HC zerou mortalidade materna por tromboembolismo venoso

O tromboembolismo venoso (TEV), problema que atinge muitas mulheres gestantes e no pós-parto, acontece quando a trombose venosa (formação de coágulo nos vasos) é combinada à embolia pulmonar, com o coágulo atingindo a circulação dos pulmões. Como parte de um estudo, o setor de Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) adotou um protocolo baseado em grau de risco que foi capaz de zerar a mortalidade materna por TEV. O método foi descrito em artigo científico e premiado pela International Society for Thrombosis and Haemostasis no Canadá.

Risco

Primeira autora do estudo, a médica Venina Isabel Leme de Barros é obstetra do HCFMUSP e pesquisadora do Laboratório de Fisiologia Obstétrica (LIM 57). Ela explica que o risco de ocorrência do TEV aumenta dez vezes em mulheres durante a gestação e 30 vezes em mulheres no pós-parto. Além do ganho de peso que ocorre durante a gestação favorecer o TEV, os níveis de coagulação aumentam para evitar hemorragias após o parto, elevando o risco de formação de coágulos e, consequentemente, de trombose venosa.

“Trombose é um entupimento das veias de ocorrência mais comum na perna esquerda e, além da sequela ao membro em si, esse trombo pode migrar para o pulmão e levar à embolia pulmonar, que é letal em até 30% da vezes”, explica Venina Barros. Ela também diz que os períodos de maior risco se estabelecem durante a hospitalização e em até três meses após o parto.

Segundo a obstetra, o aumento da obesidade no Brasil e uma tendência nacional e mundial das mulheres engravidarem mais velhas impactaram diretamente a alta de casos relacionados à trombose na gravidez. Assim, a comunidade médica notou a necessidade de implantar um protocolo de prevenção.

Outro fator mencionado por Venina é o crescimento do risco de câncer de mama na população jovem – entre 20 e 40 anos –, que influencia diretamente na incidência de trombose por conta da quimioterapia. Além disso, a médica alerta que em dez anos a doença se tornou a quinta maior causa de mortes de gestantes.

Protocolo

O método desenvolvido para a prevenção foi aplicado a mais de 10 mil pacientes, das quais 15% apresentavam alto risco de tromboembolismo venoso. O protocolo baseia-se na triagem das grávidas em níveis de risco para trombose, momento em que é feita uma avaliação. Venina ressalta que, apesar de o risco ser maior no pós-parto, a análise deve ser feita em qualquer ocorrência de hospitalização.

“Você teve o parto e esteve internada. A primeira conduta é deambulação, ou seja, levantar e fazer exercício, mexer as pernas. Essa orientação é universal para todas as gestantes e para qualquer paciente hospitalizado”, pontua a obstetra. Por outro lado, nos casos de alto risco, o recomendado é prevenção com uso de heparinas de baixo peso molecular entre 8 a 12 horas após o parto.

Nos casos em que a paciente também possa ter um sangramento aumentado, é feita opção pelos métodos mecânicos, como as meias elásticas e o compressor vascular, que ajuda o retorno sanguíneo, acrescenta a pesquisadora.

É necessário que seja mantido um acompanhamento por três meses após o parto, uma vez que o risco permanece. Nesse sentido, a médica chama a atenção para casos de alto risco em que a medicação persiste por 15 dias e, em casos de altíssimo risco, com histórico de trombose, em que a medicação continua por 30 dias.

FONTE: Jornal da USP

Cirurgia robótica traz avanços na medicina e já é utilizada no Brasil

A primeira cirurgia robótica realizada no Brasil aconteceu há 15 anos e desde então o ramo vem crescendo, especialmente, com a chegada de novos fabricantes no País. Mesmo que a longo prazo, a expectativa de especialistas é de que, com uma produção independente de tecnologias, as cirurgias robóticas tenham seus custos reduzidos.

Maria José Carmona, professora da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), membro da Comissão de Inovação (InovaHC) e diretora da Divisão de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, esclarece que a atual dependência brasileira de tecnologias importadas torna essas cirurgias muito caras.

Avanço

A maior precisão dos movimentos proporcionada pela tecnologia é apontada pela professora como um significativo avanço, tendo em vista que existe a possibilidade de realizar procedimentos mais sensíveis e delicados. A partir de um filtro dos pequenos tremores da mão do cirurgião, há um refinamento dos movimentos, de acordo com Maria José.

“Há uma evolução, um incremento de uma tecnologia que começou com as cirurgias por escopias. Apenas colocar pinça dentro de uma cavidade manipulada pelo cirurgião e, agora, nessa outra fase que já começou há uns 20 anos da cirurgia robótica, com a capacidade de manipular a distância a partir de um robô”, esclarece.

No contexto atual, o crescimento no número de cirurgias auxiliadas por robôs foi significativo com a chegada de novos fabricantes. Porém, na visão da professora, esse processo, no caso específico do Brasil, deve ser considerado como uma incorporação tecnológica. “Acho que nós temos que entender isso, porque o Brasil é um país dependente nessa área, ou seja, dependente da importação desses robôs”, justifica.

Prática

Em paralelo à incorporação tecnológica das cirurgias robóticas há um programa de educação continuada e de simulação de diversos estágios para o treinamento das equipes participantes. Dessa forma, Maria José ressalta que há duas frentes de investimento: a de tecnologia e a da equipe responsável pelo cuidado do paciente.

No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) e no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), a professora menciona a utilização de robôs para a realização das operações urológicas e torácicas, por exemplo. “Essa incorporação tecnológica é importante, uma vez que é, atualmente, considerado um procedimento padrão para alguns tipos de cirurgias. No entanto, é limitado pelo custo”, pondera.

Desafios

Maria José enfatiza a necessidade de um plano de independência tecnológica no Brasil, uma vez que, a cada cirurgia robótica realizada, o País está pagando royalties para aquele que produziu a tecnologia. Por exemplo, a professora cita as políticas governamentais da Coreia do Sul com incentivos a esse desenvolvimento, enquanto o Brasil ainda apresenta investimentos muito tímidos, em sua opinião.

A professora esclarece que, apesar do procedimento já ser considerado padrão em alguns casos, em decorrência da importação, ele tende a continuar com preços muito altos e com um acesso limitado, especialmente no Sistema Único de Saúde. “Acredito que devemos utilizar as tecnologias, mas também devemos estar alertas para termos, em algum momento, independência, uma produção interna e pesquisa voltada para essas tecnologias de ponta na área de saúde”, declara Maria José, acreditando no potencial de investimento de empresas brasileiras no ramo.

FONTE: Jornal da USP

Doença de Behçet: quais os sintomas e quando procurar ajuda

A síndrome de Behçet é uma doença rara, inflamatória crônica e autoimune que surge inicialmente com aftas e úlceras recorrentes na boca e partes genitais causando muito incômodo.  Por ser desconhecida, muitas vezes a pessoa não dá atenção aos sintomas que podem se agravar e atingir artérias, articulações, sistema neurológico e os olhos, conforme conta o reumatologista Rafael Alves Cordeiro, médico assistente do ambulatório de Doença de Behçet do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP).

“Dor e inflamação nas articulações, lesões de pele que podem ser semelhantes a acne e também envolvimento dos olhos, inflamação dos vasos sanguíneos da retina. Alguns pacientes podem apresentar trombose, podem apresentar aneurismas, podem ter inflamação no intestino e até mesmo inflamação no sistema nervoso. Boa parte desses envolvimentos acontece por conta de inflamação dos vasos sanguíneos, que é o que nós chamamos de vasculite. A doença de Behçet tem a peculiaridade de poder inflamar desde vasos sanguíneos muito pequenos até vasos sanguíneos médios e grandes”,  explica o reumatologista.

Sintomas e diagnóstico

As queixas de doença de Behçet geralmente começam muitos anos antes do diagnóstico com aftas bastante dolorosas. O aparecimento de úlceras acomete cerca de 80% dos pacientes. Já as  manifestações oculares atingem cerca de 50% dos quadros.  Como  as aftas podem aparecer em outras doenças como AIDS,  lúpus e doença de Crohn,  é importante a investigação.  A doença vai ficando cada vez mais fraca com o passar das décadas. Não há cura,  mas existe tratamento.

O diagnóstico de doença de Behçet é clínico, baseado nas manifestações apresentadas pelo paciente e analisadas pelo médico. Não há exame de laboratório que determine o diagnóstico.  A causa da doença é desconhecida e afeta diretamente o sistema imunológico.  Na maioria das vezes, o reumatologista necessita do auxílio do oftalmologista para saber se há inflamação no olho e qual estrutura está comprometida.

Evolução da doença

Homens jovens, entre 20 e 40 anos, apresentam uma evolução pior da doença do que as mulheres que têm um quadro mais leve. Já em crianças os casos são raros. A doença de Behçet é bastante comum em países que fazem parte da antiga rota da seda, que se estende da Ásia ao Mediterrâneo, afetando principalmente gregos, turcos, árabes e israelenses, além de coreanos, chineses e japoneses. Atualmente, todos os continentes têm casos da doença, inclusive o Brasil.

Como  as aftas podem aparecer em outras doenças como AIDS,  lúpus e doença de Crohn,  é importante a investigação. A doença vai ficando cada vez mais fraca. Não há cura,  mas tratamento.  “Nós não falamos exatamente em cura para a doença de Behçet. O que nós sabemos é que a doença tende a ficar mais leve  com o passar das décadas  e muitos pacientes podem ficar assintomáticos conforme envelhecem. O tratamento tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida e também de impedir o acúmulo de danos que a doença pode provocar. Em casos mais graves, nós temos como usar medicações imunossupressoras, que são medicações que bloqueiam inflamações provocadas pelo sistema imunológico, com o objetivo não só de controlar a doença, mas também de diminuir as recaídas que a doença pode provocar”, explica Cordeiro.

FONTE: Jornal da USP