A Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo está produzindo um estudo clínico que irá avaliar o uso de probióticos em mulheres com constipação, diarreia e síndrome do intestino irritável, distúrbios do eixo intestino-cérebro, com uma conexão bidirecional do intestino com o cérebro. De acordo com Ilana Marques, pesquisadora do Laboratório de Nutrição e Cirurgia Metabólica do Aparelho Digestivo da FMUSP, esses distúrbios estão associados a fatores relacionados ao estilo de vida e ao estresse, o que explica um aumento dos casos na população brasileira após a pandemia.
A pesquisadora explica que, além dos fatores associados à qualidade de vida, a síndrome do intestino irritável, considerada uma das doenças funcionais mais comuns dos distúrbios crônicos intestinais, também tem uma forte relação hormonal, que atinge majoritariamente a população feminina. “Então, a maior presença de hormônios como estrogênio, progesterona, pode afetar a motilidade intestinal, além de afetar na sensibilidade do trato gastrointestinal; fatores como estresse, ansiedade, depressão, também têm uma maior associação com o sexo feminino”, complementa.
“Normalmente isso é negligenciado, ou muitas vezes é normalizado, então a paciente acha normal ter sintomas gastrointestinais há mais de seis meses ou ter alteração do padrão evacuatório, então, ter uma constipação de somente ir ao banheiro uma vez por semana, e isso não é normal. Isso deve ser investigado e a paciente deve buscar ajuda”, afirma.
Sobre o estudo
Ilana comenta que, a fim de analisar se as condições das mulheres com constipação ou diarreia funcional e síndrome do intestino irritável podem ser beneficiadas por suplementação probiótica — microrganismos benéficos que modificam o ambiente intestinal. O estudo irá contar com 80 voluntárias mulheres, que irão receber, por 12 semanas, a suplementação de um probiótico específico ou de um placebo.
Com um acompanhamento durante as semanas do estudo, a pesquisadora comenta: “Essas pacientes irão fazer um exame de microbiota intestinal no começo e um no final do estudo, e nós queremos entender se o probiótico modificou sintomas gastrointestinais, como dor abdominal, se mudou qualidade de vida, hábito intestinal e microbiota intestinal. Esses são os principais objetivos do nosso estudo”.
Com uma conexão do sistema intestinal com o cérebro, a especialista afirma que há comunicação e impacto da microbiota — microrganismos que colonizam o trato gastrointestinal — com o cérebro. “Esses microrganismos podem produzir neurotransmissores, produzir toxinas e aumentar o nível de estresse, aumentar agitação e ansiedade. É uma área que mostra a conexão desses dois locais, intestino e cérebro, e nós buscamos entender mais disso no estudo”, adiciona.
Sobre os critérios de inclusão da pesquisa, Ilana explica que podem participar mulheres, entre 18 e 60 anos, que tenham constipação, diarreia ou síndrome do intestino irritável — que pode ser reconhecido pelo sintoma de dor abdominal — há mais de seis meses e que residam em São Paulo ou Região Metropolitana, contanto que não tenham feito uso de antibiótico nos últimos três meses e que não tenham outra condição clínica ou doença associada que acabe alterando o perfil intestinal.
Com os exames de microbiota intestinal e o ressarcimento das visitas presenciais inclusos, detalhes e informações sobre o estudo clínico realizado pela FMUSP podem ser encontrados pelo Instagram (metanutri.fmusp) ou e-mail (metanutri.recrutamento@gmail.com).
FONTE: Jornal da USP