Desconhecida por boa parte da população, a infecção pelo protozoário Toxoplasma gondii (toxoplasmose) é um problema de saúde pública significativo. Para disseminar informações sobre a doença, pesquisadores elaboraram uma animação didática que explica como o parasita se reproduz. A professora Hilda Fátima de Jesus Pena, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, participou do projeto em parceria com o Moredun Research Institute, da Escócia.
O vídeo foi desenvolvido pelo estúdio de animação Ping Creates, liderado por Selina Wagner, como parte do projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o UK Research and Innovation e a Moredun Foundation. A iniciativa tem a proposta de investigar as diferenças de virulência das variantes de Toxoplasma gondii e como elas agem no organismo, a fim de promover maior saúde comunitária, segurança alimentar e controle da toxoplasmose. O vídeo foi disponibilizado em inglês e português. “Nós contribuímos com ideias e com a tradução da narração. O vídeo é uma ferramenta educacional incrível para todos os públicos pois é claro, leve e muito informativo”, afirma a professora ao Jornal da USP.
O Toxoplasma gondii é um dos parasitas mais bem-sucedidos em infecções no mundo inteiro. Em agosto de 2018, o surto da doença na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, registrou 647 casos confirmados e foi considerado o maior do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é de que cerca de metade da população mundial já tenha sido infectada.
Apesar da alta incidência de casos, a doença ainda é desconhecida para grande parte da população e carece de políticas públicas de conscientização e enfrentamento da zoonose. “No Brasil, a maior parte das ações envolvendo a toxoplasmose acontece nas universidades públicas”, afirma Hilda. Ela destaca a falta de ações envolvendo a prevenção da doença em pessoas grávidas, que são as mais vulneráveis à infecção.
A infecção ocorre quando o hospedeiro ingere pela primeira vez um alimento contaminado, o que leva o protozoário até o estômago, onde ele se reproduz rapidamente. O parasita pode ultrapassar as células intestinais e invadir outras unidades do corpo, o que possibilita sua expansão para outros tecidos do organismo. Em resposta à infecção, o sistema imunológico envolve os protozoários em cistos, que podem ficar alocados em diferentes tecidos do hospedeiro pelo resto de sua vida. “Os cistos formam bolsões que envolvem o protozoário, diminuindo a multiplicação do parasita no organismo”, explica Hilda.
A ingestão de carne mal preparada de animais com esses cistos presentes no organismo, bem como de vegetais e água contaminados, é a principal maneira de infecção do protozoário em humanos. Em sistemas imunológicos saudáveis, o parasita não causa sintomas no hospedeiro na maioria dos casos. Pessoas imunossuprimidas, grávidas ou que vivem com o vírus HIV e pacientes em tratamento quimioterápico ou com drogas imunossupressoras para o transplante de órgãos são as mais propensas a apresentarem sintomas mais graves da doença, que incluem febre, dor de cabeça, confusão mental, falta de coordenação e convulsões. No caso de pessoas grávidas, ocorre a transmissão congênita para os bebês, que podem nascer apresentando amarelamento da pele e dos olhos, macrocefalia, microcefalia e crises convulsivas, além da ocorrência de abortamentos.
Água contaminada, carne mal passada de animais com cistos e vegetais infectados são as principais vias de infecção de humanos pelo parasita. A higiene alimentar é a principal forma de prevenção à doença, pois, apesar de já haver vacinas disponíveis para ovinos, imunizantes próprios para humanos e outros animais ainda estão em fase de pesquisa.
A toxoplasmose pode afetar todos os animais, mas atinge, principalmente, os gatos, que se contaminam pela primeira vez ao caçarem presas infectadas. Nesse caso, milhões de ovos parasitários (oocistos) são espalhados através das fezes durante duas semanas e levam alguns dias para amadurecer e tornarem-se infecciosos para outros animais. Apesar disso, a probabilidade de infecção de humanos através dos felinos é baixa.
Mais informações: e-mail hfpena@usp.br, com Hilda Fátima de Jesus Pena
Texto: Pedro Ferreira
Arte: Rebeca Fonseca
FONTE: Jornal da USP