Cirrose é a sétima maior causa de morte em adultos no mundo

Cirrose é a sétima maior causa de morte em adultos no mundo

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A cirrose tem como consequência a insuficiência hepática crônica, porém, o senso comum coloca o álcool como sua principal causa. “Muita gente associa a cirrose puramente ao consumo de álcool, mas isso não está correto. Existem duas outras causas que são tão ou mais importantes: as hepatites virais e o fígado gorduroso”, explica o professor Alberto Farias da Gastroenterologia e Hepatologia da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital das Clínicas.

As hepatites virais B e C podem ser testadas gratuitamente nos postos de saúde. Para a B, existe vacina e tratamento e a C tem um tratamento muito eficaz. Farias comenta que, antigamente, o fígado gorduroso (esteatose hepática) era considerado uma condição de quem estava acima do peso e que não havia problema; hoje, sabe-se que ele pode causar cirrose e câncer de fígado. “Se as três principais causas — o álcool, as hepatites virais e o fígado gorduroso — fossem reconhecidas e tratadas, teríamos uma drástica redução do número de mortes por essa condição no País”, ressalta o especialista.

Estudo

A cirrose é colocada como a sétima maior causa de morte em adultos no mundo e, por conta disso, grandes estudos são feitos a respeito dessa problemática. “Foram avaliados 1.274 pacientes internados por descompensação aguda da cirrose, em 44 hospitais universitários de 27 cidades de sete países latino-americanos”, coloca Farias, que é coautor do artigo Genetic Ancestry, Race, and Severity of Acutely Decompensated Cirrhosis in Latin America.

Esse estudo faz parte de uma iniciativa da Fundação Europeia para o Estudo do Fígado, que busca entender a cirrose em diferentes partes do mundo. O objetivo é identificar essas diferenças e estabelecer tratamentos personalizados para cada pessoa. “A ideia é evitar uma fórmula geral, cada paciente tem a sua singularidade e essa identificação é muito importante para um planejamento individualizado para o tratamento”, explica o especialista.

Porém, ao analisar as diferenças, o estudo com o recorte latino-americano notou uma relação entre a ancestralidade genética e a ocorrência da cirrose: “Nossa principal descoberta foi em relação à ancestralidade. Nós estudamos a carga genética e descobrimos que pacientes que tinham uma ancestralidade nativo-americana (indígena), mesmo sem saber, genética e não puramente aparência física, tinham um risco muito maior de desenvolver cirrose grave”. Em números, seria como que a cada 10% de carga genética indígena existisse um aumento de cerca de 8% no risco de ter uma forma grave da doença.

Cuidados

“Isso tem uma implicação enorme, porque eu creio que, no futuro, a ancestralidade pode entrar como critério na medicina personalizada, de precisão. As pessoas, apesar de terem a mesma doença, no mesmo grau, são diferentes e vão reagir de forma diferente. Temos que propor tratamentos diferenciados”, pontua o professor.

Porém, além da questão genética ancestral ser um adicional na equação, a prevenção é possível, como diz Farias: “A questão do uso do álcool passa pela educação, pelo consumo moderado e seguro; o fígado gorduroso, pelo controle do peso, alimentação saudável e práticas de exercícios, e as hepatites, pela testagem e pelo tratamento”.

O ideal é que não se chegue ao transplante, mas, quando a doença está numa fase avançada, muitas vezes essa é a única solução. Existem duas modalidades: com o doador falecido, pela doação de órgãos, e a com ele vivo, que se oferece como doador e parte do órgão é utilizado — mais usado para casos mais urgentes. O estudo mostrou também a dificuldade do acesso ao transplante nos países analisados.

FONTE: Jornal da USP