Células-tronco mostram potencial para tratar lesões ósseas em pessoas com osteoporose
- By: Jornal da USP
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Pesquisa realizada em células e animais revela como a terapia celular pode regenerar tecido ósseo, abrindo caminho para desenvolver tratamentos mais eficazes para a osteoporose
Uma pesquisa demonstrou que um tipo de célula-tronco encontrada em vários tecidos do corpo humano é capaz de reparar defeitos ósseos em animais com osteoporose. No estudo, foram analisadas as interações entre as células saudáveis e as células osteoporóticas tanto em experimentos in vitro (realizados em um ambiente controlado fora de um organismo vivo) quanto em animais com defeitos ósseos e osteoporose. Os resultados do trabalho da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP estão publicados em artigo na Life Sciences.
A capacidade das células-tronco multipotentes – que podem se diferenciar em vários tipos de tecidos – de induzir regeneração tecidual já é conhecida devido às suas propriedades de autorrenovação e diferenciação. Neste processo, células menos especializadas adquirem funções específicas, neste caso se especializam e se transformam em osteoblastos, que são responsáveis pela formação de tecido ósseo.
O uso de células-tronco mesenquimais no tratamento de lesões ósseas também já é conhecido e promissor, mas a utilização desse tratamento em condições de osteoporose ainda é desafiador. É que o tecido ósseo em condições saudáveis tem uma capacidade regenerativa adequada para restabelecer sua função normal após uma lesão, porém, em presença de osteoporose, o reparo ósseo é prejudicado.
A explicação, segundo especialistas, se deve ao fato de que a osteoporose enfraquece o tecido ósseo, tornando-o menos denso e mais poroso, aumentando o risco de fratura e dificultando o tratamento de lesões. Além disso, a literatura científica indica que a osteoporose afeta negativamente a função das células-tronco mesenquimais, prejudicando sua proliferação e sua capacidade de induzir formação de tecido ósseo.
Relevância da relação células saudáveis com osteoporóticas
Nos experimentos in vitro, as células foram mantidas em coculturas, o que significa que dois tipos de células foram cultivadas juntas em um mesmo ambiente. Neste caso, foi avaliada a interação entre células saudáveis e células osteoporóticas.
O professor da Forp e líder do grupo de pesquisa, Adalberto Luiz Rosa, afirma que avaliar as relações entre esses dois tipos de células é importante pois, no caso da terapia celular, “uma das interações relevantes para o sucesso do tratamento é a das células saudáveis, que são utilizadas como tratamento, sendo recepcionadas pelas células presentes em ambiente acometido pela doença”.
Entre as conclusões obtidas, a partir dos experimentos in vitro, o pesquisador informa que as células-tronco originadas de ratos com osteoporose têm sua capacidade de regeneração reduzida, que é parcialmente recuperada pela interação com células saudáveis. Da mesma maneira, o contrário também é verdade, já que células saudáveis têm seu potencial regenerativo reduzido quando em contato com células osteoporóticas.
Terapia é mais desafiadora para diabéticos e hipertensos
Nos experimentos in vivo, ratos com osteoporose, nos quais foram criados defeitos ósseos, receberam aplicações de células-tronco mesenquimais, obtidas da medula óssea de ratos jovens saudáveis, diretamente na lesão óssea. O professor destaca que o diferencial da pesquisa foi criar os defeitos ósseos nos animais e aguardar duas semanas para realizar a terapia celular, “o que simula melhor o tratamento de defeitos preexistentes e aproxima nossa abordagem da realidade clínica”.
Como resultado, constataram que as células-tronco induziram a formação de tecido ósseo e, além disso, continuavam detectáveis até cinco dias após a injeção, em contraste com a permanência celular em locais saudáveis, onde permaneceram por até 14 dias. Outros estudos demonstram que o mesmo ocorre em ratos diabéticos e hipertensos, o que “nós atribuímos à presença das doenças, embora não tenhamos nos debruçado sobre os mecanismos envolvidos”, afirma o pesquisador.
Segundo o professor, esse fato indica o quanto o tratamento de defeitos ósseos em portadores de doenças sistêmicas é complexo: “Esses resultados ressaltam que o tratamento de defeitos ósseos pela terapia celular é ainda mais desafiador em pacientes acometidos por essas doenças (diabéticos e hipertensos), mas é viável, uma vez que bons resultados foram obtidos com a terapia celular em animais com osteoporose”.
Potencial para prevenir lesões ósseas
O professor ressalta que os resultados são interessantes, mas ainda devem ser aperfeiçoados: “Nosso estudo focou no tratamento de defeitos ósseos e constatamos que a terapia celular induz formação óssea, mas não regenerou por completo os defeitos”.
Rosa ainda explica que esse tratamento tem potencial para ser um método de prevenção de lesões, apesar de não ser o ideal para o tratamento da osteoporose sistêmica. “Há pesquisas sugerindo que ela poderia ser utilizada naqueles ossos que apresentam maior fragilidade e risco de fraturas”, adianta.
Esses resultados criam expectativas interessantes para um futuro tratamento de lesões ósseas em pessoas com osteoporose, “nossa perspectiva é que nossos resultados contribuam para que no futuro o tratamento de defeitos ósseos com células-tronco e seus derivados seja uma realidade clínica eficaz e acessível aos pacientes que dele necessitem”, finaliza Rosa.
*Estagiário sob orientação de Rita Stella
FONTE: Jornal da USP