Inteligência artificial para jovens com o vírus HIV
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A tecnologia de IA é produto de uma parceria entre o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). A ferramenta já está disponível no WhatsApp com o objetivo de promover um espaço confiável e sigiloso para oferecer desde orientações sobre o início do tratamento até o acolhimento psicossocial. Giovanni Cerri, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), avalia que o uso da tecnologia pode auxiliar na promoção da saúde para a sociedade.
Atuação da Kefi
A tecnologia Kefi se estabelece em cenário de maior abandono entre os jovens do uso de preservativos nas relações sexuais, além de uma sociedade mais tecnológica. Em muitos dos casos, segundo o professor, os jovens não têm as informações adequadas sobre o tratamento e se afastam do convívio social, podendo vir a ter problemas psicológicos por medo da rejeição e preconceito.
Cerri acredita que, ao proporcionar informações, agir com empatia e tirar o estigma a ferramenta pode exemplificar uma forma benéfica do uso da IA na medicina. “Essas plataformas são muito úteis, porque podem fazer com que esse primeiro contato com o paciente seja um contato bem informativo e os dados recolhidos desse relacionamento possam ajudar na orientação deste e de outros pacientes”, destaca.
Tecnologia e saúde
O uso de inovações tecnológicas e a promoção da saúde é uma aliança de longa data que contribuiu com a maior expectativa e melhor qualidade de vida do ser humano. O professor menciona desde exemplos mais primordiais, como o surgimento do antibiótico, até os avanços mais recentes que favoreceram o diagnóstico precoce, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.
“Sempre existe uma resistência à mudança, muitas vezes, as novas tecnologias não são bem compreendidas ou não são bem-aceitas pela sociedade”, considera. A desinformação inicial acerca dessa relação mútua pode impactar negativamente a sociedade e a promoção da saúde em geral.
Cerri defende que o uso da tecnologia não apresenta um papel de substituto do profissional médico, mas de auxiliar para maior precisão e eficiência. Algoritmos que transcrevem consultas para facilitar o trabalho burocrático de produzir prontuários médicos são exemplos do uso das inovações tecnológicas com ferramentas.
Tecnologia na pandemia
“Durante a pandemia, houve uma aceleração da introdução da tecnologia, principalmente relacionada com a saúde digital, que permitiu muitas consultas realizadas a distância”, ressalta Cerri. Além da maior prática da saúde digital, o especialista também comenta sobre o uso de um algoritmo para agilizar o diagnóstico de covid-19, a partir da análise de tomografias computadorizadas.
A iniciativa RadVid-19 dizia respeito a um site para o qual eram enviadas as tomografias e o algoritmo criado diagnosticava a doença e sua extensão. Em um cenário inicial da pandemia, em que os médicos ainda não possuíam experiência para diagnosticar covid pulmonar e os exames demoravam cerca de dez dias, o algoritmo apontava o resultado e a extensão da doença com maior agilidade.
A tecnologia impactou diretamente o tratamento imediato dos casos pulmonares, fator determinante para a sobrevivência do paciente internado na UTI, de acordo com Cerri. “Esse foi um exemplo que vivenciamos durante a pandemia: a possibilidade de ter um algoritmo que dava respostas rápidas sobre o comprometimento pulmonar de covid e quanto eram esses pacientes”, afirma.
A questão ética se configura, na opinião de Cerri, no extenso processo de testagem e avaliação das tecnologias. Tendo em vista a capacidade limitada do sistema de saúde em absorver as inovações, é indispensável que seu custo-benefício e efetividade sejam comprovados. Para isso, o papel das agências reguladoras de saúde é de extrema importância a fim de garantir a saúde do cidadão. “Todo esse caminho da criação de uma nova tecnologia, o debate, a aceitação e a incorporação é um processo progressivo”, pontua o especialista.
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
FONTE: Jornal da USP