Gordura no fígado: ácido úrico e frutose altos podem desencadear esteatose hepática não alcoólica

A frutose vinda de produtos ultraprocessados aumenta o risco de associação entre o ácido úrico e a doença. A pesquisa, realizada na Faculdade de Medicina, usou dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, uma coorte (acompanhamento de longo prazo) em andamento no País.

Pesquisa desenvolvida pela Faculdade de Medicina (FMUSP) mostrou que há uma associação importante entre o aumento dos níveis de ácido úrico sérico e a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). A DHGNA é causada pelo acúmulo progressivo de gordura no fígado e não pelo consumo excessivo de álcool. Nos últimos anos, evidências clínicas sugerem que o ácido úrico elevado frequentemente está associado ao desenvolvimento ou progressão da DHGNA. Altos índices de ácido úrico podem levar ao desenvolvimento de resistência à insulina (RI).

Outro dado importante trazido pelo estudo mostra que o consumo elevado de frutose – vinda de produtos ultraprocessados – pode aumentar o risco de associação entre o ácido úrico e a DHGNA, tanto para homens quanto para mulheres.

Os resultados integram a tese de doutorado da nutricionista Clara Freiberg, defendida em janeiro de 2021. A partir desses achados, a pesquisadora sugere que a investigação prática da função hepática deva fazer parte do protocolo dos exames de rotina.

Do total da amostra estudada (10.597 pessoas), a pesquisa encontrou uma prevalência de DHGNA de 38,5% (44,9% em homens e 34% em mulheres). Quando comparados a outros países, como Estados Unidos (34%), Índia (29%) e Coreia do Sul (26%), esse número parece bem elevado.

“Quando falamos de frutose estamos nos referindo àquela industrializada, presente em alimentos ultraprocessados, e não ao consumo da fruta propriamente dita”, esclarece Clara Freiberg, nutricionista autora do estudo.

A ingestão de frutose tem sido associada à progressão da doença devido ao seu potencial de aumentar os níveis de ácido úrico no sangue. Ela está presente em muitos produtos ultraprocessados na forma de xarope de milho enriquecido com frutose. Estudos estimam que a frutose tem sua absorção aumentada em quase 30% quando associada a soluções com esse tipo de carboidrato.

“Quando falamos de frutose estamos nos referindo àquela industrializada, presente em alimentos ultraprocessados, e não ao consumo da fruta propriamente dita”

Elsa-Brasil

Para realizar a pesquisa, a nutricionista utilizou os dados provenientes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), uma coorte (acompanhamento de longo prazo) de servidores públicos de todo o Brasil, iniciada em 2008, e que conta com cerca 15 mil participantes, com idade entre 36 e 74 anos.

A amostra final para a pesquisa foi composta de 10.597 participantes (4.309 homens e 6.288 mulheres) que preencheram os critérios para diagnóstico de DHGNA (exames antropométricos, clínicos, bioquímicos e ultrassonografia, para avaliar a presença da doença).

Todos os participantes foram classificados em quintis dos níveis de ácido úrico sérico para a análise de todas as variáveis, sendo o primeiro quintil (Q1) referente aos valores mais baixos e o último quintil (Q5) aos valores mais elevados. Quintil é o termo usado para um conjunto de dados que é dividido em cinco partes iguais.

As análises mostraram que não houve diferença entre os quintis quanto à idade, etnia e renda. Participantes com maior nível de ácido úrico apresentaram menor nível de escolaridade e maior prevalência de IMC (índice de massa corporal, calculado pelo peso da pessoa dividido pela altura dela ao quadrado). Também apresentaram mais hipertensão, diabete, níveis de enzimas do fígado altos, eram inativos fisicamente e tinham esteatose hepática de leve a grave. Além disso, possuíam maior média de circunferência da cintura, de HOMA-IR (marcador de que avalia se o paciente tem resistência à insulina), de enzimas hepáticas, colesterol total, LDL e triglicerídeos.

A circunferência da cintura deve ser tratada com atenção porque a deposição de tecido adiposo, que é a gordura localizada no abdômen, está associada ao aumento da mortalidade geral. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a medida da cintura não ultrapasse 102 centímetros (cm) nos homens e 88 cm nas mulheres.

Quanto ao nível de ácido úrico, 965 mulheres (15%) e 1.122 homens (26%) eram hiperuricêmicos (níveis altos de ácido úrico). Verificou-se também que 45% dos homens e 34% das mulheres apresentaram algum nível de DHGNA. A prevalência da doença hepática tendeu a aumentar à medida que se elevavam os níveis de ácido úrico sérico.

Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

 

Não houve diferenças de idade, etnia e renda entre os homens com alto consumo de frutose quando comparados aos participantes normouricêmicos (com níveis normais de ácido úrico) e hiperuricêmicos.

As mulheres hiperuricêmicas com maior consumo de frutose têm chance aumentada de apresentar DHGNA. Para os homens, a chance de hiperuricêmicos com consumo elevado de frutose apresentarem a doença foi maior do que aqueles com consumo adequado de frutose. “Com esses resultados, acho importante que a investigação prática da função hepática deva fazer parte do protocolo dos exames de rotina”, sugere Clara.

Ainda de acordo com a pesquisadora, os profissionais de saúde precisam ser mais claros ao orientar os pacientes sobre o controle do sal, do açúcar e da frutose, por exemplo. “As pessoas precisam entender que altos níveis de frutose nem sempre estão associados a um consumo excessivo de frutas.”

“Com esses resultados, acho importante que a investigação prática da função hepática deva fazer parte do protocolo dos exames de rotina”, sugere Clara. 

A doença

A doença hepática gordurosa não alcoólica vem se tornando uma das principais causas de doença hepática crônica no mundo. Sobrepeso, diabete, má nutrição, perda brusca de peso e sedentarismo estão entre os fatores de risco para o aparecimento da doença.

Há evidências de que a pressão alta, resistência à insulina, níveis elevados de colesterol e triglicérides estão diretamente associados ao excesso de gordura no fígado.

A patologia geralmente é assintomática e pode atingir um estágio avançado antes de ser diagnosticada. Desconforto no quadrante superior direito, fadiga e letargia foram relatados em até 50% dos pacientes mas, muitas vezes, a DHGNA é diagnosticada após a realização de exames de rotina.

Estudos mostram que, entre os pacientes com esteatose hepática simples, 12% a 40% desenvolverão NASH (forma mais avançada da doença hepática gordurosa não alcoólica) com fibrose precoce após oito a 13 anos. Desses, aproximadamente 15% desenvolverão cirrose e/ou evidência de descompensação hepática no mesmo período. Cerca de 7% das pessoas com cirrose compensada associada à DHGNA vão evoluir para câncer no fígado dentro de dez anos, enquanto 50% exigirão um transplante ou morrerão de causa relacionada ao fígado.

“Minha população estudada foi de adultos e idosos, mas seria importante avaliar o consumo de frutose em crianças e adolescentes”, explica. “A oferta de ultraprocessados é enorme para esse público. Na cantina da escola, por exemplo, refrigerante e água têm o mesmo preço.”

Foto: Reprodução/HCV-Trials

 

Jovens e adolescentes na mira

Clara contou ao Jornal da USP que o trabalho dela abriu várias outras possibilidades de estudo. “Minha população estudada foi de adultos e idosos, mas seria importante avaliar o consumo de frutose em crianças e adolescentes”, explica. “A oferta de ultraprocessados é enorme para esse público. Na cantina da escola, por exemplo, refrigerante e água têm o mesmo preço.”

Outro exemplo seria o acompanhamento mais próximo da dieta de alguns pacientes para verificar se há a mesma resposta clínica.

O Elsa-Brasil é um estudo iniciado em 2008, que investiga, na população brasileira, a incidência e fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares (acidente vascular cerebral, hipertensão, arteriosclerose, infarto, entre outras) e doenças associadas. São 15 mil participantes, de várias regiões do País, com idade entre 35 e 74 anos. No próximo mês de agosto eles serão novamente convocados para entrevistas e exames que identifiquem uma possível evolução dos fatores de risco para essas doenças – que são consideradas a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo.

Veja, neste link, outras pesquisas realizadas pelo Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil).

Mais informações: e-mail clara.freiberg@gmail.com, com Clara Freiberg.

Texto: Fabiana Mariz
Arte: Adrielly Kilryann

FONTE: Jornal da USP

Sete horas de sono por noite é o ideal na meia-idade e durante o envelhecimento

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Estudos indicam que sete horas de sono por noite é uma média ideal na meia-idade e na velhice e pessoas que dormem por pouco tempo ou longos períodos podem apresentar piora no bem-estar geral e mais sintomas de ansiedade e depressão. Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar 1ª Edição entrevistou Andrea Toscanini, médica clínica do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e da equipe Laboratório do Sono do instituto.

Andrea atenta para o fato de que a privação do sono é mais estudada que o excesso dele e destaca que ambos os casos não são benéficos. “Dormir, por exemplo, nove horas ou mais, não tem um efeito benéfico”, complementa. Há correlação entre o sono e o desenvolvimento de doenças degenerativas, como o Alzheimer, e alterações metabólicas também acompanham a falta de sono. No entanto, é  importante salientar que, para o desenvolvimento dessas enfermidades, a prática de se dormir mais ou menos precisa ocorrer há muitos anos.

Influência cultural

Para ela, a prática de se dormir pouco possui influências culturais vinculadas à produtividade. Por isso, para a prática do bom sono, é necessário, nas palavras dela, “lavar nosso preconceito em relação a dormir bem”, para depois organizar o seu dia, reservando oito horas de sono e 30 minutos para o adormecimento, e finalmente nos acostumando a uma dinâmica mais saudável.

A importância do sono está no processo de limpeza dos metabólitos de reações químicas e produtos proteicos, que só acontece no momento de descanso. Essa limpeza ocorre na segunda fase do sono, quando nos encontramos em sono profundo.

A médica finaliza dizendo que um aliado na prática do bom sono é o profissional especialista, área relativamente nova, mas que foca em questões pontuais. Ela expõe ainda que há a necessidade da implementação do estudo do sono na base dos cursos de medicina, por essa ser uma questão permeante em outras áreas médicas, justamente porque distúrbios do sono são extremamente prevalentes, afetando mais da metade da população do Brasil e do mundo.

FONTE: Jornal da USP

Canabidiol combinado a antibiótico mostra potencial contra superbactérias

Em testes no laboratório, a combinação do canabidiol ultrapuro com o antibiótico polimixina B teve atividade antibacteriana contra superbactérias resistentes inclusive ao antibiótico isolado.

Um estudo das Faculdades de Ciências Farmacêuticas (FCFRP) e de Medicina (FMRP), ambas da USP em Ribeirão Preto, da Unesp em Araraquara e do Instituto Ramón y Cajal de Investigación Sanitaria, da Espanha, demonstrou o efeito antibacteriano sinérgico do canabidiol (CBD) em combinação com a polimixina B, antibiótico já utilizado nos hospitais para o tratamento de infecções hospitalares graves. Os resultados preliminares foram obtidos em testes laboratoriais e publicados no artigo Potential cannabidiol (CBD) repurposing as antibacterial and promising therapy of CBD plus polymyxin B (PB) against PB-resistant gram-negative bacilli em abril, na revista Scientific Reports.

“Nossos achados demonstraram que a combinação do canabidiol ultrapuro com o antibiótico polimixina B teve atividade antibacteriana contra superbactérias como a Klebsiella pneumoniae, extremamente resistente a antibióticos, e que pode causar infecções graves em pessoas hospitalizadas como pneumonia, infecções no sangue e meningite. De modo surpreendente, os resultados foram promissores contra bactérias que também eram resistentes à polimixina B, ou seja, para aquelas em que o antibiótico sozinho não tem atividade”, explica Leonardo Neves de Andrade, professor da FCFRP, biomédico e coordenador do estudo.

Os pesquisadores também observaram que o canabidiol sozinho foi antibacteriano contra bactérias como: Staphylococcus, que pode causar de faringite a endocardite; Enterococcus, que pode afetar o aparelho digestivo e urinário; Streptococcus, que pode provocar faringite, escarlatina, febre reumática, até pneumonia e meningite; Micrococcus, que afeta o equilíbrio da microbiota da pele; Rhodococcus sp., relacionada com infecções respiratórias; Mycobacterium sp., Neisseria spe Moraxella sp., que podem causar infecções nas vias aéreas e são sexualmente transmissíveis.

“Utilizamos diferentes metodologias que contribuíram para o entendimento de conceitos microbiológicos sobre a atividade antibacteriana da combinação do CBD com a polimixina B. Sugerimos que os canabinoides sejam mais explorados pela ciência por meio de novas formulações farmacêuticas, ensaios pré-clínicos e testes clínicos em seres humanos, visando ao reposicionamento do canabidiol como novo antibiótico”, ressalta Andrade.

O artigo é resultado dos estudos de mestrado da farmacêutica Nathália de Lima Martins Abichabki sob orientação do professor Andrade no Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia da FCFRP. Além da FMRP, houve colaboração da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp em Araraquara e do Hospital Universitario Ramón y Cajal / Instituto Ramón y Cajal de Investigación Sanitaria (IRYCIS) de Madri-Espanha.

O canabidiol (CBD) é uma substância extraída da planta Cannabis sativa que não possui efeito psicoativo. “O canabidiol já tem sido associado a múltiplas e potenciais atividades biológicas, especialmente ansiolítica, antipsicótica, anti-inflamatória, analgésica e neuroprotetora em casos de epilepsia, transtornos de ansiedade, distúrbios do sono, Parkinson e esquizofrenia”, explica José Alexandre Crippa, professor da FMRP, médico psiquiatra e um dos autores do estudo.

Resistência bacteriana e a importância de novos tratamentos

resistência bacteriana à ação dos antibióticos atualmente disponíveis tem como resultado o aumento da dificuldade em tratar doenças infecciosas já conhecidas, causando um prolongamento da infecção, incapacidade e até morte.

“Considerando as implicações sanitárias, sociais e econômicas da crescente resistência bacteriana, a OMS chama a atenção para a pesquisa, descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos contra patógenos multidroga-resistentes ou extensivamente droga-resistentes”, explica Fernando Bellissimo Rodrigues, professor da FMRP, médico infectologista e um dos autores do estudo.

Ainda de acordo com o especialista, a comunidade científica investiga diversas substâncias, incluindo produtos naturais. “Existem infecções hospitalares causadas por bactérias extremamente resistentes a praticamente todas as opções terapêuticas disponíveis no mercado. Dessa forma, o canabidiol surge como uma promessa, pois já tem uso licenciado e já demonstrou ser seguro para outras indicações clínicas. Os próximos passos envolvem os testes pré-clínicos e clínicos futuros em seres humanos, para avaliar se os resultados obtidos in vitro serão confirmados”, explica Bellissimo Rodrigues.

O trabalho completo está disponível neste link.

Mais informações: e-mails leonardo@fcfrp.usp.brfbellissimo@fmrp.usp.brjcrippa@fmrp.usp.br

Texto: Giovanna Grepi
Entrevista: Ana Beatriz Fogaça
Arte: Guilherme Castro

FONTE: Jornal da USP

Cérebro é capaz de filtrar emoções positivas e negativas durante o sono

Em estudo conduzido em ratos, pesquisadores do Departamento de Neurologia da Universidade de Berna, na Suíça, identificaram como o cérebro faz a triagem das emoções durante o sono.

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Todos sabemos que uma boa noite de sono é essencial para manter nosso corpo e mente em bom estado. Mas como exatamente dormir afeta nossas emoções e memórias ainda é assunto de investigação por cientistas.

Em um estudo publicado na revista Science, pesquisadores do Departamento de Neurologia da Universidade de Berna, na Suíça, identificaram, em ratos, como o cérebro faz a triagem das emoções durante o sono. Os cientistas analisaram especificamente a fase do sono em que nós sonhamos. De acordo com o trabalho, é nesse momento que o cérebro consolida o armazenamento de emoções positivas ao mesmo tempo em ele amortece a consolidação das negativas.

Para o professor Alan Luiz Eckeli, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, estudos como esse são mais uma peça do quebra-cabeça que busca compreender o processo complexo que envolve a retenção de memórias. “Essa retenção está relacionada a diversas áreas anatômicas, por isso, é importante sabermos de que maneira a consolidação da memória é mediada pelo processo biológico de sono”, destaca ele.

Especialista em Medicina do Sono, Eckeli explica que o estudo dos pesquisadores suíços se concentrou especificamente no sono de movimento rápido dos olhos, o sono REM. “Ele é um estado de sono único durante o qual a maioria dos sonhos ocorre em conjunto com conteúdos emocionais intensos”, reforça. Como e por que essas emoções são ativadas é que não está claro.

Durante o trabalho, os pesquisadores primeiro condicionaram os camundongos a reconhecer estímulos auditivos associados à segurança e outros associados ao perigo, também chamados de estímulos aversivos. A atividade dos neurônios no cérebro de camundongos foi então registrada durante os ciclos de sono vigília. Foi então que eles conseguiram mapear diferentes áreas e determinar como as memórias emocionais são transformadas durante o sono REM.

“O sono REM possui bastante conteúdo onírico, que envolve realismo fantástico, vários personagens, e isso gera curiosidade, mas todos os tipos de sono são importantes”, aponta o professor ao destacar que observar, fisiologicamente, como o sono influencia os gastos energéticos e metabólicos é alvo de diversos estudos da área.

Para compreender melhor o resultado do estudo europeu, é preciso lembrar que os neurônios são compostos de um corpo celular (que chamamos de “soma”) que integra informações provenientes dos dendritos (as entradas) e envia sinais para outros neurônios por meio de seus axônios (as saídas). Os resultados obtidos pela pesquisa mostraram que os somas celulares são mantidos em silêncio enquanto seus dendritos são ativados.

O professor esclarece que, de forma simplificada, o que se descobriu é que o cérebro favorece a discriminação de segurança versus perigo nos dendritos, mas bloqueia a reação exagerada à emoção, em particular ao perigo.

A partir da descoberta feita em ratos, futuramente, será possível aplicá-la em humanos, moderando o sono “até mesmo farmacologicamente. E essa modulação poderá ser utilizada para tratar condições clínicas como transtornos pós-traumáticos ou mesmo algo mais simples, como casos de transtorno do pesadelo, por exemplo”, finaliza Eckeli.

Por Denis Pacheco

Fonte: Jornal da USP

Tecnologia na medicina não pode substituir relação entre médico e paciente

Segundo Giovanni Guido Cerri, na era da saúde digital, a tecnologia, como a IA(Inteligência Artificial),  já são responsáveis por aumentar a rapidez e precisão de diversos diagnósticos, mas não podem substituir a avaliação de exames pelos médicos

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Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho de Inovação e do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, elucida os principais pontos envolvendo o equilíbrio entre inovação e humanismo na medicina digital.

Para ele, no decorrer das últimas duas décadas, a tecnologia apresentou um papel fundamental para que o homem pudesse viver mais e melhor. Mas, em alguns casos, ela se colocou acima da relação existente no contato humano, já que a  “formação do médico se transformou numa formação muito técnica e muitas vezes foi deixado de lado os aspectos humanísticos, a importante relação médico paciente”.

Por exemplo, os algoritmos de Inteligência Artificial ajudam médicos a fazer um diagnóstico mais preciso e também melhoram a produtividade do profissional em questão. Por um lado, isso configura um cenário de aliança entre o médico e a máquina, resultando em uma maior segurança do paciente. Por outro, Cerri destaca que isso pode estar sujeito a padrões de regulação, ampliando uma série de problemas, preconceitos e outros vieses.

Relação médico paciente

A inserção de ferramentas tecnológicas contribuiu em diversas formas para o avanço da medicina. “Com uma grande aceleração da tecnologia, não podemos esquecer da importante relação médico paciente que se constrói. Muitas vezes, uma relação de confiança é necessária para que o tratamento possa ser realizado com a eficácia esperada”, comenta o professor.

Esse cenário surge com a pandemia, período em que a telemedicina originou um novo tipo de relação que, para Cerri, necessita de uma ética adequada para as teleconsultas, a fim de se evitar um crescimento desordenado. Por fim, a utilização da tecnologia deve ir em benefício do paciente, sem prejudicar a relação entre ele e o médico, tomando cuidado para que essa incorporação tecnológica seja utilizada de forma adequada e segura: “Dessa segurança, nós temos que procurar dar ao paciente em questão esse equilíbrio entre o ser humano e a máquina”.

FONTE: Jornal da USP

Psicoestimulantes para melhora do desempenho mental causam dependência

Antônio Serafim se refere a psicoestimulantes como a Ritalina, que melhoram concentração e desempenho, mas têm efeito nocivo sobre o organismo

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A fase pré-universitária pode ser muito difícil e desgastante para os estudantes, assim como a busca por um novo emprego através de concursos públicos. Esse período de estudos costuma ser muito estressante devido ao volume de conteúdo e de informações a que o estudante é submetido. Por esse motivo, é muito comum as pessoas buscarem aumentar sua concentração e grau de absorção de informações através do consumo de medicamentos para tratar transtornos de déficit de atenção. Um levantamento feito com 12 neurologistas pelo jornal O Estado de S. Paulo apontou que houve um aumento nos últimos dois anos entre 70% e 100% no pedido de receita de psicoestimulantes por parte dos jovens.

Antônio Serafim, diretor do Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que “vários fatores podem levar as pessoas as buscarem recursos, mecanismos para lidar com o desempenho e a melhora de determinados aspectos. Um deles é o uso de medicação, principalmente os estimulantes ou psicoestimulantes como a Ritalina, para melhorar a concentração e o desempenho acadêmico”. Mas o que leva uma pessoa a buscar esse artifício? Na opinião do professor Serafim, “você pode ter de fato pessoas que estão em uma pressão, sob uma determinada condição, como o preparatório para vestibular, concurso, e sentem uma sobrecarga para melhorar o desempenho, passando a fazer uso desses recursos para ampliar essa capacidade de raciocínio, de concentração e memorização. Já as pessoas mais competitivas também, porque elas buscam ser melhor que as outras por uma necessidade psicológica. E existem aqueles que se sentem incapazes, insuficientes, mesmo sem procurarem um atendimento adequado, e acabam usando esses recursos”.

Dependência

O uso desses medicamentos controlados inicialmente é eficiente. Essas substâncias têm um efeito no sistema nervoso central, melhorando a conectividade, conexão neuronal e desempenho. A pessoa fica mais atenta, mais rápida no processo. No entanto, o uso pode levar a uma dependência, como destaca o doutor Serafim. Ele explica que essa dependência pode ser química ou psicológica. A pessoa acaba associando seu bem-estar e seu sucesso ao uso dessa medicação, recorrendo ao seu uso sempre que se sente insegura. Para definir como tratar e lidar com essa situação, é necessário verificar a intensidade e a frequência do uso dessa substância. Muitas vezes o usuário perde a noção e a capacidade de entender que esse recurso vem sendo prejudicial, levando à dependência.

O psiquiatra explica que “jovens na fase pré-universitária, alunos de cursos que têm um nível de exigência muito grande, como, por exemplo, o de medicina, com cargas horárias muito longas, e adultos em uma sociedade que vive o imediatismo com soluções rápidas e muitas vezes mágicas, buscam esses recursos”. Ao se identificar esse tipo de comportamento, o ideal é procurar uma ajuda profissional médica e psicológica.

Por Simone Lemos

FONTE: Jornal da USP