Porque a luz azul do celular não faz mal para sua pele?
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Atualmente passamos longos períodos de tempo em frente a telas de computadores, tablets e celulares, recebendo luz azul de diferentes intensidades. Também usamos sistemas de iluminação baseados em diodo emissor de luz (LED), que emitem luz no comprimento de onda visível, incluindo uma fração importante da luz azul. Embora seja complexo avaliar efeitos biológicos da exposição à luz, estudos mostram que a luz azul tem um papel importante na regulação do ritmo circadiano de sono-vigília, por sua influência nas células fotorreceptoras da retina. O excesso de radiação, no entanto, pode ser prejudicial aos olhos.
Mas será que a luz azul do celular faz mal para a pele?
Essa questão surgiu após uma notícia no jornal O Globo vincular, no título, a luz azul do Sol à luz azul do celular. A reportagem divulgava um estudo realizado pelo grupo do pesquisador Maurício Baptista sobre os efeitos da luz visível, especialmente a faixa do violeta e do azul, em células da pele humana.
“A relação no título da notícia foi infeliz e pode levar a entendimentos errôneos por parte dos leitores. Muito embora tanto o Sol quanto o celular emitam luz na região do azul, o artigo científico mencionado não estudou o efeito da luz emitida por aparelhos celulares e sim, o efeito de irradiação a partir de fontes que imitam os raios solares”, afirmou Baptista, que dirige o Laboratório de Processos Fotoinduzidos e Interfaces no Instituto de Química da USP e é membro do Cepid Redoxoma.
A principal diferença é a dose. As irradiâncias do celular são muito menores do que as vindas do Sol e o efeito da radiação luminosa na pele não é linear, sendo que doses pequenas são benéficas enquanto as maiores são danosas. Irradiância (W.m-2.) é uma medida da energia luminosa por unidade de tempo e de área.
Luz natural versus luz artificial
Considerando a irradiância total direta do Sol versus a do celular em toda faixa do visível, a irradiância solar é de aproximadamente 1000 W.m-2 e a dos aparelhos celulares, a 10 centímetros (cm) de distância da superfície, é de 0,05 W.m-2. Isso quer dizer que a irradiância do celular é cerca de 20 mil vezes menor do que a do Sol.
Mesmo considerando a irradiância difusa do Sol, isto é, quando a exposição não é direta, por exemplo, se estivermos embaixo do guarda-sol, a irradiância é em torno de 100 W.m-2, ainda assim duas mil vezes maior do que a do celular. Considerando somente a região do azul e a irradiância por faixa de comprimento de onda (W.m-2.nm-1), celulares emitem em torno de 0,03 W.m-2.nm-1 enquanto a irradiância difusa do Sol é de cerca de 30 Wm-2nm-1, ou seja, a do celular é mil vezes menor.
“A primeira comparação que devemos fazer é da irradiância dos aparelhos celulares com a dos raios solares que atingem a pele dos humanos. A diferença é gigantesca, mas as variáveis envolvidas são muitas. Por exemplo, a emissão do celular depende do modelo e da marca do aparelho, de ajustes feitos pelo próprio usuário na claridade da tela, bem como da distância entre o aparelho e a pele. As irradiâncias luminosas vindas do Sol dependem da localização — latitude, longitude, altitude —, da hora do dia, da estação do ano, do clima etc. Enfim, precisamos considerar sempre valores médios e há estudos científicos que fizeram isso,” afirma o pesquisador.
Na pele
Um aspecto importante, segundo Baptista, é o efeito que diferentes exposições causam na pele. À medida que evoluímos sob a influência da luz solar, desenvolvemos mecanismos para utilizá-la eficientemente em funções fisiológicas essenciais e para proteger o corpo contra sua quantidade excessiva. Desta forma, exposições curtas ao Sol geralmente trazem efeitos benéficos. Atualmente, equipamentos que imitam essas doses saudáveis de exposição estão sendo utilizados em tratamentos médicos.
No caso do estudo realizado em queratinócitos, os pesquisadores observaram efeitos deletérios ao irradiar as células durante várias horas com fontes que imitam a irradiância do Sol. Doses menores não causam efeitos ou causam efeitos favoráveis. “Considerando a pequena irradiância dos celulares, podemos afirmar que, se houver algum efeito, este será favorável à pele de humanos saudáveis”, disse o pesquisador.
Já em relação aos olhos, a estrutura do tecido favorece a penetração de luz visível e há muitas pesquisas demonstrando como a exposição desprotegida à luz azul do Sol e de equipamentos diversos que emitem luz nesta faixa pode afetar a retina. Entretanto, segundo Baptista, não há consenso, pois, com base em diversos trabalhos, muitos oftalmologistas defendem que a dose de luz dos celulares é muito pequena para causar problemas na visão. O que é certo é que a exposição noturna à luz azul de celulares, tablets, laptops etc. perturba o ciclo natural de sono/vigília do nosso corpo, conhecido como ritmo circadiano.
A luz azul é uma faixa do espectro da luz visível, que por sua vez é uma faixa do espectro eletromagnético da radiação solar. A luz visível, à qual nossos olhos são sensíveis, representa cerca de 47% da radiação solar total que atinge a pele humana, em comparação com cerca de 5% de radiação ultravioleta. E também é a faixa espectral que forma os maiores níveis de radicais livres gerados na pele sob exposição solar, respondendo por 50% do total. Os mecanismos de dano induzidos pela radiação solar se devem principalmente à fotossensibilização, um processo no qual fotossensibilizadores transformam a energia da luz em reatividade química.
Da Assessoria de Comunicação do Cepid Redoxoma
FONTE: Jornal da USP