Traumas são experiências marcantes que podem promover adoecimento psíquico

Comumentemente, a palavra “trauma” é empregada para descrever situações aversivas que envolvem estresse e produzem uma experiência negativa. Segundo Álvaro Cabral Araújo, médico e professor convidado do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o termo é usado de forma frequente para descrever situações de estresse e frustrações cotidianas.

Para a psicologia e psiquiatria, entretanto, a palavra é usada para descrever experiências graves, potencialmente capazes de promover um adoecimento psíquico. “Os manuais diagnósticos de psiquiatria como a CID-11,  da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o DSM5, da Associação Americana de Psiquiatria, descrevem o trauma ou evento traumático como uma exposição a experiências graves, como episódios concretos, ou ameaças de morte, lesão grave ou violência sexual”, explica Araújo.

Consequências 

O psiquiatra explica que “trauma” não é o nome dado para um diagnóstico psiquiátrico ou para um transtorno psiquiátrico específico. A exposição a um evento traumático não implica, obrigatoriamente, no desenvolvimento de transtornos psiquiátricos. O sofrimento e os prejuízos experienciados por pessoas que sofrem algum trauma são variáveis, e a maioria das pessoas se recupera espontaneamente.

Entretanto, existem alguns transtornos que estão relacionados a traumas e a estressores, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), quadro que acomete aproximadamente 10% dos indivíduos expostos a um evento traumático. Araújo pontua que, em casos de TEPT, existem critérios específicos de diagnóstico e que é possível realizá-lo. Depois que um indivíduo é exposto a um trauma, ele pode apresentar alguns sintomas, segmentados em três grupos.

O primeiro diz respeito à revivescência do evento traumático – também conhecido como sintoma intrusivo. “Isso inclui lembranças frequentes sobre o trauma, são pensamentos intrusivos; não é que a pessoa se esforça para pensar sobre aquele tema, ela é invadida por essas lembranças. Isso pode acontecer também na forma de pesadelos e na forma de flashbacks”, exemplifica.

O segundo grupo de sintomas é o de evitação ou esquiva. A partir do momento em que o indivíduo desenvolve o quadro de Estresse Pós-Traumático, é normal que ele passe a evitar coisas relacionadas ao evento traumático. “Se uma pessoa sofreu um assalto caminhando em uma determinada rua, é possível que a pessoa evite passar por aquele lugar, evite estar em contato com pessoas que estavam presentes no dia do assalto, por exemplo”, explica o psiquiatra.

O terceiro grupo diz respeito a sintomas de hiperatividade ou hiperexcitação, em que os indivíduos afetados pelo transtorno, depois da exposição ao trauma, vivem em estado de alerta, assustam-se com mais facilidade e são mais reativos e irritados do que em condição normal.

Miriam Debieux Rosa, professora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia (IP) da USP e coordenadora do Laboratório Psicanálise, Sociedade e Política (PSOPOL/IPUSP) e do Grupo Veredas: psicanálise e imigração (PSOPOL/IPUSP), pontua que o diagnóstico é decisivo para determinar o tipo de tratamento adequado para pessoas que sofreram com traumas.

Apagamento da memória 

Pessoas expostas a eventos traumáticos, estressores graves ou situações emocionais muito intensas podem apresentar manifestações de dissociação, como a amnésia dissociativa – quadro em que alguns indivíduos são incapazes de recordar aspectos relevantes do evento traumático vivenciado.

Segundo Mario Otero, psicólogo no Ambulatório de Transtornos Somáticos (Soma) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em alguns casos, essa amnésia afeta alguns momentos da vida do indivíduo, ou pode ser mais severa, caso em que a pessoa pode esquecer quem ela é, se tem família e o que faz profissionalmente, por exemplo. “Essa dissociação ocorre para proteger a pessoa das memórias e dos afetos ruins ligados a algum tipo de experiência que ela não conseguiu elaborar psiquicamente”, exemplifica.

Cabral explica que existem outras manifestações dissociativas, como desrealização – sensação de desconexão com o ambiente, como se ele não fosse real ou se algo estivesse modificado – ou despersonalização – situação em que o indivíduo se enxerga como se estivesse de fora da situação vivida.  “Esses fenômenos dissociativos podem ser descritos como uma desintegração das funções psíquicas, da consciência, das percepções, da memória. São fenômenos que podem ocorrer diante de estressores graves, provocando essa dissociação”, pontua.

Mesmo que memórias traumáticas sejam bloqueadas, situações como a reexposição a algum evento traumático ou o contato com detalhes da experiência vivida podem permitir que as lembranças sejam acessadas. No caso de uma pessoa que sofreu alguma violência sexual no final da infância ou início da adolescência, por exemplo, e passou boa parte da vida sem entrar em contato com aquela memória, é possível que esse conteúdo seja acessado novamente, caso ela experiencie outra situação abusiva, ou ouça algum relato sobre alguma violência.

Tratamentos 

Nos casos de dissociação, Otero explica que o tratamento desses quadros consiste em colocar o indivíduo afetado para relatar o que for possível e o que for lembrado e, à medida em que ele se abre para o analista, consegue acessar as experiências ruins e atribui um significado ao acontecimento. “Quando a pessoa vai se sentindo mais segura e mais forte para se aproximar dessas experiências ruins do passado, é quase como se a dissociação, essa separação daquele conteúdo ruim, não fosse mais tão necessária”, exemplifica o psicólogo.

Miriam aponta que o grau das situações traumáticas influencia na forma como o tratamento com os afetados deve ser realizado. “Situações violentas, por exemplo, vão ter vários níveis de elaboração, então há uma vida para lidar com as perdas, e principalmente essas muito intensas. Mas isso não significa que a pessoa tenha que viver em sofrimento o tempo todo”, exemplifica. Na própria psicanálise, segundo a professora, existem inúmeras abordagens a respeito do tipo de tratamento, mas dependem do modo como o indivíduo se defende na sua organização psíquica.

Para Araújo, é importante que os indivíduos que são expostos a uma situação traumática sejam acolhidos. “Tanto profissionais como familiares que vão prestar algum tipo de assistência no momento imediato, poucos dias após a exposição ao evento traumático, devem ter esse cuidado de não forçar a pessoa a lembrar ou contar detalhes da situação que aconteceu com ela, apenas se colocar ali à disposição, acolher e tentar fortalecer a rede de apoio”, explica.

Segundo o psiquiatra, cerca de 90% das pessoas expostas a eventos dessa natureza se recuperam completa e espontaneamente dentro de alguns dias. Entretanto, existem casos em que o indivíduo reconhece que, desde o evento traumático, apresenta prejuízos em sua função habitual. Nesses cenários é importante que busquem um tratamento psicológico com bons profissionais.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

FONTE: Jornal da USP

Jantar tardio pode gerar problemas à saúde

Estudo de cientistas norte-americanos aponta os malefícios das refeições noturnas e alerta que, tornar um hábito regular as refeições noturnas, especialmente pouco antes de dormir, pode trazer consequências indesejadas para a saúde. Laís Murta, nutricionista e doutoranda do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, explica por que as refeições noturnas apresentam risco ao processo digestivo.

Rotina

Segundo a especialista, principalmente nos grandes centros urbanos, a rotina é uma das principais responsáveis por esse problema, já que muitas pessoas costumam omitir o café da manhã e postergam todas as outras refeições, inclusive o jantar, que passa a ser realizado após o horário de 21 horas. Ela conta que a omissão das refeições diurnas influencia também na quantidade calórica do jantar, já que o corpo sente a necessidade de consumir mais nutrientes para suprir o que não foi ingerido durante o dia.

“Protelar o horário das refeições, fazer o jantar mais tarde acaba sendo um momento de maior tranquilidade. Então, o momento em que a pessoa vai conseguir desfrutar dessa refeição de uma forma mais calma, tranquila, mas essa acaba sendo uma refeição mais calórica, que vai trazer com certeza uma série de consequências prejudiciais para a saúde”, esclarece.

Metabolismo

De acordo com a doutoranda, o corpo humano é projetado para que todos os processos biológicos e metabólicos, como digestão e produção de hormônios, sejam realizados durante o período diurno. Quando o jantar ocorre em um horário tardio, o processo metabólico é atrasado e a função das nossas células pancreáticas, que produzem insulina, acaba sendo menor e podem gerar risco de diabete.

Para a nutricionista, doenças cardiovasculares e surgimento de obesidade também podem ser provocadas por esse adiamento no jantar. Ela conta que alguns estudos mostram que as refeições pela manhã, mesmo hipercalóricas, têm impacto positivo nas funções cardiovasculares e auxiliam na perda de peso, enquanto as mesmas refeições à noite causam efeito contrário.

“A refeição hipercalórica pela manhã acaba tendo uma melhora em parâmetros cardiovasculares e acaba gerando perda de peso, enquanto a mesma refeição à noite provoca todo um efeito contrário. Isso, com o tempo, pode aumentar o risco de doença cardiovascular, o risco de diabete, entre outras consequências”, afirma.

Termogênese

Conforme Laís Murta, após as refeições, o corpo passa pelo processo de termogênese, no qual queima calorias para produção de calor. Nesse sentido, ela explica que é importante as refeições noturnas serem mais leves, para que o corpo não precise queimar tantas calorias no momento de dormir, o que interfere na qualidade do sono e pode causar acúmulo de gordura.

A especialista conta que o ideal é consumir alimentos até quatro horas antes de dormir, com o intuito de que o corpo consiga realizar o processo digestivo de maneira equilibrada. Ela conta que, já que a maioria das pessoas costuma dormir entre 22h e 23h, o mais correto é realizar a última refeição antes das 19 horas. “Não adianta a gente se importar apenas com a quantidade e com a qualidade. A gente tem que se preocupar também com o horário, isso é fundamental”, finaliza.

FONTE: Jornal da USP

Comer e correr para o banheiro: a dor de barriga inesperada

Você é daquelas pessoas que, assim que acaba de comer, já sente vontade de ir ao banheiro? Apesar de ser algo comum, isso pode ser algo muito incômodo e, em alguns casos, ser um sinal de alerta para algum problema.

Primeiro de tudo é importante saber que cada um tem uma resposta diferente à ingestão de alimentos. Acontece que, para as pessoas com respostas mais exacerbadas, a vontade de evacuar se manifesta várias vezes após comer e pode acontecer, inclusive, com diarreia associada. 

Quem nunca passou um sufoco com uma dor de barriga inesperada e teve que correr para o banheiro mais próximo que atire a primeira pedra!

Agora, se essas idas ao banheiro estão impactando a sua qualidade de vida e trazendo desconforto para sua rotina como deixar de se alimentar por receio de precisar evacuar em ambiente público, ou se estiver acompanhada de uma dor abdominal, talvez você deva ficar mais atento. 1

Possíveis causas da dor de barriga

A dor de barriga pode ser causada por problemas mais simples, como uma má digestão ou excesso de gases, mas também pode ser um sinal de alerta para disfunções no estômago, intestino, fígado, vesícula, bexiga, útero e ovários. 2

Essa dor pode ser desencadeada ou estar associada a fatores como comer, realizar determinados movimentos, manter uma postura inadequada e até mesmo carregar peso. Além disso, é muito comum que a dor de barriga venha acompanhada de náuseas, vômito, diarreia e febre. 2

Algumas condições e tratamentos podem contribuir para que as fezes fiquem no intestino grosso por menos tempo. Entre eles estão o hipertireoidismo; remoção cirúrgica de parte do estômago, intestino delgado ou grosso; derivação cirúrgica de parte do intestino; doença inflamatória intestinal (por exemplo, colite ulcerativa); remoção cirúrgica da vesícula biliar e o uso de medicamentos como, por exemplo, antiácidos contendo magnésio, laxantes, prostaglandinas, serotonina e até mesmo cafeína. 3

Além disso, alguns alimentos também podem influenciar a velocidade com que seu intestino funciona. Alimentos ácidos ou com quantidade muito alta de açúcar, podem aumentar a taxa de trânsito. Em alguns casos, como nos intolerantes à lactose, as pessoas não toleram alimentos específicos e desenvolvem diarreia depois de consumi-los. 3

Outro fator muito importante também é a sua saúde emocional. Pois é! Por incrível que pareça, o estresse e a ansiedade também são causas comuns da diarreia. 3

Quando procurar um médico?

Quando a dor de barriga está relacionada a um problema simples, costuma desaparecer sem necessidade de tratamento, mas em casos de dores súbitas, intensas e frequentes, é importante buscar a ajuda de um médico para identificar a causa e receber o tratamento adequado. 2

Alguns sinais de alerta levantam a suspeita de uma causa mais séria da dor de barriga: 3

  • Sangue ou pus nas fezes
  • Febre
  • Sinais de desidratação (como micção reduzida, letargia ou apatia, sede extrema e boca seca)
  • Diarreia crônica
  • Diarreia noturna
  • Perda de peso

Algumas pessoas podem precisar de exames e tratamento imediatos e, às vezes, de hospitalização. Dependendo dos outros sintomas, da sua idade e histórico clínico, o médico pode recomendar que você faça exames ou indique alguns tratamentos. 3

Fique atento aos sinais de alerta e, em caso de dúvidas, marque uma consulta com um clínico geral ou gastroenterologista para entender melhor sobre o funcionamento do seu intestino e se você tem algum problema que precisa ser cuidado.

Só não vale continuar passando aperto, né?

Referências:

  1. https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/08/10/ir-ao-banheiro-logo-apos-comer-e-ruim-ou-sinal-que-o-metabolismo-e-rapido.htm
  2. https://www.bp.org.br/artigo/dor-abdominal
  3. https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-digestivos/sintomas-de-dist%C3%BArbios-digestivos/diarreia-em-adultos

BR-18728. Material destinado a todos os públicos. Jul/2022

FONTE: Blog FazBem

Neurofibromatose: descubra qual médico procurar para o tratamento

Apesar de ser um conjunto de doenças pouco conhecido pelas pessoas em geral, a neurofibromatose (NF), em qualquer de suas formas, merece nossa atenção, pois pode comprometer pele, olhos, ossos, sistema nervoso e outros órgãos internos.

Causada por desordens genéticas ou hereditárias, a neurofibromatose não tem cura, mas é tratável. Sua forma mais comum de manifestação é a NF Tipo 1, que aparece, geralmente, já nos primeiros anos de vida. Há impactos tanto funcionais quanto estéticos na vida do paciente.

Se você ou alguém de sua família foi diagnosticado com neurofibromatose e ainda não sabe muito bem o que fazer daqui para frente, fique tranquilo. Vamos contar para você o que fazer após o diagnóstico de neurofibromatose para ter mais qualidade de vida.

O que fazer após o diagnóstico de Neurofibromatose?

É normal que muitas dúvidas surjam depois de receber o diagnóstico de uma doença pouco conhecida, mas o primeiro (e mais importante) passo daqui para frente é buscar a orientação de um médico especialista em neurofibromatose.

Por meio do acompanhamento adequado, é possível conviver bem com a doença e ter uma boa qualidade de vida. Agora, a dúvida que não quer calar: qual médico procurar após o diagnóstico da doença?

A verdade é que o tratamento das neurofibromatoses pode requerer especialistas de várias áreas médicas, principalmente em casos de pacientes com NF Tipo 2 e Schwannomatose.

Por se tratar de uma doença genética que atinge diversas partes do organismo, entre eles o sistema nervoso central, é indicado procurar médicos neurologistas, neurocirurgiões e geneticistas, que cuidam especificamente das principais manifestações da doença.

É claro que cada pessoa é única e, a depender dos sintomas e implicações da doença na saúde do paciente, é indicado procurar ainda por médicos dermatologistas, oftalmologistas, psiquiatras e oncologistas, que realizarão os tratamentos mais adequados para cada caso.

Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), o tratamento da pessoa com neurofibromatose ocorre através do cuidado multiprofissional e integrativo, o que significa que haverá uma verdadeira equipe de profissionais empenhada em realizar um tratamento satisfatório da doença.

Como é o tratamento da neurofibromatose?

Felizmente, existem diversos tratamentos capazes de solucionar as principais queixas dos pacientes com neurofibromatose. Apesar de não ter cura, é possível controlar os sintomas e ter mais qualidade de vida.

Dentre os tratamentos aplicáveis para a neurofibromatose, estão as intervenções cirúrgicas, quimioterapia ou radioterapia. Em alguns casos, o tratamento poderá acontecer apenas por meio do acompanhamento de exames, sem necessidade de intervenções cirúrgicas.

A escolha dos tratamentos dependerá do tipo de neurofibromatose, dos seus sintomas e ainda das particularidades de cada paciente. Por isso, buscando orientação profissional especializada, o melhor tratamento será indicado para o seu caso.

Fontes:

  1. Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica:

https://sbop.com.br/neurofibromatose/

  1. Acta Cirúrgica Brasileira:

https://www.scielo.br/j/acb/a/7HMfd9rMb4ZFyKGJZC94k3g/?lang=pt#:~:text=A%20ocorr%C3%AAncia%20da%20neurofibromatose%20%C3%A9,ou%20monossintom%C3%A1ticas)4%2C5.

  1. Associação Mineira de Apoio às Pessoas com Neurofibromatoses:

https://amanf.org.br/2015/06/entrevista-do-dr-nikolas-mata-machado-sobre-as-neurofibromatoses/

  1. Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica – Webinar:

https://www.youtube.com/watch?v=UFiQF8Yn_hs

BR-17323. Material destinado a todos os públicos. Jun/2022

FONTE: Blog FazBem

O que é diabetes insulinodependente?

O diabetes tipo 1 (DM1), antigamente, era chamada de diabetes melito insulinodependente (DMID). Essa forma de diabetes atinge de 10 a 20% dos casos. Os outros 80 a 90%, correspondem ao que hoje chamamos de diabetes tipo 2 (DM2) e que antes era chamado de diabetes melito não-insulino – dependente (DMNID).¹ 

Sobre o diabetes 

Diabetes é uma doença na qual o nível de glicose (açúcar) se encontra alto no sangue, o que chamamos de hiperglicemia. ² 

A glicose serve como combustível para o funcionamento das células de nosso corpo, mas para ser absorvida, precisa ser quebrada pelo hormônio chamado insulina ² 

Quando, por algum motivo, a insulina não consegue fazer esse trabalho, os níveis de glicose aumentam no sangue, o que pode levar a complicações no coração, nas artérias, nos olhos, nos rins e nos nervos. ² 

Diabetes tipo 1 

O tipo 1 é mais comum de ser diagnosticado na infância e adolescência e corresponde a menor quantidade de pacientes com diabetes³ 

Nesse tipo, o organismo não consegue produzir insulina devido a destruição das células do pâncreas (órgão que produz a insulina) por um mecanismo autoimune (o sistema imunológico enxerga erroneamente uma substância como nociva e a ataca). ³ 

O sistema imunológico ataca as células do pâncreas (órgão no qual a insulina é produzida) e a produção de insulina fica comprometida. ³ 

Quem tem parentes com diabetes tipo 1 têm maiores chances de desenvolver a doença. ³  

Sintomas do diabetes tipo 1 

  • Fome frequente ² 
  • Sede constante ² 
  • Vontade de urinar diversas vezes ao dia ² 
  • Perda de peso ² 
  • Fraqueza ² 
  • Fadiga ² 
  • Mudanças de humor ² 
  • Náusea e vômito ² 

Tratamento  

Para manter a glicose no sangue em valores adequados, as pessoas com diabetes tipo 1 precisam de injeções diárias de insulina, por isso esse tipo era conhecido como diabetes insulino-depedente. ² 

A medição do nível de glicose é feita por um aparelho chamado glicosímetro. A insulina é aplicada em forma de injeção em locais como a barriga, coxa, braço, região da cintura ou glúteo (regiões com gordura). ² 

cuidado com a alimentação também é essencial, evitando alimentos ultra processados e com grande quantidade de açúcar.  

Diabetes tipo 2  

O tipo 2 pode ocorrer por dois motivos: 

  • O organismo não produz quantidade suficiente de insulina ou  
  • As células do organismo não absorvem a quantidade certa de insulina (resistência à insulina). ³  

Esse tipo é mais comum de ser diagnosticado na fase adulta, devido ao acúmulo de maus hábitos alimentares, mas também se verifica que existe a maior chance de desenvolvimento de diabetes tipo 2 em quem têm pais ou irmãos com a doença. ³  

Sintomas do diabetes tipo 2 

  • Fome frequente ² 
  • Sede constante ² 
  • Formigamento nos pés e mãos ² 
  • Vontade de urinar diversas vezes ² 
  • Infecções frequentes na bexiga, rins, pele e infecções de pele ² 
  • Feridas que demoram para cicatrizar ² 
  • Visão embaçada ² 

Atenção aos Hábitos 

Cerca de 80% das pessoas que desenvolvem resistência à glicose estão com excesso de gordura corporal e são sedentárias. Nas pessoas que estão acima do peso ou obesas, as células do organismo respondem menos à ação da insulina. ³ 

Tratamento  

De acordo com a condição clínica de cada paciente, pode ser utilizado determinado medicamento para tratamento. ² 

Por este motivo, esse tipo era chamado de não-insulino-dependente. ² Somente seu 

médico saberá a melhor abordagem para seu tratamento.  

Existem 3 abordagens de tratamento: 

  • Uso de inibidores da alfa-glicosidase:  impedem a digestão e absorção de carboidratos no intestino² 
  • Uso de sulfonilureias ou glinidas: que estimulam a produção pancreática de insulina pelas células. ² 
  • Uso de insulina (caneta ou injeção): regula o nível alto de glicose no sangue (hiperglicemia) ² 

Essas três abordagens são acompanhadas de reeducação alimentar e outras recomendações, caso a diabetes esteja associada a outras doenças como hipertensão e sobrepeso, por exemplo. ² 

Procurando ajuda  

Ao ser diagnosticado com diabetes tipo 1 ou 2, é importante manter o tratamento com o médico e não parar de tomar as medicações por conta própria ao sentir os sintomas diminuindo. ² 

Hoje, é super possível conviver com os dois tipos de diabetes, mas os cuidados precisam ser tomados para evitar complicações. ² 

Referências: 

1 – DA SILVA LUCENA, Joana Bezerra. DIABETES MELLITUS TIPO 1 E TIPO 2. Arquivo FMU, 2022.  Disponível em https://arquivo.fmu.br/prodisc/farmacia/jbsl.pdf Acesso em 27/07/22 

2 – PARANÁ SECRETARIA DE SAÚDE. DIABETES MELLITUS. PARANÁ SECRETARIA DE SAÚDE. Disponível em: https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Diabetes-diabetes-mellitus#:~:text=A%20causa%20do%20diabetes%20tipo%202%20est%C3%A1%20diretamente%20relacionado%20ao Acesso em 27/07/22  

3 – BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. COMO OCORRE O DESENVOLVIMENTO DE DIABETES TIPO 1 E 2 NO ORGANISMO HUMANO?. BIBLIIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. DISPONÍVEL EM: https://aps-repo.bvs.br/aps/gostaria-de-saber-mais-informacoes-sobre-como-ocorre-o-desenvolvimento-de-diabetes-tipo-1-e-2-no-organismo-humano/ ACESSO EM 27/07/07 

BR-18919. Material destinado a todos os públicos. 2022

FONTE: Blog FazBem

Cólica renal: como surge e quais cuidados tomar

Causada pelo deslocamento de pedras no trato urinário, a cólica renal é um sintoma típico da presença de pedras nos rins ou cálculos renais e é conhecida como uma condição bastante dolorosa(1)

Veja como prevenir a formação de cálculos e como agir, no caso de cólicas renais.  

Formação do cálculo renal

O cálculo renal é formado por minerais presentes na urina que se cristalizam e se unem, formando as estruturas que conhecemos popularmente como pedras nos rins(2, 3)

Em geral, essas pedras se formam quando a urina fica muito concentrada, o que permite que os minerais presentes na urina se cristalizem(3)

Pedra nos rins: fatores de risco

Vários fatores podem estar associados ao desenvolvimento dos cálculos renais, incluindo(2)

  • Hereditariedade
  • Obesidade
  • Sedentarismo
  • Dieta rica em proteínas e sal
  • Baixa ingestão de líquidos.

Fatores ambientais, como temperaturas muito quentes, também podem elevar a incidência das pedras nos rins, uma vez que o aumento da transpiração, aliado a uma hidratação inadequada, tende a favorecer o acúmulo de cristais na urina(4)

Quais os sintomas da cólica renal?

A cólica renal costuma aparecer de repente e pode estar localizada inicialmente na região lombar e irradiar para um dos flancos(2). À medida que a pedra se desloca pelo trato urinário, a intensidade da dor pode diminuir ou aumentar(3)

A cólica renal também pode vir acompanhada de outros sintomas(2, 3) como: 

  • Náusea e vômito
  • Febre e calafrios
  • Mudança na coloração da urina
  • Redução do fluxo urinário
  • Necessidade de urinar com frequência
  • Sensação permanente de bexiga cheia

Depois que o cálculo sai do ureter e entra na bexiga, a cólica renal diminui quase que imediatamente. A partir daí, a pedra é expelida pelo corpo por meio da urina(5)

A eliminação da pedra pela urina pode ou não ser dolorosa, dependendo do tamanho do cálculo (3). 

Por isso, é importante fazer uma avaliação médica. Em alguns casos, pode ser necessário realizar a remoção cirúrgica do cálculo(3)

Como aliviar a cólica renal? 

A cólica renal acontece enquanto o cálculo se desloca pelo trato urinário e é preciso lidar com o desconforto da dor desde o seu surgimento até a eliminação das pedras(5)

Durante as crises agudas de cólica renal, é importante evitar o consumo excessivo de água, uma vez que o acúmulo da urina nos rins pode aumentar a pressão sobre o órgão e intensificar a dor(1)

Além disso, busque atendimento médico se houver cólica renal.

Guia de cuidados

A melhor maneira de evitar as cólicas de uma vez por todas é prevenir a formação dos cálculos renais e pequenas mudanças no estilo de vida têm um papel fundamental na prevenção(6).

 Veja as dicas:  

Beba líquido ao longo do dia

É importante manter-se hidratado por meio da ingestão de água e de sucos cítricos, que possuem uma substância que ajuda a bloquear a formação de cálculos(4,5)

Reduza o consumo de sal e de proteína animal

Opte por uma dieta pobre em sal. É possível substituir o sal por outros condimentos e temperos naturais, por exemplo(4,6).

Limite também a ingestão diária de carnes, pois o consumo excessivo da proteína animal favorece a formação dos cálculos(5)

Diminua a ingestão de alimentos ricos em oxalato

Alguns alimentos são ricos em oxalatos, que podem favorecer a formação de cálculos(6). Confira a lista dos alimentos que devem ser consumidos com moderação(6):

  • Beterraba
  • Quiabo
  • Espinafre
  • Acelga
  • Batata-doce
  • Nozes
  •  Chás
  • Chocolate
  • Pimenta-preta
  • Produtos à base de soja

Lembre-se de que as cólicas renais são passageiras e a melhor maneira de evitar que elas surjam é por meio da mudança de alguns hábitos!

Saúde renal e diabetes

Se você sofre com diabetes, precisa redobrar os cuidados com a saúde dos rins(7). A doença pode causar problemas renais que levam à necessidade de diálise(8).

Conheça a calculadora de risco renal para avaliar a saúde dos seus rins e prevenir o surgimento de complicações. Mas lembre-se que essa calculadora não é uma ferramenta de diagnóstico e não substitui o aconselhamento com um profissional de saúde.

Referências

1) Drauzio Varella. Pedra nos rins (Cálculo renal). Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/pedra-nos-rins-calculo-renal/. Último acesso em: 27.09.2023.
2) Sociedade Brasileira de Urologia. Pedra nos rins. Disponível em: https://portaldaurologia.org.br/publico/doencas/pedra-nos-rins/. Último acesso em: 27.09.2023.
3) Mayo Clinic. Kidney stones – Symptoms and Causes. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/kidney-stones/symptoms-causes/syc-20355755. Último acesso em: 27.09.2023.
4) Sociedade Brasileira de Urologia. Verão: incidência de pedras nos rins aumenta 30%. Disponível em: https://portaldaurologia.org.br/publico/release/verao-incidencia-de-pedras-nos-rins-aumenta-30/. Último acesso em: 27.09.2023.
5) Harvard Health Publishing. How to pass a kidney stone & 5 tips to prevent them. Disponível em: https://www.health.harvard.edu/blog/5-things-can-help-take-pass-kidney-stones-2018030813363. Último acesso em: 27.09.2023.
6) Mayo Clinic. Kidney stones – Diagnosis and treatment. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/kidney-stones/diagnosis-treatment/drc-20355759. Último acesso em: 27.09.2023.
7) Sociedade Brasileira de Nefrologia. O que você precisa saber sobre diabetes? Disponível em: https://www.sbn.org.br/orientacoes-e-tratamentos/doencas-comuns/diabetes-mellitus-diabetes/. Último acesso em: 27.09.2023.
8) Sociedade Brasileira de Diabetes. Doença renal do diabetes. Disponível em: https://diretriz.diabetes.org.br/doenca-renal-do-diabetes/. Último acesso em: 27.09.2023.

BR-27158. Material destinado a todos os públicos. Nov/2023.

Asma: Por que é importante tratar?

Um dos fatores mais relevantes para o controle da asma é a regularidade no tratamento. Por isso, é importante o acompanhamento de um médico especialista. Em casos de asma alérgica, leve e/ou facilmente controlada com medicação, este acompanhamento pode ser feito por um médico não especialista, mas em casos com gravidade moderada e grave, com difícil controle de crises, é necessário a consulta e assistência de um pneumologista ou alergista. 

Como a asma pode ser uma condição dinâmica, consultas regulares ajudam a avaliar a resposta do tratamento, e a manutenção ou não de medicamentos ou terapias. O acompanhamento com equipe médica também auxilia a esclarecer dúvidas, e assegurar o uso correto do medicamento, que geralmente é administrado por inalação. 

Infelizmente, é comum que muitas pessoas deixem de usar a medicação, por conta própria e sem conhecimento do médico, quando sentem a melhora dos sintomas. No entanto, os sintomas melhoram exatamente por conta da medicação. Para muitas pessoas com asma, ou pais e responsáveis por crianças com asma, aceitar e acatar a importância de utilizar a medicação prescrita corretamente e nos horários determinados, pelo tempo necessário, é uma dificuldade inicial a ser vencida. Especialmente nos casos de asma moderada e grave, que demandam uso recorrente e contínuo dos medicamentos. No entanto, é um passo importante, visto que a medicação é a melhor forma de prevenir crises recorrentes, além do efeito emergencial de resgate para a falta de ar.

O tratamento, no entanto, não envolve somente a medicação, mas passa por mudanças de comportamento, ambientais e prática de exercício. É importante também manter um ambiente limpo e arejado, evitando o possível acúmulo de poeira e ácaros, bem como a superexposição a outros elementos que podem ser gatilhos para uma crise (como poluição, mofo, pelos de animais etc.). Evitar o tabagismo, incluindo a exposição passiva à fumaça de cigarro e assemelhados é de extrema relevância para a pessoa que vive com asma, o que mostra também a importância do engajamento familiar no tratamento da doença.

Outro fator relevante para a qualidade de vida e bem estar da pessoa com asma é a prática de exercícios físicos, especialmente aeróbicos, pelo estímulo à parte respiratória. Durante muito tempo, a natação foi indicada como o “principal exercício para quem tem asma”, porém, existem diversas opções, que podem ser mais indicadas, mais práticas ou mesmo mais ao  gosto do indivíduo, como ciclismo, corrida ou caminhada e outros. É importante, contudo, a consulta com um médico antes de iniciar uma atividade física, e ter orientações de um profissional de fisioterapia ou educação física, para evitar riscos desnecessários.

FONTE: Blog FazBem

Fórum Econômico Mundial acende alerta vermelho contra os alimentos ultraprocessados

O Fórum Econômico Mundial (FEM) de 2024 ocorre em Davos, na Suíça, e diferentes líderes políticos e empresariais discutem as questões mais importantes da atualidade. Nesta semana, durante a reunião, um estudo do fórum defende a transformação profunda na qualidade da alimentação, visando especialmente aos alimentos ultraprocessados, e alerta para o descompromisso das gigantes do setor agropecuário com as promessas de práticas regenerativas.

O professor Ricardo Abramovay, titular da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo, desenvolve sobre mudanças no sistema agropecuário atual que promovam mudanças significativas na alimentação da sociedade por meio da diminuição dos ultraprocessados e outros feitos.

Debate no fórum

Abramovay destaca a importância do FEM em ligar o sinal vermelho para esse tema, o qual, até dez anos atrás, era objeto de um gradualismo, quase sem repercussão nas práticas cotidianas. Ele expõe que isso ocorria devido à revolução verde, ocorrida a partir dos anos de 1960, que tinha o objetivo de combater a fome que assolava mais da metade da população mundial e se traduziu na concentração da produção — 75% das calorias consumidas globalmente estão divididas em seis tipos de alimentos: arroz, trigo, milho, soja, batata e cana-de-açúcar.

O docente afirma que esse cenário acabou: “Esse método funcionou durante 30 anos, só que a crise climática se materializou em eventos extremos cada vez mais recorrentes, como a seca na Argentina, no Cerrado até o Sul do Brasil ou nas grandes planícies europeias. Isso está mostrando a inviabilidade daquilo que foi o método pelo qual a humanidade conseguiu combater a fome, temos que encontrar outro método”.

Consequência para a saúde

De acordo com o especialista, o Brasil é pioneiro na pesquisa científica na área de Nutrição, com destaque para os professores da Faculdade de Saúde Pública da USP, e tem seu trabalho reconhecido internacionalmente como revolucionário. “Até então, todo o raciocínio se concentrava nos nutrientes da alimentação, o que essa equipe da FSP fez nos últimos 20 anos foi mostrar que mais importante do que o conteúdo de nutrientes e micronutrientes é a maneira como o alimento é transformado”, discorre.

Ele explica que existem quatro tipos de alimentos: naturais, minimamente processados, industrializados e, por último, os ultraprocessados — um conjunto que mal pode ser chamado de alimento, visto que são totalmente arranjados artificialmente pela indústria para ter sabor, textura, aroma, cor e aparência. Por exemplo, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, 60% das calorias consumidas pelos indivíduos correspondem a esse tipo de produto.

No entanto, o professor ressalta que isso não é especificidade das nações mais ricas, destacando que 62% da população que sofre de obesidade no mundo estão nos países em desenvolvimento. Isso ocorre por conta do alto custo para manutenção de uma dieta saudável, que obriga 42% das pessoas no mundo a recorrerem a esses produtos com deficiência nutricional, diante dos quais o corpo humano não está preparado evolutivamente para ingerir.

Frente a esse cenário, mais de 2 bilhões de indivíduos estão em situação de obesidade, ou sobrepeso, em conjunto a carências nutricionais em ferro, zinco e outros. Além disso, o Fórum Econômico Mundial aponta que esses alimentos ultraprocessados estão na origem das doenças que mais matam no globo, inclusive mais do que a fome, como as cardiovasculares e diferentes tipos de câncer: “A conclusão do FEM é que precisamos urgentemente diversificar o sistema agroalimentar, não só a alimentação, tem que diversificar o conjunto do sistema, inclusive no que se refere à oferta de produtos animais”, elucida o docente.

Mudanças no sistema

O Brasil, regente do G20 desde dezembro de 2023, por meio do seu presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enfatizou a luta contra a pobreza e a desigualdade, clima e governança global. Nesse sentido, o sistema agroalimentar é responsável por um terço das emissões de gases do efeito estufa, assim sendo, sua transformação é premissa para o avanço contra as desigualdades e a fome no mundo, afirma o especialista.

Abramovay comenta que o número de famintos no planeta aumentou em torno de 150 milhões de indivíduos, portanto, a conferência do G20 marcada para setembro deste ano no Brasil, deve focar nessa temática. Por fim, ele destaca uma reunião que acontecerá em fevereiro, entre os ministros das Finanças dos países do G20: “A USP, por meio de várias unidades, vai ter participação diversa no encontro e, em particular, vamos insistir nesse tema da urgência de superar a monotonia do sistema agroalimentar global como uma premissa para que a gente possa avançar na luta contra a fome e as desigualdades, pelo bem-estar animal e pelo desenvolvimento sustentável”.

FONTE: Jornal da USP

Você sabe o que é Cápsula Endoscópica?

Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP analisaram a importância da cápsula endoscópica, nova técnica de imagem médica para o diagnóstico precoce de doenças nestes locais, e as novas possibilidades de uso que surgiram com a modernização do procedimento.

São chamadas de imagens médicas as variadas técnicas usadas na medicina para ver o que acontece dentro do corpo humano, como a ressonância magnética, a radiografia, a tomografia, a ecografia, feitas de forma externa, e a endoscopia, feita de forma interna. Os procedimentos endoscópicos funcionam com a inserção de uma pequena câmera no trato gastrointestinal dos pacientes, o que requer sedação. Tanto na endoscopia superior (captação de imagens do esôfago, estômago e início do intestino delgado) quanto na inferior (captação de imagens do intestino grosso e parte final do intestino delgado), o procedimento não consegue percorrer todo o sistema digestivo, deixando de fora grande parte do intestino delgado.

As cápsulas têm cerca de 2,6 cm de comprimento e 1,1 cm de diâmetro, com as laterais arredondadas, e são ingeridas por via oral, para seguir o caminho do trato digestório. São pequenos aparelhos em tamanho de medicamentos orais, equipados de câmera, fonte de luz, bateria e transmissor, que captam toda a extensão do sistema gastrointestinal. “Ela tem um sistema de iluminação branca, uma pequena câmera integrada, baterias para alimentar todos os sistemas e um sistema que transmite as imagens feitas”, diz João Paulo Carmo, professor da EESC. Além das cápsulas, são vendidos, para empresas de diagnóstico, aparelhos externos para recepção das imagens coletadas.

 

As diferentes endoscopias, alta, baixa e cápsula – Imagem: retirada do artigo

 

Essa tecnologia permite que o exame seja feito sem sedação — diferentemente de como são feitos os demais procedimentos endoscópicos — de forma indolor para o paciente. Além disso, toda a extensão do trato gastrointestinal é coberta. O trabalho resultou no artigo Endoscope Capsules: The Present Situation and Future Outlooks, publicado na revista Bioengineering, e, de acordo com os autores, a cápsula endoscópica é indicada para diagnóstico de doenças no esôfago, tumores intestinais, sangramento gastrointestinal, doença de Crohn e doença celíaca.

Por outro lado, há possibilidades de haver retenção da cápsula no organismo e lacunas de gravação. Também não é possível controlar a locomoção e a posição da cápsula, já que o aparelho segue os movimentos peristálticos do sistema digestivo, o que pode prejudicar os resultados do exame. Por isso, ainda é mais prático e barato, para diagnóstico de órgãos que são cobertos pelos métodos superior e inferior, usar a endoscopia convencional.

O estudo analisou também possíveis respostas para o controle dos movimentos, dentre eles o uso de campos magnéticos. “A própria Cápsula Endoscópica tem um pequeno ímã, fora do organismo podemos usar um ímã maior e mais forte que interage com a cápsula, o que, teoricamente, consegue controlar o movimento e a posição da cápsula. Nesse caso, a revolução vai ser drástica”, explica o pesquisador. Se esse problema for contornado, novas possibilidades de uso para a essa tecnologia podem ser aplicadas.

“Essa cápsula tem se mostrado um bom método diagnóstico, aliás, tem sido muito usada como diagnóstico de primeira linha. Antes dela, ou se fazia exames de raio-X e ressonância magnética, ou por cirurgia, abrir e ver o que se passa. A cápsula, nesse aspecto, é um auxiliar muito importante, tanto por não usar radiação e nem campos magnéticos intensos, e ainda tem a particularidade de ser um dispositivo minimamente invasivo”, explica Carmo.

Por causa desses fatores, segundo Carmo, a indústria farmacêutica viu um grande potencial de lucro nas cápsulas e hoje já existem outras empresas que também fornecem o aparelho. Assim, o objetivo do artigo era traçar as perspectivas para a tecnologia das cápsulas endoscópicas, vantagens e desvantagens e suas possíveis aplicações.

As cápsulas endoscópicas foram desenhadas em 1989, mas só começaram a ser comercializadas em 2000, pela empresa Given Imaging, nos Estados Unidos.

 

Sistema da cápsula – (a) cúpula (dome) óptica, (b) suporte físico para as lentes, (c) lente (com baixa distância focal), (d) LEDs de luz branca para iluminação, (e) sensor para aquisição de imagens, (f) baterias de óxido de prata para alimentação, (g) um emissor de radiofrequência (RF) para transmissão sem fios das imagens e (h) uma antena – Imagem: cedida pelo pesquisador

Imagens captadas no intestino delgado pela cápsula. (A) Angioectasia (vasos sanguíneos dilatados) sem sangramento, (B) sangramento ativo) – Imagem: retirada do artigo

Novas possibilidades da Cápsula Endoscópica

“Outra grande aplicação possível é a terapia fotodinâmica. Basicamente, essa terapia é feita com a injeção de um fotossensibilizador, uma substância que reage à luz”, diz Carmo. Cada fotossensibilizador reage a um comprimento de onda específico, na faixa de 400–760 nm. Quando a luz encontra o fotossensibilizador, “o fármaco é ativado e promove a formação de radicais livres de oxigênio, que vão provocar danos no nível celular em tecidos tumorais.”

Esses filtros ópticos específicos podem ser acoplados na cápsulas endoscópica para tratar doenças em áreas do intestino delgado, porém é necessário ter controle do movimento do aparelho para garantir que a terapia seja aplicada nos locais exatos, para não danificar tecidos saudáveis do organismo.

Atualmente, a terapia fotodinâmica já é usada para tratar tumores no esôfago, no estômago, no pâncreas e colorretal, e doenças hepatobiliares (fígado e bílis). “Nos locais onde já se faz terapia fotodinâmica é muito mais barato, rápido e expedito usar endoscópios convencionais. No dia em que surgirem no mercado cápsulas nas quais se consiga controlar os movimentos e posicionamento das cápsulas, será uma revolução realizar terapia fotodinâmica nas porções internas no intestino delgado.”

Segundo os autores do artigo, as cápsulas também podem ser adaptadas para procedimentos de endomicroscopia a laser (para obtenção de imagens de alta resolução dos órgãos), espectroscopia (para detectar mudanças físicas em tecidos) e imagens de banda estreita (imagens com visibilidade vascular).

Além de Carmo, também contribuíram com o trabalho Rodrigo Gounella, Talita Conte Granado, Daniel Luis Luporini e os professores Oswaldo Junior e Mário Gazziro.

Mais informações: e-mail jcarmo@sc.usp.br, com João Paulo Carmo

* Estagiária, sob orientação de Fabiana Mariz

**Estagiária, sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Oxigenoterapia hiperbárica mostra-se eficiente na recuperação de lesões no joelho

O Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas realizou um estudo mostrando que a oxigenoterapia hiperbárica pode contribuir com a recuperação de lesões musculoesqueléticas e aponta a eficácia da câmera hiperbárica na recuperação pós-cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior no joelho.

A análise em desenvolvimento abriu novas linhas de pesquisa no tratamento de algumas doenças ortopédicas, como é exposto pelo líder do estudo e professor Marcos Demange, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFM) da Universidade de São Paulo.

A doença

A lesão no ligamento cruzado anterior do joelho é um dano comum entre os praticantes de esportes, que é ocasionado quando o atleta estoura o ligamento central do joelho, deixando-o instável. De acordo com o professor, o tempo de recuperação após o tratamento pode ser longo até que o ligamento fique novamente forte.

“Ocorre quando a pessoa trava o joelho no chão e gira o ligamento que está em seu centro, ele pode estourar e, quando isso acontece, a pessoa fica com o joelho sem estabilidade ou seja, ele afrouxa. O tratamento normalmente demanda uma cirurgia que tem um tempo longo de recuperação, de quase 26 meses até esse ligamento ficar resistente”, explica o especialista.

Oxigenoterapia hiperbárica

Inicialmente, a oxigenoterapia hiperbárica começou a ser usada em doenças compressivas, principalmente com mergulhadores que estão em profundidade no mar e sobem rápido para a superfície e em trabalhadores em plataformas de petróleo, há mais de 30 anos, afirma o professor.

Demange expõe que o tratamento passou a ser utilizado para cicatrizar tecidos em que a oxigenação era ruim e em que bactérias cresciam demasiadamente, gerando infecções, gangrenas ou feridas grandes. Utilizando a mesma lógica de tecidos que não possuem boa oxigenação e que, por isso, demoram para cicatrizar, o professor e sua equipe tiveram a ideia de utilizar a medicina hiperbárica no sistema esquelético.

“Estamos no ar ambiente, que tem em torno de vinte e poucos por cento de oxigênio e a nossa pressão no corpo é de uma atmosfera que está aí em cima da gente. Quando colocamos uma pessoa dentro de uma câmera hiperbárica, significa aumentar a pressão em uma ou duas vezes do que estaria na atmosfera, é como se fosse um mergulho de 20m no mar de pressão”, descreve o especialista

Além disso, coloca-se um oxigênio a 100% dentro da câmera hiperbárica e, em vez dos vinte poucos por cento que a gente está respirando, faz com que o oxigênio, além de ser transportado pela hemoglobina, corra pelo plasma, elevando o nível do oxigênio mais de seis ou sete vezes, ajudando a célula a crescer, explicita o professor.

Desenvolvimento do estudo

No estudo foi feita a divisão de dois grupos, em que um grupo ficou no ar normal e o outro ficou cinco dias seguidos recebendo uma hora e meia de oxigênio trapiperbárica. Após três meses, que é o tempo de recuperação do ligamento, foi analisado em exames de alta resolução um resultado promissor em que o ligamento estava bem mais resistente. Embora a terapia seja benéfica, existem algumas contraindicações.

“As duas contraindicações mais relevantes são, por exemplo, se uma pessoa está com glaucoma, que é o aumento de pressão dentro do olho, ela não pode se submeter a um tratamento desse tipo. Como também em pessoas que possuem claustrofobia muito forte e que possuam convulsões que não estão sendo controladas”, reitera o especialista.

Os estudos desenvolvidos ainda serão utilizados na prática; no momento, os estudos clínicos com os pacientes serão iniciados. A linha de pesquisa vai ser expandida para outros locais que não só do ligamento cruzado anterior, mas também para o menisco, a cartilagem, o tendão do ombro e em outras regiões com uma cicatrização ruim.

“Essa é uma linha de pesquisa que se abriu. Então, o que é muito interessante desse estudo que, aliás, foi publicado numa revista internacional super-relevante, é que abriu uma linha de pesquisa nova e uma vertente nova de tratamento para nós aqui na Faculdade de Medicina da USP”, destaca o especialista.

FONTE: Jornal da USP