Milhões de idosos no mundo não têm autonomia para atender às necessidades básicas

Milhões de idosos no mundo não têm autonomia para atender às necessidades básicas

Ser capaz de realizar atividades como se vestir, tomar remédios ou gerir o seu dinheiro pode parecer simples para a maioria das pessoas. Entretanto, um relatório produzido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) revela que, pelo menos, 142 milhões de pessoas com 60 anos ou mais não têm autonomia para atender às suas necessidades básicas. Esses dados não incluem os idosos que vivem em instituições de longa permanência. Para reverter esse quadro, é necessário criar ferramentas para melhorar a independência e a qualidade de vida do idoso.

É o que defende o médico geriatra André Filipe Junqueira dos Santos, doutor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Ele explica que desenvolver instrumentos para melhorar o processo de envelhecimento da pessoa com saúde é essencial. “O envelhecimento saudável é a ideia de um envelhecimento em que a gente procura preservar a habilidade funcional e promover oportunidades para manter, e até melhorar, a saúde física e mental para garantir independência e qualidade de vida nesse período da existência.”

Santos acredita que a desconstrução dos estereótipos criados pela sociedade sobre a terceira idade e o estímulo para que elas permaneçam ativas e funcionais dentro das suas limitações são essenciais para pensar a otimização da habilidade funcional. “Com a criação de ferramentas que ajudem a executar essas atividades básicas, os idosos podem cuidar melhor de si mesmos e viver de forma mais independente.”

Reformular a sociedade

De acordo com o médico, aquela visão tradicional que se tem de uma pessoa mais velha, aposentada, ficar dentro de casa, sem ter o que fazer, é muito ruim em diversos aspectos, seja para pessoa em si, porque ela se sente isolada e a solidão vai acarretar problemas físicos e de saúde mental, seja para a sociedade também, porque começa a ter mais gastos com saúde e cuidados. “Precisamos reformular a sociedade para garantir que essas pessoas tenham uma maior oportunidade de participar ativamente.”

Apesar do desenvolvimento de políticas públicas nesse sentido, o professor ressalta a capacidade de cada um fazer a sua parte e interferir no seu próprio processo de envelhecimento caminhando para uma boa qualidade de vida. “Envelhecer é um processo irreversível, todo mundo envelhece. Mas cada um pode interferir no seu próprio envelhecimento. A maneira como nós vamos envelhecer é a maneira como nós vamos viver muito tempo da nossa vida. Então, a gente precisa se preparar de diversas maneiras para que, quando nós tivermos uma idade acima de 60, 70 anos, continuemos ativos em diversos aspectos.” Santos conclui com uma pergunta: “Como é que a gente está preparando o nosso país para viver com isso?”.

FONTE: Jornal da USP