Você sabe qual é a especialidade de um médico hebiatra?

Hebiatra é o médico especialista em adolescentes, a hebiatria é fundamental para acompanhar mudanças não apenas físicas, mas também psicológicas, entre os jovens de 10 aos 20 anos.

Muito novo para o clínico geral e muito velho para o pediatra. Essa é a realidade do adolescente, que vive uma complexa fase não apenas social, psicológica e fisiologicamente, mas também no sistema de saúde. É para isso que existe a hebiatria, um ramo da pediatria que ganhou força nos Estados Unidos a partir da década de 1950, mas foi reconhecido pela Associação Médica Brasileira (AMB) apenas em 1998. E embora 25 anos seja bastante tempo para a formação de novos hebiatras, a realidade é diferente. Segundo o jornal Estado de Minas, são apenas 200 médicos que atuam neste ramo em todo o Brasil, o que evidencia uma lacuna dos 10 aos 20 anos, faixa etária que representa aproximadamente 15,5% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que significa cerca de 31,5 milhões de pessoas.

Formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o médico pediatra Luiz Roberto Verri de Barros, que atende na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Lobato, em Ribeirão Preto, explica: “Hoje em dia, a gente forma o pediatra com noções, ele pode acompanhar a hebiatria tranquilamente. Mas existem os hebiatras. Tem uma colega de turma, formada há 40 anos, que atua na área. Ela se coloca no atendimento ao público em hebiatria mesmo”.

Por outro lado, Verri enxerga um panorama de crescimento no número desses médicos em um futuro próximo. “Agora a gente tem formado (hebiatras). Mesmo os pediatras antigos, como eu, começaram a ter instruções a esse respeito para trabalhar também com a hebiatria. Inclusive, a gente trabalha aqui na UBS nas terças e quintas pela manhã e nas sextas à tarde”, informa.

Embora o número de profissionais que trabalha exclusivamente com adolescentes tenha uma projeção de crescimento para os próximos anos, muitas pessoas sequer sabem da existência desse tipo de médico. Essa questão também tende a mudar, na visão do pediatra, por conta da visão mais atenta que as famílias têm dado a temas como saúde mental e adolescência como um todo.

O hebiatra pede mais espaço

“É necessário que (os adolescentes) tenham seguimento nessa área. Estimular para que eles venham para a consulta, porque a adolescência ficou uma faixa de idade meio sem dono, vamos dizer assim. Para o clínico era muito novo, para o pediatra era muito velho, e os problemas dessa idade são bem específicos. Envolve mudanças no comportamento, envolve situações de ansiedade e depressão”, alerta.

Verri acrescenta que essa é uma faixa etária que precisa de muita atenção sobre os recursos que o jovem adquire para se desenvolver de maneira saudável. Ele cita, ainda, questões recorrentes que envolvem o aspecto psicossocial. “São problemas em relação ao convívio na sociedade, ao convívio familiar, essas mudanças que vão acontecendo, o luto da infância, porque deixa de ser criança e passa a ter uma mente mais elaborada, procurar uma religião, procurar um grupo para se manifestar.”

O especialista também lembra que é nessa fase da vida que começam os namoros e “o desenvolvimento sexual, toda essa parte que precisa de alguém para fazer os aconselhamentos, orientar, negociar com eles uma situação mais tranquila da vida”.

Campanhas de conscientização

Verri finaliza ao ressaltar a importância das campanhas de conscientização sobre diversos problemas. Um dos mais conhecidos entre a população jovem é o Setembro Amarelo, um programa de prevenção ao suicídio criado em 2015. Mas vale destacar que existem outros movimentos do tipo e que os adolescentes “justamente entram em todos, não precisa ser só da adolescência, mas a questão do tabagismo, a questão da obesidade, prevenção do câncer. Toda essa parte o adolescente está sujeito a ter acesso a informações para se prevenir”.

*Estagiário sob orientação de Ferraz Junior

FONTE: Jornal da USP

Quimioterapia e os desafios específicos na terceira idade

A quimioterapia, todo mundo sabe, é um tratamento bastante comum para pacientes diagnosticados com câncer. Funciona como um agente poderoso no combate à doença, ao destruir as células cancerígenas que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se espalhem. Mas o tratamento pode ter particularidades, dependendo das faixas etárias, e na terceira idade os efeitos colaterais podem ser diferentes.

Para a professora Fernanda Maris Peria, do Departamento de Imagens Médicas, Hematologia e Oncologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, especialista em Oncogeriatria, quando o assunto é avaliar a idade do paciente para o tratamento com a quimioterapia, ela afirma ser fundamental saber a  distinção entre idade cronológica, aquela do nascimento, e a idade biológica.

Ela explica: “Assim como existem algumas pessoas que têm uma certa idade, mas aparentam ser muito mais jovens ou mais velhas, isso acontece também do ponto de vista dos órgãos internos, com a diferença de que para eles não existem cirurgias plásticas, botox ou preenchimentos. Então, o que acaba acontecendo nesse paciente idoso é que a reserva dele a um estímulo agressivo é bem menor”.

Em outras palavras, a capacidade do corpo de lidar com situações de estresse, agressões ou doenças, ou seja, a quantidade de recursos que o organismo possui para enfrentar condições adversas, é menor. “E é esse fato que torna os idosos mais propensos a experimentar efeitos colaterais significativos”, detalha a especialista.

Ela ainda discorre que o maior desafio é identificar a idade biológica dos órgãos do paciente, a fim de personalizar o tratamento de maneira mais adequada. “Não necessariamente, se eu tenho 49 anos, todos os meus órgãos têm a mesma idade biológica. Às vezes, meu coração pode ter a vitalidade de uma pessoa de 30 anos, enquanto meu rim pode ter a saúde de alguém de 60 anos. Essa disparidade ocorre devido a diversos fatores, como genética, hábitos de vida e exposição a agentes agressivos”.

Mas a especialista destaca que, embora os efeitos colaterais se manifestem de forma mais intensa em pacientes idosos, eles são os mesmos para todos.

Montagem no Canva por Julia Valeri e texto por Fernanda Maris Peria

“Além dos efeitos colaterais comuns, algumas drogas presentes na quimioterapia podem causar toxicidade específica em órgãos como coração, rim ou sistema nervoso, levando a problemas adicionais para os idosos, que podem já ter desafios de saúde nesses órgãos”, ressalta. Portanto, Fernanda Maris ressalta que é importante considerar as comorbidades dos pacientes idosos ao escolher um tratamento, especialmente se algumas drogas podem afetar órgãos já comprometidos. Ela também compara a adesão rigorosa ao plano de tratamento a seguir uma receita de bolo – qualquer desvio pode resultar em problemas.

Protocolo

“O que existe hoje, é uma padronização, chamada AGA, Avaliação Geriátrica Ampla, para todo o paciente de terceira idade que está prestes a passar por sessões de quimioterapia”, a especialista assegura. A Avaliação Geriátrica Ampla envolve uma análise detalhada da condição do paciente e precisa ser cuidadosamente discutida entre o geriatra e o oncologista. Esse processo é essencial para garantir que o tratamento seja adaptado às necessidades específicas e às condições de saúde do paciente idoso, garantindo a eficácia do tratamento e minimizando os efeitos colaterais.

Ela expõe que, na consulta com o oncologista, o profissional faz uma análise detalhada dos prós e contras do tratamento. Ele fornece informações cruciais sobre a agressividade do tumor, a probabilidade de resposta ao tratamento, as opções terapêuticas disponíveis e os principais efeitos colaterais associados a essas intervenções, ele também avalia a possibilidade de melhora na qualidade de vida e na sobrevida do paciente frente ao tratamento proposto.

“Por sua vez, o geriatra contribui com uma avaliação especializada, considerando as características específicas do idoso em questão, como fragilidade em relação à idade e às condições de saúde. Ele desempenha um papel crucial ao determinar se o paciente possui fragilidades significativas, aumentando assim o risco de complicações com qualquer forma de tratamento”, aborda. No Brasil, esse procedimento é recomendado para pacientes a partir dos 60 anos, enquanto na Europa e nos Estados Unidos é indicado a partir dos 65 anos, embora as populações de maior risco estejam geralmente na faixa dos 70 a 75 anos.

A especialista, no entanto, enfatiza que decidir sobre a viabilidade do tratamento exclusivamente com base na idade não seria uma abordagem adequada. “Lembro claramente que, há 20 anos, transcrever quimioterapia para pacientes com mais de 70 anos que tinham câncer de próstata era contraindicado, devido à idade avançada. Escrevi isso várias vezes nos prontuários naquele período, mas se olharmos agora, onde a média de idade dos pacientes com câncer em todo o mundo gira em torno dos 65-67 anos, isso significaria impedir esses pacientes de viver mais tempo e com uma qualidade de vida melhor”

Ela diz que a chance de resposta ao tratamento não difere significativamente entre idosos e adultos jovens. “A principal preocupação reside nos diferentes efeitos colaterais que esses regimes de tratamento podem ter em um organismo jovem em comparação com um organismo idoso”, conclui.

Mas o que é a quimioterapia?

A professora Fernanda Maris esclarece que a quimioterapia consiste em um grupo de várias medicações que têm em comum a tentativa de destruir as células que estão se multiplicando. “Essas células podem ser tanto as células tumorais quanto as nossas células normais, como as células do cabelo, unhas e a mucosa da boca”.

Existem diversos tipos de quimioterapia, que variam desde medicações administradas via intravenosas até quimioterápicos orais, intramusculares e subcutâneos. “A escolha do método depende das necessidades específicas de cada paciente e do tipo de câncer em questão, sendo essencial adaptar o tratamento às características individuais de cada caso”, analisa.

Montagem no Canva por Julia Valeri e texto por Fernanda Maris Peria

FONTE: Jornal da USP

Microbiota intestinal pode ajudar a entender casos de depressão

Um estudo publicado pela revista Nature Communications identificou 13 tipos específicos de bactérias intestinais vinculadas ao transtorno de depressão. De acordo com os cientistas, esses organismos estão envolvidos na síntese de neurotransmissores, como glutamato, butirato, serotonina e o ácido gama, que podem ter relação com a doença.

Fernando Fernandes, médico do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica o estudo realizado e suas implicações.

Relação entre intestino e cérebro 

Estudos que analisam a microbiota intestinal são mais recentes e apresentam um campo de análise promissor. Entretanto, a conexão entre questões intestinais e cerebrais já é bastante observada e estudada. Segundo Fernandes, doenças intestinais são mais comuns na depressão, como doenças inflamatórias e alterações no trato gastrointestinal, por exemplo.

“Um estudo antigo do nosso grupo atestou que a motilidade gastrointestinal está diminuída na depressão. Então, parece que existem vias comuns neuronais e mediadores inflamatórios que caminham lado a lado tanto na depressão quanto no funcionamento gastrointestinal”, pontua.

O estudo 

A pesquisa produzida pela Nature realizou um estudo observacional, através do acompanhamento de pacientes com diagnósticos de depressão. “Os pesquisadores avaliaram a composição da microbiota intestinal dos estudados e atestaram que indivíduos que tinham quadros de depressão mais grave possuíam mais de uma espécie de microrganismos, diferentemente dos indivíduos sem diagnóstico de depressão”, explica o médico.

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Fernandes acrescenta que, como qualquer estudo observacional, esse não estava isento de vieses. Então, é preciso levar em consideração que os pacientes faziam uso de diferentes medicações e consumiam diferentes dietas – variáveis que podem interferir diretamente na composição da microbiota intestinal e, assim, no resultado do estudo. Além disso, outro fator que não pode ser desconsiderado é que casos de depressão são mais comuns em mulheres.

O médico destaca que o mecanismo pelo qual é associada a microbiota com o diagnóstico de depressão é muito mais indireto do que se pensa. Já se sabe, por exemplo, que esse transtorno – em alguns subtipos e pacientes – é um estado pró-inflamatório. “Em nível sistêmico corporal, ele é ativado na depressão, e esse estado pró-inflamatório pode influenciar na microbiota, da mesma forma que o tipo de microbiota que a pessoa tem também pode perpetuar esse estado inflamatório.” Essa análise, portanto, é apenas um ponto de partida para estudos detalhados, e ainda não é possível realizar grandes saltos qualitativos.

Fernandes destaca que, mesmo com descoberta realizada, ainda não existem evidências que provem que suplementos que mudem a microbiota intestinal tenham eficácia contra o transtorno de depressão. Atualmente, existem inúmeros tratamentos para a doença que já provaram sua eficácia. Probióticos e mudanças alimentares podem auxiliar no tratamento, mas não possuem poderes curativos.

O médico aponta que as causas da depressão são múltiplas e são estudadas por inúmeras áreas da saúde. A conexão entre intestino e cérebro é mais uma corrente de estudo que pode contribuir para entender sua etiologia e as melhores formas de tratamento para a doença.

FONTE: Jornal da USP

Proteína que o corpo já produz pode amenizar efeitos do envelhecimento no cérebro

Ao favorecer a produção de energia e a imunidade das células do sistema nervoso, proteína klotho estimulou ação antioxidante contra estresse e destruição celular

Os efeitos benéficos da proteína klotho, produzida pelo corpo humano, nas células do sistema nervoso são mostrados em pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Experimentos feitos em laboratório mostram que a proteína, ao favorecer a produção de energia e a imunidade das células, também estimula a ação antioxidante contra o estresse e a destruição celular.

Os resultados do estudo reforçam o papel da klotho como possível opção para contornar os efeitos do envelhecimento no sistema nervoso, associado a doenças neurodegenerativas como o Alzheimer e o Parkinson. A pesquisa é descrita em artigo publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature.

Metabolismo no sistema nervoso

Para entender o papel da klotho, primeiro é preciso entender como é obtido o suprimento de energia do sistema nervoso central. “Sabemos que o cérebro pesa 2% do peso do corpo mas gasta 20% da energia que uma pessoa consome quando em repouso. Os neurônios possuem uma alta demanda energética, pois são as principais células envolvidas com nossa capacidade de memorizar, aprender, pensar”, explica ao Jornal da USP a pesquisadora Ana Maria Marques Orellana, do ICB, primeira autora do artigo.

Já os astrócitos, diz ela, são células de suporte. “Isolam as sinapses, que são os espaços entre os neurônios onde ocorre a transmissão de informações de uma célula a outra, protegem eles na vigência de um estímulo lesivo, juntamente com as células do sistema imunológico do cérebro, que são as micróglias, e também têm um papel fundamental no suprimento de energia.”

A pesquisadora relata que a principal fonte de energia para o cérebro é a glicose, que chega até o órgão pela circulação sanguínea. “Quem controla a entrada de nutrientes no sistema nervoso é a barreira hematoencefálica, que tem transportadores específicos para diversos nutrientes, como a glicose, os corpos cetônicos (fonte de energia em jejum), e o lactato”, aponta.

Mas como evitar oscilações no suprimento de energia aos neurônios? “Os astrócitos fazem isso. Eles captam a glicose e a transformam em glicogênio, gerando um pequeno estoque. Os neurônios não têm capacidade de estocar energia, consomem a glicose imediatamente. Então os astrócitos mantêm o suprimento constante.”

Outra via pela qual os astrócitos são capazes de suprir os neurônios é fornecendo lactato, obtido pela conversão de glicose, quando seu nível está em baixa e durante a atividade física. “Para evitar oscilações dependentes das concentrações de substratos oriundos do sangue, existe um acoplamento energético natural entre neurônios e astrócitos”, descreve Ana Orellana. “O neurônio capta a glicose e esta será usada para gerar energia imediatamente, sem estoque. O astrócito, por sua vez, capta a glicose, que é armazenada como glicogênio, favorecendo uma reserva.

Nos neurônios, a divisão da glicose também se dá por duas vias (conjunto de reações químicas), a das pentoses e a da PFKFB3. Porém, a das pentoses é a preferencial por estimular sistemas anti-oxidantes, logo, idealmente a PFKFB3 deve ser constantemente inibida. A via das pentoses utiliza moléculas de carboidratos com cinco átomos de carbono cada uma, as pentoses, e a PFKB3 é uma enzima que atua no metabolismo da glicose.

Proteção das células

A pesquisa verificou se a klotho era capaz de alterar parâmetros do metabolismo em neurônios e astrócitos e se isso os protegeria. “Ela é uma proteína anti-envelhecimento produzida nos rins e no sistema nervoso central. Seus níveis se relacionam diretamente com o envelhecimento, assim, ao longo dos anos, temos menos klotho no sangue e no cérebro. Isso está associado ao déficit cognitivo”, afirma Ana Orellana. “Ademais, sabemos que no envelhecimento temos redução do metabolismo de glicose e oxigênio no cérebro, o que fica mais intenso na presença de doenças neurodegenerativas, e também há alterações na eficiência das mitocôndrias, parte das células que produz energia, e queda na atividade da via das pentoses nos neurônios.”

Em culturas de células do sistema nervoso, proteína klotho contrapõe efeitos nocivos da insulina, favorece degradação e eliminação de proteínas e aumenta potencial antioxidante. Na imagem, astrócito em cultura de tecidos corada com anticorpos para GFAP e vimentina – Imagem: Reprodução/GerryShaw via Wikimedia Commons/CC BY 3.0

“Observamos que as culturas de astrócitos quando foram tratadas com klotho in vitro, em laboratório, tiveram diminuição dos efeitos moleculares desencadeados pela insulina e portanto aumento da sinalização anti-oxidante. Para entender como esse efeito anti-oxidante atua, expusemos essas células a diferentes graus de estresse oxidativo e a klotho foi capaz de proteger os astrócitos da morte diante de estímulos de baixa e média intensidade”, afirma a pesquisadora.

“Já os neurônios tratados com a klotho tiveram redução da atividade de algumas proteínas relacionadas à cascata molecular desencadeada pela insulina, que é fundamental para que a glicose adentre à célula, mas que interfere negativamente em mecanismos de degradação proteica, que podem ser benéficos para o cérebro. A klotho promoveu uma redução da via da PFKFB3, favorecendo a via das pentoses que aumenta a conversão de fatores anti-oxidantes na célula, e também a degradação de proteínas, que normalmente está menos ativa no envelhecimento.”

Segundo a cientista, a redução da PFKFB3 e o aumento da degradação das proteínas não foi suficiente para proteger os neurônios das mesmas concentrações de estresse oxidativo às quais os astrócitos foram submetidos, indicando que um estímulo intermediário para o astrócito é intenso para o neurônio, levando à morte. “Em trabalhos anteriores, no entanto, verificamos que, na vigência de inflamação, a klotho protege o neurônio da morte se o estímulo for intermediário para ele”, ressalta.

“Sabemos que a sinalização da insulina é fundamental para a vida, mas a super estimulação dessa via tem um caráter prejudicial na medida em que inibe a degradação de proteínas mal enoveladas, de agregados, prejudica a autofagia [processo normal de degradação de componentes da própria célula], tem potencial pró-inflamatório e aumenta o estresse oxidativo. A klotho contrapõe os efeitos da insulina, favorece a degradação e eliminação de proteínas e aumenta o potencial antioxidante.”

O professor do ICB, Cristóforo Scavone, que orientou a pesquisa, relata que há estudos mostrando que a administração periférica de klotho reverte o déficit cognitivo em modelo animal de Parkinson.

Desenvolver uma preparação com nanopartículas para levar klotho ao sistema nervoso central pode ser uma alternativa às vacinas contra o Alzheimer ou mesmo para terapias de outras doenças neurodegenerativas”

Aparentemente, haveria menos efeitos colaterais, pois as ações da klotho são bem balanceadas, e os anticorpos provocam edema, inchaço. Porém essas são hipóteses que vão exigir anos de pesquisas, ressalva Scavone.

Ana Orellana destaca que é possível melhorar os níveis da klotho no organismo por meio de exercício físico regular e da administração de compostos presentes na alimentação, como o resveratrol, existente nas uvas roxas. “Além da atividade física, a ingestão de menos calorias pode reduzir a estimulação da via da insulina, e o consumo de vinho em baixas quantidades poderia proporcionar o benefício do resveratrol”. Os estudos no ICB tiveram a colaboração do National Institue of Aging (NIA), em Baltimore (Estados Unidos).

Mais informaçõese-mails orellana@usp.br, com Ana Maria Marques Orellana, e criscavone@usp.br, com o professor Cristóforo Scavone

*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Sistema de transplantes brasileiro é o maior programa público do mundo

O recente caso do transplante do coração do apresentador Fausto Silva fez com que voltasse à tona o assunto de doação de órgãos no Brasil. Por conta da velocidade com que foi realizado o procedimento, muitas pessoas começaram a questionar a veracidade do sistema público de transplantes, alimentando a narrativa de que houve um favorecimento a Faustão.

Com isso, o Ministério da Saúde, em conjunto com o Governo de São Paulo, publicou uma nota para refutar esses apontamentos. Na publicação, eles ressaltam que não houve nenhum tipo de irregularidade e explicaram, brevemente, como funciona o processo para a transplantação.

Luciana Bertocco de Paiva Haddad, médica assistente do Serviço de Transplantes de Órgãos Abdominais e coordenadora do Ambulatório de Transplantes Abdominais do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), destaca: “Ele tinha um tipo sanguíneo mais raro, o tipo B, e ,além disso, ele ganhou uma priorização por conta da condição clínica dele. Tudo isso funciona de forma super transparente e muito rigorosa”.

Referência mundial

O Ministério da Saúde afirma que o Sistema Único de Saúde (SUS) possui o maior programa público de transplante do mundo, o qual garante que 87% dos transplantes sejam feitos com recursos governamentais. Segundo a médica, a coordenação integrada entre Sistema Nacional de Transplantes (SNT), Ministério da Saúde e secretarias estaduais da saúde é muito bem feita, principalmente pela extensão territorial do País, e isso é fundamental para o sucesso do projeto.

Independentemente da forma como o transplante é pago, pelo SUS ou não, a chance de receber um órgão é a mesma. A médica afirma que todos têm acesso à informação e à gestão da lista de espera, o que demonstra toda a lisura do processo. O Brasil está em segundo lugar na lista dos países que mais realizam o procedimento, atrás apenas dos Estados Unidos — contudo, no país norte americano o processo é privado. Só no ano passado, o número de transplantes bem sucedidos ultrapassou a marca de 23 mil.

Dificuldades

No primeiro semestre de 2023, o número de doadores de órgãos no Brasil bateu recorde, atingindo a marca de 19 por milhão de habitantes e a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) estabeleceu a meta de 20 doadores por milhão de habitantes até o final do ano. Ainda de acordo com a ABTO, os Estados de Santa Catarina e Paraná são os que possuem o maior número de doadores por indivíduos.

Apesar disso, aumentou também a rejeição das famílias em doar órgãos do paciente — antes da pandemia o número era de 42% e hoje beira a casa dos 50%. Com isso, a lista de espera para receber um órgão ainda é grande, contando com mais de 65 mil brasileiros, um dos maiores números dos últimos 25 anos, conforme o Ministério da Saúde. Para a médica, essa realidade pode ser revertida a partir de políticas públicas que sejam responsáveis por educar a população, ensinando-a sobre a necessidade e o processo dessa atitude.

“Nós ainda temos um número insuficiente de doadores para nossa demanda, o Brasil tem um número grande de transplantes, mas a necessidade é ainda maior”, analisa Luciana. Além disso, a especialista afirma que o financiamento precisaria ser melhor, ainda que atualmente não seja ruim. Por esse motivo, o Brasil ocupa o segundo lugar entre os sistemas mais eficientes do mundo, abaixo da Espanha. Vale ressaltar que o modelo espanhol também é público e foi a principal inspiração para a criação do sistema brasileiro.

O processo

A lista de espera para recebimento de órgãos no Brasil possui uma burocracia que, segundo a especialista, é realizada de forma transparente e rigorosa pelo Ministério da Saúde. “A entrada na lista de espera depende de cada órgão. Para todos eles é considerada a gravidade, o tipo sanguíneo e, além disso, tem alguns critérios de priorização que são diferentes para os diferentes órgãos”, explica Luciana.

O processo é iniciado quando o paciente é incluído em uma lista única — tanto para pacientes de rede privada quanto para pacientes do SUS — , a qual é auditada, e as equipes de profissionais têm acesso. A partir disso, os dados são divulgados e atualizados diariamente. A listagem é feita com base em diferentes critérios: tipo sanguíneo, compatibilidade de peso, altura e genes e a gravidade do paciente. Caso esses critérios sejam parecidos, o Ministério utiliza a ordem de cadastro para selecionar o transplantado e, em situações de paciente em estado crítico, ocorre a sua priorização.

Para se tornar um possível doador de órgãos, é preciso avisar a família dessa vontade, uma vez que, atualmente, não há nenhuma outra ação que precise ser feita. Após o diagnóstico de morte encefálica e a autorização da família, a equipe de saúde realiza uma investigação do histórico do possível doador. Alguns pontos como doenças crônicas e o uso de drogas injetáveis podem comprometer um órgão, portanto, é necessário essa avaliação médica para garantir a segurança do receptor e da equipe médica. “Você precisa comunicar a sua família, uma vez que a autorização para doação de órgãos é feita depois da ocorrência de uma morte encefálica e é a família que autoriza essa doação de órgãos”, esclarece a médica.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo

FONTE: Jornal da USP

As estratégias que ajudam a conter superbactérias em hospitais

A identificação rápida de pacientes contaminados por um tipo de “superbactéria” – as enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos (CRE, na sigla em inglês) – e o isolamento precoce desses indivíduos reduzem a transmissão em áreas de internação de pronto-socorro (PS). No entanto, mantê-los por mais de dois dias na emergência compromete os esforços de contenção porque aumenta o risco de contaminação, a chamada colonização.

Esses são os principais achados de uma pesquisa feita por um grupo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Os resultados foram divulgados na revista Clinical Infectious Diseases.

As enterobactérias são um tipo de bactéria (gram-negativas) que geralmente causam infecções em ambientes de saúde – hospitais e prontos-socorros – e incluem cepas como a Escherichia coli, responsável por infecções urinárias e colite hemorrágica, e a Klebsiella pneumoniae, que pode levar à pneumonia e à infecção de corrente sanguínea. As CRE são consideradas ameaça à saúde pública pela dificuldade de tratamento. Os antibióticos carbapenêmicos geralmente são a última linha de defesa contra infecções provocadas por esses microrganismos.

“Fizemos uma intervenção em um pronto-socorro superlotado, ou seja, um hotspot para transmissão de bactérias resistentes. Vimos que essa intervenção teve um impacto na redução de bactérias multirresistentes dentro do PS e também no próprio hospital”, diz à Agência Fapesp o médico infectologista Matias Chiarastelli Salomão, primeiro autor do artigo e integrante da Subcomissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP.

Estudos anteriores realizados no Departamento de Emergência já haviam demonstrado que 6,8% dos pacientes admitidos são colonizados por CRE, com uma taxa de contaminação de 18% durante a internação no local.

Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2022, apontou que a cada 100 pacientes internados em hospitais para cuidados intensivos, sete – em países de alta renda – e 15 – em países de baixa e média renda – adquirem ao menos uma infecção associada à atenção à saúde durante a internação. Em média, um a cada dez pacientes afetados morrerá por este motivo.

De acordo com Salomão, um dos focos do trabalho foi tentar entender e buscar alternativas para impedir que infecções no pronto-socorro se espalhassem para outras alas do hospital. “A intervenção que usamos é pragmática e pode ser aplicada em outros locais. Sobre o resultado relacionado à internação na emergência por mais de dois dias comprometer os esforços de contenção, acreditamos que seja uma questão de estrutura do PS, que não é adaptada para ter pacientes de longo prazo. Ou seja, tem macas mais próximas, pontos de higiene de mãos mais distantes, entre outros”, complementa.

Passo a passo

A pesquisa foi conduzida no pronto-socorro do HC, que tem 800 leitos. Muitas vezes, porém, o local está superlotado, abrigando o dobro de pacientes internados, com alguns permanecendo por mais de 11 dias.

O trabalho foi dividido em duas fases – uma realizada de 3 a 28 de fevereiro de 2020 (período de linha de base), antes de o primeiro caso de covid-19 chegar ao HC, e a outra entre 14 de setembro e 1º de outubro do mesmo ano (período de intervenção). O hospital ficou totalmente dedicado a casos de covid entre 1º de abril e 31 de agosto de 2020, tendo sido reaberto gradualmente a outros tipos de internação depois desta data.

A fase 1 consistiu em um período inicial para determinar a prevalência e a incidência de pacientes colonizados por CRE admitidos no pronto-socorro. Não houve intervenção nessa etapa e os pacientes internados por mais de 24 horas ficaram em macas e camas distribuídas próximas umas das outras, enquanto aguardavam transferência.

Ala de UTI do Hospital das Clínicas – Foto: Governo do Estado de São Paulo/Flickr/CC BY 2.0 DEED

 

Na fase 2 (período de intervenção), indivíduos internados no PS passaram por triagem para CRE nas primeiras 24 horas. Os positivos para superbactérias eram colocados em isolamento até a alta – 90% dos isolados estavam infectados por Klebsiella pneumoniae. Em ambas as fases, os procedimentos de limpeza e desinfecção foram semelhantes e houve monitoramento de antimicrobianos.

Resultado: a colonização na admissão foi de 3,4% por cultura e teste molecular. Já as taxas de contaminação por superbactéria durante a permanência no PS caíram de 4,6% para 1% durante a intervenção. O tempo de permanência maior do que dois dias foi o fator de risco para aquisição de CRE.

“A ideia da pesquisa começou no próprio hospital, onde desde 2014 vem sendo realizado um protocolo de rastreio tanto semanal como admissional nas Unidades de Terapia Intensiva [UTIs]. Isso fez com que as taxas de colonização secundária caíssem de maneira importante. Mas um outro trabalho detectou que continuava havendo uma entrada de superbactérias por meio do pronto-socorro”, conta Salomão, que começou a estudar o tema em seu doutorado.

Desse período, resultaram outros dois artigos, sendo o último publicado em 2020 na revista Emerging Infectious Disease.

O artigo Transmission of Carbapenem-Resistant Enterobacterales in an Overcrowded Emergency Department: Controlling the Spread to the Hospital pode ser lido neste link. A Fapesp apoiou o estudo por meio de um Auxílio à Pesquisa concedido ao médico Icaro Boszczowski, coautor do artigo.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

*Da Agência Fapesp, adaptado por Luiza Caires ao Jornal da USP

FONTE: Jornal da USP

Infecção generalizada apresenta causas distintas e tratamentos complexos

Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma crise de saúde global, a sepse acomete 50 milhões de pessoas a cada ano. Dessas, 11 milhões morrem da doença. No Brasil, as infecções generalizadas já são a terceira causa de morte no País. Além disso, entre as pessoas que se curam, de 30% a 40% ficam com sequelas – como fraqueza, transtornos cognitivos e incapacidade –, o que demanda reabilitação. Bruno Besen, médico intensivista da UTI Clínica e pesquisador do Laboratório de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica como funciona a doença e aborda as preocupações dos médicos.

A sepse

Alguns casos podem começar na comunidade, com um indivíduo desenvolvendo, em casa, uma infecção. O médico explica que, em casos mais simples, o paciente é tratado no ambiente ambulatorial, através de antibióticos, sem necessidade de hospitalização. Entretanto, alguns casos evoluem para a infecção generalizada – “um quadro em que a infecção perde o controle no organismo e passa a afetar o funcionamento dos órgãos”.

A maioria das infecções, entretanto, se inicia quando o paciente está hospitalizado, as chamadas “infecções associadas ao cuidado de saúde”. Esse cenário causa grande preocupação na comunidade médica e contribui para os casos de sepse global.

Origens 

Segundo Besen, a sepse é dividida em três fases. Primeiramente, o paciente desenvolve uma infecção específica, como pneumonia, infecção urinária, apendicite ou meningite, por exemplo. Depois, se esse quadro começa a afetar outros órgãos – devido a uma resposta desregulada do próprio organismo –, ele passa a ser chamado de sepse. O último estágio é chamado de choque séptico, em que o paciente tem uma infecção tão intensa que sua pressão cai e os órgãos são afetados profundamente.

Os sintomas da sepse são os mesmos da infecção que a desencadeou – se for uma pneumonia, por exemplo, o paciente apresenta tosses, catarro e febre –, além de somar outros fatores, como falta de ar e tontura. O que caracteriza a infecção generalizada é a identificação médica que [a infecção] está afetando outros órgãos além do foco inicial”, discorre o especialista. Uma das formas de agilizar o processo de tratamento se faz por um diagnóstico precoce, tanto no hospital quanto fora, antes que os órgãos sejam afetados. Além disso, Besen pontua que também é importante evitar a infecção, sempre que possível.

Quando o indivíduo apresenta uma infecção bacteriana, os profissionais de saúde indicam antibióticos para realizar o tratamento. Durante a pandemia, houve um uso indevido de medicamentos antimicrobianos, que não foram eficazes contra doenças virais. “Quando usamos remédios de forma inadequada e em grande quantidade, o que é comum nos casos de antibióticos, as bactérias começam a ficar resistentes e os pacientes perdem uma alternativa terapêutica” pontua.

Tratamento na UTI

Como explica Besen, existem duas especialidades médicas que conseguem promover um tratamento mais eficaz ao paciente com sepse. A primeira, a Medicina de Emergência, é responsável por identificar os casos graves, a fim de realizar um atendimento mais acelerado. Caso o indivíduo precise de atendimentos intensivos, ele seguirá para a Terapia Intensiva, especialidade responsável por promover suporte para que o paciente consiga se recuperar da infecção.

“Nosso objetivo, na terapia intensiva, é realizarmos o tratamento com muita qualidade, para que os cuidados não causem infecções secundárias, por exemplo” explica Besen. Dependendo do quadro, o paciente pode precisar do tratamento por um período extenso, e os esforços realizados por seu corpo podem resultar em sequelas.

Alguns estudos norte-americanos e brasileiros mostraram que os pacientes que se recuperam de um quadro de sepse têm um aumento de três vezes, com relação a pessoas que não tiveram, de desenvolver transtornos cognitivos leves e moderados. “Há uma prevalência grande de problemas de saúde mental após sair do hospital Por exemplo, um terço pode desenvolver sintomas de ansiedade, quase um terço sintomas de depressão, de estresse pós-traumático” exemplifica.

Além disso, existe também um componente de recuperação física, a partir do momento em que os pacientes têm dificuldade para voltar a realizar atividades básicas do dia a dia. Por isso, Besen aponta que é de grande importância que os médicos promovam serviços de reabilitação para que os pacientes consigam se recuperar nessa fase.

Superbactérias

O médico explica que, hoje em dia, esse tipo de bactéria – organismos resistentes a muitos antibióticos ou a todos os antibióticos que não possuem alta toxicidade – é uma grande preocupação para a comunidade médica. Se infecções não conseguem ser prevenidas por terapias e tratamentos, os médicos acabam usando mais antibióticos, o que pode gerar o surgimento de superbactérias.

Besen conclui que, constantemente, os médicos buscam melhorias para tratar os casos da melhor forma possível. Esse cenário pode ser alcançado através de diagnósticos precoces e eficientes e promoção do acesso a unidades de terapia aos pacientes necessitados, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS).

FONTE: Jornal da USP

Câncer em crianças e adolescentes apresenta-se como um problema de saúde pública

Estima-se que o câncer em crianças e adolescentes corresponda a até 3% de todos os tumores malignos, sendo uma das principais causas de óbito entre esses indivíduos. Um estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP acerca da epidemiologia do câncer nessa faixa etária, no município de São Paulo, entre os anos de 1997 e 2016, aponta que, apesar da crença de que a maioria das crianças não desenvolve doenças graves, a questão apresenta-se como um problema de saúde pública.

Beatriz Bertuzzo Möller, mestranda da FSP e autora do estudo, explica que, com a redução da mortalidade por doenças transmissíveis, o câncer se tornou uma das principais causas de óbito em crianças de 0 a 14 anos e adolescentes de 15 a 19 anos.

Saúde pública 

O desenvolvimento do câncer nessa faixa etária apresenta-se como um importante problema do sistema de saúde pública nacional, já que indica impacto direto no suprimento do serviço — por meio de alterações no fornecimento de assistência, a necessidade do acompanhamento contínuo da doença e pelas implicações significativas na qualidade de vida.

Um dos pontos mais importantes para o sucesso terapêutico em crianças e adolescentes é o diagnóstico precoce. Assim, é possível observar que, ainda hoje, o avanço nos tratamentos disponíveis não é uniforme para toda a população, sendo possível observar, em muitos casos, que o nível de desenvolvimento econômico está diretamente associado ao acesso aos serviços de saúde. “Apesar do câncer ser considerado uma doença rara nessa faixa etária, são esperados, apenas em 2023, cerca de 430 mil casos novos no mundo e 8 mil casos no Brasil”, aponta a pesquisadora.

Métodos 

Para a realização da pesquisa, Beatriz explica que a obtenção dos dados sobre os casos novos — que ocorreram entre os anos de 1997 e 2016 — se deu a partir do Banco de Dados do Registro de Câncer de Base Populacional de São Paulo, que se localiza no Departamento de Epidemiologia da FSP. As informações sobre os óbitos, que ocorreram entre os anos de 1997 e 2021, foram obtidas por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde na página eletrônica do DataSUS.

A pesquisadora comenta, dessa forma, que durante a maior parte do período foi possível observar uma queda das taxas de incidência e de mortalidade. A queda da segunda já era esperada pela maioria dos pesquisadores, contudo, é importante avaliar que a queda da incidência pode estar associada à falta de diagnóstico. Beatriz explica que isso acontece, pois os sintomas de câncer nessa idade podem estar associados à ocorrência de outras doenças, o que acaba dificultando o diagnóstico.

Para uma melhora desse cenário, a capacitação dos profissionais que trabalham na área faz-se necessária. Atualmente, o câncer em crianças e adolescentes é dividido em 12 grupos principais, com destaque para a leucemia, os linfomas e os tumores que atingem o Sistema Nervoso Central. Esses tipos também são os mais comuns em outros países e regiões, sendo possível notar que esse não é um padrão exclusivamente nacional.

Por fim, a pesquisa concluiu que a taxa de incidência no Brasil, no período entre 1997 e 2016, foi de 195 por milhão — valor considerado alto quando comparado a outros países da América Latina, mas que é semelhante aos casos europeus. A taxa de mortalidade em 1997 e 2021 foi de 47,9 por milhão, valor que é considerado alto quando comparado aos países da Europa e da América do Norte, mas que é semelhante aos dados da Ásia e da África.

FONTE: Jornal da USP

Cosméticos com extrato de alga e girassol podem beneficiar pele diabética

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em 2021, 15,8 milhões de brasileiros tinham a doença que, entre outros problemas, afeta a pele e a autoestima. Pensando nisso, pesquisadoras da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP desenvolveram e testaram formulações cosméticas com extrato de semente de girassol e alga vermelha, que ajudaram a controlar as alterações da derme decorrentes da condição.

A diabete é caracterizada por altas taxas de açúcar no sangue devido à falta ou má manutenção do metabolismo da glicose. Segundo a professora Patrícia Maia Campos, coordenadora do Núcleo de Estudos Avançados em Tecnologia de Cosméticos, a doença causa o aumento de produtos de glicação (AGE) — reação entre glicose e moléculas como proteínas, ácidos nucleicos e lipídios, envolvida com o processo de envelhecimento —, que provoca danos nas fibras de colágeno da pele.

Para um melhor entendimento desse tipo de pele e como os cosméticos devem agir nela, a pesquisa foi dividida em duas fases: caracterização da pele e estudos clínicos com os extratos.

Características da pele diabética

Para compreender as características específicas dos AGE, parte da pesquisa foi voltada para análise da pele de pessoas com diabete em comparação com pessoas saudáveis; os resultados foram publicados na revista Life. “Neste trabalho, nosso objetivo era entender por que a pele do diabético é mais sensível, por que envelhece primeiro, por que as feridas demoram muito para cicatrizar. A ideia foi analisar as propriedades morfológicas da pele, por medidas instrumentais e clínicas, para melhorá-la usando alguns produtos específicos para diabete”, resume Patrícia Campos.

As pesquisadoras analisaram a pele da face de 28 mulheres, entre 39 e 55 anos, das quais metade tinha diabete tipo 2 e o restante era saudável. Os testes foram realizados por Microscopia Confocal de Reflectância (RCM), técnica avançada de imagem que permite a análise mais profunda da pele de modo não invasivo, sem necessidade de biópsia, observando alterações na morfologia do colágeno e do microrrelevo. Outros equipamentos avaliaram fatores como a elasticidade, rugas e a perda transepidérmica de água (evaporação passiva através da pele).

As técnicas de análises usadas no estudo (RCM), não só para a pele diabética mas em geral, possibilitam que os profissionais vejam alterações na derme que ainda não se manifestaram visualmente, como, por exemplo, na estrutura do colágeno. “Esses métodos vão dar suporte na definição de uma estratégia para elaborar a formulação adequada de cosméticos para esse público específico”, destaca a professora.

Imagens tiradas pela técnica da Microscopia Confocal de Reflectância (RCM) na pele diabética. As setas apontam as papilas policíclicas, frequentemente encontradas em pessoas que apresentam envelhecimento cutâneo mais acentuado – Foto: Pesquisa

As pesquisadoras observaram que a derme diabética sofre maior perda transepidérmica de água, ou seja, a hidratação é prejudicada. “Há uma proteção natural chamada função barreira da pele, que está ligada com a sensibilidade. Se houver comprometimento dessa função pela alta perda transepidérmica de água, significa que há danos nessa barreira cutânea”, explica. Alguns sinais podem ser a pele avermelhada, maior sensibilidade e coceira.

Segundo o estudo, a pele de pessoas com diabete também possui menos firmeza, porque o colágeno é menos denso e apresenta uma estrutura desordenada na derme. Patrícia Campos aponta que, por causa desse fator e do ressecamento, essa pele tem uma textura diferente, mais flácida.

“Esse conhecimento é importante porque em termos de envelhecimento da pele isso pode incomodar e prejudicar a qualidade de vida e bem-estar do paciente. Também, para prevenir algumas doenças e cuidar de cicatrizes, porque a perda de água deixa a pele seca e mais suscetível a dermatite de contato [irritação]”, diz.

As formulações cosméticas

Levando em conta as diferenças da pele diabética estudadas e como essas características afetam a autoestima de mulheres, a pesquisadora Verônica Rego Moraes, em seu doutorado, estudou e desenvolveu formulações cosméticas com extratos naturais para atender às necessidades específicas para o rosto de pessoas com diabete. Os ativos aplicados, de alga vermelha e semente de girassol, foram escolhidos pelo seu efeito de antiglicação e não haviam sido analisados na pele diabética anteriormente a esse estudo.

A pesquisadora explica que essa parte do estudo, além de ser importante para o bem-estar físico, impacta a forma como as pacientes se veem. “É sobre autoestima também. O rosto geralmente é mais visado. Com uma pele mais sensível é complicado achar produtos, entre outros, que sejam focados para esse tipo de pele”, diz Verônica Moraes.

O estudo clínico recrutou 59 mulheres, entre 39 e 55 anos, e as separou em três grupos: aquelas que usaram apenas um produto cosmético já existente no mercado, aquelas que usaram o produto com o extrato de alga vermelha e aquelas que usaram o cosmético com a associação dos extratos de alga e de semente de girassol. A aplicação dessas fórmulas foi feita durante 90 dias.

Os resultados dos grupos que usaram os extratos mostraram diferenças significativas nas mudanças da pele decorrentes do processo de glicação das pacientes. Com as técnicas de imagem RCM foi possível identificar melhora nos padrões de colágeno e espessura da derme. A fórmula que continha apenas extrato de alga vermelha mostrou resultados mais promissores, como aumento da densidade dérmica.

“Percebi que elas se sentiam valorizadas com essa formulação, o que foi muito gratificante. Elas realmente gostaram e todas falaram que comprariam. Então, podemos observar a melhora na qualidade de vida e na autoestima dessas mulheres”, conta.

As formulações foram produzidas para a pesquisa conduzida no Núcleo de Estudos Avançados em Tecnologia de Cosméticos da FCFRP e, por hora, não há projeto para sua produção e comercialização, apesar de ser de interesse de Verônica Moraes.

Mais informações: e-mail pmcampos@usp.br, com Patrícia Maia Campos

*Estagiária sob orientação de Valéria Dias

*Estagiária sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Asma e qualidade do ar: entenda a relação e veja como se proteger

A asma, por si só, provoca uma série de sintomas respiratórios, como tosse, chiado e dificuldade para respirar.1 Quando há algum aspecto que interfere na qualidade do ar, é possível que o paciente que lida com a doença apresente crises de asma ou piora dos sintomas.2

Isso acontece porque a doença, que é causada pela inflamação das vias aéreas, piora com a exposição a diferentes fatores. Entre eles, estão:1

Além disso, agentes considerados irritantes também podem desencadear uma crise de asma, como perfumes com essências fortes, materiais de limpeza e resíduos industriais.3

Sinais de que a qualidade do ar está piorando a asma

É possível perceber o impacto da qualidade do ar na saúde ao observar alguns detalhes. Ao apresentar os sintomas de asma ou uma crise da doença, entenda se houve exposição a algum fator irritante ou contato com o ar livre poluído.

Caso a piora nos sintomas ocorra até um dia após a exposição, pode significar que existe uma sensibilidade à poluição do ar – o que pede para que alguns cuidados específicos sejam tomados.4

Para te ajudar a lidar com isso, confira algumas dicas que podem auxiliar na diminuição dos impactos causados pela má qualidade do ar.

Como se proteger de gatilhos para a asma


Cuidado ao se exercitar ao ar livre: em dias que apresentam uma qualidade menor do ar, evite praticar atividades físicas ao ar livre. Isso ajuda a reduzir a quantidade de poluição respirada.4

De olho nos sinais: caso perceba que os sintomas de asma estão piorando, evite fazer atividades mais intensas e que exijam esforço, como correr.4

Mantenha a higiene: estar em um ambiente limpo e adequadamente higienizado diminui as chances de contato com gatilhos de asma, como o pó.3

Siga a orientação médica: o tratamento da asma é individualizado, o que significa que cada paciente segue um plano de tratamento personalizado. Dessa forma, é importante conversar com o seu médico para entender qual é o remédio ideal para você e, se necessário, quais medicamentos é preciso ter em mãos.1

Mantenha-se informado: atente-se a relatórios sobre a qualidade do ar indicados em notícias sobre a previsão do tempo. Caso haja a indicação de tempo seco ou neblina, se possível, permaneça em casa.4

Confira mais dicas de como cuidar da sua saúde e bem-estar acessando os conteúdos  do Blog FazBem!

Referências:

  1. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

(Disponível em: <https://sbpt.org.br/portal/espaco-saude-respiratoria-asma/>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

  1. Núcleo de Pesquisa em Qualidade do Ar – Universidade Federal do Espírito Santo

(Disponível em: <https://qualidadedoar.ufes.br/asmavix>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

  1. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia

(Disponível em: <https://asbai.org.br/secao.asp/?s=81&id=310>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

  1. Agência para a Proteção do Meio Ambiente

(Disponível em: <https://www.cdc.gov/asthma/pdfs/asthma_outdoor_air_pollution_pt.pdf>. Último acesso em: 03 ago. 2023)

BR-17332. Material destinado ao público geral. Agosto/2023

FONTE: Blog FazBem