Demência pode afetar psicologicamente todo o núcleo familiar de um paciente

A demência é classificada como uma síndrome que causa, entre diferentes ocorrências, o prejuízo da memória, problemas de comportamento e perda de habilidades. Essas características podem avançar em diferentes níveis e apresentam-se de formas diversas em cada um dos pacientes.

Atualmente, cerca de 57 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com algum tipo de demência e existem pesquisas que estipulam que esse número triplique até 2050 em decorrência do avanço do envelhecimento populacional. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde, a síndrome costuma afetar mais mulheres que homens.

Quando os portadores de demência começam a adoecer, é comum que os familiares passem a acompanhar esses indivíduos, já que a necessidade de ajuda para a realização de atividades comuns passa a fazer parte da rotina da maioria dessas pessoas. Considerando esse cenário, é interessante notar que, na maioria dos casos, a família também passa a ter novas necessidades e o auxílio psicológico parece ser essencial para a compreensão de sentimentos e emoções que envolvem esse processo.

Família

Katia Cherix, doutora em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da USP, considera o apoio psicológico para pessoas diagnosticadas com Alzheimer e seus familiares essencial. O psicólogo deve passar a auxiliar esses indivíduos desde o momento do diagnóstico, contudo, algumas famílias passam por um processo de negação após o aparecimento dos primeiros sintomas, evitando até mesmo levar o paciente ao médico geriatra.

“No momento do diagnóstico, um acompanhamento psicológico pode ajudar a família a melhor compreender os sintomas da doença e cuidar do doente sem se estressar”, explica Katia. Ela também adiciona que o psicólogo auxilia esses indivíduos a atravessarem o “luto branco”, ou seja, com o avanço da doença, o cuidador passa por um processo delicado ao sentir que o seu familiar está passando por uma transformação.

É interessante notar que esse profissional pode também auxiliar o familiar a entender emoções contraditórias, como o medo de perder a pessoa que ama e a aceitação de mudança desse indivíduo ou o cansaço pelo cuidado diário e alívio de poder retribuir o cuidado que foi recebido anteriormente.

Além desses fatores, nota-se que os cuidadores passam por outras dificuldades durante esse processo, sendo uma das primeiras o empecilho financeiro. “Com o aumento da dependência ligada à progressão da doença, o sistema de cuidadores 24 horas terá que ser colocado em prática”, comenta a especialista. Em alguns casos em que a demência apresenta maior avanço, o familiar terá que escolher uma instituição especializada para oferecer maior qualidade de vida ao paciente. É nesse momento que muitos cuidadores passam a procurar o cuidado psicológico, buscando entender a institucionalização do idoso como um ato de cuidado, não abandono.

A sobrecarga de trabalho é outro fator que afeta diretamente os familiares, uma vez que cuidar de um paciente significa também cuidar de sua casa, alimentação, roupas, entre outras preocupações do dia a dia. Katia explica que esse fator implica mais trabalho e cansaço e menos trabalho para cuidar de si mesmo, assim, muitos cuidadores experimentam um burnout, ou seja, o resultado de um acúmulo de estresse que pode levar à depressão, insônia e irritabilidade.

Por fim, observa-se que o acompanhamento psicológico é essencial para os próprios pacientes, já que, na fase inicial, o profissional pode auxiliar na compreensão da doença, no aprendizado para lidar com os sintomas e no controle emocional da sensação de tristeza. Segundo a especialista, “o paciente também pode ser acompanhado por uma neuropsicóloga que proponha atividades e exercícios para manter as capacidades cognitivas por mais tempo”.

A demência

Apesar de ser uma síndrome comum, algumas dúvidas sobre a demência se apresentam de forma frequente. O professor Ricardo Nitrini, coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que os principais fatores para o desenvolvimento dessa condição estão associados ao envelhecimento e ao fator genético. Sendo interessante notar que alguns fatores ambientais também apresentam influência nesse processo, como a existência de doença cerebrovascular, hipertensão arterial e diabete.

Nitrini explica que, para evitar o desenvolvimento de demência, é importante que o indivíduo se esforce para manter uma vida saudável. “É muito importante ter atividade física e o controle geral de uma saúde adequada, com uma alimentação saudável, por exemplo. Também é interessante o indivíduo se manter ativo intelectualmente, lendo, estudando e fazendo outras atividades”, aconselha o especialista.

FONTE: Jornal da USP

Terapia com laser é alternativa para tratamento de zumbido do ouvido

A terapia com laser pode ser mais uma alternativa para tratar o zumbido do ouvido, aponta pesquisa do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, com participação do Tyndall National Institute, na Irlanda. Em experimentos realizados com pacientes voluntários, a aplicação do laser na orelha interna modulou a inflamação e ampliou a irrigação sanguínea dos tecidos, reduzindo o zumbido. Os resultados do trabalho sugerem que a laserterapia atuaria como um tratamento complementar ou alternativo, pois como o zumbido é desencadeado por múltiplos fatores, não possui uma terapia específica, variando conforme a condição do paciente.

As conclusões do estudo são detalhadas em artigo publicado na edição de março da revista científica Journal of Personalized Medicine. O zumbido é um problema no labirinto (orelha interna) que pode ser causado por diversos fatores, como insuficiência da circulação sanguínea originada por embolia, hemorragia, diabetes mellitus, hipertensão arterial e distúrbios musculares. “Atualmente, ele é tratado com medicamentos e aparelhos que recobrem as superfícies de mastigação dos dentes para relaxamento muscular e de ligamentos”, declara ao Jornal da USP o pesquisador do IFSC, Vitor Hugo Panhóca, um dos autores do trabalho.

Participaram do estudo 100 voluntários, divididos em subgrupos, onde cada um deles recebeu, durante oito sessões, um tratamento específico: flunarizina (medicamento indicado para zumbido), ginkgo biloba (fitoterápico indicado para o mesmo fim), laser conjugado com ultrassom, com vacuoterapia e combinado com acupuntura (laserpuntura). “O laser é usado para aplicar luz no ouvido interno do paciente com efeito de modulação inflamatória e aumento de irrigação periférica dos tecidos do órgão e ao seu redor, de maneira a eliminar o sintoma”, explica o pesquisador.

Efeito anti-inflamatório

Panhóca aponta que os melhores resultados do estudo foram obtidos com a aplicação de laser dentro da orelha interna. “Com ela, atingiu-se um efeito anti-inflamatório e de relaxamento”, ressalta. “Acreditamos que esses efeitos também podem aumentar a irrigação periférica, obtendo dessa forma resultados ainda maiores na luta contra o zumbido no ouvido.”

De acordo com o pesquisador, a laserterapia é reconhecida na área de saúde como terapia eficaz e existem aparelhos de laser de baixa potência aprovados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Encontramos artigos na literatura científica que confirmam nossos achados”, observa. “Portanto, a aplicação clínica já pode ser realizada, de forma alternativa ou complementar a outras terapias.”

Laserterapia – Foto: Reprodução/Artigo “Effects of Red and Infrared Laser Therapy in Patients with

Múltiplas causas

“O zumbido é a percepção consciente de um som nos ouvidos e na cabeça na ausência de uma fonte sonora externa. É uma situação de hipersensibilidade das vias auditivas que pode ser desencadeada por diversos fatores e, por essa razão, há uma dificuldade de estabelecer um tratamento padronizado”, afirma ao Jornal da USP o médico otorrinolaringologista Ítalo de Medeiros, diretor técnico de serviço do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). “Entre os tratamentos existentes, há as terapias sonoras, com uso de aparelhos, e a terapia cognitiva comportamental (TCC). Quando há outros problemas de saúde associados, medicamentos podem ser usados.”

Comentando sobre a pesquisa, o médico aponta que a terapia com laser é mais um instrumento para tratar o zumbido. “A resposta ao tratamento depende da condição de cada paciente. Por exemplo, em casos associados a depressão podem ser usados medicamentos antidepressivos; quando a causa está ligada aos músculos, há possibilidade de usar um relaxante muscular; a gingko biloba é um fitoterápico usado para melhorar a circulação, porém apresenta efeitos colaterais, como sangramentos”, relata. “No caso do laser, é possível que pacientes com mais dores e processos inflamatórios respondam melhor ao tratamento, por isso há a necessidade de realizar estudos com um número maior de participantes, para saber quais pacientes serão mais beneficiados.”

Protótipo do aparelho desenvolvido pelo IFSC/USP baseado no uso de laser de luz vermelha – Foto: Reprodução/Artigo Effects of Red and Infrared Laser Therapy in Patients with Tinnitus

A pesquisa foi realizada no Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (Cepof), sediado no IFSC, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Participaram do estudo Vitor Hugo Panhóca, Antônio Eduardo de Aquino Junior, Viviane Brocca de Souza, Simone Aparecida Ferreira, Lais Tatiane Ferreira, Karina Jullienne de Oliveira Souza, Patricia Eriko Tamae, Marcelo Saito Nogueira e o professor Vanderlei Salvador Bagnato. Além do IFSC, colaboraram com o estudo a Santa Casa de Misericórdia de São Carlos (interior de São Paulo), a Universidade Central Paulista (Unicep), também em São Carlos, o Centro de Terapia Integrada em Londrina (Paraná) e o Tyndall National Institute, do University College em Cork (Irlanda).

Mais informações: e-mail vhpanhoca@ifsc.usp.br. com Vitor Hugo Panhóca

Câncer de cabeça e pescoço: quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de cura

Julho é o mês da Campanha de Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, conhecida como Julho Verde. Conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), são mais de 40 mil novos casos desse tipo de câncer a cada ano. A região da cabeça e do pescoço engloba algumas subdivisões, dependendo de onde o tumor a afeta: “A região da cabeça e pescoço é colocada num conjunto porque os sintomas e as causas deles são bem parecidos. Esse segmento diz respeito à boca, mais especificamente à língua; à garganta, com amígdala; e à laringe, com as cordas vocais”, explica o médico Dorival Carlucci, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Ele explica que qualquer alteração na região, seja uma afta ou uma rouquidão, com uma duração maior que duas semanas, já é preocupante e necessita de um acompanhamento profissional. Um nódulo no pescoço, que também não desaparece, pode ser um indício de um possível tumor na amígdala. O especialista ressalta: “Quanto mais precoce, maior a chance de cura, e também menor vai ser a agressividade do tratamento. Uma afta pequena na língua, a remoção da lesão gera cura de quase 80%. Um tumor na corda vocal, de 95%”.

Tratamento

“O grande problema dos tumores da região da cabeça e do pescoço é que, se eles forem detectados tardiamente, causam mutilações muito grandes no paciente. Pode levar à alteração da voz, de deglutição e até da estética”, diz Carlucci, que coloca que o diagnóstico é, normalmente, visual ou com aparelhos endoscópicos, sendo o Hospital das Clínicas um local com diversas possibilidades de identificação desses cânceres.

Alguns tipos podem ser tratados por meio da rádio ou quimioterapia, mas, como colocado, quanto antes diagnosticado, menor a necessidade de mutilações na região afetada pelo câncer.

Conscientização

O HPV (Papilomavírus humano) é transmitido pelo contato sexual, mas possui uma vacina que o previne. Uma das possibilidades da manifestação dos seus sintomas é o câncer de amígdala, que se soma aos outros agressores: “Se a gente pensar que o cigarro, que é o principal vilão, o álcool, e agora a gente está tendo um aumento das infecções pelo vírus do HPV, se a gente pensar na exposição de todo o segmento do trato aerodigestivo, toda essa região recebe a agressão desses fatores. Eu posso até ter mais do que um tumor: posso tratar um tumor no lugar e, depois, ele voltar ou aparecer numa outra sub-região”, indica. “Quando a gente fala tabagismo, está incluindo tudo. Esses cigarros eletrônicos eu considero até mais perigoso: a gente não tem nem controle do que tem dentro daquilo e isso fica sendo consumido por uma população jovem”, diz.

Assim, a conscientização — tanto em relação à vacinação contra o HPV quanto ao diagnóstico precoce dos cânceres de cabeça e pescoço — é extremamente importante e fundamental para o tratamento, sobretudo para o sucesso dele: “O que a gente mais busca é conscientizar a população. Precisa mudar os padrões de vida para que esses agressores diminuam”. Carlucci ainda completa: “A cabeça e o pescoço são uma área muito exposta. É preciso perceber, prestar atenção e não achar que é normal. Conhecer o próprio corpo é importantíssimo”.

FONTE: Jornal da USP

Porque a luz azul do celular não faz mal para sua pele?

Atualmente passamos longos períodos de tempo em frente a telas de computadores, tablets e celulares, recebendo luz azul de diferentes intensidades. Também usamos sistemas de iluminação baseados em diodo emissor de luz (LED), que emitem luz no comprimento de onda visível, incluindo uma fração importante da luz azul. Embora seja complexo avaliar efeitos biológicos da exposição à luz, estudos mostram que a luz azul tem um papel importante na regulação do ritmo circadiano de sono-vigília, por sua influência nas células fotorreceptoras da retina. O excesso de radiação, no entanto, pode ser prejudicial aos olhos.

Mas será que a luz azul do celular faz mal para a pele?

Essa questão surgiu após uma notícia no jornal O Globo vincular, no título, a luz azul do Sol à luz azul do celular. A reportagem divulgava um estudo realizado pelo grupo do pesquisador Maurício Baptista sobre os efeitos da luz visível, especialmente a faixa do violeta e do azul, em células da pele humana.

“A relação no título da notícia foi infeliz e pode levar a entendimentos errôneos por parte dos leitores. Muito embora tanto o Sol quanto o celular emitam luz na região do azul, o artigo científico mencionado não estudou o efeito da luz emitida por aparelhos celulares e sim, o efeito de irradiação a partir de fontes que imitam os raios solares”, afirmou Baptista, que dirige o Laboratório de Processos Fotoinduzidos e Interfaces no Instituto de Química da USP e é membro do Cepid Redoxoma.

A principal diferença é a dose. As irradiâncias do celular são muito menores do que as vindas do Sol e o efeito da radiação luminosa na pele não é linear, sendo que doses pequenas são benéficas enquanto as maiores são danosas. Irradiância (W.m-2.) é uma medida da energia luminosa por unidade de tempo e de área.

Luz natural versus luz artificial

Considerando a irradiância total direta do Sol versus a do celular em toda faixa do visível, a irradiância solar é de aproximadamente 1000 W.m-2 e a dos aparelhos celulares, a 10 centímetros (cm) de distância da superfície, é de 0,05 W.m-2. Isso quer dizer que a irradiância do celular é cerca de 20 mil vezes menor do que a do Sol.

Mesmo considerando a irradiância difusa do Sol, isto é, quando a exposição não é direta, por exemplo, se estivermos embaixo do guarda-sol, a irradiância é em torno de 100 W.m-2, ainda assim duas mil vezes maior do que a do celular. Considerando somente a região do azul e a irradiância por faixa de comprimento de onda (W.m-2.nm-1), celulares emitem em torno de 0,03 W.m-2.nm-1 enquanto a irradiância difusa do Sol é de cerca de 30 Wm-2nm-1, ou seja, a do celular é mil vezes menor.

“A primeira comparação que devemos fazer é da irradiância dos aparelhos celulares com a dos raios solares que atingem a pele dos humanos. A diferença é gigantesca, mas as variáveis envolvidas são muitas. Por exemplo, a emissão do celular depende do modelo e da marca do aparelho, de ajustes feitos pelo próprio usuário na claridade da tela, bem como da distância entre o aparelho e a pele. As irradiâncias luminosas vindas do Sol dependem da localização — latitude, longitude, altitude —, da hora do dia, da estação do ano, do clima etc. Enfim, precisamos considerar sempre valores médios e há estudos científicos que fizeram isso,” afirma o pesquisador.

Na pele

Um aspecto importante, segundo Baptista, é o efeito que diferentes exposições causam na pele. À medida que evoluímos sob a influência da luz solar, desenvolvemos mecanismos para utilizá-la eficientemente em funções fisiológicas essenciais e para proteger o corpo contra sua quantidade excessiva. Desta forma, exposições curtas ao Sol geralmente trazem efeitos benéficos. Atualmente, equipamentos que imitam essas doses saudáveis de exposição estão sendo utilizados em tratamentos médicos.

No caso do estudo realizado em queratinócitos, os pesquisadores observaram efeitos deletérios ao irradiar as células durante várias horas com fontes que imitam a irradiância do Sol. Doses menores não causam efeitos ou causam efeitos favoráveis. “Considerando a pequena irradiância dos celulares, podemos afirmar que, se houver algum efeito, este será favorável à pele de humanos saudáveis”, disse o pesquisador.

Já em relação aos olhos, a estrutura do tecido favorece a penetração de luz visível e há muitas pesquisas demonstrando como a exposição desprotegida à luz azul do Sol e de equipamentos diversos que emitem luz nesta faixa pode afetar a retina. Entretanto, segundo Baptista, não há consenso, pois, com base em diversos trabalhos, muitos oftalmologistas defendem que a dose de luz dos celulares é muito pequena para causar problemas na visão. O que é certo é que a exposição noturna à luz azul de celulares, tablets, laptops etc. perturba o ciclo natural de sono/vigília do nosso corpo, conhecido como ritmo circadiano.

A luz azul é uma faixa do espectro da luz visível, que por sua vez é uma faixa do espectro eletromagnético da radiação solar. A luz visível, à qual nossos olhos são sensíveis, representa cerca de 47% da radiação solar total que atinge a pele humana, em comparação com cerca de 5% de radiação ultravioleta. E também é a faixa espectral que forma os maiores níveis de radicais livres gerados na pele sob exposição solar, respondendo por 50% do total. Os mecanismos de dano induzidos pela radiação solar se devem principalmente à fotossensibilização, um processo no qual fotossensibilizadores transformam a energia da luz em reatividade química.

Da Assessoria de Comunicação do Cepid Redoxoma

FONTE: Jornal da USP

Terapia com LED é aplicada com sucesso na osteoartrite de joelho

Estudo piloto realizado com 31 pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) sugere que a terapia por fotobiomodulação, com dosagem individualizada de energia e em uma faixa de luz específica, tem eficácia no tratamento da dor da osteoartrite de joelho, doença de caráter inflamatório e degenerativo que provoca a destruição da cartilagem, dores, inchaços e deformidades na articulação. Na configuração de 850 nanômetros (nm), os feixes de luz no infravermelho atingem camadas mais profundas dos tecidos e estimulam uma variedade de processos bioquímicos nas células, promovendo efeitos anti-inflamatórios de diminuição da dor e reparo tecidual no local da aplicação.

Os resultados da pesquisa feita no Laboratório de Neuroanatomia Funcional da Dor (Land) do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP estão descritos no artigo Customized Photobiomodulation Modulates Pain and Alters Thermography Pattern in Patients with Knee Osteoarthritis: A Randomized Double-Blind Pilot Study, publicado na Photobiomodulation, Photomedicine, and Laser Surgery.

A fotobiomodulação consiste em um recurso fototerápico – terapia com luzes artificiais que podem estimular ou inibir a atividade celular – , com aparelho de laser ou LED, em que são aplicados feixes de luz em um tecido-alvo para obter respostas favoráveis aos objetivos propostos. Segundo a pesquisa, o método apresenta eficácia terapêutica em humanos e animais, com excelentes resultados em várias especialidades médicas e sem qualquer tipo de efeito colateral. “No entanto, existem lacunas que impedem a adoção em larga escala de tais procedimentos, como o cálculo preciso dos comprimentos de ondas e da quantidade de energia emitida pelos feixes de luz”, relata ao Jornal da USP Marucia Chacur, professora do ICB, pesquisadora responsável pelo estudo e uma das autoras do artigo.

A pesquisa

O tratamento piloto foi aplicado em pacientes com osteoartrite no joelho grau 3 (com mais de 50% da cartilagem deteriorada), duas vezes por semana, por um período de cinco semanas. Ao todo, foram dez sessões. Um grupo de 15 pessoas recebeu efetivamente as aplicações na região do joelho, e o restante (grupo placebo) teve o mesmo procedimento, porém, com a sonda de emissão de energia desligada. O comprimento de onda infravermelho utilizado foi de 850 nm e a potência total de energia individualizada ficou entre 526 a 1402 joules, variando de acordo com as características físicas de cada paciente.

Aplicação da fotobiomodulação no joelho – Foto: Arquivo pessoal do pesquisador

Dosagem individualizada

Segundo a pesquisadora, o que promove o efeito terapêutico no tratamento por fotobiomodulação é a absorção pelas células das partículas de luz, emitidas em determinados comprimentos de ondas e intensidade de energia. Internamente, ocorre um processo fotoquímico em que as mitocôndrias – estruturas celulares – são estimuladas a produzir mais energia. Isso aumenta o metabolismo celular, resultando em produção de substâncias analgésicas, redução da inflamação, regeneração de tecidos, cicatrização de feridas e diminuição da fadiga muscular, dentre outros efeitos.

Comprimento de Onda – profundidade de ação na pele – Foto: Cedida pela pesquisadora Marucia

Chacur explica que a dosagem individualizada da potência de energia transmitida por feixe de luz foi calculada correlacionando-se o Índice de Massa Corporal (IMC) do paciente, o tom da pele e a energia necessária para se atingir o tecido-alvo, no caso, o joelho. O IMC é calculado a partir da divisão do peso do paciente pela altura elevada ao quadrado.“Quanto maior a espessura das camadas da pele (epiderme, derme, hipoderme) e dos músculos, menor será a quantidade de energia absorvida no tratamento. O mesmo acontece com o indivíduo com tom de pele mais escuro. Ele absorve mais energia, porém esta energia fica ‘contida’ na pele e não é absorvida pelo tecido-alvo”, diz.

Dessa forma, indivíduos obesos, com maior índice de massa corporal (IMC>30) e com a pele mais escura, por exemplo, precisam receber maior quantidade de energia, 1402 joules, para obter efeitos benéficos do tratamento. Já indivíduos com menor índice de massa corporal (entre 18 e 24) e com pele mais clara necessitam de menor quantidade de energia, 526 joules.

Redução da dor e da inflamação

As variáveis de níveis de dor dos pacientes foram analisadas no início e no final de cada sessão de terapia e antes e depois do tratamento completo. Os parâmetros considerados foram os da escala EVA, instrumento de aferição da intensidade de dor que vai de zero a dez, sendo zero para ausência de dor e dez para dor máxima.

Segundo a pesquisadora, os pacientes tratados com fotobiomodulação, quando comparados com os do grupo placebo, sentiram melhora já a partir da quarta sessão, relatando em torno de 45 a 50% menos dor do que sentiam no início do tratamento. O nível de dor foi se mantendo baixo, entre 2 e 4 da escala EVA, até cinco semanas após o término do tratamento. Depois desse período, a dor voltou aos poucos.

Perguntado à pesquisadora o que poderia ser feito para que o quadro doloroso não voltasse, Marucia Chacur sugeriu uma dose de reforço ou aplicações mais espaçadas, a cada uma ou duas semanas, de forma a se manterem os níveis de dor baixo e proporcionar melhora da qualidade de vida.

Quanto à inflamação, a avaliação foi feita com uma câmera de termografia que detecta a luz infravermelha emitida pelo corpo, para visualizar mudanças de temperatura corporal relacionadas a alterações no fluxo sanguíneo. “O tratamento foi eficaz pois interferiu com a temperatura local, levando, de forma indireta, ao aumento da vascularização e drenagem venosa e consecutivamente, levando a um quadro de maior fortalecimento [das estruturas] da área afetada”, disse a pesquisadora.

Os níveis de inflamação também puderam ser verificados através da análise de exames de urina coletada dos pacientes antes e depois do tratamento. Após o término da terapia, foi detectada uma porcentagem de dopamina aumentada em 29%. A dopamina é um neurotransmissor com várias funções, sendo popularmente conhecida como um dos “hormônios da felicidade” pois, quando liberada, provoca a sensação de prazer, satisfação e aumento da motivação.

Antes e ao final do tratamento, os pacientes responderam a um questionário avaliando seus parâmetros de qualidade de vida. Finalizada a terapia, os pacientes relataram ter tido ganhos significativos em relação a diminuição da dor, recuperação da mobilidade, e execução de atividades físicas e tarefas do dia a dia.

A cientista diz que esse foi o primeiro passo para se demonstrar os efeitos benéficos da terapia por fotobiomodulação em pacientes com osteoartrite de joelho. “Conseguimos mostrar que os parâmetros propostos foram eficazes, e o próximo passo seria ampliar esse modelo em outros pacientes e até mesmo em outros modelos experimentais”. Atualmente, no Land, está sendo utilizada a mesma terapia de fotobiomodulação em pacientes com Parkinson, observando-se uma possível alteração de sensibilidade motora em níveis encefálicos com o auxílio de ressonância magnética funcional.

Mais informações: e-mail chacurm@icb.usp.br Marucia Chacur

Osteoartrite do joelho

A osteoartrite é uma doença de caráter inflamatório, mecânico, degenerativo e metabólico das articulações. Está relacionada a genética, idade avançada, lesões articulares e obesidade. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia , a articulação mais comumente afetada pela osteoartrite é a do joelho  (cartilagem, osso subcondral e líquido sinovial), respondendo por 80% dos casos da doença. Os pacientes se queixam de dor, inchaço, rigidez matinal, crepitação no movimento articular, restrição da mobilidade e entortamento e desalinhamento do joelho. O processo degenerativo é complexo e inicia-se com o envelhecimento, porém, aspectos genéticos, a obesidade e o uso excessivo da articulação (sobrecarga) são fatores de risco para a doença, que é classificada entre o grau 1 e 4, a forma mais grave.

A doença não tem cura, mas com o tratamento adequado o paciente pode conviver com o problema e manter sua qualidade de vida. Em geral, são prescritos anti-inflamatório e analgésicos, dependendo do grau. Como intervenções não farmacológicas coadjuvantes são recomendados exercícios físicos e terapias como a aplicação da fotobiomodulação, que alivia a dor e o processo inflamatório.

FONTE: Jornal da USP

Nova terapia para tratar a insuficiência cardíaca

Os microRNAs são moléculas com função regulatória fundamental para o metabolismo do corpo humano. Ao inibir a expressão de determinados genes, sua ação incide em vias bioquímicas e processos celulares essenciais para o organismo. Além disso, a alteração da expressão dos microRNAs tem sido associada a diversas doenças. A partir de experimentos com animais, pesquisa realizada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP identificou microRNAs alterados pela insuficiência cardíaca e que tiveram sua expressão normalizada por meio do treinamento físico. Um deles, o micro-RNA 205, é diretamente responsável pelo metabolismo do músculo esquelético, afetado pela doença. A descoberta é um passo inicial para o desenvolvimento de medicamentos para insuficiência cardíaca que tenham os microRNAs como alvos terapêuticos.

“Nosso trabalho contribui com mais uma peça para o grande quebra-cabeça que é a busca por ferramentas e tratamentos para as doenças cardiovasculares”, afirma Bruno Rocha de Avila Pelozin, que realizou a pesquisa, sob orientação do professor Tiago Fernandes, da EEFE. “Também demonstramos uma regulação das alterações musculoesqueléticas por meio do microRNA-205. Por fim, mostramos o efeito dos treinamentos nesses mecanismos e alterações”, afirma.

O estudo realizou um mapeamento dos microRNAs expressos em ratos com insuficiência cardíaca. Os animais foram divididos em dois grupos, os que se mantiveram sedentários e os que realizaram uma rotina de exercício físico aeróbio durante dez semanas. As análises demonstraram um padrão de expressão completamente diferente entre os animais doentes e aqueles que realizaram o treinamento. Dentre os microRNAs analisados pela varredura, 15 tiveram a sua expressão alterada pela doença e restabelecida pelo exercício físico, e um deles, o microRNA-205, foi responsável por controlar as características estruturais e o metabolismo do músculo esquelético.

Após o período de dez semanas, avaliou-se: pressão arterial, função cardíaca, consumo de oxigênio (VO2 pico) e alterações metabólicas – Imagem: EEFE/USP

Treinamento físico

Por meio de biópsias de pessoas com insuficiência cardíaca, foi constatado que esse microRNA estava aumentado e que o treinamento físico aeróbio nesses pacientes foi efetivo em normalizar a sua expressão. A conclusão é relevante porque a insuficiência cardíaca reduz a eficiência do coração em bombear o sangue, diminuindo a irrigação sanguínea para os diversos tecidos do corpo. No músculo esquelético, isso pode culminar na miopatia, cujo sintoma principal é a intolerância ao esforço físico, dificultando atividades cotidianas como subir escadas ou caminhar por distâncias mais extensas.

Visão microscópica do músculo esquelético. Imagem retirada da pesquisa original

Pela alteração do microRNA-205 com o quadro de insuficiência e sua normalização com o exercício físico, a molécula foi reconhecida como um potencial alvo terapêutico para o desenvolvimento, no futuro, de tratamentos para a doença. Pelozin comenta que a utilização farmacológica dos microRNAs ainda está em fase inicial, mas acredita que eles podem ser importantes ferramentas no combate às doenças cardiovasculares e seus efeitos periféricos.

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício da EEFE, e é descrita na dissertação de mestrado de Pelozin. Um artigo sobre o trabalho foi apresentado no XXX Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão, realizado entre os dias 10 e 22 de agosto de 2022, onde foi contemplado com o prêmio de Melhor Pesquisa Básica. Atualmente, o pesquisador está na fase de finalização dos experimentos em laboratório com cultura celular (células primárias musculares) para avaliar o ganho e perda de função do microRNA-205. Finalizada essa etapa, o trabalho será publicado e os estudos sobre o microRNA-205 serão expandidos.

Com informações da Seção de Relações Institucionais e Comunicação da EEFE

FONTE: Jornal da USP

Acúmulo de ácido úrico é sugerido como marcador para doença arterial

O acúmulo de ácido úrico no organismo está associado a uma maior espessura das paredes das artérias carótidas, vasos sanguíneos que conduzem o sangue até o cérebro. O resultado foi observado em uma pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) realizada com 4 mil participantes do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), integrado pelo Hospital Universitário (HU) da USP. O estudo demonstra que o nível de ácido úrico pode ser um marcador da aterosclerose, doença em que há acúmulo de gordura nas artérias do corpo, em estágio inicial, quando não apresenta sintomas.

As conclusões do trabalho são descritas em artigo publicado na revista científica Current Problems in Cardiology. “A aterosclerose é uma condição em que existe depósito de gordura, como o colesterol e outros lipídeos, na parede das artérias”, disse ao Jornal da USP o médico Filipe Martins de Mello, que realizou a pesquisa. “Isso leva progressivamente à diminuição do caminho de passagem do sangue até os órgãos e tecidos.”

“As consequências mais temidas da aterosclerose são o infarto agudo do miocárdio (IAM) e o acidente vascular cerebral (AVC)”, ressalta o médico. “É difícil definir a prevalência de aterosclerose, mas estudos mostram que as doenças cardiovasculares, como o IAM e o AVC, seguem sendo a maior causa de mortalidade no Brasil.”

A pesquisa foi realizada com participantes do Elsa Brasil. “Ele é o maior estudo epidemiológico brasileiro dedicado a estudar os fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares”, descreve Mello. “O estudo é multicêntrico e inclui várias universidades brasileiras, dentre elas a USP, pesquisando entre os seus funcionários.”

Na USP, o Elsa Brasil está sediado no Hospital Universitário (HU). “O estudo procurou determinar se existe associação entre níveis mais elevados de ácido úrico com a presença de aterosclerose subclínica, quer dizer, ainda em uma fase precoce”, relata o médico.

Recepção do laboratório do Hospital Universitário (HU), na Cidade Universitária, em São Paulo, onde está localizado um dos centros do Elsa Brasil, maior estudo epidemiológico brasileiro dedicado a estudar os fatores associados a doenças crônicas não transmissíveis – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Realizamos, em mais de 4 mil pacientes, ultrassom de carótidas, artérias do pescoço que levam sangue ao cérebro. Medimos a espessura dessas artérias e também fizemos tomografia computadorizada de artérias coronárias, localizadas no coração, para pesquisar a presença de cálcio. Ambas as medidas são indicativas de aterosclerose subclínica.”

O pesquisador explica que o acúmulo de ácido úrico acontece devido a um desbalanço entre sua produção e excreção pelo organismo. “Dietas ricas em proteína animal, ou ingestão de bebidas alcóolicas, sobretudo a cerveja, ou adoçadas com frutose, levam a um aumento da produção de acido úrico. Doenças renais e o uso de algumas medicações podem levar à diminuição da excreção de ácido úrico”, afirma. “Sabe-se que o ácido úrico participa de diversas reações no organismo, e em algumas dessas situações pode haver um efeito lesivo na camada mais interna das artérias, provocando possível aceleração do processo de aterosclerose.”

“O trabalho demonstrou que níveis mais elevados de ácido úrico foram associados com maior espessura das paredes das artérias carótidas”, aponta o médico. “Isso indica associação do ácido úrico com a presença de aterosclerose subclínica em nossa população estudada.”

A pesquisa é relatada no artigo Serum Uric Acid Levels and Subclinical Atherosclerosis: Results From the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (Elsa-Brasil), em que Mello é o primeiro autor. O trabalho foi orientado pelo professor Ricardo Fuller, da FMUSP, e teve a colaboração de Isabela Bensenor, Paulo Lotufo, Marcio Bittencourt e Itamar Santos, do Elsa-Brasil no HU.

Mais informações: e-mail filipimello@hotmail.com, como Filipe Martins de Mello

FONTE: Jornal da USP

Eficácia do Pilates no tratamento de dor lombar crônica

Pesquisa com pacientes recrutados no Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostrou que o Pilates, mesmo sem associação de outros recursos terapêuticos como a diatermia (calor profundo), pode ser eficiente no tratamento da dor e dos sintomas depressivos e de ansiedade ligados à dor lombar crônica. Alguns estudos indicam que a dor lombar tem sido a principal causa de incapacitação de pessoas no mundo nas últimas três décadas, causando grande demanda aos serviços de saúde.

Segundo o estudo, comumente, a dor lombar está ligada à presença de músculos fracos, sem resistência e encurtados. Os exercícios de Pilates trabalham o fortalecimento e a estabilização de músculos profundos, como o transverso do abdômen, o multífido lombar e os músculos do assoalho pélvico, além de músculos globais que, no conjunto, são essenciais para a proteção da coluna, explica ao Jornal da USP a fisioterapeuta Sandra Amaral, autora da pesquisa. Como resultado, o paciente desenvolve uma musculatura mais forte e ganha amplitude dos movimentos livres de dor, melhorando assim a postura. “Além disso, os exercícios físicos contribuem para a liberação de opioides endógenos, substâncias internas do organismo que controlam a dor e causam bem-estar geral”, diz ela.

Na literatura médica, o tratamento térmico profundo via diatermia por ondas curtas tem sido indicado para redução da dor. A ideia é que “o calor posicionado em uma determinada região com dor promove a redução da rigidez articular e do espasmo muscular, o que leva a um aumento da atividade metabólica e mais aporte de oxigênio e nutrientes, estimulando o reparo do tecido conjuntivo e melhorando a dor”, relata Sandra Amaral. No estudo, no entanto, a associação do Pilates à diatermia não foi mais efetiva do que a prática isolada do Pilates.

Os resultados, obtidos em ensaio clínico randomizado (com sorteio aleatório dos voluntários da pesquisa) com 36 participantes, foram publicados no Brazilian Journal of Medical and Biological Research e fizeram parte da dissertação de mestrado de Sandra, defendida na FMUSP, sob o título Efeito da associação da diatermia por ondas curtas e exercícios baseados no Pilates na dor, depressão e ansiedade na lombalgia crônica inespecífica: ensaio clínico randomizado.

O tratamento

Durante o ensaio clínico, o tratamento foi aplicado em dois grupos diferentes de pacientes: o primeiro grupo recebeu 12 sessões de exercícios de Pilates conjugados com a geração de calor na região lombar via diatermia. O segundo (grupo controle) também realizou as sessões de Pilates, mas recebeu o “tratamento” por diatermia com o aparelho desligado – para que a pesquisa fosse capaz de diferenciar o chamado efeito placebo. Para ambos os grupos, as sessões de Pilates foram realizadas por 40 minutos, totalizando 12 exercícios com 15 repetições lentas cada e um intervalo de recuperação de três a cinco respirações. Todos os participantes foram instruídos sobre posturas melhores durante o sono e na execução de atividades da vida diária e do trabalho.

As avaliações foram realizadas no início do estudo, após três e seis semanas de tratamento e após três meses. As variáveis dor, depressão e ansiedade foram analisadas por meio do questionário de dor McGill, inventário de depressão de Beck e da escala de ansiedade – ferramentas técnicas que permitiram aos pacientes a descrição da intensidade e das experiências de dor e dos sintomas.

Resultados promissores

Segundo a pesquisadora, embora houvesse expectativa de que as duas técnicas conjugadas pudessem proporcionar melhores resultados aos pacientes, o estudo indicou que a diatermia contínua por ondas curtas não gerou melhora adicional nas variáveis avaliadas em pacientes com dor lombar crônica inespecífica em comparação com o grupo que recebeu tratamento placebo. Portanto, apenas exercícios baseados em Pilates foram suficientes para ajudar os pacientes com dor lombar crônica.

“Ambos os grupos de pacientes tiveram melhora da dor e da depressão durante todo o processo de tratamento, avaliado desde a primeira sessão até o follow up (seguimento) de três meses. Ou seja, o tratamento acabava na 12ª sessão, e após três meses realizávamos mais uma avaliação para saber se ele continuava tendo efeito positivo. Para as variáveis dor e depressão, este efeito continuou sendo positivo após três meses. Já para a variável ansiedade, o efeito foi positivo somente durante as sessões de fisioterapia com Pilates. No seguimento, a ansiedade voltou a subir.”

Raquel Casarotto, orientadora da pesquisa e professora do curso de Fisioterapia da USP, sugere que sejam feitos novos ensaios clínicos com foco especial na avaliação diária dos pacientes, para verificar efetivamente se a diatermia associada ao Pilates não traria efeitos significativos para a dor lombar. No estudo feito por Sandra Amaral, a avaliação foi feita em espaços de tempo maiores, no início do tratamento, após três e seis semanas, e após três meses.

Apesar do número relativamente pequeno de pacientes acompanhados e outras limitações do estudo, como a não divisão dos pacientes por idade, a autora da pesquisa diz que até o momento não havia nenhum ensaio clínico randomizado investigando a associação do calor profundo aos exercícios baseados no Pilates para dor lombar crônica. Assim, os resultados encontrados em sua pesquisa trazem dados preliminares, mas relevantes para subsidiar profissionais da área de saúde quanto à escolha e direcionamento da terapia mais adequada para alívio de dores lombares. Em sua opinião, isso significa economia de tempo, recursos e estrutura médica, contribuindo na eficácia do tratamento.

Adoecimento psíquico

Não foi por acaso que a pesquisa considerou os sintomas psíquicos associados à dor lombar: é muito comum uma pessoa que sofre de dor crônica ter concomitantemente depressão e ansiedade. Isto acontece porque a dor crônica, que tem como principal característica a não resolução do quadro clínico num intervalo grande de tempo, pode elevar o estresse e diminuir a qualidade de vida, trazendo a ansiedade e a depressão como consequências.

Ocorre também que a dor crônica diminui o volume da substância cinzenta cerebral, causando perdas cognitivas e alterações sensoriais, podendo contribuir para o aparecimento destes problemas.

Um estudo citado na pesquisa sugere que pacientes submetidos ao treinamento de Pilates tiveram suas funções mental e física melhoradas consideravelmente, diminuindo a depressão em 67% e a ansiedade em 53%. Uma possível explicação é que o Pilates aumenta os níveis de β-endorfina, um neurotransmissor que tem efeitos antidepressivos, diz a fisioterapeuta.

As causas de dores lombares são variadas e algumas vezes inespecíficas, com gatilhos indo desde fatores físicos – como ficar em pé ou caminhar por muito tempo, sentar-se ou deitar-se na mesma postura por períodos prolongados, levantar peso sem ter a musculatura condicionada – até fatores psicossociais e afetivos, como insatisfação no trabalho e a própria depressão.

Mais informações: e-mail sandramaral@alumni.usp.br, com Sandra Amaral

FONTE: Jornal da USP

Biocurativo acelera a recuperação de lesões cutâneas em diabéticos

Um dos grandes desafios enfrentados por quem sofre com diabete tipo 1 é a dificuldade de cicatrização da pele. Isso acontece porque, quando a doença não está bem controlada, há um excesso de açúcar na circulação sanguínea que dificulta a alteração da fase de inflamação para as fases de regeneração do tecido. Para combater essa complicação da enfermidade, uma equipe da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP testou um biocurativo criado pela startup In Situ Cell Therapy, sediada no Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto.

“Ele é feito com uma substância chamada hidrogel de alginato e contém células derivadas do cordão umbilical humano”, conta Daniela Carlos Sartori, que coordenou o trabalho no Laboratório de Imunorregulação de Doenças Metabólicas (LIDM) da FMRP.

Foram usadas as chamadas células mesenquimais, que secretam inúmeras moléculas bioativas com diferentes funções no processo cicatricial, como as citocinas e os fatores de crescimento responsáveis pela imunomodulação, angiogênese (a criação de novos vasos sanguíneos) e melhora da qualidade do tecido cicatrizado.

“O processo de criação do produto envolve a bioimpressão 3D, que foi feita com o apoio de uma empresa especializada e permite a confecção precisa [do curativo] de acordo com a área de aplicação e a correta distribuição das células mesenquimais pelo hidrogel, o que as mantêm viáveis durante o processo de impressão e de utilização”, explica Sartori.

O biocurativo 3D é considerado inteligente por conter células vivas, capazes de perceber os sinais emitidos pela lesão na pele e responder liberando citocinas e fatores de crescimento de acordo com a necessidade do tecido. Sendo assim, atua nas diferentes fases da cicatrização da pele, enquanto a maioria dos produtos convencionais visa apenas ao recobrimento da lesão ou ao tratamento de uma fase específica da cicatrização.

Para avaliar sua efetividade, os pesquisadores induziram o desenvolvimento de diabete tipo 1 em 18 camundongos. Depois de 15 dias, os animais foram anestesiados e os cientistas fizeram feridas de 1 centímetro quadrado (cm²) em suas costas, que imediatamente receberam curativos. Os roedores foram divididos em quatro grupos: animais sem diabete com curativos sem células mesenquimais, animais sem diabete com o biocurativo, animais com diabete com curativos sem células mesenquimais e animais com diabete com o biocurativo.

Após dez dias de tratamento, os animais com diabete tratados com curativos sem células mesenquimais apresentaram feridas com cerca de 50% de abertura, enquanto as feridas nos animais diabéticos que receberam o biocurativo inteligente estavam com cerca de 20% de abertura. Isso mostra que houve uma melhora significativa na cicatrização dos camundongos diabéticos que receberam o produto contendo as células mesenquimais, em comparação aos que não receberam.

Com base nos resultados das análises, publicados no periódico Regenerative Therapy, os pesquisadores destacam o efeito imunomodulador dos biocurativos, ou seja, sua capacidade de melhorar o funcionamento do sistema imune dos animais. De acordo com o artigo, o produto elevou a expressão do fator de crescimento TGF-beta, que estimula a síntese de colágeno e o reparo do tecido. O trabalho recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio de dois projetos (18/14815-0 e 19/22013-3).

Para tornar possível o uso do biocurativo no tratamento de feridas em pacientes diabéticos, porém, ainda são necessários ensaios clínicos. Caso os resultados sejam positivos, será possível solicitar a aprovação do produto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O artigo Xenogeneic mesenchymal stem cell biocurative improves skin wounds healing in diabetic mice by increasing mast cells and the regenerative profile pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352320422001286?via%3Dihub.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

FONTE: Jornal da USP

Medicamento com bactérias benéficas de fezes é caminho para tratar infecções intestinais

Aprovado nos Estados Unidos, o primeiro medicamento feito com bactérias poderá ser uma opção para substituir transplantes fecais. A droga busca tratar infecções recorrentes por clostridium em adultos que já receberam antibióticos e não responderam ao tratamento. Infecções desse tipo atingem 500 mil americanos por ano e matam de 15 a 30 mil pessoas, de acordo com autoridades de saúde dos Estados Unidos.

O especialista Alexandre de Sousa Carlos, do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, esclarece sobre a ação das bactérias no organismo humano: “Nós sabemos que atualmente temos trilhões de bactérias. Teoricamente elas vivem todas em harmonia e, com isso, elas têm vários poderes benéficos para nossa saúde. Por alguns fatores externos, essa microbiota pode estar desequilibrada, o que chamamos de disbiose. E, com isso, trazer inúmeros efeitos deletérios para nosso organismo, um deles é essa infecção por uma bactéria que se chama bactéria do Clostridium, mais conhecida atualmente como clostridioide. Todos nós temos essa bactéria na nossa microbiota intestinal, mas, por alguns motivos, e o principal deles é o uso excessivo de antibióticos, essa bactéria fica patogênica e com isso ela começa a inflamar o nosso intestino”.

Tratamentos

A primeira opção de tratamento, conforme explica Carlos, é com antibióticos específicos, mas alguns pacientes podem não responder a eles corretamente: “[Os pacientes] precisam ter essa segunda linha de tratamento, que é tentarmos administrar novas bactérias para repopulacionar a microbiota intestinal de uma forma a restaurar o equilíbrio anterior e, com isso, ela mesmo combater essa citopatogênica”.

Uma das formas de equilibrar as bactérias é com transplante de microbiota fecal: “Por muito tempo, a gente fazia o transplante de microbiota fecal, que nada mais é do que transferirmos as fezes de um doador saudável, que não tem nenhum problema gastrointestinal, para o intestino desse receptor doente, de forma a restaurar esse equilíbrio da microbiota intestinal”. O médico complementa que os resultados dos transplantes são geralmente positivos, com uma taxa de resposta acima de 90%.

O novo medicamento

A novidade aprovada pela FDA (Food and Drug Administration) dos EUA representa uma alternativa mais simples de tratamento para esses problemas: “Quando a gente faz esse procedimento [transplante de microbiota fecal] por endoscopia e colonoscopia, que não deixam de ser um procedimento invasivo, às vezes o paciente nem tem condições de fazer esse exame, então, nas cápsulas com fezes, eles escolheram um doador com microbiota muito boa e eles administram essa cápsula ao receptor. Ao administrar essa cápsula, se substituiria o transplante por endoscopia, ou seja, já evitaríamos um exame invasivo e sedação. Então, tem efeitos benéficos e vemos com bons olhos”, diz Carlos.

A FDA aprovou o remédio com base em um estudo com a participação de 180 pacientes: 88% daqueles que tomaram as cápsulas não tiveram reinfecção após oito semanas, em comparação aos que receberam placebos. Para garantir a saúde intestinal, alguns hábitos cotidianos podem ser importantes: “Já têm trabalhos recentes mostrando que dieta à base de muitos alimentos ultraprocessados, alimentos embutidos e enlatados são deletérios, são maléficos para nossa microbiota, causam um desarranjo intestinal. O uso excessivo de antibióticos sem uma orientação também altera a nossa microbiota, o próprio estresse, por incrível que pareça, altera a nossa microbiota. Então, nós precisamos cada vez mais recuperar um estilo de vida mais saudável para tentar deixar a nossa microbiota intestinal equilibrada”, conclui.

FONTE: Jornal da USP