Mais de 10 milhões de brasileiros apresentam algum grau de surdez

Mais de 10 milhões de brasileiros apresentam algum grau de surdez

A lesão pode ser bem significativa na idade adulta, principalmente entre os idosos, uma vez que pode levar à demência, se não detectada, apontam especialistas

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que 5% da população brasileira é composta de pessoas que apresentam alguma deficiência auditiva. Essa porcentagem significa que mais de 10 milhões de cidadãos apresentam a deficiência e 2,7 milhões têm surdez profunda, ou seja, não escutam nada. Essa lesão pode ser bem significativa na idade adulta, principalmente entre os idosos, uma vez que pode levar à demência se não detectada. Segundo a Constituição Federal, são proibidos atos de discriminação à pessoa humana. O Estatuto do Deficiente, em seu artigo 4°,  informa que “toda pessoa com deficiência tem direito a igualdade de oportunidade com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”. Apesar da garantia legal, os deficientes auditivos totais ou parciais enfrentam dificuldades no seu dia a dia e no mercado de trabalho.

“A situação da deficiência auditiva é ainda mais desafiadora por se tratar de uma deficiência invisível. Sempre que se fala em pessoa com deficiência nos vem à mente um deficiente físico, afinal, os símbolos de estacionamentos, por exemplo, são de um cadeirante. Porém, as vagas são liberadas para todos os deficientes”, cita Luciana Morillas, professora associada na Faculdade Economia, Administração e Contabilidade (FEA-RP) da USP de Ribeirão Preto. Ela lembra que, ao realizar uma pesquisa para o Conselho Nacional de Justiça sobre a aplicação da lei brasileira de inclusão no Judiciário, em uma entrevista, uma pessoa com deficiência contou que ficou indignada porque um grupo de pessoas aparentemente normal estava usando uma vaga de deficientes, depois ela percebeu que se tratava de um grupo de surdos. Ainda assim, a pessoa disse achar injusto que eles fizessem o uso das vagas. A professora destaca que “é importante tomarmos consciência de que as deficiências são um conjunto muito diverso de condições e cada uma delas deve ter os seus direitos respeitados.

Causas da deficiência

Vários fatores podem levar à perda auditiva, explica Ricardo Bento, do Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Desde o problema congênito, crianças que nascem com perda total de audição, e, durante a vida, nós vamos adquirindo doenças: são viroses, outras doenças infecciosas do ouvido e também doenças autoimunes, hoje em dia muito comuns e, no final da vida, tem a surdez do idoso, a chamada presbiacusia, após os 60 anos de idade, aproximadamente.” Os ruídos ambientais também são um fator que causa bastante perda de audição no mundo. “Muita gente não percebe que está ficando surdo e demora para procurar um médico.” Muitos trabalhos publicados apontam demências precoces como Alzheimer. “Eles vão ficando isolados, com perda de memória. Por este motivo, a busca por um profissional de saúde é tão importante.” Quem apresenta perda parcial ou profunda fica isolado, não consegue produzir no trabalho.

Na maioria das vezes, é possível reverter o estado de surdez com tratamento e até cirurgias ou o uso de aparelhos de audição. Vale lembrar que todo brasileiro tem direito ao tratamento auditivo. O Brasil tem uma legislação avançada nessa área, permitindo que todo o brasileiro tenha direito ao aparelho de audição gratuitamente através do SUS e também a algumas cirurgias complexas, como implantes cocleares.

Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que, até 2050, o mundo terá cerca de 1 bilhão de pessoas com deficiência auditiva. Tanto o deficiente quanto a economia nacional são prejudicados por apresentarem a falta de audição. Às vezes, a pessoa não consegue ter rendimento no trabalho e acaba se aposentando por invalidez, e os recursos públicos são utilizados para essa situação. Nos Estados Unidos, os problemas de comunicação causados pela surdez levam a um custo anual de aproximadamente US$ 4 bilhões.

FONTE: Jornal da USP