Diabetes e visão: o que a glicemia alta provoca

O diabetes é muito conhecido pela população no geral. Isso porque atinge um alto número de pessoas no Brasil e no mundo. Apesar de muito conhecida, nem todo mundo que convive com essa doença crônica conhece as complicações que ela causa, como insuficiência renal, má circulação e danos à visão.

Quando o diabetes não está controlado, pode contribuir para problemas como glaucoma e catarata, além de causar retinopatia diabética. Todos esses problemas de visão podem ser diagnosticados precocemente. No entanto, a visão é uma área da saúde que os brasileiros costumam negligenciar. Cerca de um terço da população do país com mais de 16 anos nunca foi à uma consulta com o oftalmologista.

Continue lendo para entender como controlar a glicemia e evitar tais problemas nas vistas. Saiba também quais são os exames preventivos que você deve fazer para se certificar de que a saúde de seus olhos está em dia.

Diabetes

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), no Brasil, existem mais de 13 milhões de pessoas que vivem com diabetes. Contudo, mais da metade desse número de pessoas não sabem que possuem a doença. O que representa grande risco no desenvolvimento de complicações por falta de tratamento.

O diabetes se caracteriza pelo alto nível de açúcar no sangue, e existem dois tipos:

Diabetes tipo 1

No tipo 1, a insulina, hormônio produzido pelo pâncreas com função de fazer a glicose (açúcar) ser absorvida pelas células, é produzida de forma insuficiente devido a uma resposta autoimune. Com isso, é preciso que a pessoa receba insulina para controlar a taxa de glicemia no sangue. É comum em crianças e adolescentes.

Diabetes tipo 2

No tipo 2, o organismo produz a insulina, mas ela não é utilizada de forma adequada em decorrência da resistência criada pelo organismo devido a fatores como uma dieta rica em alimentos ultra processados, sedentarismo, obesidade e hereditariedade. Esse tipo corresponde a 90% dos casos da doença. É comum em pessoas adultas.

Só esse tipo pode ser evitado com mudanças no estilo de vida.

É estimado que 40% das pessoas com diabetes venham a sofrer com complicações na visão. Para se ter ideia, a Retinopatia Diabética e o Edema Macular Diabético são os maiores responsáveis por causar a cegueira em adultos com idade ativa.

Retinopatia Diabética (RD)

Quando a glicemia não está controlada, ou seja, o nível de açúcar no sangue está elevado, as chances de os vasos sanguíneos da retina sofrerem danos é grande, o que caracteriza a retinopatia diabética.

O papel da retina em nossos olhos é detectar a luz e converter em sinais que são enviados pelo nervo ótico até o cérebro. A retinopatia diabética causa danos aos vasos sanguíneos, fazendo com que eles vazem na retina (causando hemorragia) e anulem a visão. Existem quatro estágios de retinopatia, são eles: 

  • Retinopatia proliferativa leve: micro aneurismas que podem vazar fluido na retina.
  • Retinopatia proliferativa moderada: os vasos da retina incham, se distorcem e perdem a capacidade de transportar sangue.
  • Retinopatia proliferativa grave: a maioria dos vasos sanguíneos estão bloqueados, o sangue não chega as áreas da retina, o que provoca uma reação automática na rotina de desenvolver novos vasos sanguíneos. 
  • Retinopatia diabética proliferativa (PDR): os novos vasos sanguíneos são mais propensos a vazar e sangrar, existe o alto risco de descolamento da retina, o que leva a perda permanente da visão.

Edema Macular Diabético (EMD) ou Maculopatia Diabética

EMD é a causa mais comum de perda de visão em pessoas com retinopatia diabética. É provocada pelo acúmulo de líquidos, conhecido como edema, em uma região da retina chamada mácula. Essa região da retina é usada para atividades como ler, reconhecer rostos e dirigir. Cerca de 5% dos portadores de diabetes irão desenvolver DME. 3

Sinais e sintomas

Nos estágios iniciais, geralmente, não há sintomas. Conforme a doença avança de modo silencioso, o sangramento que caracteriza o estágio avançado se traduz em forma de machas “flutuantes” na visão da pessoa. Sem o devido tratamento, essas machas progridem para a perda total da visão. Com a ocorrência do EMD, a visão se torna turva e distorcida até se perder totalmente.

Exames de vista

Os exames para detectar a Retinopatia Diabética e a EMD são:

  • Testes que verificam a precisão visual: avalia a capacidade da pessoa de enxergar em diferentes distâncias. 
  • Tonometria: avalia a pressão dentro do olho. 
  • Dilatação da pupila: um colírio é usado para dilatar a pupila para o médico poder examinar a retina através dos exames Oftalmoscopia indireta, Retinografia e Angiofluoresceinografia. 
  • Tomografia de coerência ótica (OCT): semelhante a um ultrassom, esse exame utiliza ondas de luz para capturar imagens de tecidos do olho.

Como se prevenir?

Devido retinopatia diabética e as outras doenças visuais como o glaucoma e a catarata serem silenciosas no começo, é extremamente necessário que o paciente com diabetes mantenha os níveis de glicose no sangue (glicemia) controlados e consulte-se com um profissional oftalmologista, pelo menos uma vez por ano.

Você deve saber que, para controlar o diabetes, é preciso mais do que só seguir o tratamento medicamentoso. É necessária uma mudança no estilo de vida, como a melhora na alimentação e inclusão de exercícios físicos diariamente.

FONTE: Jornal da USP

Doenças evitáveis são importantes causas de deficiência visual intratável

Estudos globais indicam que o número de pessoas com baixa visão funcional, caracterizada por uma deficiência visual intratável, está aumentando. Com o objetivo de traçar o perfil dos pacientes com a condição, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avaliaram os prontuários médicos de pessoas atendidas no Centro de Reabilitação (CER) do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) entre 2009 e 2017.

“Como há poucos estudos epidemiológicos que nos dizem as causas de baixa visão funcional ou cegueira irreversível, principalmente em crianças, artigos como esse nos ajudam a ter um panorama das principais doenças na nossa região. Assim, podemos planejar ações de educação em saúde, diagnóstico, tratamento e reabilitação”, explica Manuela Molina Ferreira, médica oftalmologista, mestre pela FMRP e primeira autora do estudo Causes of functional low vision in a Brazilian rehabilitation service.

Os resultados do estudo em Ribeirão Preto mostraram que, entre as crianças, as três maiores causas de baixa visão funcional são: paralisia cerebral (alteração neurológica que afeta o desenvolvimento motor e cognitivo) em 27,9% dos casos, toxoplasmose ocular (doença causada por um protozoário) em 8,2%, e retinopatia da prematuridade (problema na vascularização da retina) em 7,8%. “Nas duas últimas situações é possível adotar medidas preventivas que podem diminuir o índice. Por exemplo, orientação sobre consumo de água e alimentos para casos de toxoplasmose e campanhas de educação direcionadas a gestantes sobre retinopatia da prematuridade, além do pré-natal adequado”, conta.

Já entre os adultos de meia-idade e idosos a retinopatia diabética, que é causada por um dano nos vasos sanguíneos da retina e está associada ao mau controle da glicemia, está presente em 18% dos casos e a degeneração macular relacionada à idade, que é uma lesão progressiva da mácula, em 25,3%. “A retinopatia é uma causa importante e os dados nos contam que muitos diabéticos não estão fazendo o controle adequado da glicemia”, explica João Marcello Furtado, professor da FMRP e coordenador do estudo.

Furtado conta que a degeneração macular relacionada à idade é a principal causa em idosos. “A doença possui um tratamento caro e não curativo. Por isso, com o aumento da expectativa de vida que deve ocorrer nas próximas décadas, o impacto da degeneração macular relacionada à idade deve ser ainda maior em um futuro próximo”, afirma.

A importância do resultado está em aumentar o conhecimento sobre as doenças que estão relacionadas à baixa visão funcional. “Se conseguimos evitar a cegueira, melhoramos a qualidade de vida das pessoas e aumentamos a chance desses indivíduos atingirem um maior nível de estudo e produtividade no trabalho. Isto gera um benefício direto para quem sofre a ação em saúde, mas também para seu entorno e a sociedade em geral”, conclui o professor Furtado.

A pesquisa

Os pesquisadores recuperaram e avaliaram os dados dos prontuários médicos físicos e digitais de pessoas atendidas no ambulatório de Reabilitação Visual do Centro de Reabilitação (CER) do HCFMRP entre 2009 e 2017. Entre as informações recuperadas estão a causa, o quanto enxergavam e quais foram os auxílios ópticos prescritos.

Para os estudos, foram incluídos 1.393 pacientes, que foram separados por três faixas etárias: de 0 a 14 anos, de 15 a 49 anos e com 50 anos ou mais. Sendo que os idosos representavam o número mais volumoso, com 38,8% dos pacientes, seguidos pelas crianças com 36,7%.

O estudo Causes of functional low vision in a Brazilian rehabilitation service foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, em fevereiro e conta com autoria de Manuela Ferreira, Furtado e da médica Rosalia Antunes Foschini, do HCFMRP.

Centro de Reabilitação

Criado em dezembro de 2007, o CER do HCFMRP é referência em reabilitação de alta complexidade para Ribeirão Preto e região. Os atendimentos são voltados para as áreas de Reabilitação Física, Visual, Auditiva, Intelectual, Ostomia e Múltiplas Deficiências, além da dispensação de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção e auxílios ópticos.

A equipe é composta de profissionais de diferentes formações, como: fisioterapeutas, médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, assistente social, psicólogos, fonoaudiólogos, educador físico, ortoptista, pedagoga e técnico ortopédico, além de Equipe Técnica e Equipe Administrativa.

Mais informações: manuelamf@hotmail.comfurtadojm@gmail.comantunesfoschini@gmail.com com os pesquisadores.

FONTE: Jornal da USP