Técnica pode ajudar a monitorar progressão da esclerose lateral amiotrófica

Também conhecidos como gorduras, os lipídios são uma classe diversificada de moléculas com inúmeras funções nos seres vivos, desde a reserva de energia até a regulação de processos celulares fundamentais. Lipídios que passam pelo processo de oxidação, reagindo com o oxigênio, têm recebido muita atenção de pesquisadores atualmente por estarem relacionados com inflamação e sinalização celular, e também com o estresse oxidativo – desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio e a sua remoção, o que causa danos à célula.

Um exemplo são as oxilipinas, moléculas derivadas da oxidação de ácidos graxos que têm sido associadas a doenças neurodegenerativas. No Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) Redoxoma, sediado na USP, cientistas desenvolveram um método para avaliar como as oxilipinas se apresentam na esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença em que há disfunção progressiva e morte dos neurônios motores no cérebro e na medula espinhal.

Liderados por Sayuri Miyamoto, do Instituto de Química (IQ) da USP, os pesquisadores estabeleceram e validaram um método de altíssima performance para análise simultânea de 126 oxilipinas no plasma sanguíneo. A inovação foram as ferramentas utilizadas: a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas de alta resolução.

A cromatografia líquida é uma técnica para separar componentes de uma mistura. Já a espectrometria de massas é usada para identificar e quantificar moléculas pela medição da sua massa e caracterização de sua estrutura química.

Com isso, os pesquisadores analisaram o plasma de um modelo animal de ELA e descobriram oxilipinas alteradas nos animais sintomáticos. As diferenças nas moléculas refletem estresse oxidativo, inflamação e hipermetabolismo (degradação excessiva) de lipídios.

Alterações no metabolismo lipídico, inflamação crônica e estresse oxidativo estão fortemente ligados à progressão da ELA, que leva à atrofia muscular, paralisia e morte do paciente. Segundo os pesquisadores, as oxilipinas poderiam se tornar marcadores para o monitoramento da evolução da doença.

“O método foi a chave desse trabalho. A grande maioria dos métodos usa espectrometria de massas de baixa resolução para quantificar oxilipinas e outras moléculas, técnica com alta sensibilidade, mas não um poder muito grande de caracterização. Já com a espectrometria de massas de alta resolução, temos muito mais acurácia na caracterização das oxilipinas e ainda com alta sensibilidade. Unimos os dois aspectos mais relevantes e caracterizamos com o máximo possível de exatidão uma gama muito grande de oxilipinas”, afirma Adriano B. Chaves-Filho, que desenvolveu a pesquisa como projeto de pós-doutorado e é o primeiro autor do artigo publicado na revista Free Radical Biology and Medicine.

Os pesquisadores ressaltam que realizar uma análise global e abrangente de oxilipinas ainda é um desafio, já que elas são muito diversas e têm uma estrutura complexa. “Muitas delas compartilham a mesma fórmula molecular, a mesma quantidade de carbono, de oxigênio, de hidrogênio, só o arranjo desses átomos é diferente”, diz Chaves-Filho. Soma-se a isso a instabilidade química dessas moléculas e sua baixa concentração em amostras biológicas.

Daí a importância da ferramenta de análise, que possibilita investigar o perfil das oxilipinas não só em ELA, mas também em outras doenças. “Seria interessante se a gente pudesse fazer um estudo comparativo da ELA com outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, por exemplo, e ver se esse perfil é diferente – porque o interessante quando a gente faz uma análise é estabelecer um perfil, um painel de oxilipinas alteradas. A gente pode ter perfis diferentes que sejam bem característicos para cada doença”, explica Sayuri Miyamoto.

A pesquisa foi realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Neurodegenerative Disease Research, Inc. (NDR) e contou com a colaboração dos grupos dos pesquisadores Marisa H.G. Medeiros (IQ-USP), Isaías Glezer (Unifesp), ambos do Cepid Redoxoma, e William T. Festuccia (ICB-USP).

Mais informações: e-mails miyamoto@iq.usp.br e adrianobcfilho@usp.br

*Adaptado do site do Cepid Redoxoma, com edição de Luiza Caires. Para mais detalhes, leia o texto completo.

FONTE: Jornal da USP

Implante para quem teve perda profunda da audição melhora percepção da fala

A cóclea é um órgão do ouvido interno em forma de espiral que recebe sons do ambiente externo e os transmite para o cérebro. Em casos de perda de audição, o implante de um dispositivo ligado à cóclea é uma opção para o paciente recuperar a capacidade de ouvir. Quando a perda é severa ou profunda, em geral devido à malformação do órgão ou a doenças como a meningite, sugere-se o implante com eletrodo curto, que tem a metade do tamanho dos modelos convencionais, para fazer a ligação do dispositivo com a cóclea, que é mais difícil porque nesses casos ela costuma estar diminuída. Porém, os efeitos deste dispositivo na compreensão da voz e articulação da linguagem ainda são pouco conhecidos, o que motivou uma pesquisa do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da USP, em Bauru. Ao testar pacientes que receberam o implante com eletrodo curto, o estudo constatou que os pacientes melhoraram de forma significativa a percepção da fala.

O estudo é descrito em artigo publicado na revista científica Acta Oto-Laryngologica. “O implante coclear é um dispositivo colocado por meio de cirurgia, de alta complexidade tecnológica, usado na reabilitação de pacientes com perda auditiva severa ou profunda bilateral, que não se beneficiam do uso de aparelhos auditivos convencionais”, afirma ao Jornal da USP o médico Guilherme Adam Fraga, que pesquisou o tema para sua dissertação de mestrado no HRAC, ligado à Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. “Diversas empresas no mundo desenvolveram seus próprios dispositivos, que variam em tamanho, espessura e comprimento dos eletrodos, pois a anatomia da cóclea humana também apresenta variações.”

De acordo com o médico, o implante coclear com eletrodo curto, de 15 milímetros (mm), é indicado como reabilitação em pacientes com malformações do órgão ou com ossificação coclear associada a alguma doença, notadamente a meningite. “Quando observamos nos exames de imagem pré-operatórios, de tomografia e ressonância magnética, que a cóclea tem seu tamanho reduzido, o que torna mais difícil a inserção total do eletrodo, usamos o modelo curto, cujo comprimento é menor em relação ao convencional, que tem 31 mm”, explica. “Esse tipo de eletrodo é amplamente adotado no mundo, mas poucos estudos foram publicados avaliando o desempenho auditivo e de linguagem em seus usuários, com resultados, até o momento, controversos.”

A pesquisa avaliou como os testes de percepção de fala (audição) evoluíram em pacientes que foram submetidos a cirurgia de implante coclear com um tipo específico de eletrodo curto, o Compressed, da empresa austríaca Med-EL. “Realizamos a análise dos prontuários de todos os 1.713 pacientes implantados entre os anos de 2009 e 2020 no HRAC e encontramos um total de 70 pacientes usuários desse eletrodo”, descreve Fraga.

Exemplo de colocação do implante coclear; na imagem da direita está a cóclea, órgão do ouvido interno em forma de espiral que recebe sons do ambiente externo e os transmite para o cérebro, ligada ao dispositivo de reabilitação auditiva por um eletrodo, que é mais curto em casos de perda severa ou profunda da audição, quando o tamanho do órgão diminui por malformação ou doenças como a meningite, dificultando sua colocação – Foto: Cedida pelo pesquisador

Uso da fala

“Os testes de percepção de fala são avaliações audiológicas específicas realizadas em pacientes com perda auditiva, utilizados internacionalmente e validados para a língua portuguesa do Brasil”, explica o médico. “Neles, o fonoaudiólogo apresenta sílabas, palavras e frases ao paciente, que precisa comprovar que compreendeu, repetindo-as com o uso da fala, ou seja, da linguagem oral.”

O estudo usou os testes realizados na rotina diária da Seção de Implante Coclear do HRAC, tanto pré quanto pós-operatórios. “Constatamos que meningite e perda auditiva congênita foram os principais motivos para indicação de implante coclear com eletrodo curto em nosso serviço, isto é, pacientes com ossificação e malformação da cóclea”, aponta. “Com as análises, observamos que houve evolução positiva dos testes de percepção de fala com o passar do tempo.”

Assim, “o uso do implante coclear com eletrodo curto mostrou-se uma alternativa no manejo de pacientes com perda auditiva severa ou profunda”, ressalta Fraga. “Os resultados do estudo aumentam os recursos à disposição do médico com dados objetivos para orientação do paciente e dos familiares na avaliação pré-operatória do implante coclear e na escolha do dispositivo a ser implantado.”

Cirurgia para colocação de implante coclear; tipo de eletrodo a ser inserido na cóclea é definido por exames de imagem que avaliam possível redução no tamanho do órgão – Foto: Cedida pelo pesquisador

A pesquisa foi realizada na Seção de Implante Coclear do HRAC por Guilherme Adam Fraga e apresentada como dissertação de mestrado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação. O trabalho teve orientação do professor Luiz Fernando Lourençone e participação de Julia Speranza Zabeu e Rhaissa Heinen Peixoto. A pesquisa é descrita no artigo Evolution of speech perception in patients with ossified cochlea and short array cochlear implant, publicado na revista científica Acta Oto-Laryngologica em 21 de agosto.

Mais informações: e-mail gadamfraga@usp.br, com Guilherme Adam Fraga

*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Implante para depressão se mostra eficaz para tratar o problema

Um implante para tratar depressão resistente será aplicado pela primeira vez no Brasil. O aparelho, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já foi usado para controlar crises epilépticas anteriormente. Dois pacientes receberão implantes do aparelho, que estimula o nervo vago. Leandro Valiengo, médico e coordenador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica o uso do aparelho para o tratamento desses casos de depressão.

Desde 2019, de acordo com Valiengo, a depressão é a doença que mais incapacita no mundo. Ainda que existam inúmeros tratamentos para o distúrbio, até 1/3 dos pacientes não melhora, o que pode resultar em um caso de depressão resistente, termo usado para classificar aqueles pacientes que têm a doença e que não respondem a dois tratamentos com medicações antidepressivas em doses adequadas e por um período de tempo determinado.

O acompanhamento feito pelos profissionais pode durar a vida toda, dependendo da gravidade dos casos. “Se você tiver um episódio depressivo na vida e depois do tratamento ficar tudo bem, não será preciso tratamento a longo prazo, apenas pelos próximos meses ou até por um ano. Quando um paciente tem mais de três episódios depressivos na vida, a chance de voltar a ter é muito alta, acima de 80%, o que pode resultar em tratamento e acompanhamento pelo resto da vida, ou por um tempo muito extenso” discorre o médico.

Com o tratamento de longo-prazo e de difícil processo, o médico destaca o desafio do estigma social acerca dessa condição mental, na medida em que contribui para um receio em recorrer à ajuda psicológica e psiquiátrica, e enfatiza que os médicos buscam cada vez mais desenvolver pesquisas a fim de melhorar os tratamentos para a condição.

O tratamento 

O aparelho usado para tratar esses casos de depressão já é conhecido na comunidade médica. Desde a década de 1990, segundo o médico, esse dispositivo, que é implantado na região do pescoço para estimular o nervo vago, já era usado para tratar pacientes com quadros de epilepsia. “Pacientes com epilepsia têm um fator de risco maior para ter depressão. Depois do tratamento, os médicos perceberam que esses pacientes também melhoraram seus quadros depressivos, então criou-se uma hipótese: será que esse procedimento também serve para tratar depressão, independentemente da epilepsia?” pontua Valiengo.

No final dos anos 1990, principalmente nos Estados Unidos, iniciaram-se estudos para o tratamento específico de pacientes com depressão através da estimulação do nervo vago. Os momentos iniciais da análise mostraram que os pacientes tinham taxas de resposta entre 20% e 30%. Em cinco anos de seguimento, os estudos mostraram que as taxas de respostas aumentaram, chegando a 67% de melhora. Os indivíduos que não aderiram ao aparelho tiveram 40% de melhora. Já nos casos de remissão da doença – quando os sintomas somem totalmente –, as taxas atingiram 43%.

O médico acrescenta que, mesmo com a implantação do aparelho, os pacientes ainda podem continuar com outros procedimentos simultâneos, como terapias e usos de medicamentos controlados. Valiengo explica que, caso haja uma melhora nos sintomas, os pacientes provavelmente ficarão com o aparelho pelo resto da vida, realizando os ajustes necessários ao longo do tempo. Por se tratar de uma cirurgia, o procedimento pode causar uma infecção – o que não é comum, acrescenta o médico. Outros efeitos colaterais mais comuns são tosse e rouquidão, já que o nervo vago possui um controle das cordas vocais.

Valiengo salienta que a autorização do uso do aparelho pela Anvisa não significa que o tratamento estará disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) ou por meio do convênio, por exemplo. “São várias etapas no processo de aprovação. A Anvisa regula se é permitido ou não e existem outras burocracias para a disponibilização do tratamento.” Existem inúmeros custos por trás do procedimento, como os da cirurgia, do aparelho e das baterias, além de recursos humanos. Como acabou de ser aprovado, ainda não é possível estabelecer um preço para ele.

FONTE: Jornal da USP

Síndrome do coração partido é uma condição médica que pode levar à morte

“Mudaram as estações, nada mudou. (…) Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre acaba?”. Os versos iniciais da canção de Cássia Eller refletem uma experiência universal: a perda e o luto. As consequências da morte de alguém conhecido nunca são fáceis, quando é a morte de um parceiro a situação se agrava e pode se estender além do adeus. Essa situação pode desencadear um quadro de consequências prejudiciais à saúde, como distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, diminuição da função imunológica e até mesmo um declínio significativo na saúde física. Esse panorama é comum e recebe o nome de efeito viuvez.

Maria Julia Kovács, professora sênior do Instituto de Psicologia da USP e membro fundadora do Laboratório de Estudo sobre a Morte, explica que o efeito viuvez, que também pode ser chamado de síndrome do coração partido, é quando a perda de uma pessoa é vivida de uma forma tão intensa e tão dolorosa, ou com tanto sofrimento, que acaba levando à morte do enlutado. Trata-se de uma condição médica documentada, conhecida como cardiomiopatia induzida por estresse, e ocorre quando o coração fica atordoado por um estresse agudo repentino e seu ventrículo esquerdo enfraquece. Ela foi descrita pela primeira vez em 1990, no Japão, e nessa síndrome o coração fica tão parecido com uma armadilha de polvo japonesa chamada takotsubo, que alguns médicos começaram a denominar a doença de cardiomiopatia de takotsubo.

Mas, apesar do estado clínico crítico, que pode resultar na morte do enlutado, Maria Julia Kovács comenta que não é uma regra para aqueles que sofrem da síndrome do coração partido. “É importante a gente considerar que, mesmo que a pessoa não queira mais viver, não quer dizer que obrigatoriamente ela vai ter um processo de adoecimento direto ou vai cometer o suicídio.” Além disso, na maioria dos casos, quando o estresse emocional agudo se dissipa, o coração se recupera e volta à sua forma normal.

 

Da esquerda para a direita: armadilha de polvo japonesa, chamada takotsubo, e coração com a síndrome do coração partido – Montagem por Julia Valeri/Jornal da USP

 

O efeito da viuvez foi documentado em todas as idades e raças ao redor do mundo e uma pesquisa realizada por Nicholas Christakis, que dirige o Laboratório da Natureza Humana na Universidade de Yale, e Felix Elwert, professor de Sociologia da Universidade de Wisconsin, ambas nos Estados Unidos, afirma que o risco de um idoso morrer por qualquer causa aumenta entre 30% e 90% nos primeiros três meses após a morte do cônjuge e cai para cerca de 15% nos meses seguintes.

Terceira idade é a mais afetada

O estudo ainda revelou que, quando um parceiro morreu de forma súbita, o risco de morte do cônjuge sobrevivente aumentou. O mesmo acontecia com doenças crônicas como diabete, doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão ou cólon, que exigiam tratamento cuidadoso do paciente para tratar ou prevenir.

No entanto, se um cônjuge morreu de doença de Alzheimer ou Parkinson, não houve impacto na saúde do parceiro sobrevivente – possivelmente porque o cônjuge teve tempo adequado para se preparar para a perda do parceiro.

A professora ainda explica que casais da terceira idade e os viúvos homens são os mais propensos a sofrerem dessa síndrome, uma vez que as pessoas mais idosas vivem muito tempo juntas e muitas vezes não conseguem conceber uma vida sem a pessoa querida, e os homens dificilmente vão expressar seus sentimentos, no preceito de que se abrir e conversar sobre suas emoções é equivalente à fragilidade. “Às vezes eles podem entrar em grande sofrimento e acabar falecendo.”

A fala da psicóloga é embasada por um estudo publicado neste ano na revista de saúde norte-americana PlosOne, que evidencia que os homens correm um risco maior de morrer após perder a parceira: após estudar dados de quase 1 milhão de cidadãos dinamarqueses casados, os pesquisadores também descobriram que os homens tinham 70% mais chances de morrer do que os que não perderam a parceira. No caso das mulheres, 27% eram mais propensas à morte do que as que não se tornaram viúvas.

Mas a especialista ressalta que cada caso é distinto e que não se pode generalizar. “Quando, por exemplo, a pessoa é muito idosa ou já tem um processo de adoecimento, ou alguma condição que requer atenção psicológica ou psiquiátrica, que dificulta o processo de elaboração do luto, pode ser que ela seja mais propensa à síndrome do coração partido em um período curto de tempo; outras pessoas têm um processo de luto mais longo, que pode ser chamado de complicado, porque a intensidade, o sofrimento é muito grande e a capacidade e vontade de viver nesse mundo sem a pessoa querida é tão penosa que o luto se arrasta por anos.”

Ela ainda comenta sobre outra possibilidade de luto: “Existem circunstâncias em que a vida pode ficar melhor, porque às vezes o relacionamento era tóxico, era difícil, havia muito conflito e muita briga e, portanto, a viuvez se transforma nessa possibilidade de retornar ao bem-estar e à simplicidade da vida”.

Entretanto, Maria Julia Kovács nota que é sempre importante ficar atento aos sinais da síndrome para que, se necessário, se faça a intervenção e a busca por ajuda. “Os cônjuges sobreviventes podem sofrer de distúrbios do sono, episódios depressivos, ansiedade, função imunológica prejudicada e saúde física geral precária.” Diante disso, a psicóloga enfatiza a necessidade de um acompanhamento próximo ao parceiro sobrevivente. Se manifestações de desvalorização da vida surgirem ou se houver queixas sobre a dificuldade de seguir adiante e de se adaptar à vida sem o parceiro, ela destaca a importância de uma conversa direta com o indivíduo e oferecer apoio e opções como grupos terapêuticos, terapia individual ou até mesmo medicação.

“Não finja que está tudo bem e cerque-se de pessoas para as quais você não precisa fingir que está bem. O luto é um ato de coragem e força. Quanto mais significativa a perda, mais profunda ela é e mais longo é o processo de recuperação. Procure ajuda se necessário”, conclui a especialista.

*Estagiário sob orientação de Ferraz Junior

FONTE: Jornal da USP

Fatos interessantes sobre os rins

Seus rins são responsáveis por diversas funções para manter seu organismo saudável. Com isso, no mês em que comemoramos o dia Mundial do Rim, preparamos para vocês fatos interessantes para mostrar o quanto o trabalho desses órgãos vitais é essencial para mantê-lo sadio!

A maioria das pessoas tem dois rins

Com formato semelhante ao de um feijão, cada rim pesa cerca de 150g e apresenta o tamanho de um punho fechado. Embora a maioria das pessoas tenha dois rins, se você tem apenas um rim ou um rim funcionando, você pode ter uma vida saudável com apenas um rim, com a necessidade de seguir cuidados mais rigorosos ao cuidar de sua saúde renal.

Eles são os órgãos que mais trabalham no seu corpo

Seus rins podem ser pequenos, mas trabalham bastante! Os rins são responsáveis por remover resíduos e excesso de líquido do corpo, filtrando-os do sangue. Seus rins filtram cerca de 180 litros de sangue durante um determinado dia!

Eles regulam o teor de sal do seu corpo

Além de filtrar os resíduos do sangue, os rins também ajudam a regular os níveis de sódio do seu organismo. É importante ter em mente que, embora o sal seja essencial para o bom funcionamento do seu corpo, quantidades excessivas podem ser prejudiciais ao seu corpo, levando a doenças cardíacas, derrames e até insuficiência renal.

Os rins produzem hormônios que promovem a produção de glóbulos vermelhos

Eles ajudam a produzir os glóbulos vermelhos, conhecidas também como hemácias, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio pelo corpo.

Os néfrons são as unidades de filtragem do rim

Cada rim é composto por cerca de 1 milhão de néfrons e cada néfron é uma unidade de filtragem do rim. Esticados de ponta a ponta, eles têm cerca de 8 quilômetros de comprimento. Ao atingir os 40 anos de idade, 1% dos néfrons começam a degenerar a cada ano.

Beber água em excesso pode ser ruim para os rins

Manter-se hidratado ajuda a manter os rins em bom funcionamento, por outro lado, o excesso de água pode ser ruim para os rins. Isso pode causar uma condição chamada hiponatremia, que ocorre quando o sódio no sangue se dilui porque os rins não conseguem eliminar o líquido com rapidez suficiente. Essa condição é incomum, mas pode ocorrer entre atletas que se esforçam demais e bebem água extra para compensar.

Este material é destinado para fins informativos e não substitui o aconselhamento ou tratamento médico. Consulte o seu médico sobre o seu diagnóstico específico, tratamento, dieta e questões de saúde.

Autores: Paula Felicio e Cinthia Montenegro.

Referência:

FONTE: Blog FazBem

Entenda como funciona e para que serve a endoscopia

A Endoscopia Digestiva Alta, ou só endoscopia, como é conhecida, é um exame laboratorial realizado com um fino tubo que transmite as imagens do esôfago para uma tela, onde o especialista consegue, por meio dessas imagens, detectar áreas inflamadas, alterações na válvula e até presença de hérnia.¹

É um exame importante para a detecção de diversas doenças no trato intestinal, inclusive alguns tipos de câncer. ¹

Preparamos esse texto exclusivo para que você consiga entender melhor sobre a endoscopia.  

O que é Endoscopia Digestiva Alta? 

É um exame que ajuda no diagnóstico de doenças na parte superior do tubo digestivo, como esôfago, estômago e porção inicial do intestino delgado. ²

Com ele, é possível que o endoscopista consiga encontrar lesões ou alterações dentro desses órgãos. É um exame realizado com um aparelho flexível, fino, com uma microcâmera e iluminação na ponta de um tubo.²,³

Caso o endoscopista ache necessário e perceba alguma alteração, ou esteja no pedido do exame, é feito o pedido para a realização de biópsia. Em algumas situações ocorre uma investigação que busca a bactéria H. Pilory pelo método de urease.³

Como esse exame é realizado? 

Como dito antes, é feito por um aparelho que é introduzido através da boca do paciente. Nesse aparelho tem uma luz que iluminará todo o caminho que precisa ser examinado dentro desses órgãos e as imagens são projetadas em um monitor para análise.²

Para esse exame, é necessário estar sedado, por isso, existem duas opções de sedação:²

  • Anestesia tópica, usando um spray anestésico na garganta; 
  • Sedação endovenosa, administrada por uma veia para fazê-lo adormecer. 

O exame é indolor e, geralmente, é feito com a sedação endovenosa. Apenas pessoas com algum tipo de condição que impeça esse uso, usará a anestesia tópica.²

Na presença de lesões elevadas, dependendo do caso, o médico já pode solicitar a retirada da lesão durante o exame.²

A duração média desse exame é de no máximo 20 minutos, mas pode mudar caso precise de outros procedimentos naquele momento.²

Quais os motivos para o pedido de uma endoscopia?  

Se você se queixar de dor ou desconforto em áreas citadas anteriormente, o seu médico gastroenterologista, provavelmente, pedirá esse exame para você. Então caso você sinta e queixe-se de:³

  • Alguma alteração de hábito intestinal; 
  • Presença de sangue nas fezes; 
  • Dor abdominal; 
  • Azia; 
  • Queimação no estômago e no esôfago; 
  • Falta de apetite; 
  • Sensação de estufamento; 
  • Perda de peso; 
  • Refluxo; 
  • Sangramento digestivo alto: evacuar sangue escuro ou vomitar sangue; 
  • Sensação de parada de alimentos no esôfago; 
  • Dor ao engolir; 
  • Histórico familiar de tumores na região do intestino. 

A endoscopia pode diagnosticar as seguintes doenças:³

  • Gastrite; 
  • Hérnias; 
  • Tumores; 
  • Estenoses; 
  • Infecções 
  • Pólipos. 

E várias outras patologias.  

Como proceder após o exame? 

Após o exame, a recomendação e os próximos passos vão depender muito da sua reação ao sedativo após acordar. Primeiro você permanecerá na sala de repouso de 10 a 30 minutos, até os efeitos de sonolência passarem.²

Esse exame só é realizado quando o paciente comparece ao laboratório acompanhado de uma pessoa maior de 18 anos porque a medicação utilizada para o adormecimento pode afetar:²

  • Capacidade de raciocínio; 
  • Tomada de decisões; 
  • Reflexos. 

Além disso, é importante que você vá com uma pessoa que consiga guiá-lo ou dirigir, porque, além dos sintomas citados, também é proibido dirigir ou pilotar qualquer automóvel e não é recomendado voltar na garupa de uma moto.²

Caso seja necessário, o médico irá fornecer um atestado para interromper suas atividades daquele dia, como escola ou trabalho. As atividades voltam normalmente no dia seguinte.²

Como prevenir os problemas identificados em uma endoscopia?  

O acompanhamento médico anual é a melhor forma de cuidar da sua saúde e prevenir doenças, por isso, sempre esteja em dia com as consultas.4

Além disso, a demanda pela realização de exames endoscópicos para diagnóstico é grande e deve ser realizada por profissionais devidamente habilitados. Há intervenções que parecem procedimentos simples, mas podem causar danos permanentes se forem mal indicadas, ou realizadas por pessoas não capacitadas. 

Tenha atenção na sua escolha. O diagnóstico preciso, precoce e correto de doenças e problemas no aparelho digestivo deve ser feito por um endoscopista qualificado e capaz de atuar nos procedimentos de baixa complexidade e de alta complexidade.

Nunca deixe de realizar seus exames solicitados pelo seu médico e não deixe de retornar às suas consultas de rotina para entender com um profissional os resultados que esses exames geraram. Além disso, sempre conte com o FazBem na sua jornada de paciente, mas não substitua nenhuma consulta ou exame e nem deixe de seguir as orientações do seu médico. 

Referências: 

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. Doença de Refluxo Gastroesofágico. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/doencas-benignas/doenca-de-refluxo-gastroesofagico/. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. Endoscopia Digestiva Alta. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/orientacao-ao-paciente/o-que-e-especialista/. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  3. A. C. CAMARGO CANCER CENTER. Tudo sobre endoscopia. Disponível em: https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/medicina-diagnostica/tudo-sobre-endoscopia. Acesso em: 12 abr. 2023. 
  4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA. O que é Especialista?. Disponível em: https://www.sobed.org.br/geral/orientacao-ao-paciente/o-que-e-especialista/. Acesso em: 12 abr. 2023. 

FONTE: Blog FazBem

Cigarro e vírus HPV têm efeito conjunto nas células, potencializando o risco de câncer

Além de constituírem fatores de risco independentes para o câncer de cabeça e pescoço, o tabagismo e o papilomavírus humano (HPV) podem provocar efeitos nas células que interagem entre si, aumentando ainda mais o risco da doença. A conclusão é de um estudo feito por cientistas da USP e da Universidade do Chile, cujos resultados foram publicados em artigo no International Journal of Molecular Sciences. Ao aumentar a compreensão sobre os mecanismos moleculares envolvidos nesse tipo de tumor, a descoberta abre caminho para a adoção de novas estratégias de prevenção, tratamento ou outra intervenção capaz de beneficiar os pacientes.

O câncer de cabeça e pescoço engloba tumores nas cavidades nasal e oral, faringe e laringe. Em 2020, afetou cerca de 830 mil pessoas em todo o mundo, causando a morte de mais de 50% delas. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram quase 21 mil mortes no Brasil em 2019. Embora a doença esteja historicamente ligada a consumo de álcool, fumo e má higiene bucal, o HPV surgiu nas últimas décadas como fator de risco relevante, afetando uma população mais jovem e de nível socioeconômico mais alto. Hoje, trata-se de um dos tumores associados ao HPV que mais crescem no mundo.

“Em vez de continuar analisando tabagismo e HPV como fatores oncogênicos separados, passamos a focar na possível interação entre os dois”, explica Enrique Boccardo, professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coautor do estudo. “Afinal, tanto o cigarro quanto o papilomavírus humano estão associados ao aumento do estresse oxidativo e a danos no DNA relacionados ao câncer e, de acordo com estudos prévios, podem regular a enzima superóxido dismutase 2 [SOD2], que é um biomarcador de doenças iniciais associadas ao HPV e do desenvolvimento e progressão de tumores.”

Em testes in vitro, os cientistas brasileiros e chilenos analisaram células orais que expressavam as oncoproteínas HPV16 E6/E7 (a expressão foi induzida em laboratório para imitar a condição de células infectadas pelo papilomavírus) e foram expostas a um condensado da fumaça do cigarro. Foi observado nessa condição um aumento considerável dos níveis da enzima e de danos ao DNA, reforçando o potencial nocivo da interação entre HPV e fumaça de cigarro em relação à condição-controle. Ou seja, as células-controle (não expostas a oncoproteínas ou fumo) expressam menos SOD2 que células que expressam E6/E7 ou que células tratadas com fumaça de cigarro, enquanto células que expressam E6/E7 e foram tratadas com fumaça de cigarro expressam níveis maiores da enzima do que qualquer outro grupo analisado. Isso indica a “interação” entre a presença de genes de HPV e a fumaça de cigarro.

Ponto de Partida

Uma segunda etapa do trabalho, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo por meio de dois projetos, envolveu a análise de dados genômicos de 613 amostras que integram o repositório público The Cancer Genome Atlas (TCGA). Na plataforma, são catalogadas as mutações genéticas responsáveis pelo câncer a partir de sequenciamento de genoma e bioinformática. O grupo focou na análise de transcrições da enzima para confirmar os achados.

“Apesar de serem realizados em um ambiente artificial, estudos in vitro são um ponto de partida para compreender o que acontece em modelos mais complexos e, no futuro, talvez nos permitam intervir de forma objetiva e trazer algum benefício”, afirma Boccardo. “Atualmente, por exemplo, a vacinação contra o HPV só está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças entre 9 e 14 anos, porque estudos apontaram maior eficácia na prevenção de patologias genitais, mas acredito que seja possível considerar a extensão para um grupo maior de indivíduos a fim de evitar doenças em outras regiões anatômicas.”

O pesquisador destaca ainda que este trabalho conduz os resultados obtidos em laboratório para a análise clínica ao superar o calcanhar de Aquiles da pesquisa básica, que é o acesso a amostras humanas. Isso se dá graças à evolução da tecnologia, que levou à criação de bases de dados de amostras humanas, como a utilizada na pesquisa. Esses bancos incluem estudos de análise de expressão de RNA e proteínas e permitem o acesso a informações de longos períodos de tempo.

“O próximo passo seria aumentar a complexidade do modelo utilizado, analisando a questão funcional em um contexto de expressão normal das proteínas virais, ou seja, em que o promotor do HPV regule de fato a expressão das oncoproteínas E6/E7″, acredita Boccardo. No caso do estudo, essa expressão foi induzida em laboratório e não pela infecção. “Não podemos esquecer, por exemplo, que existem eventos como o processo inflamatório, que não conseguimos visualizar in vitro, mas que sabemos que, na prática, pode ter um papel muito importante no desfecho da doença.” O artigo Interaction between Cigarette Smoke and Human Papillomavirus 16 E6/E7 Oncoproteins to Induce SOD2 Expression and DNA Damage in Head and Neck Cancer pode ser lido aqui.

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Texto: Julia Moióli da Agência Fapesp, com edição de Júlio Bernardes

FONTE: Jornal da USP

Técnica usa anticorpos do sangue para detectar bactéria causadora da hanseníase

Uma nova estratégia para diagnosticar a hanseníase, doença que o Brasil é o país com maior número de novos casos por habitante, é proposta em pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Testada em ensaios de laboratório, a técnica usa anticorpos presentes no sangue para identificar uma proteína da bactéria causadora da doença. O método fornece um diagnóstico mais preciso do que o baseado nas técnicas laboratoriais existentes, como, por exemplo, a realização de biópsias. O próximo passo da pesquisa é desenvolver tecnologias que permitam a realização do teste no local de atendimento dos pacientes.

Os resultados são apresentados em artigo da revista científica Frontiers In Medicine. A hanseníase é uma doença infecciosa, de evolução crônica e tratável que tem como agentes as bactérias Mycobacterium leprae e Mycobacterium lepromatosis. “A sua transmissão ocorre por meio do contato com o paciente infectado através das mucosas do nariz e da boca”, relata ao Jornal da USP o autor do estudo, o biomédico Filipe Rocha. “A bactéria compromete principalmente a pele e os nervos periféricos, podendo deixar graves sequelas quando não há tratamento precoce. Essa ausência leva ao surgimento de incapacidades físicas que podem evoluir para deformidades devido aos graves danos nos nervos causados pela bactéria. Assim, as principais sequelas serão perda parcial, ou total e irreversível da sensibilidade em mãos e pés ao calor, frio, dor e toque, atrofia muscular, dedos em garra, alterações nos movimentos e mutilações das extremidades do corpo.”

“O Brasil é classificado como país de alta endemicidade, sendo o primeiro do mundo em registros de novos casos por habitante e o segundo em novos infectados por ano, representando 93% do total de contágios dos países das Américas”, destaca Rocha. De acordo com o biomédico, em 2019, foram reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS) 202.185 casos novos da doença no mundo. Desses, 29.936 (93%) ocorreram na região das Américas e 27.864 foram notificados no Brasil. Em 2022, mais de 17 mil casos de hanseníase foram notificados, sendo que com a pandemia da covid-19 houve uma redução de mais de 30% na notificação de casos novos, devido ao impacto na busca ativa de casos e nos programas de controle da doença. “A doença é um importante problema de saúde pública no País, que faz parte dos países prioritários na estratégia global de hanseníase.”

O pesquisador observa que, tendo em vista a performance variável dos testes laboratoriais existentes, o diagnóstico da doença é, ainda hoje, baseado principalmente na clínica, através da identificação de sinais dermatológicos e neurológicos, tais como como manchas na pele, áreas de perda de sensibilidade, regiões com perda de pelos e diminuição do suor, formigamentos, câimbras, sensação de picadas e agulhadas, dor nos nervos, caroços no corpo, dormência, fraqueza e inchaço nas mãos e pés, rosto inchado, perda de cílios e sobrancelhas, diminuição da acuidade visual, ressecamento e inflamação nasal. “Atualmente, as ferramentas de diagnóstico disponíveis carecem de sensibilidade e precisão suficientes para atingir o objetivo de detecção precoce, como o caso da baciloscopia e biópsia de pele”, relata. “Ferramentas como testes sorológicos, diagnóstico molecular, ultrassonografia de nervos periféricos, eletroneuromiografia e outras técnicas são restritas a centros de referência e unidades de atendimento especializado.”

A pesquisa avaliou o significado clínico e a capacidade dos anticorpos contra uma proteína da bactéria Mycobacterium leprae para o diagnóstico da hanseníase e rastreio de casos sem manifestações clínicas clássicas e de difícil diagnóstico, principalmente aqueles com sinais essencialmente neurológicos. O estudo contou com a realização de dosagens de anticorpos em 405 pessoas na região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), sendo 200 casos novos da doença, 105 contatos intradomiciliares, dentro das residências, e 100 pessoas saudáveis.

Anticorpos

Por meio de um teste sorológico denominado Elisa, os anticorpos IgA, IgM e IgG, presentes no soro, que é a parte líquida do sangue, são capazes de reconhecer a proteína Mce1A, presente na bactéria. “Através dos níveis desses anticorpos os pacientes serão diagnosticados e monitorados ao longo e após o tratamento da doença”, descreve o biomédico. “Dessa forma, a análise combinada dos três anticorpos será capaz de avaliar e classificar as pessoas apenas em contato com a bactéria, casos de doença ativa e os que já foram tratados.”

Identificação da bactéria é feita por meio do teste sorológico Elisa, onde os anticorpos presentes na parte líquida do sangue (soro) são capazes de reconhecer proteína presente no micro-organismo – Imagem: Extraída do artigo – Tradução: Jornal da USP

Segundo Rocha, as próximas etapas da pesquisa envolvem a aplicação dos resultados encontrados para a testagem em plataformas tecnológicas capazes de ser comercialmente disponibilizadas e desenvolvimento de ensaios de testes no ponto de atendimento (point of care). “Certamente, esses são os objetivos futuros após a consolidação de todas as etapas necessárias para confecção de um kit diagnóstico”, avalia. “O diagnóstico da hanseníase é um desafio técnico e prático, principalmente nos casos maculares iniciais e os predominantemente neurais.”

“O desenvolvimento tecnológico e o investimento científico na área das doenças negligenciadas, como a hanseníase, é fundamental para o controle da doença como problema de saúde pública nacional e sendo a prospecção de novos exames laboratoriais de maior sensibilidade uma proposta para eliminação das principais limitações no diagnóstico da doença”, salienta o pesquisador. “Assim, novos biomarcadores para alcance das metas da OMS na identificação dos casos iniciais e infectados e para a interrupção da transmissão bacilar satisfazem os pilares de execução das pesquisas com impacto social e retorno ao Sistema Único de Saúde (SUS).”

De acordo com o biomédico, o tratamento farmacológico da hanseníase é feito com poliquimioterapia única (PQT-U), que associa três antibióticos – rifampicina, dapsona e clofazimina. “O esquema terapêutico é usado por seis meses para casos iniciais e 12 meses para os pacientes com formas clínicas avançadas. O tratamento é disponibilizado de forma gratuita e a hanseníase tem cura”, observa. “Conforme definido pelo Ministério da Saúde, é necessário concluir adequadamente o tratamento para que ocorra a cura e para evitar o retorno da doença, novas contaminações e resistência aos medicamentos”.

O estudo foi desenvolvido durante o doutorado de Filipe Rocha no programa de pós-graduação em Clínica Médica da FMRP, orientado pelo professor Marco Andrey Cipriani Frade. O trabalho contou com a participação de pesquisadores do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária e Hanseníase da FMRP, coordenado pelo professor Frade; Divisão de Dermatologia do Departamento de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da FMRP (HCRP); Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP; Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Bahia; e Universidade de Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos).

Mais informações: e-mail rfilipelima@gmail.com, com Filipe Rocha

 *Estagiária sob orientação de Moisés Dorado

FONTE: Jornal da USP

Diagnóstico precoce é fundamental no tratamento da Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla é uma condição autoimune potencialmente incapacitante do cérebro e do sistema nervoso central que dificulta a comunicação entre cérebro, medula e corpo. Em 30 de agosto, Dia Nacional da Consciência sobre a Esclerose Múltipla, o doutor Dagoberto Callegaro, chefe do Ambulatório de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica os principais sintomas, causas e efeitos da doença.

O que é 

De acordo com Callegaro, as causas básicas da Esclerose Múltipla  ainda estão em elaboração, mas é uma inflamação que proporciona a doença: “Praticamente, 85% a 95% dos casos iniciam-se por uma inflamação, que é danosa ao sistema nervoso central, seja o cérebro, a cabeça ou a medula espinhal. Nós dizemos que o neuroeixo do sistema nervoso central é comprometido e esse comprometimento pode ser difuso ou pontual”.

Geralmente, a doença inicia-se com a perda de uma função, que pode ser transitória ou definitiva. Segundo o médico, a maioria dos casos apresenta perdas de função transitória, que podem ser o adormecimento de um membro, uma fraqueza na mão, a alteração da sensibilidade em um membro inferior, um andar arrastado, um desequilíbrio e a turvação da visão, por exemplo. Esses sinais podem ser um indício do aparecimento da Esclerose Múltipla, que é mais comum entre jovens adultos e afeta mais mulheres do que homens.

Diagnóstico e tratamento 

A Esclerose Múltipla pode ser diagnosticada de forma rápida através do exame de Ressonância Magnética do Neuroeixo. Através dele, é possível identificar a localização da inflamação e o que ela causa de sintomas. “A característica de distribuição dessas lesões permite que a gente já comece a pensar na Esclerose Múltipla”, explica o especialista a respeito do padrão de lesões.

Se um indivíduo jovem do sexo feminino tem sintomas de visão dupla, faz o exame da Ressonância e identifica essa e outras lesões, é possível que haja a confirmação da suspeita de Esclerose Múltipla. O diagnóstico, além de identificar a condição e proporcionar um tratamento adequado, também é importante para afastar outras doenças semelhantes. Essa diferenciação pode ser feita através de outros exames, como a análise do líquido da espinha.

Depois de identificada, é necessário escolher a terapêutica específica para o paciente que apresenta a Esclerose Múltipla. Callegaro explica que existem dois tipos de tratamento da doença, que dependem da quantidade de lesões. “Para uma expressão da doença de baixa em quantidade de lesões, é utilizada uma terapêutica denominada de escalonada. Pacientes com muitas lesões nos primeiros movimentos da doença possuem um quadro chamado de alta atividade”, discorre.

A diferenciação dos grupos é importante, porque cada grupo recebe um tipo diferente de medicação. Os indivíduos que possuem poucas lesões utilizam remédios mais fracos; já os indivíduos com maior número de lesões recebem medicamentos mais potentes.  O tratamento da Esclerose Múltipla não é tratada apenas por médicos neurologistas. O médico explica que, juntamente com os medicamentos que combatem a inflamação, é preciso complementar com o tratamento de outros profissionais, como fisioterapeutas e psicólogos.

Mensagem 

Segundo o médico, qualquer sintoma neurológico em jovens precisa ser observado e tratado com seriedade. Os exames neurológicos e complementares são importantes para que haja um diagnóstico fechado o mais rápido possível. “Quanto mais rápido for o descobrimento da doença, é possível iniciar a terapêutica mais precocemente”, pontua o médico.

A Esclerose Múltipla não tem cura, mas, quando os tratamentos necessários são iniciados rapidamente, é possível que os pacientes tenham uma vida totalmente normal.

FONTE: Jornal da USP

Desigualdades sociais contribuem para a diabete ser um grave problema de saúde pública

Artigo publicado na revista científica The Lancet aponta a diabete tipo 2, ou seja, aquela adquirida ao longo da vida, como um problema de saúde pública global; desigualdades sociais aceleram a crise, na medida em que três em cada quatro dos afetados viverão em países de baixa e de média renda. O estudo também traça uma perspectiva de que 1,3 bilhão de pessoas irão contrair a doença até 2050, com maior tendência para os jovens.

Maria Elizabeth Rossi, professora da Faculdade de Medicina da USP, endocrinologista do Hospital das Clínicas e chefe do Laboratório de Investigação Médica da FMUSP, ressalta a importância da contribuição do paciente com o tratamento e mudança de hábitos para um melhor resultado. “Diabete é a doença do século, porque tem opção terapêutica e tem opção de prevenção, mas isso implica acesso maior à informação no sentido de informar, chamar atenção e orientar”, considera a professora.

Fatores 

De acordo com o estudo, a frequência de pessoas que foram diagnosticadas com a patologia aumentou em 100% nos últimos 30 anos e a perspectiva é de repetição dessa alta até 2050. Além do impacto no sistema de saúde apontado pela médica, a projeção é preocupante por se tratar de uma patologia que implica inúmeras incapacidades do organismo, comprometendo muito a qualidade de vida. “A diabete pode levar ao alto risco de doença cardiovascular, é a principal causa de cegueira em adultos e é uma das principais causas da necessidade de hemodiálise ou de transplante renal”, pontua Maria Elizabeth.

Esse cenário alarmante foi ocasionado por uma série de fatores e a professora chama a atenção para o quadro assintomático dos dez ou 15 primeiros anos da doença, que podem impactar o tratamento adequado, caso não sejam feitos exames de rotina. Assim, a professora estabelece um importante paralelo entre o estilo de vida e o desenvolvimento da patologia. “Por exemplo, a obesidade é o fator mais importante no desencadeamento da diabete e no Brasil tem-se observado um quadro muito parecido: nos últimos 20 anos, a frequência de obesidade na população dobrou e a frequência de diabete seguiu na mesma linha”, menciona a médica.

O perfil da dieta dos brasileiros também se relaciona com o aumento na frequência de casos, visto que, mesmo com o quadro de insegurança alimentar, grande parte da alimentação tem alto nível calórico, mas baixo valor nutricional. “Nosso prato preferido, que é o arroz, feijão, uma verdura e uma carne tem sido deixado de lado e substituído por alimentos açucarados que não cumprem essas necessidades nutricionais”, nota Maria Elizabeth.

Desigualdade e diabete

Um quadro social dos afetados ou mais vulneráveis à doença também é percebido pela professora, já que a dieta é muito influenciada pelo tempo disponível para o preparo da alimentação. Maria Elizabeth comenta que, por exemplo, aqueles que cumprem uma jornada de trabalho maior possuem menos tempo para o preparo de uma refeição mais adequada. Além disso, o próprio estresse de uma condição social mais vulnerável também pode contribuir para o desencadeamento da doença.

O estigma também se relaciona diretamente com o tratamento da diabete, já que, muitas vezes, a doença é vista como um empecilho e até mesmo um fator excludente do mercado de trabalho. “Muitos pacientes escondem que eles têm diabete porque eles têm receio de perder o emprego ou não vão buscar o atendimento médico, porque isso implica perder um dia de trabalho”, exemplifica a médica.

Além da maior dificuldade no acesso aos medicamentos e tratamentos pelos países de baixa renda, o nível de escolaridade também é visto como crucial para o enfrentamento da diabete. Segundo Maria Elizabeth, a maior disponibilidade de informações sobre a doença favorece uma melhor prevenção e combate à diabete.

Ações 

Para o enfrentamento da patologia, a médica explica que cerca de 80% do tratamento parte da mudança de hábitos do paciente e a parte restante corresponde aos medicamentos. No Brasil, já é possível notar um grande suporte da saúde pública com medicamentos e do Sistema de Saúde Pública, apesar de não haver acesso a novas opções terapêuticas. Assim, a professora acredita que seja necessário um novo olhar para a educação da população sobre o assunto e, acima de tudo, sobre a possibilidade de prevenção à diabete.

FONTE: Jornal da USP