AVC ainda representa maior parte das mortes no País

José Guilherme Caldas, neurorradiologista, diz que a conscientização é o caminho para que mortes e episódios causados pelo AVC sejam evitados.

No último sábado, dia 29, comemorou-se o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), que foi a causa mais comum de morte este ano no Brasil, com cerca de 56.320 óbitos, segundo o Portal de Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil.

O que é um AVC

O acidente vascular cerebral são danos causados ao cérebro tanto pela falta de sangue (isquêmico), o qual é o mais comum  (popularmente conhecido como derrame), quanto pelo excesso dele, quando há vazamento (hemorrágico). Quando uma artéria cerebral entope, o acidente acontece.

“Em 2015, nós conseguimos provar para o mundo que, retirando um coágulo da cabeça, do interior da artéria, em menos de duas horas nós recuperamos praticamente 100% dos pacientes e, em até 6 horas, 80%. Então, isso é muito importante de ser reconhecido”, diz José Guilherme Caldas, neurorradiologista e diretor clínico do InRad do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Ele explica que as causas para a formação dos coágulos são múltiplas, mas existem fatores determinantes e que se sobressaem, como a obesidade, o tabagismo e o álcool. Esses três são passíveis de mudança, já que se trata de hábitos adquiridos.

Outros fatores são mais difíceis de controlar, pois são consequências e aumentam muito o risco de AVC. São eles: pressão alta, colesterol alto, sedentarismo e principalmente a predisposição genética (que também está associada ao aumento do colesterol). O neurorradiologista destaca que a prevenção é a principal forma de evitar o acidente e, em segunda instância, saber como identificar quando a pessoa está sofrendo um AVC e necessita de tratamento.

Como identificar 

José Guilherme diz que uma maneira simples de identificar quando alguém está sofrendo um AVC é lembrar da sigla SAMU, utilizada tanto no País quanto fora dele, como sinal de emergência. Cada letra da sigla, portanto, sinaliza uma ação para verificar o que realmente está acontecendo e encaminhar para o tratamento médico.

S de sorriso (peça para a pessoa dar um sorriso para ver se ele está torto); A de abraço (a pessoa não consegue abraçar, pois seus movimentos ficam limitados); M de música (peça para que a pessoa soletre uma música, um parágrafo ou até um nome. Durante um AVC, não é possível falar corretamente); e, por fim, U de urgência (caso algum deles se concretize).

O acidente vascular cerebral pode ser sutil ou importante, lembra o médico, por isso sua identificação precoce é vital. Outra informação lembrada por ele é a possibilidade de acontecer o AVC durante o sono, o que é chamado de Wake-up Stroke. A pessoa acorda com algum dos sintomas citados acima. Este representa um problema para os médicos, já que não é possível identificar o momento de início, o que é crucial para o atendimento nesses casos.

“Nós recorremos aos métodos de imagem para poder saber e entender a quantidade de cérebro que está afetada que nos permite ou não trabalhar”, explica Caldas. Esse método é utilizado no Inrad, do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Ele lembra também que “a urgência é muito importante porque no cérebro, depois que morre uma parte considerável dele, não é possível fazer nenhum tratamento, porque é você colocar o sangue de novo em pressão dentro do cérebro. Tem como se fosse uma ruptura dos vasos, eles não aguentam, eles estão já mortos, com necrose”. A tecnologia evoluiu tanto que agora é possível saber se vale a pena tratar o paciente, já que, em alguns casos, a perda é grande e irreversível.

Estresse pode causar AVC? 

O neurorradiologista diz que o estresse está diretamente ligado às consequências que podem levar ao AVC. Esse fator está dentro do âmbito da proteção, já que produz hormônios que podem levar a uma piora no quadro da hipertensão ou ao desenvolvimento dela. A questão é tentar evitar, controlar ou eliminar o estresse, já que é uma combinação de fatores que não fazem bem. Isso, porém, é de preocupação individual e está relacionado à atividade diária de cada um.

Para isso, ter exames em dia e estar atento aos casos de AVC na família são imprescindíveis para que o problema seja evitado. No âmbito público, o fator de conscientizar a população é um caminho para que os números revelados pelo Portal da Transparência sejam revertidos: campanhas em todos os meios de comunicação e, talvez, um dia, discutir com educadores que conscientizem as crianças de como ter hábitos alimentares saudáveis.

FONTE: Jornal da USP

Homem desafia expectativas e comemora 50 anos de transplante renal

A maior expectativa de quem se submete a um transplante é conseguir viver bem com o novo órgão e por muito tempo. Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, a expectativa de vida média dos rins transplantados varia de 15 a 25 anos, entretanto, alguns casos ousam contrariar essas estimativas. “Seu” Antônio Ferreira de Campos é um exemplo e prova viva de que um transplante bem sucedido pode proporcionar uma vida longa e com qualidade. No último dia 25 de outubro, ele comemorou 50 anos do seu transplante renal feito no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFMUSP), com um detalhe: o rim recebido é nove anos mais velho que ele. Em outubro, ele também fez outro aniversário, o de 73 anos de idade.

Economista aposentado, natural de Iacanga, na região de Bauru, e residente em Ribeirão Preto, “Seu” Antônio passou por um transplante de rins aos 23 anos, após sofrer com um caso de nefrite crônica que se manifestou na adolescência. “Mais ou menos em julho de 1972, meus rins pararam de vez e eu precisei ser internado no Hospital das Clínicas em São Paulo para fazer um tratamento com hemodiálise”. Classificada como uma inflamação, a nefrite ataca os glomérulos renais – estruturas dos rins responsáveis por eliminar as toxinas e outros componentes em excesso do organismo. A doença causa inchaço nas extremidades, além da dificuldade em urinar.

Em determinado momento, ele teve que travar outra batalha: a de encontrar um doador compatível. Mas esse foi o menor dos problemas.  “A minha irmã Olímpia, na época com 32 anos, logo se ofereceu para ser minha doadora. Fiquei internado três meses aguardando uma vaga para que a cirurgia pudesse ser efetuada”, afirma.

Nova vida no pós-operatório 

Apesar do sucesso na cirurgia, a rotina de cuidados continua constante. Alguns anos após a cirurgia, ele se mudou para Ribeirão Preto em função do trabalho e passou a ser acompanhado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP. “Durante os últimos 50 anos, minha dependência do ambulatório do HC foi muito intensa. Tenho exames de rotina de três em três meses, além dos remédios imunossupressores que são diários”, conta o aposentado.

Natação é uma das atividades que “Seu” Antonio passou a praticar depois do transplante – Foto: Vladimir Tasca/SCS Polo Ribeirão Preto

“Seu” Antônio conta que precisou mudar a rotina no pós-operatório. “Nos primeiros dias após o transplante, com meus 1,70 metros de altura, eu cheguei a pesar cerca de 45 kg. Após três meses da cirurgia, eu já pesava 90 kg. A bronca do médico foi imediata e eu precisei chegar aos 70 kg. Peso que mantenho até hoje.” Além da dieta alimentar e dos cuidados médicos, ele pratica natação e musculação com regularidade.

O médico e professor da Divisão de Nefrologia do HC-FMRP, Miguel Moyses Neto, acompanha de perto a rotina de cuidados de “Seu” Antônio e afirma que mesmo com todas as dificuldades atreladas à idade do paciente e ao tempo do transplante, ele conseguiu se cuidar muito bem. “Nós verificamos que, mesmo após tanto tempo, ele conseguiu superar todas as adversidades, foi privilegiado” afirma o professor.

Avanços no transplante de órgãos 

O professor afirma que uma das maiores mudanças que aconteceram durante esses 50 anos foi o desenvolvimento e a descoberta de novas drogas, menos nocivas para o organismo humano. Segundo ele, essas novas drogas permitiram uma queda considerável na taxa de rejeição dos órgãos transplantados, de 60% para menos de 10%, o que possibilita que o transplante dure mais. “As inovações que ocorreram nos exames feitos antes da cirurgia ser realizada, como de sangue e imagem, por exemplo,  são determinantes para promover maior eficiência e segurança para quem recebe o órgão transplantado”, assegura.

Os primeiros transplantes foram realizados na década de 1960. De lá para cá, o número de pessoas beneficiadas só tem aumentado. Hoje, o Brasil tem cerca de 37 mil pessoas que esperam receber um transplante de órgãos, sendo 34 mil na fila de espera por um rim, segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde.

Por Ferraz Jr

FONTE: Jornal da USP