retém a memória de um invasor em particular e se desenvolve para um ataque mais eficaz no futuro. As vacinas trabalham a partir da imunidade adquirida.

Para desenvolvê-la, o fungo Histoplasma capsulatum foi dado a uma célula dendrítica, um leucócito do sistema imunológico inato, que o ingere por fagocitose. A célula digere o invasor e acaba apresentando pedaços de proteína em sua superfície, que se encaixa perfeitamente em um receptor de uma célula T – glóbulos brancos envolvidos na imunidade adquirida. “Ela [célula T] vai reconhecer esses fragmentos e vai ser ativada, sofrendo uma expansão colonial para lutar contra esse patógeno”, explica Kischkel.

Então, com a utilização de ferramentas de bioinformática, os pesquisadores colocaram a célula dendrítica infectada em cultura, para assim realizar uma triagem de potenciais peptídeos que poderiam ser utilizados na concepção do imunizante. “A partir dessa análise nós descobrimos que determinados peptídeos eram iguais em mais de uma espécie de fungo, o que poderia resultar no desenvolvimento de uma vacina que não fosse apenas para o Histoplasma, mas que funcionasse também para outras quatro espécies. Ou seja, uma potencial vacina panfúngica”, coloca a pesquisadora.

Além disso, de acordo com o professor Carlos Taborda, do ICB, o orientador da pesquisa, a vacina iria modelar a imunidade para treinar a defesa do corpo contra esses invasores, podendo auxiliar tanto na redução do tempo de tratamento quanto no impedimento de uma reinfecção. “A análise dos potenciais antígenos vacinais que atuam como indutores favoráveis à resposta imune agrega um conhecimento que é importantíssimo para qualquer desenvolvimento de medicamento ou imunizante”, explica. O estudo não chegou a contemplar a fórmula completa para a vacina, porém, as pesquisas avançam no Departamento de Microbiologia do ICB.

Histoplasma capsulatum é responsável pela transmissão da histoplasmose. A doença pode ser contraída a partir da respiração de partículas do fungo presentes na natureza – em cavernas habitadas por morcegos ou durante o manuseio do solo, por exemplo. Os sintomas clínicos variam, indo desde infecções assintomáticas até casos graves que afetam especialmente pacientes imunossuprimidos.

A infecção tem impacto no sistema pulmonar e se manifesta com sintomas como febre, tosse, dores de cabeça e musculares, além de dificuldades em respirar. A histoplasmose é atualmente considerada uma das micoses sistêmicas (aquelas que têm como porta de entrada o trato respiratório) mais significativas nas Américas, com uma ampla ocorrência em todas as regiões do Brasil.

Resposta inflamatória da esporotricose

A resposta do sistema imunológico à infecção por Sporothrix brasiliensis também foi explorada pelos pesquisadores. O fungo é conhecido por transmitir a esporotricose, uma micose subcutânea que causa feridas que se assemelham a picadas de inseto na pele. A principal via de infecção é o contato do fungo com feridas, muitas vezes desencadeadas por lesões provocadas por espinhos, palha ou fragmentos de madeira. A transmissão também pode ocorrer por meio de arranhões ou mordidas de animais contaminados.

Foi revelado que as feridas causadas pela destruição do tecido pelo fungo representam uma ação inflamatória exacerbada do corpo humano. Existe uma estimulação da produção de citocinas, mais precisamente as intituladas interleucinas 1, ou “IL1”, que são proteínas produzidas pelas células de defesa do organismo cuja função é acirrar o processo de destruição do patógeno. “Quando observamos o tecido da pessoa sendo destruído durante uma infecção fúngica, muitas vezes não é o fungo o responsável. Na verdade, aquela é uma reação exacerbada do próprio hospedeiro tentando se defender contra o fungo. E se essas citocinas vão sendo produzidas, elas acabam estimulando a fabricação de mais citocinas, desencadeando um loop”, explica Kischkel. Com essa descoberta, os pesquisadores constataram que um medicamento que iniba tal citocina na pele seria vantajoso para o tratamento desta micose.

S. brasiliensis pode se disseminar diretamente de um animal infectado para uma pessoa ou para outros animais e deixá-los doentes com esporotricose – Imagem: Divulgação/CDC

Atualmente, o Brasil passa por uma explosão de casos de esporotricose. De acordo com o Ministério da Saúde, o Estado do Rio de Janeiro apresentou um aumento significativo de registros da doença: de 579 ocorrências em 2013, o número disparou para 1.518 em 2022.

Doença negligenciada

“As infecções fúngicas são doenças negligenciadas e de baixa visibilidade. Existe falta de recursos para estudos clínicos e estudos porque elas atingem principalmente pessoas em vulnerabilidade e sem acesso a determinados medicamentos”, coloca Taborda. Os fungos podem ser encontrados em ambientes úmidos e com presença de vegetação, o que coloca populações em áreas rurais e moradias precárias no principal grupo de risco dessas infecções. Além disso, as micoses também podem representar uma ameaça a pacientes com algum grau de imunossupressão. A partir disso, os pesquisadores reforçam a importância de iniciativas que pesquisem alternativas para o tratamento de micoses endêmicas.

A tese de doutorado Explorando as vias de inflamação em infecções fúngicas endêmicas e potenciais novas estratégias de tratamento, de Brenda Kischkel, realizada sob orientação do professor Carlos Taborda, foi ganhadora do Prêmio Capes de Tese na categoria de Ciências Biológicas III. É possível encontrar o trabalho no banco de teses da USP.

Mais informações: e-mail brendakischkel@gmail.com, com Brenda Kischkel; e-mail taborda@usp.br com Carlos Taborda

*Estagiária sob orientação de Fabiana Mariz

**Estagiária sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Frustrações podem causar traumas e alterar o funcionamento do cérebro

É comum, durante a vida, as pessoas se sentirem frustradas em diversas situações que fogem do controle ou não saem como o esperado. Desde a infância, a frustração é um sentimento exposto, mas você já parou para pensar como o cérebro lida com essa sensação? Quais são seus mecanismos de defesa ou como o indivíduo passa a se portar depois de uma experiência frustrante? Em muitos casos, a situação tende a se voltar para o desânimo e a impotência.

Para a estudante de Publicidade e Propaganda Sofia Essado, de 20 anos, foi exatamente o que aconteceu quando descobriu que não conseguiu passar na prova para habilitação de motorista. Segundo ela, foi um momento de muita convicção de que seria aprovada, porém, a experiência acabou sendo frustrante mais de uma vez. “Eu acreditava que realmente ia passar. Meu examinador também me deixou completamente frustrada, agindo de uma forma como se eu realmente não conseguisse. Depois que eu desci do carro pensei: ‘eu nunca mais vou dirigir, pelo resto da minha vida’.”

Após a experiência, Sofia desenvolveu medo e insegurança de andar de carro. Com o tempo, foi superando e tentou mais uma vez tirar a habilitação, um ano depois. “E de novo foi extremamente frustrante, extremamente desesperador. Era uma ansiedade andar no carro com uma pessoa no banco do passageiro, não me sentia confortável”, relata.

Além disso, para a estudante o problema se estende até quando outras pessoas estão dirigindo. “Se eu ando com uma pessoa que eu não estou acostumada, são várias emoções, vários sentimentos, eu começo a suar e ficar nervosa, acho que o carro vai bater mesmo não estando nem perto de outro carro”, finaliza. Apesar do trauma, Sofia fará mais uma tentativa.

Após vivenciar uma experiência muito frustrante, como aconteceu com Sofia, a tendência é que ocorra um trauma que altere o funcionamento do cérebro e, consequentemente, que apareça a ansiedade, depressão ou até mesmo alguma forma de estímulo ao comportamento agressivo, como explica o professor de Psicologia Sérgio Kodato da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Segundo ele, os circuitos neuronais da violência, do medo e do pânico são acionados e a pessoa entra em um período de luto ou pode entrar em um estado de melancolia, com pensamentos fixos e obsessivos no objeto perdido. “A tendência do cérebro diante de uma grande frustração é alterar seu funcionamento, de modo a poder enfrentar ou se acomodar a essa frustração”, explica Kodato.

Dor psicológica

Além disso, a psiquiatra Rebeca Pessoa, mestre e atualmente doutoranda no Programa de Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, diz que a frustração pode ser considerada um tipo de dor e que há estudos que trazem semelhança com a dor física. “É como se a frustração fosse uma dor psicológica. Os estudos científicos, ao abordarem a frustração, citam como desencadeantes fatos relevantes, como, por exemplo, o luto de um familiar, o término de um relacionamento, uma situação de desemprego ou até mesmo uma situação de aposentadoria”, indica.

Além das situações emocionais associadas à frustração grave citadas por Kodato, com o aumento do risco de alguns transtornos como a depressão, transtornos ansiosos e transtornos relacionados ao estresse, Rebeca lista outras consequências. “Estudos relatam que a dor psicológica a longo prazo pode cursar com imunossupressão, alterações em padrão de sono e desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal”, pontua.

Lidando com a frustração

Segundo Kodato, as estratégias cognitivas ou comportamentais para lidar com a frustração têm a ver com o desenvolvimento da chamada plasticidade, flexibilidade emocional. “O cérebro precisa ser capaz de reconfigurar e ressignificar suas emoções, sentimentos e seus pensamentos para enfrentar as adversidades. É preciso certo desenvolvimento das competências emocionais como perseverança, empatia, intuição, resiliência, gentileza, generosidade, paciência, otimismo, fé, foco, coragem, perdão e gratidão”, enumera.

Somado a isso, ele afirma que a arteterapia procura a expressão dos conflitos e traumas psíquicos, quando se entende que a expressão dos conflitos é o primeiro passo para sua superação. Esse tipo de terapia também busca o desenvolvimento dos potenciais e da criatividade. “Desenvolvendo a criatividade é que podemos ensinar a pessoa a enfrentar os velhos problemas e as pequenas ou grandes frustrações”, finaliza Kodato.

*Sob supervisão de Ferraz Júnior

FONTE: Jornal da USP

Você sabe qual é a especialidade de um médico hebiatra?

Hebiatra é o médico especialista em adolescentes, a hebiatria é fundamental para acompanhar mudanças não apenas físicas, mas também psicológicas, entre os jovens de 10 aos 20 anos.

Muito novo para o clínico geral e muito velho para o pediatra. Essa é a realidade do adolescente, que vive uma complexa fase não apenas social, psicológica e fisiologicamente, mas também no sistema de saúde. É para isso que existe a hebiatria, um ramo da pediatria que ganhou força nos Estados Unidos a partir da década de 1950, mas foi reconhecido pela Associação Médica Brasileira (AMB) apenas em 1998. E embora 25 anos seja bastante tempo para a formação de novos hebiatras, a realidade é diferente. Segundo o jornal Estado de Minas, são apenas 200 médicos que atuam neste ramo em todo o Brasil, o que evidencia uma lacuna dos 10 aos 20 anos, faixa etária que representa aproximadamente 15,5% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que significa cerca de 31,5 milhões de pessoas.

Formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o médico pediatra Luiz Roberto Verri de Barros, que atende na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Lobato, em Ribeirão Preto, explica: “Hoje em dia, a gente forma o pediatra com noções, ele pode acompanhar a hebiatria tranquilamente. Mas existem os hebiatras. Tem uma colega de turma, formada há 40 anos, que atua na área. Ela se coloca no atendimento ao público em hebiatria mesmo”.

Por outro lado, Verri enxerga um panorama de crescimento no número desses médicos em um futuro próximo. “Agora a gente tem formado (hebiatras). Mesmo os pediatras antigos, como eu, começaram a ter instruções a esse respeito para trabalhar também com a hebiatria. Inclusive, a gente trabalha aqui na UBS nas terças e quintas pela manhã e nas sextas à tarde”, informa.

Embora o número de profissionais que trabalha exclusivamente com adolescentes tenha uma projeção de crescimento para os próximos anos, muitas pessoas sequer sabem da existência desse tipo de médico. Essa questão também tende a mudar, na visão do pediatra, por conta da visão mais atenta que as famílias têm dado a temas como saúde mental e adolescência como um todo.

O hebiatra pede mais espaço

“É necessário que (os adolescentes) tenham seguimento nessa área. Estimular para que eles venham para a consulta, porque a adolescência ficou uma faixa de idade meio sem dono, vamos dizer assim. Para o clínico era muito novo, para o pediatra era muito velho, e os problemas dessa idade são bem específicos. Envolve mudanças no comportamento, envolve situações de ansiedade e depressão”, alerta.

Verri acrescenta que essa é uma faixa etária que precisa de muita atenção sobre os recursos que o jovem adquire para se desenvolver de maneira saudável. Ele cita, ainda, questões recorrentes que envolvem o aspecto psicossocial. “São problemas em relação ao convívio na sociedade, ao convívio familiar, essas mudanças que vão acontecendo, o luto da infância, porque deixa de ser criança e passa a ter uma mente mais elaborada, procurar uma religião, procurar um grupo para se manifestar.”

O especialista também lembra que é nessa fase da vida que começam os namoros e “o desenvolvimento sexual, toda essa parte que precisa de alguém para fazer os aconselhamentos, orientar, negociar com eles uma situação mais tranquila da vida”.

Campanhas de conscientização

Verri finaliza ao ressaltar a importância das campanhas de conscientização sobre diversos problemas. Um dos mais conhecidos entre a população jovem é o Setembro Amarelo, um programa de prevenção ao suicídio criado em 2015. Mas vale destacar que existem outros movimentos do tipo e que os adolescentes “justamente entram em todos, não precisa ser só da adolescência, mas a questão do tabagismo, a questão da obesidade, prevenção do câncer. Toda essa parte o adolescente está sujeito a ter acesso a informações para se prevenir”.

*Estagiário sob orientação de Ferraz Junior

FONTE: Jornal da USP

Fatos interessantes sobre os rins

Seus rins são responsáveis por diversas funções para manter seu organismo saudável. Com isso, no mês em que comemoramos o dia Mundial do Rim, preparamos para vocês fatos interessantes para mostrar o quanto o trabalho desses órgãos vitais é essencial para mantê-lo sadio!

A maioria das pessoas tem dois rins

Com formato semelhante ao de um feijão, cada rim pesa cerca de 150g e apresenta o tamanho de um punho fechado. Embora a maioria das pessoas tenha dois rins, se você tem apenas um rim ou um rim funcionando, você pode ter uma vida saudável com apenas um rim, com a necessidade de seguir cuidados mais rigorosos ao cuidar de sua saúde renal.

Eles são os órgãos que mais trabalham no seu corpo

Seus rins podem ser pequenos, mas trabalham bastante! Os rins são responsáveis por remover resíduos e excesso de líquido do corpo, filtrando-os do sangue. Seus rins filtram cerca de 180 litros de sangue durante um determinado dia!

Eles regulam o teor de sal do seu corpo

Além de filtrar os resíduos do sangue, os rins também ajudam a regular os níveis de sódio do seu organismo. É importante ter em mente que, embora o sal seja essencial para o bom funcionamento do seu corpo, quantidades excessivas podem ser prejudiciais ao seu corpo, levando a doenças cardíacas, derrames e até insuficiência renal.

Os rins produzem hormônios que promovem a produção de glóbulos vermelhos

Eles ajudam a produzir os glóbulos vermelhos, conhecidas também como hemácias, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio pelo corpo.

Os néfrons são as unidades de filtragem do rim

Cada rim é composto por cerca de 1 milhão de néfrons e cada néfron é uma unidade de filtragem do rim. Esticados de ponta a ponta, eles têm cerca de 8 quilômetros de comprimento. Ao atingir os 40 anos de idade, 1% dos néfrons começam a degenerar a cada ano.

Beber água em excesso pode ser ruim para os rins

Manter-se hidratado ajuda a manter os rins em bom funcionamento, por outro lado, o excesso de água pode ser ruim para os rins. Isso pode causar uma condição chamada hiponatremia, que ocorre quando o sódio no sangue se dilui porque os rins não conseguem eliminar o líquido com rapidez suficiente. Essa condição é incomum, mas pode ocorrer entre atletas que se esforçam demais e bebem água extra para compensar.

Este material é destinado para fins informativos e não substitui o aconselhamento ou tratamento médico. Consulte o seu médico sobre o seu diagnóstico específico, tratamento, dieta e questões de saúde.

Autores: Paula Felicio e Cinthia Montenegro.

Referência:

FONTE: Blog FazBem